sexta-feira, 10 de outubro de 2014

BIOGRAFIA: NIJINSKY, Vaslav; Vastlav Fomich Nizhinsky (1889-1950).

BIOGRAFIA: NIJINSKY, Vaslav; Vastlav Fomich Nizhinsky (1889-1950). Bailarino russo de origem polonesa, o principal mérito da arte de sua dança foi reabilitar o bailarino no cenário até então dominado pelas figuras femininas das bailarinas. Nijinsky começou seus estudos de dança juntamente com sua Irma, Bronislava Nijinska, na escola do Balé Imperial (São Petersburgo; v.). Nijinsky começou a estabelecer sua reputação quando dançou as inúmeras coreografias do russo Léonid Massine, primeiro bailarino e coreógrafo dos Ballets Russes, da Cia Teatral S. P. Diaghilev.   O empresário dos Balés Russos (Paris, 1909-1929), reconheceu o grande talento do bailarino Nijinsky quando viu-o dançar, aos 16 anos de idade, a Suite do balé O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d' Armide], de Nicolas Tcherepnin, que estreou no Teatro Mariinsky (São Petersburgo, 1907). Diaghilev conseguiu levar Nijinsky para Paris, para que ele se tornasse, na primeira metade do século XX, a maior estrela masculina do balé internacional.   A estréia de Nijinsky nos Ballets Russes foi no mesmo balé O Pavilhão de Armide, com cenários clássicos de Alexandre Benois, sendo o regente da orquestra o próprio compositor, N. Tcherepnin (Paris, 1909). Dighilev, que apreciava a ópera Ruslan e Ludmila, com música de Mikhail Ivanovich Glinka, apresentou trechos cantados por Félia Litvine e o grande baixo russo Fiodor Shaliapin. Nijinsky dançou com Tamara Kasarvina o Pas de Deux do Pássaro Azul (Tchaikovsky), na récita inaugural da dita, Temporada Russa [Saison Russe] (Paris, 1907). A arte do jovem bailarino causou enorme comoção na audiência; na mesma noite ele dançou As Sílfides [Les Sylphides], balé com a música de Fréderic Chopin que, mais tarde, Diaghilev pediu para Igor Stravinsky renovar o arranjo musical. Na ocasião, Nijinsky dançou o Pas de Trois com Anna Pavlova e Tamara Kasarvina, duas bailarinas que se transformaram em grandes estrelas internacionais da dança. Pavlova logo se tornou bailarina com carreira independente; e Kasarvina permaneceu como a maior estrela dos Ballets Russes, especialmente apreciada como a deusa da dança nos palcos londrinos.   Na primeira temporada parisiense de Nijinsky, o bailarino se apresentou no dito, Divertimento [Divertissement], que Diaghilev chamou de Os Orientais [Les Orientales], baseado em trechos de várias músicas de compositores russos escolhidas a dedo, vestindo luxuoso figurino de Jacques-Émile Blanche: essa fotografia de Nijinsky se encontra reproduzida (SHEAD, 1989).   O bailarino dançou fazendo par com T. Kasarvina no papel principal da suite sinfônica Shéhérazade, de N. Rimsky-Korsakov, encenada com cenários e figurinos de Léon Bakst (Paris, 1910). O balé estreou com Ida Rubinstein no papel principal de Zobeida, logo substituida por Kasarvina, bailarina com melhores recursos técnicos, que conquistou Paris logo na primeira noite em que ela dançou. Rubinstein, de origem judaica e de família muito rica, foi tida como uma das mais belas jovens bailarinas européias: ela estreou na mesma temporada dos Ballets Russes no papel principal de Cleópatra, o novo nome com o qual S. P. Diaghilev batizou o antigo balé Uma Noite no Egito [Une Nuit d'Egypthe], com música de N. Tcherepnin. Nesse espetáculo Pavlova dançou no papel secundário da atendente do templo (Ta-Hor), par de Michel Fokine no papel do sacerdote Amoun.   