quinta-feira, 5 de setembro de 2013



PICASSO, Pablo (1881-1973); Pablo Diego José Francisco de Paula Nepomuceno Maria de los Remédios Crispim Crispiniano de La Santissima Trinidad Ruiz e Picasso.


 
O artista, conhecido a partir das vanguardas francesas parisienses, nasceu em Málaga (Espanha, 25 out., 1881) e faleceu em Mougins (França, 1973). O artista foi viver em Paris (1904-), cidade que ofereceu-lhe o apoio da primeira mostra individual, realizada na Galeria Ambroise Vollard (Paris, 1902). Picasso pintou o Retrato de Vollard (1869-1935), na fase do Cubismo, dita, Hermética (1910-1912).

O artista dividiu seu primeiro ateliê e moradia parisiense com Fernande Olivier (Amélie Long, 1981-1966), a bela jovem que ele retratou inúmeras vezes, inclusive no retrato pertencente ao acervo do MASP - Museu de Arte Assis Chateaubriand (São Paulo). O modestíssimo espaço recebeu do poeta Max Jacob (1876-1944), amigo de Picasso, o nome pomposo de Barco Lavanderia [Bateau-Lavoir], dado à essa construção decadente de madeira que lembrava a forma de barco, prédio com muitos ateliês ocupados por diversos artistas. Fernande abandonou Picasso em 1912 quando ele se apaixonou por Eva Gouel (Marcelle Humbert, 1885-1915), na época companheira de Serge Marcoussis, que viveu com ele até morrer de gripe, deixando Picasso devastado.

 
 
O primeiro marchand de Picasso foi o alemão Daniel-Henry Khanweiller (1874-1979), que montou renomada galeria (Paris, 1907-). Khanweiller visitou Picasso no ateliê, quando adquiriu o primeiro quadro do artista que passou a comercializar. O marchand descreveu com detalhes a péssima aparência do ateliê de Picasso, na entrevista concedida a François Cremieux (v. Referências). Logo o Bateau Lavoir, tornou-se ponto de encontro de importantes intelectuais, escritores e artistas vanguardistas como Amedeo Modigliani (1884-1920) e Guillaume Apollinaire (1880-1918), entre outros. O local foi palco do famoso banquete oferecido pelo grupo em homenagem a Henri Le Douanier Rousseau (1908).


Picasso, que tornou-se o mais famoso artista espanhol em Paris, no início de sua carreira abraçou todos os estilos da arte das vanguardas, nos quais deixou suas múltiplas marcas. Os quadros de Picasso foram Simbolistas, nas fases azul e rosa; o artista pintou como os Fauvistas, na fase de curtíssima duração; e, finalmente, Picasso descobriu o Cubismo, na mesma época que Georges Braque (1882-1963), que o artista conheceu nos salões (1907) de Gertrude Stein (1874-1946).

 
Picasso e Braque desenvolveram o Cubismo juntos, até o início da Primeira Guerra Mundial (I GM). E, de forma mais próxima e marcante durante o período de um ano, quando passaram as temporadas de verão vivendo juntos (1912-1913). O Cubismo de Braque precisou ser interrompido porque o artista lutou pela França durante a I GM; ele foi gravemente ferido, ficando à beira da morte e sofrendo trepanação craniana. Braque recobrou-se e voltou a pintar depois da guerra (1918-1919), mas afastou-se de Picasso e Khanweiller, seguindo sua carreira independentemente.
 
 
O Cubismo de Picasso foi mais prolongado do que seus amigos do Grupo da Seção de Ouro [Section d'Or] (v.), como o de Marcel Duchamp (1887-1968) e seus irmãos, o escultor Raymond Duchamp-Villon (1886-1918) e o pintor Jacques Villon (Gaston Duchamp, 1875-1963). O Grupo da Seção de Ouro, com quem Picasso não expôs, mostrou o conjunto de obras de numerosos artistas (1911-1925). O contrato de exclusividade que Picasso celebrou com a galeria de arte de D.-H. Khanweiller impediu-o de participar das mostras coletivas francesas; mas o marchand logo levou os quadros de Picasso para exposição em várias cidades que, na época, eram os principais centros culturais internacionais, Berlim, Munique, Dresden e Nova York (1914-).

