Arte européia de vanguarda, desde seus primórdios, no século XIX: biografias e história, artistas, escolas, grupos e movimentos.Imagem da Exposição dita, Neo-plástica, no Museu Sztuki em Łodz (1946), projetada por Władysław Strzeminski para expor seleção das 111 obras da nata das vanguardas européias, colecionadas pelo Grupo Internacional dos A. r. (Artistas revolucionários, 1929-1936).
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
BIOGRAFIA: NIJISNKA, Bronislava Fomititshina (1891-1972).
BIOGRAFIA: NIJISNKA, Bronislava Fomititshina (1891-1972).
A bailarina e coreógrafa russa Bronislava Nijinska, irmã do bailarino e coreógrafo Vaslav Nijinki, nasceu em Minsk (Rússia), mas faleceu em Los Angeles (Estados Unidos). Os pais dela, Foma e Eleonora Bereda, foram bailarinos. Nijinska começou junto com seu irmão seus estudos de dança, aos 09 anos de idade, na escola do Balé Imperial (São Petersburgo).
A jovem bailarina estreou aos 17 anos de idade no Teatro Mariinski (1908). Nijinska se tornou coreógrafa e criou a sua primeira coreografia para o balé La Tabatière (1914). No ano seguinte a bailarina e coreógrafa abriu estúdio próprio para o ensino da dança, que manteve ativo durante alguns anos (Kiev, 1915-1921). Depois que seu irmão Nijinski acompanhou S. P. Diaghilev a Paris, Nijinska também se associou aos Balés Russos, onde dançou como par de seu irmão na primeira performance parisiense de O Entardecer de um Fauno [L' Après midi d'un faune], com música de Claude Debussy (
composta para poema de Stéphane Mallarmé (Paris, 1912). Nesse balé Nijinski alternou com diáfano lenço branco a flauta de Pan que levava nas mãos e terminou o espetáculo se masturbando no palco: esse comportamento extremamente ousado para a época valeu à Cia. Teatral S. P. Diaghilev o primeiro grande sucesso de escândalo. Várias das fotografias (Barão de Meyer) dessa apresentação de Nijinski, inclusive contracenando com sua irmã Bronislava que dançou no papel de uma das três musas, se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989: 58-59).
A experiente e competente coreógrafa Nijinska, foi convidada por Diaghilev para criar a coreografia para três novas danças do clássico A Bela Adormecida [La Belle en Bois Dormant], com música de Piotr Ilitch Tchaikowsky
. Esse balé, que tinha sido encenado anteriormente na Rússia com a coreografia de Marius Petipa. foi programado para a segunda temporada londrina dos Ballets Russes, realizada no final do ano no Alhambra Theater (1921). O empresário inglês Oswald Stoll emprestou a S. P. Diaghilev L$ 10.000, o que não foi suficiente para cobrir os custos da produção do balé. O empresário contratou novos bailarinos: passaram a participar da companhia russa Olga Spessiva, Vera Trefilova, Lopokova e Lubov Egorova, bailarina que, posteriormente, foi professora de Tatiana Leskova, bailarina que organizou o corpo de baile do Theatro Municipal (Rio de Janeiro). Os novos bailarinos contratados foram Pierre Vladimirov, Anatole Vilzak, Nicolas Sergueiev e Taddeuz Idzikowski, que se tornaram grandes estrelas masculinas, e na temporada dançaram pela primeira vez nos palcos ocidentais.
Diaghilev queria que os cenários e figurinos para esse balé fossem desenhados por Alexandre Benois, artista pertencente os grupo do Mundo da Arte [Mir Iskussstva] (v., no Blog: http://arterussaesovietica.blogspot.com), especializado nos figurinos e encenações dos séculos XVII - XVIII. No entanto, Benois estava comprometido com outras produções russas: Diaghilev então contratou outro participante do mesmo grupo, Leon Bakst, que, mais tarde, foi considerado por muitos críticos como o mais destacado cenógrafo e figurinista de balé na primeira metade do século XX. Para a produção de A Bela Adormecida, Diaghilev sabia que estava se arriscando em enorme empreitada, que afinal custou caríssimo à sua companhia. Os luxuosos figurinos de Bakst para esta produção, se encontram com vários de seus desenhos reproduzidos (SHEAD, 1989: 115-118).
