sexta-feira, 30 de agosto de 2013

 


BIOGRAFIA: APOLLINAIRE, Guilaume; Wilhem Albert Wladimir Alexandre Apollinaris de Kostrowitsky (1880-1918).


 


 
O notável intelectual de origem nobre polonesa nasceu em Roma, mas faleceu em Paris; ele tornou-se um dos mais importantes intelectuais na França, poeta, escritor e crítico de arte das nascentes vanguardas. Logo conheceu o grupo que se reunia nos ateliês do Barco Lavanderia [Bateau Lavoir], em torno de Pablo Picasso, no duros tempos de início de carreira, período de grande pobreza material, porém aliada à riqueza intelectual dos amigos e vizinhos Max Jacob, Blaise Cendrars e Max Salmon, entre outros artistas e escritores.



Apollinaire escreveu o primeiro artigo sobre Picasso (1905), que desenhou o seu retrato (1914), reproduzido por PIERRE (1983); foi dele a apresentação no catálogo da mostra Cubista de Georges Braque (1908), realizada na galeria parisiense de Daniel-Henry Khanweiller. Desde o final do século XIX Apollinaire tornou-se colaborador de várias publicações: com André Salmon editou a revista Le Festin D'Esope [O Festim de Esopo] (Paris, 1903-1904); com Alfred Jarry editou a revista Les Marges [As Margens] (1907); com André Billy, René Dalize, André Salmon e André Tuquesq foi o editor da revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); com Blaise Cendrars colaborou em outras publicações européias, como a revista de Almada Negreiros e Fernando Pessoa Portugal Futurista (1915); foi colaborador da publicação de Pierre Reverdy, S.I.C. - Sons, Images et Couleurs, entre outras publicações dadaístas na Alemanha e Suíça, como Cabaré Voltaire [Cabaret Voltaire] (1916). Na revista Les Soirées de Paris, Apollinaire permaneceu colaborando do n. 1 (fev., 1912), ao último número, 26-27 (duplo): a publicação teve que ser interrompida devido a I GM (ultimo n., julho-agosto, 1914).



O escritor, que amou a bela vida, as damas, a noite e os artistas, foi muito querido e celebrado por Henri Le Douanier Rousseau, sobre quem publicou as primeiras criticas favoráveis. Rousseau que, por sua característica de ser artista dito, primitivo, foi sempre tratado com a mescla de desdém e fina ironia pelo seleto grupo de intelectuais do Bateau-Lavoir, como relatou o seu biógrafo Wilhem Uhde; mas tratado com grande respeito crítico por Apollinaire. Rousseau pintou dois retratos de Apollinaire, sendo que no primeiro ele está acompanhado por sua musa, a pintora Marie Laurencin. Giorgio de Chirico também pintou o Retrato de Apollinaire (1914) com o símbolo do futuro, peixes, que se encontra reproduzido (PIERRE, 1983); e o Retrato de Apollinaire, por Amedeo Modigliani, encontra-se reproduzido (SEUPHOR, 1963).



O escritor e poeta foi livremente influenciado pela obra de Stéphane Mallarmé, um dos ícones das vanguardas, inspiração para escrever os seus Caligramas [Caligrammes], sua mais notável obra. Os interesses de Apollinaire abrangeram inúmeras artes, como a dita, Negra (v.): ele foi o primeiro a escrever a respeito, no livro conjunto com o negociante de arte Paul Guillaume (1917). Outros interesses manifestos do culto escritor foram às artes divinatórias, esotéricas, mitológicas, etnográficas, bem como a criminologia, o exótico, as viagens e claro, a literatura de alto nível e a erótica.



