sexta-feira, 6 de novembro de 2015

1912-1932-TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): COLAGEM (Paris, 1912-1921; Milão.1910-1944; Moscou, 1922-1932).

TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): COLAGEM (Paris, 1912-1921; Milão.1910-1944; Moscou, 1922-1932). O procedimento técnico da Colagem [Collage] começou na arte das vanguardas ocidentais com a obra O Sonho (Paris, 1908), de Pablo Picasso, que colou um pedaço de caixa de papelão com o logotipo dos Magazins du Louvre, retocados nas laterais com guache branca, deixando visíveis as palavras Louvre, Paris. (Taylor, 2004: 06). A colagem mais conhecida de Picasso é sua obra Cubista, quando ele colocou pedaço de oleado reproduzindo a palhinha de uma cadeira, colado sobre a tela de sua obra À la chaise canée [À cadeira de palhinha] (1912). Picasso percebeu logo que ali estava a solução estética e saída original para a sua evolução pictórica Cubista. Desta forma, ele prosseguiu colando nas suas telas materiais descartados como papel impresso de rótulos de bebidas (Vieux Marc, por ex.), papelão, galões de passamanaria, entre outros materiais inusitados, até então nunca integrados à arte de vanguarda. Os Futuristas italianos receberam a influência das colagens de P. Picasso e empregaram logo a Colagem nas suas obras: Boccioni colou pedaços de jornais nas obras Dinamismo da cabeça de um homem (1914) e Carga de lanceiros (1915), esta realizada um ano antes dele morrer na I Guerra Mundial (1916). Outro artista Futurista precursor, que integrou lantejoulas coladas à sua pintura foi o italiano Gino Severini, que viveu a maior parte da vida em Paris. O artista começou integrando a Colagem às Artes Gráficas e Pintura, antes de integrá-las às técnicas mistas sobre tela. A obra de Severini Natureza morta com caixa de fósforos foi executada no mesmo ano em que o artista começou a sua conhecida sequência de Dançarinas [Danseuses], nas quais colou lantejoulas e aplicou gesso. Em outras obras o artista colou bijouterias, bigodes e tecidos como no Retrato de Marinetti e no Retrato de Paul Fort. Em outras obras Severini inseriu metal e lantejoulas como na Dança do urso = veleiros e jarro de flores (1913); e folhas de jornal na Natureza-Morta (garrafa, jarro, jornal e mesa, 1914). Várias das colagens de Severini foram perdidas ou destruídas, mas posteriormente, algumas Colagens que amadureceram nas obras do italiano foram mostradas nas revisões críticas do Futurismo e do Cubismo, entre outras. Outros Futuristas como Ardengo Soffici e Carlo Carrà também executaram seus Papéis colados [Papiers Collés]. Entre as obras de Soffici se destacam Pouca velocidade e Composição com garrafa verde. Na obra de Carrà se destacam as colagens Garrafa e copo, Natureza-Morta com sifão, café nos arredores, e Celebração patriótica, entre outras. O italiano Enrico Baj, mais conhecido como mentor do Grupo do Movimento Nuclear (1950-), colou pesadas passamanarias e acabamentos têxteis na sua obra pictórica, sem obter resultado plástico de qualidade superior como o dos primeiros vanguardistas Cubistas, entre outros. Outro artista Futurista que realizou colagens foi Vinício Paladini. O artista russo David Kakabadze (1890-1952), durante os anos em que viveu em Paris (1919-1926), foi atraído pelo que chamou de Pintura Subjetiva: ele dedicou-se a técnica da Colagem usando ocasionalmente nas obras pictóricas acréscimos de espelhos e metal, entre outros materiais como vidro colorido de vitral associado à tinta. Na verdade, esse foi o desenvolvimento pessoal da Colagem no Cubismo (v.), escola pela qual o georgiano foi influenciado. A técnica da Colagem se sofisticou, devido à popularização da Fotografia: as colagens que empregaram fotografias recortadas e coladas sobre papel, associadas a outras técnicas, foram chamadas