Na temporada seguinte Nijinsky dançou Giselle (ADAM), o mesmo balé que ele dançou pela primeira vez no Teatro Mariinsky (São Petersburgo, 1907), par de Anna Pavlova, quando provocou o primeiro grande escândalo de sua carreira de muitos escândalos. Quando o artista dançou no papel de Albrecht na récita especial dedicada à Imperatriz Maria Feodorovna, viúva do Imperador Alexandre III (5 fev., 1911), Nijinsky encurtou a camisa que cobria parte de suas pernas e não usou a peça de proteção que os bailarinos usam quando estão vestindo somente malha; foi verdadeiro escândalo, e, ao que parece, premeditado. Nijinsky foi colocado entre pedir desculpas publicamente ou ser expulso da companhia: ele recusou-se a pedir as desculpas exigidas. O bailarino foi expulso da companhia russa, mas ele tinha acertado com Diaghilev viajar para o Ocidente para tornar-se a primeira grande estrela masculina da companhia dos Ballets Russes.   Diaghilev se apaixonou pelo jovem bailarino russo e ofereceu-lhe a grande oportunidade de sua carreira. Nijinsky somente estreou no papel principal no balé O Lago dos Cisnes [Le Lac des Cygnes] (1911), com música de P. I. Tchaikowsky, balé que consagrou para sempre Anna Pavlova e que constou permanentemente do repertório da diva da dança. Na próxima temporada parisiense (1912), estreou o balé Shéherazade, novamente com música de P. I. Tchaikowsky, grande sucesso de público e crítica, dançado por Nijinsky; o balé Thamar, com música de Mili Balakirev (v. Grupo dos Cinco compositores russos), com cenários e figurinos de L. Bakst; e, foi apresentado Daphnis e Chloé, com música de Maurice Ravel, cenários e figurinos de L. Bakst, coreografia de Michel Fokine, que Nijinsky dançou como par de T. Kasarvina. O outro balé foi O Deus Azul [Le Dieu Bleu], com música de Reynaldo Hahn, libreto de Jean Cocteau, apresentado com coreografia de M. Fokine: esse espetáculo foi montado para celebrar especialmente a arte de Nijinsky, destacado no principal papel masculino como Deus, par de Kasarvina dançando no papel feminino mais destacado. O quarto balé que estreou nessa mesma temporada foi Narciso [Narcisse], com música de N. Tcherepnin, cenários e figurinos de L. Bakst, novamente Nijinsky no papel principal e Kasarvina no papel do Eco. A bailarina recebeu grande reconhecimento da platéia francesa devido a sua arte, mas esse balé fracassou: mas, quatro anos mais tarde, Nijinsky dançou esse mesmo espetáculo durante a temporada norte-americana (Estados Unidos, 1916). O último balé da mesma temporada foi a repetição de Carnaval dos Bichos [Carnaval des Biches], com música de Richard Strauss, que estreou na temporada anterior sendo apresentado nos papéis principais pelos bailarinos Michel Fokine e sua esposa Vera Fokina. Na nova temporada o balé foi apresentado por Nijinsky, tendo como par T. Kasarvina, com a estréia do novo bailarino inglês Adolf Blom, que se tornaria grande estrela do balé europeu (1912).   Nijinsky dançou o Prelúdio do Entardecer de um Fauno [Prélude à l' aprés midi d'un faune] (1913), obra inesquecível com música de Claude Debussy sobre poema de Stépháne Mallarmé (v. Simbolismo), com cenografia de Léon Bakst e figurinos de Nicolas Roerich e coreografia de sua irmã, Bronislava Nijinska no seu primeiro trabalho para os Ballets Russes. Esse balé consagrou definitivamente o jovem bailarino com o sucesso de escândalo, quando Nijinski terminou o balé se masturbando no palco (13 maio, 1912). Felizmente o Barão de Meyer documentou o jovem bailarino em fotografias posadas de grande sensibilidade: as fotografias encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).   Nijinsky também dançou Jogos [Jeux], com cenários e figurinos de L. Bakst e música de C. Debussy. O público ficou indiferente na primeira parte da récita, mas bastante chocado e alterado na segunda parte do programa, quando seguiu-se A Sagração da Primavera [Le Sacre du Primptemps]. Nijinski dançou com a música de seu compatriota Igor Stravinsky. A música, totalmente inovadora e estridente, causou furor na platéia e, devido a este novo escândalo, os Ballets Russes ficaram definitivamente consagrados na Europa.   