O figurinista utilizou nas vestes profusão de plumas, bordados em ouro me prata e adereços luxuosos. O figurino da rainha foi de seda branca, ricamente bordado em azul e ouro, com leves toques verdes e levava a cauda de muitos metros de seda branca bordada em ouro e carregada por dois jovens pagens vestidos de seda branca com bordados nas mesmas cores. O Rei Negro vestiu roupa cor de laranja com ricos bordados texturizados em ouro, entre outros detalhes em relevo branco sobre saia negra, além de levar arranjo com profusão de plumas negras e douradas no ornamento da cabeça; a duquesa estava vestida toda em ouro com acentos negros e laranja e usava chapéu negro com plumas; enfim, os costumes desenhados foram deslumbrantes. Tudo foi muito dispendioso e Diaghilev resolveu estender o número de performances para cento e cinco apresentações: o balé estreou finalmente (Londres, 03 nov., 1921). Alguns dos espectadores gostaram do espetáculo e voltaram muitas vezes para apreciar a arte dos bailarinos, a beleza da coreografia, dos cenários e costumes. No entanto, o excessivo número de récitas no teatro com três mil lugares, fez com que os bailarinos se apresentassem para casa quase vazia: o balé fracassou. No final da programação O. Stoll confiscou os cenários e figurinos desse espetáculo, que nunca mais foi encenado completo pela companhia dos Ballets Russes. Essa foi a última tentativa de superprodução de balé clássico: Diaghilev voltou-se depois para a produção de espetáculos menores, modernos e bem mais ousados.
As finanças da companhia ficaram bastante combalidas: os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), prejudicaram a montagem dos espetáculos, pois os Ballets Russes não puderam se apresentar para o grande público nas temporadas dos grandes teatros em Paris e Londres. O gênio de Diaghilev desejando manter vivo o sonho dos Balés Russos, conseguiu depois equilibrar as finanças abaladas de sua companhia. Na temporada parisiense que se seguiu à estréia londrina desse balé, foi apresentada a versão parcial e menor, de parte do balé A Bela Adormecida, agora rebatizado de As bodas de Aurora, e que ficou mais conhecido como Aurora, quando foram apresentadas três danças coreografadas por Nijinska. Devido ao confisco dos figurinos luxuosos de Bakst que estrearam em Londres, vários trajes de outros balés foram adaptados para essa produção, e foi reutilizado o cenário do balé O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d´Armide], criado por Alexandre Benois para a primeira temporada parisiense dos Ballets Russes (1909).
Os outros espetáculos apresentados na mesma temporada foram produções anteriores, como Carnaval, com com música de Schumann e o grande sucesso da primeira temporada, trechos das Danças Polovetsianas do Príncipe Igor (Borodin). Diaghilev foi obrigado a despedir vários bailarinos, reduzindo o tamanho de sua companhia, mas fez questão de manter suas principais estrelas, Dubrowska, Egorova, Idzkowski, Kremnev, Nemtchinova, Schollar, Trefilova, Vladimirov e Vilzak, entre outros. Nessa ocasião Nijinska foi promovida a primeira coreógrafa-residente dos Ballets Russes.
A companhia de Diaghilev contratou cinco novos bailarinos, antigos alunos da escola de Nijinska; a companhia foi reduzida a somente trinta bailarinos. Anos antes Igor Stravinski teve a idéia de produzir o libreto e a música para balé com tema de casamento campestre russo (1914-1917). O espetáculo As Núpcias [Les Noces], Cenas coreográficas russas com canto e música, recebeu cenários simples e figurinos coloridos de camponeses russos: os cenários foram desenhados pela artista plástica russa Natália Gontcharova e os costumes foram criados pela artista francesa Marie Laurencin. O exigente Diaghilev gostou de tudo o que foi produzido para esse espetáculo: ele ficou tocado pela música de Stravinski, que foi-lhe dedicada, e apreciou os cenários, figurinos e coreografia de Nijinska para esse espetáculo que reviveu o espírito regional russo. O balé estreou com a orquestra sob a regência do maestro suíço Ernest Ansermeet, com os pianistas George Auric, Francis Poulenc, Édouard Flament e Hélène Leon, quando Félia Dubrowska (A Noiva) e bailarinos dançaram na estréia do balé no Théâtre Gaîeté-Lyrique (Paris, 13 jul., 1923). A critica teatral não aceitou bem esse balé moderno, mas o público fez do espetáculo grande sucesso dos Ballets Russes.