de Fotomontagens, mas, em essência, essas obras continuaram sendo colagens. Os Dadaístas alemães se utilizaram da técnica inovadora da Colagem e, principalmente da Fotomontagem (v. Técnicas na Arte: Fotomontagem no Dadaísmo alemão), registrada em centenas de obras do mais ativo deles, John Heartfield, irmão de Wieland Herzefeld da Editora Malik [Malik Verlag] (v.). Outro dadaísta, Raoul Hausmann, iniciou suas colagens com a Composição Abstrata (1918), que se encontra reproduzida (Taylor, 2004: 36). O alemão que se auto-proclamou antidadaísta, Kurt Schwitters, executou extensa obra na técnica de Colagem na estética Dadá, todas de pequenas dimensões, embora pertencentes ao movimento do qual ele foi o mentor, do dito, Grupo Anti-Dadá-Merz (v.). Entre as obras na técnica de colagem de Schwitters, que nunca usou a fotografia recortada e colada, citamos Abstração 09 a Gravata Borboleta (1918), O Trabalhador (1919), Merz 19 (1920), Merz 151 (1921) e Formas no Espaço (1920), todas reproduzidas (Taylor, 2004: 44-47), sendo que várias obras na técnica de colagem de Schwitters estiveram com seus originais expostos na mostra individual do artista realizada na Pinacoteca do Estado (São Paulo, 2004). Max Ernst, artista do Grupo da Associação dos Artistas Radicais de Colônia (v.), publicou o álbum com oito litografias, encomenda da cidade de Colônia, intitulado Fiat Modes (1919). Max Ernst foi o primeiro do grupo a expor suas obras em Paris: ele enviou 48 colagens diferentes, adaptação criativa da técnica Dadaísta que consistia na apropriação do desenho publicitário, todos do século anterior, o XIX. Nessa época os anúncios não empregavam fotografias, eram desenhados; e, quase sempre, os desenhos escolhidos por Ernst reproduziam máquinas ou instrumentos científicos, óticos ou similares, que ele colava sobre papel grosso, completava com desenhos e depois associava a outras gravuras coladas, obtendo misturas gráficas totalmente inusitadas. Citamos algumas de suas Colagens como Aparatos Físicos da Biblioteca Pedagógica (1914), Fruto de Longa Experiência (1919), A Pequena Máquina Construída por Minimax-Dadamax Ernst (1919-1920), e a mini-colagem com imagens invertidas, O Cisne está Muito Pacífico (08 cm, 1920), todas reproduzidas (Taylor, 2004). As Colagens de M. Ernst foram celebradas pelo grupo de André Breton, encarregado da montagem da mostra individual do artista realizada na Galeria Au Sans Pareil, situada na avenida Kléber. O futuro Grupo do Surrealismo (Paris, 1924-1966; v.) ficou entusiasmado com o sentido revolucionário das obras de Ernst, que expunham ligações inconscientes valorizadas desde então pelos teóricos, escritores e futuros artistas do grupo francês. Os dadaístas parisienses apresentaram performances provocantes na inauguração, pois André Breton acendeu fósforos continuamente, Soupault e Tristan Tzara brincaram de esconde-esconde, Jacques Rigaut contou os automóveis que passavam, Aragon produziu sons onomatopaicos e outros dadaístas recitaram aforismos ilícitos (Paris, maio, 1921). Ernst não pode comparecer, na época em que Tzara, a pedido de Breton, trouxe o Dadaísmo de Zurique para Paris (1920-1923). Dadamax Ernst criou muitas colagens com Hans Arp, um dos mais destacados artistas do grupo Dadaísta, embora o mais discreto; e este conjunto de obras foi intitulado Fatagaga ou Fabricação de quadros gazométricos garantidos [Fabricacion de Tableaux Garantis Gazometriques]. Três obras de Max Ernst, Aqui tudo está flutuando [Hier ist alles in der Schwebe] (Colagem de gravuras fotográficas e lápis, 10,5 cm x 12,2 cm, no acervo do MoMA, Nova York); o Autoretrato ou A imortalidade de Buonarotti [L´Immortalité de Buonarotti] (c. 1920, fotomontagem, 17,5 cm x 11,5 cm, coleção Arnold H. Crane, Chicago); e o Massacre dos inocentes [Massacre des