Foi Apollinaire quem, praticamente, ressuscitou a literatura do Conde de Sade, mais conhecido como o Marquês de Sade, com a republicação de sua obra, acompanhada de notas, biografia e ensaio (Paris, 1909). O interesse do intelectual na escrita erótica continuou: ao longo do tempo, ele publicou alguns textos de sua autoria, nos momentos em que teve dificuldades econômicas. Apollinaire formou ampla biblioteca e os artistas, que futuramente formaram o Grupo do Surrealismo (Paris, 1924), leia-se André Breton e companhia, foram influenciados por seu gosto literário. Apollinaire exerceu grande influência, tanto em Breton como em Phillip Soupault, que, ainda bem jovens, passaram dois anos visitando assíduamente o escritor, durante o período da I GM. Breton ficou impressionado com a seleta coleção de esculturas de arte, dita, Negra, de Apollinaire, que admirou nas suas visitas ao apartamento do escritor, no Boulevard Saint-Germain. Breton prosseguiu no Surrealismo, dando continuidade à estética original de Apollinaire. Em homenagem à Apollinaire, até mesmo o nome do movimento foi calcado no termo inventado pelo poeta. No primeiro período do Surrealismo (1924-1929), Breton ressuscitou todos os autores antigos que Apollinaire apreciou e indicou; Breton apoiou nestes escritores a primeira fase da revista Literatura.


O artista das vanguardas russas Mikhail Larionov, oficial do exército russo, expôs com Natália Gontcharova na Galeria Paul Guillaume (Paris, 1914). A apresentação no catálogo da exposição da dupla de vanguardistas russos foi de Guillaume Apollinaire. Larionov e Gontcharova acompanharam a Cia. Teatral S. P. Diaghilev no alvorecer da I GM. Apollinaire alistou-se e lutou pela França na I GM: ele foi ferido na frente de batalha e voltou para Paris como herói francês, agraciado com condecoração. O escritor foi amigo próximo de Pablo Picasso e com ele, esteve envolvido no episódio pouco esclarecido do desaparecimento de duas esculturas de Arte Negra de museu francês (v. CACHIN & MINERVINO, 1977).

 

Picasso tornou-se cenógrafo e figurinista para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergey Diaghilev (1872-1929) e realizou a cortina do palco, os cenários e figurinos para Parada [Parada] (1917), balé com libreto de Jean Cocteau (1885-1963), música de Erik Satie (1866-1925), coreografia de Léonid Massine (1894-1979), que estreou no Teatro do Châtelet (Paris, 18 de maio, 1917). Apollinaire esteve presente na noite de estréia: foi de sua autoria o texto publicado Parada e o Novo Espírito, crítica ao espetáculo apresentado em conjunto pelas mais destacadas personalidades das nascentes vanguardas francesas. Na estréia parisiense, quando o público ficou revoltado, Apollinaire subiu ao palco proferindo discurso para acalmá-lo. Conhecido e respeitado desde a publicação da revista As Noites de Paris (1912-1914), conseguiu seu intento, principalmente por ter sido condecorado como herói francês. No ano seguinte Apollinaire faleceu.



Apollinaire morreu jovem, das consequências da epidemia da dita, gripe espanhola, que grassou logo após a guerra (1918). Apollinaire deixou extensa e original obra, que influenciou muitas gerações das vanguardas artísticas e intelectuais, ao longo de todo o século XX. Breton considerava Álcools, de Apollinaire, de acordo com PIERRE (1983), como a maior obra poética do século XX. Fotografias de Apollinaire participaram da mostra póstuma de André Breton, no MNAM - CGP: as fotografias do apartamento no Boulevard Saint-Germain, cheio de livros até o teto; e a fotografia Apollinaire Ferido [Apollinaire blessée] (1916), dedicada à Breton, encontram-se reproduzidas no catálogo da mostra (BEAUMELLE, 1991). A capa da revista Les Soirées de Paris (15 nov., 1913), encontra-se reproduzida (RAGON, 1992).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

APOLLINAIRE, G. Aesthetic Meditations on Painting: The Cubist Painters. Paris, 1913. 


Apud APOLLINAIRE, G.; EIMERT D.; PODOKSIK, A. (Biograf.). Cubism. Translated by Dorothea Eimert. New York: Parkstone Press International, 2010, 200p., ils. color., pp. 06-26.



CATÁLOGO. BEAUMELLE ET AL. André Breton, La Beauté Convulsive. 1991, pp. 87, 89.

CALMANN-LÉVY, C. André Breton: Le Grand Indésirable. Paris: Centre National des Lettres, 1990.
 
CATALOGUE RAISONNÉ. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentation par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia. 23,5 x 31 cm.

DICIONÁRIO. BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire général du surréalisme et ses environs.:sous la diréction de Adam Biro et René Passeron. Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il., retrs.  

DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963.

LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs.

PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 146.

PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p. 97, 301.



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