Para a próxima apresentação na mesma temporada em Monte Carlo, Diaghilev organizou a mistura de vários espetáculos, apresentando quatro novos balés e quatro óperas. A música para os novos balés foram encomendadas a Montclair, Francis Poulenc, Georges Auric e Darius Milhaud, três foram músicos franceses participantes do chamado Grupo dos Seis [Groupe des Six] (v. no Blog: http://arteeuropeiadevanguarda.blogspot.com).
A companhia contratou dois novos profissionais: a bailarina francesa Ninette de Valois (Edris Stannus) e o inglês Anton Dolin (Patrick Healey-Kay). Dolin, nova paixão de Diaghilev, se tornou das maiores estrelas dos palcos internacionais; todos os quatro novos espetáculos foram coreografados porNijinska. O primeiro balé apresentado foi As Tentações da Pastorinha [Les Tentations de la Bergère], evocação pastoral da côrte de Luís XIV com música adaptada do francês Michel de Monteclair, libreto de Bóris Kochno com cenários e figurinos de Juan Gris, quando Nemtichinova, Slavinski, Vilzak e Woizikovski dançaram a coreografia de Nijinska na estréia desse espetáculo (Monte Carlo, 03 jan., 1924). Não fez sucesso e o balé logo desapareceu do repertório da companhia.
O segundo balé foi Os Bichos [Les Biches], com música de Francis Poulenc, cenários e figurinos de Marie Laurencin pintados pelo Príncipe Schervashidze e costumes realizados por Vera Sudeikina, que se tornou depois a segunda esposa do músico russo Igor Stravinski. O balé foi sucesso: essa foi primeira música que Diaghilev encomendou a Poulenc, que permitiu-lhe a criação de balé atmosférico na melhor tradição do Les Sylphides (Chopin/ Stravinski). Esse espetáculo deixava no ar a ambiguidade devido ao ineditismo do tema do homossexualismo, apenas sugerido, insinuado, razão maior do seu grande sucesso. Poulenc compôs a música para orquestra de tamanho normal (50-60 músicos), e acrescentou doze cantores que poderiam também ser em maior número, para o caso da apresentação se realizar em teatro maior. O coro assim formado cantou os dois números das ditas, Canções Dançadas [Chansons Dansées], com a Dança Grupal, dita, Jogo [Jeu]. As palavras das canções foram de autoria de Poulenc, todas baseadas nos cantos da tradição popular francesa, mas que não estabeleceram grandes vínculos com o espetáculo no palco. A música de Poulenc foi adequada para o balé, atmosférica, misteriosa, camaleônica, sentimental e jazzística e se mostrou influenciada por composições de Stravinski e Mozart, mas foi, na essência Poulenc, que dedicou-a a Misia Sert, artista e patrocinadora da companhia russa que se interessou vivamente por todos os aspectos visuais desse balé.
Os maestros foram Édouard Flament (Monte Carlo) e André Messager (Paris). Nijinska também dançou nesse espetáculo em companhia de Vera Nemtchinova, mais tarde substituída pela bailarina Lidia Sokolova, pares dos bailarinos Anatole Vilzak, Leon Woizikovski e Nicolas Zverev. A coreografia de Nijinska para esse balé foi baseada nas coreografias clássicas russas, sendo essa obra considerada como sua melhor referência. O balé foi reencenado na temporada do Royal Ballet (Londres, 1964), com Svetlana Beriosova e Georgiana Parkinson como pares de Robert Mead e Keith Bosson, cujas fotografias se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989: 130-131).
O balé Os Bichos [Les Biches], representou a mais perfeita síntese da interação de todos os aspectos de espetáculo de balé, desde a música, o desenho dos cenários e figurinos, a coreografia das danças, e se mostrou completamentexv atual quando foi reencenado, décadas depois, no palco londrino (1924; 1964).