Nijinsky passou a apresentar grande instabilidade emocional; na vida íntima de Diaghilev o bailarino tinha sido substituído por Michel Fokine, que, além de bailarino, tornou-se o principal coreógrafo da Cia Teatral S. P. Diaghilev. Quando começou a Primeira Guerra Mundial na Europa, Nijinsky foi demitido da companhia: ele se radicou em Londres onde fundou sua própria companhia de balé, de curtíssima vida, pois se agravaram seus problemas mentais. Durante dois anos Nijinski permaneceu internado em sanatório (Hungria, 1914-1916): mas Diaghilev retirou-o dessa instituição, pois precisou desesperadamente de sua maior estrela masculina para apresentar-se com sua companhia na temporada norte-americana dos Ballets Russes (1916).   A companhia chegou ao porto de Nova York (11 jan., 1916). Diaghilev permaneceu nos Estados Unidos durante alguns dias, para efetivar certos acertos contratuais. O empresário logo voltou para a Europa, a fim de preparar os balés que estreariam na próxima temporada, marcante devido ao convite que os Ballets Russes receberam do rei Alfonso XIII para se apresentarem na Espanha. O empresário havia permitido que Romola de Pulszky, jovem húngara que viu Nijinski dançar pela primeira vez na turnê em Budapeste (Hungria, 1911-1912), acompanhasse a companhia como membro-assistente do corpo de baile, durante a turnê nas Américas do Norte e Sul.   A companhia dos Ballets Russes se apresentou na América do Norte, quando dançou com muito sucesso nas cidades de Boston, Albany, Detroit, Chicago, Cincinatti, Cleveland, Pittsburg, Washinghton D.C., Filadélfia, Milwaukee, Mineápolis e Kansas City. A temporada se repetiu em várias outras cidades, até a troupe chegar a Nova York. A estréia nos palcos norte-americanos foi sem Nijinsky, o que trouxe vários problemas contratuais para Diaghilev, pois o bailarino somente conseguiu chegar à Nova York alguns dias depois da estréia da companhia (3 abr., 1916). Nijinsky dançou somente doze dias depois de sua chegada aos Estados Unidos, depois de outros acertos contratuais: a estréia do bailarino foi na repetição da temporada norte-americana, quando ele se apresentou no Metropolitan Opera House (12 abr.), dançando o Petruschka, com música de Igor Stravinsky, cenários e figurinos de Léon Bakst, e grande sucesso dos Ballets Russes.   Diaghilev repetiu no Brasil parte do mesmo programa de estréia dos Ballets Russes (Paris, 1909): tanto os cenários de Thamar (Bakst), bem como os cenários e figurinos do Príncipe Igor (N Roerich), se encontram reproduzidos (SHEAD, 1989: 54-55; 26-27). Diaghilev trouxe ao Brasil a companhia completa, com mais de cinquenta bailarinos: para quem viu os espetáculos e para a crítica de arte dessa época, foram balés inesquecíveis. Declarou ÂNGELO (1998):     A estréia do balé russo foi elogiadíssima. Tem-se a impressão de sonhar - mas de sonhar sonhos perfeitos, disse o crítico de O Estado de São Paulo. O renomado maestro suíço Ernest Ansermeet foi quem regeu a orquestra; o balé apresentou-se em várias récitas no Theatro Municipal de São Paulo, destacando-se o programa especial completo apresentado para a Sociedade de Cultura Artística, na segunda-feira (3 set., 1917). Nijinski esteve em São Paulo pois visitou com Romola de Pulszki o Instituto Butantã; na próxima parada dos Ballets Russes em Buenos Aires, Nijinsky se casou com a jovem húngara. Nijinsky dançou pela última vez na vida em Buenos Aires, cidade de onde a companhia dos Ballets Russes retornou à Europa (1917).   