innocents] (1921, colagem, 21,5 cm x 29 cm, coleção particular, Chicago), reproduzidas (Ades, 1978: 118). No Grupo (Parisiense) do Surrealismo Internacional Max Ernst se tornou verdadeira revelação, reconhecido mundialmente entre os mais proeminentes artistas. Ernst, que foi viver na cidade-luz, foi convidado a participar das sucessivas publicações editadas pelos Surrealistas. Ernst ilustrou vários livros de poetas como o de Paul Éluard, entre outros e participou com textos e ilustrações realizadas com Colagens para várias das revistas de André Breton e Tristan Tzara (v.). Ernst lançou vários Livros de Artista, como História Natural (Paris, 1926); Mulher de 100 cabeças (1929), ilustrado com 50 prelúdios musicais de George Antheil, posteriormente dançados por Martha Graham (Nova York, 1930). Outro livro na técnica de Colagem de Ernst foi o Sonho da jovem que queria entrar para o Carmelo, ilustrado com suas colagens eróticas e criativas; e Uma Semana de Bondade [Une Semaine de Bonté], esta apresentada na mostra Max Ernst: Uma Semana de Bondade – Collages Originais – no MASP (23 de abril, 2010). Breton encontrou nas Colagens de Ernst o que, sem saber, buscava: imagens instigantes emanadas do inconsciente, criatividade, cultura, inteligência investigativa e o inconsciente liberado através da arte. ADES (1978: 54) reproduziu a colagem do artista ítalo-americano Joseph Stella, Gráfica [Graph] (c. 1920, colagem, 31,8 cm x 24,10 cm, na coleção de M. & Mrs. Edward R. Hudson Jr.) e a obra do Grupo dos Dadaístas em Colônia (v.) Johannes Baader e Raoul Hausmann, Colagem sobre um cartaz [Collage sur un affiche] (c. 1919-1920, colagem sobre cartão, 50 cm x 30,8 cm, coleção particular, Milão) (Ades, 1978: 90). Baader também realizou seu Livro de Artista autobiográfico, quase todo executado na técnica de colagem. Outras colagens dodadaísta de Colônia, Johannes Baargeld, tornaram-se reuniões de objetos, nomeadas três décadas depois de Assemblages, como sua Plástica Dadá-Drama, paródia da Torre de Vladimir Tatlin, sua revolução arquitetônica mundial com Penthouse no último pavimento, fotografia reproduzida (Taylor, 2004: 53). Outras colagens foram desenvolvidas por artistas do Construtivismo soviético que emigraram, como Naum Gabo, seu irmão Anton Pvesner, El Lissitzky, associados a Lajos Kassak, que ilustraram a publicação Ma [Hoje] (Budapeste-Viena, 1919-1925), entre outras revistas ilustradas com colagens e fotomontagens como Zenit (Belgrado, 1921-1926), Dada-Jazz (Zagreb, 1922), como a Mecano (Haia, 1922-1925), de Théo van Doesburg, ou G (Berlim, 1923-1924), de El Lissitzky. A Colagem Dada Descartes (1926, colagem, 24 cm x 17, 5 cm, coleção particular, Milão), de Lajos Kassak, entre outras, se encontra reproduzida (Ades, 1978). Marcantes foram colagens dos artistas do Cubismo (v. as técnicas de Descolagem e Fotomontagem). REFERÊNCIAS SELECIONADAS: \ Ades, D., Sylvester, D., Cowling, E. Cowling. (Orgs.). (1978). Dada and Surrealism Reviewed. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, pp. 54, 90, 96, 100, 118. Hulten, P. (Org.). (1986). Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, pp. 454-455, 541. Barr, A. (1986). Cubism and Abstract Art. Harvard: The Belknap Press - Harvard University Press. 2nd ed. New York: Museum of Modern Art, p. 219. Cachin, F., Minervino, F. (Orgs.). Tout l'Oeuvre peint de Picasso, 1907-1917. Paris: Flammarion, 1977, pp. 83, 86-87, 101, 102, 528, 529, 530, 781, 892-895. Gaunt, W. Los Surrealistas. Barcelona: Labor, 1973, p. 95. Néret, G. (1988). 30 ans d'Art Moderne. Fribourg: Office du Livre, p. 245. Rodrigue-Aguilera, C. (1975). Picasso de Barcelona. Paris: Cercle d'Art - Marrast, p. 216. Taylor, B. (2004). Collage, the Making of Modern Art. London: Thames & Hudson, pp. 06-09, 30-35.

Nenhum comentário:

Postar um comentário