O terceiro balé foi Os Entediados [Les Fâcheux], cômico, no mesmo espírito das comédias populares de Molière; idealizado por Bóris Kochno que escreveu o libreto, com a música de Georges Auric, cenários de Georges Braque que apresentou quadrilátero com correr de casas do século XIX, com as cores carregadas nos ocres e verdes. Nesse espetáculo o amante, que se dirige ao encontro amoroso, é retardado pelos ditos, entediados: o jogador de cartas, vários fofoqueiros em local no qual várias pessoas praticavam esportes ou jogos. Os dançarinos principais foram Lubov Tchernicheva e Anatole Vilzak; o inglês Anton Dolin dançou com os pés em ponta, na coreografia de Nijinska criada especialmente para destacá-lo como estrela da dança. No entanto, o balé não repetiu o sucesso dos Bichos, nem na estréia nem nas suas doze apresentações nos palcos parisienses (12 maio, 1924).
Para o quarto e último balé dessa temporada, Diaghilev encomendou a música a Darius Milhaud, algo no espírito das operetas de Offenbach, ligeira e frívola. Milhauid compôs a música perfeita para o balé O Trem Azul [Le Train Bleu], descrito como Opereta dançante de Jean Cocteau, que estreou com cenários de Henri Laurens, cortina de Pablo Picasso e figurinos de Mlle. Chanel. Na estréia, o maestro foi André Messager e os bailarinos que dançaram a coreografia de Nijinska foram a própria, L. Sokolova, A. Dolin e L. Woizikovski. O balé se passava na praia e apresentou vários esportistas, bailarinos vestindo camisetas e shorts de malha listrada, usando figurinos atuais de Chanel. O cenário praiano mostrava casais namorando, outros tomando banho de mar, brincando e jogando, em clima agradável, no balé leve, divertido e completamente inusitado.
Dolin dançou e realizou inúmeras piruetas e acrobacias no palco, nesse espetáculo que levou-o ao estrelato internacional; pouco tampo depois quando o bailarino deixou a companhia de S. Diaghilev para voltar a viver na Inglaterra o balé precisou ser descartado do repertório dos Ballets Russes, pois nenhum bailarino se equiparava e realizava essa apresentação com a graça e a habilidade da arte do inglês. A temporada bem sucedida levou os quatro novos espetáculos de balé se apresentarem na Alemanha no outono; os balés estrearam no final do ano na temporada londrina, no Coliseum (24 nov., 1924), quando o balé Le Train Bleu foi recebido com grande entusiasmo pelo público inglês.
Depois dessa série de espetáculos, B. Nijinska deixou por uma temporada a companhia dos Ballets Russes, quando ela foi substituída por dois bailarinos e coreógrafos russos, Georges Balanchine e Léonid Massine, que pediu a Diaghilev e voltou a trabalhar para a companhia, quando ele coreografou dois espetáculos (1925).
Na próxima temporada Nijinska concordou em voltar e coreografar o novo espetáculo, criado para os palcos ingleses: a versão de Adão e Eva com música de Christian Lambert, que Diaghilev trocou de nome para Romeu e Julista [Romeo and Juliet]. Tamara Kasarvina, a bailarina adorada pelos franceses e, principalmente pelos ingleses, dançou no papel de Julieta. Para desenhar os cenários e figurinos, foi sugerido, entre outros, o nome de Windham Lewis; mas Diaghilev optou pelos artistas do grupo Surrealista, movimento lançado no ano anterior em Paris, Max Ernst e Joan Miró. Quando foi assistir ao último ensaio do balé em Monte Carlo, Lambert detestou os cenários e figurinos, mas Diaghilev ficou irredutível quanto às mudanças desejadas e o balé estreou assim mesmo, conforme programado (Monte Carlo, 04 maio, 1926). Esse espetáculo participou da temporada parisiense, realizada no Théâtre Sarah Bernhardt (18 maio), quando foram ouvidas muitas vaias dirigidas por grupo de Surrealistas liderados pelo escritor Louis Aragon, que não aceitou a adesão por parte de Ernst e Miró daquilo que viram como a capitulação deles ao detestado capitalismo. A publicidade gerada pelo episódio somente solidificou o sucesso de escândalo: a temporada londrina reapresentou a antiga coreografia de B. Nijinska, para o balé As Núpcias [Les Noces](1926).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ATTI & FERRETTI, 1990, pp. 115-118, 251.
SHEAD, 1989, pp. 38, 58-59, 113, 120, 122-124, 126, 127-128, 130, 132, 137, 138, 142, 167.
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