A carreira de Nijinsky durou apenas doze anos: o artista foi forçado a deixar os palcos e abandonou a dança aos vinte e oito anos de idade, devido a mais completa deterioração de sua condição emocional. Nijinsky passou o restante de sua vida internado em sanatório (1917-1950); certa vez Diaghilev retirou-o da instituição e levou-o ao teatro para ver um espetáculo de balé que ele dançara anteriormente, reencenado com os mesmos bailarinos que haviam dançado junto com o ídolo. O empresário tinha esperança de que Nijinsky pudesse recobrar a memória, mas a loucura e alienação haviam se tornado permanentes. O bailarino viveu o resto de sua vida isolado do mundo, mas permaneceu como lenda imortal no mundo da dança. Várias fotografias de Nijinski, adolescente nos balés O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide] e no divertimento O Festim [Le Festin] (Paris, 1909), bem mais alto e maduro no papel do Escravo Dourado, em Schéhérazade (Paris, 1910); usando o luxuoso figurino de J-É. Blanche em Os Orientais [Les Orientales], dançando no O Espectro de Rosa [Le Spectre de la Rose], e no mesmo balé, na fotografia fazendo par com T. Kasarvina; e usando o figurino de Alexandre Benois, quando ele foi fotografado em companhia de Igor Stravinsky, mostrando-se mais alto que o músico russo no papel Petruschka; posando como O Deus Azul [Le Dieu Bleu]; e nas sete fotografias do Barão de Meyer, com Nijinsky no papel do fauno, no L' Aprés-midi d' un faune, inclusive contracenando com sua irmã Bronislava Nijinska; e como um jovem distinto, usando terno, na casa dos vinte e poucos anos e no final de sua curta carreira: todas essas fotografias se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989).   Ângela Loureiro e Amador Perez apresentaram mostra dedicada a Nijinsky, realizada no MAM (Rio de Janeiro, 1977). Os artistas plásticos brasileiros apresentaram obras nas técnicas de colagem e pequenos desenhos figurativos baseados na figura do bailarino, elaborados por A. Perez a partir de fotografias de Nijinsky. A dupla apresentou poemas e cartas-sínteses baseadas no diário de Nijinsky, bem como a dita, Conferência-Espetáculo, com projeção de slides em homenagem ao ídolo desaparecido do cenário da dança (1917-1950). No início da década de 1980, Perez expôs vários desenhos dessa série na EAV (Parque Lage, RJ), pequenas obras-primas figurativas realizadas na técnica do lápis e fusain sobre papel, desenhos perfeitos como o grande bailarino Vaslav Nijinsky.   O filme Nijinsky (1980, 125’) com roteiro de Hugh Wheeler baseado nos Diários e biografia de Rômola de Pulsky Nijinski, foi dirigido por Herbert Ross. Atuaram George de La Peña (Nijinsky), Leslie Browne (Rômola), Jeremy Irons (Fokine), e Alan Bates (Diaghilev). A música foi produzida pela Orquestra Filarmônica de Los Angeles [Los Angeles Philarmonic]. Nijinsky deixou duas filhas: Kyra (n. 18 de junho, 1917), e Tamara (n. 1920), ambas com sua esposa Romola de Pulski Nijinsky (1894-1978). Kyra foi casada com o maestro Igor Markevitch, de quem nasceu seu filho, Vaslav. Romola publicou Nijinsky por Romola [Nijinsky by Romola](Nova York, 1934).   REFERÊNCIAS SELECIONADAS.   ÂNGELO, I. 85 Anos de Cultura: História da Sociedade de Cultura Artística. São Paulo: Studio Nobel, 1998, pp. 58-60.   HAGER, B. Les Ballets Suedois. Translated by Ruth Sharman. London: Thames and Hudson, 1990. 303p.: il., algumas color., pp. 298.   ARTE HOJE. Painel. Rio de Janeiro: Rio Gráfica Editora, 1977, p. 27.   SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 14, 16, 22, 23, 25-26, 28-29, 31, 32, 37-38, 45, 46, 47, 48, 52, 55, 57-58, 62-63, 70-71, 74, 83, 90, 126, 169.  

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