Começando o Cubismo através de seu período dito Proto-cubista (1906), Picasso pintou o retrato de Gertrude Stein (v. o Círculo de Gertrude e Léo Stein), seu próprio Auto-Retrato e iniciou a pintura de suas Demoiselles d'Avignon. Picasso permaneceu Cubista durante o prolongado período de 18 anos (1907-1925). Picasso foi artista incansável nas suas pesquisas, e, prolixo, utilizou inúmeras técnicas, entre algumas que criou, sendo que seu gênio permaneceu extremamente original em todos os materiais que tocou e em todas as diferentes fases de sua obra. O desenho, de traço pessoal inconfundível, levou-o a ser considerado como um dos maiores desenhistas do século XX; Picasso desenhou o Pai Ubu, homenagem a Alfred Jarry (1873-1907).

 
Escultor original, Picasso utilizou a escultura como base de suas pesquisas do Cubismo, na sua obra de caráter eminentemente pictórico. Citamos a escultura Fernande (1909), quando Picasso criou o retrato espacial, verdadeiramente Cubista de sua primeira companheira, Fernande Olivier, que o artista retratou em desenhos e pinturas. A escultura exemplar é de fundamental importância para a compreensão da deformação Cubista e do Cubismo como movimento das vanguardas artísticas na França. Na escultura precursora Picasso atingiu a deformação Cubista da forma, partindo de dentro para fora: conceitualmente inovadora, a obra tornou-se uma das mais importantes esculturas do século XX.
 
 
Entre outras de suas obras escultóricas experimentais, Picasso criou escultura inédita, na qual ele utilizou selim e guidon de bicicleta, com os quais montou cabeça com chifres de touro. Essa obra foi fundida em bronze com o título de Cabeça de Touro (33,5 cm x 43,5 cm x 9 cm, no acervo do Museu Picasso, Paris). Todo tipo de objeto serviu para Picasso montar esculturas artísticas, usando sua criatividade pessoal, espontânea e especial. Ceramista incomum, Picasso criou obras únicas nesta técnica, com formas e desenhos inconfundíveis.
 
 
Picasso tornou-se cenógrafo e figurinista para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergei Diaghilev (1872-1929) e realizou a cortina do palco, os cenários e figurinos para Parada [Parade] (1917), balé com libreto de Jean Cocteau (1885-1963), música de Erik Satie (1866-1925) e coreografia de Léonid Massine (1894-1979), que estreou no Teatro do Châtelet (Paris, 18 maio, 1917). Diaghilev convidou Picasso para criar os novos cenários e figurinos para o balé de tema espanhol O Tricórnio [Le Tricorne] (1918), baseado no antigo texto de Pedro de Alarcón, com música de Manuel de Falla. Picasso conheceu a bailarina Olga Khokhlova (1891-1955), com quem ele casou e viveu 10 anos (1917-1927). Picasso partiu para Londres (1918), com Olga e André Derain (1880-1954).
 
 
A decoração cenográfica de Picasso para O Tricórnio foi inspirada nos cânones Cubistas e sua maquete original encontra-se no Museu da Ópera (Paris). Esse balé pode ser considerado como moderno, mas não tem nada de revolucionário como o primeiro balé Parada. Durante três meses Picasso dedicou-se à criação dos cenários e figurinos desta obra espanhola, que estreou com imediato sucesso no Teatro Alhambra (Londres, 1918). O Cubismo cenográfico de Picasso em O Tricórnio, ficou reduzido apenas a algumas paredes inclinadas no casario do cenário. Os figurinos foram verdadeira festa de cores e a cortina de cena foi simplificada, mostrando o casario tradicional espanhol em perspectiva com céu noturno estrelado visto através do arco da ponte. A música de Manuel de Falla contribuiu bastante para o sucesso do espetáculo: o músico introduziu sons de palmas, sonoros olés, castanholas, além de duas breves aparições de cantora que, apresentou através da voz, curtas canções O dia e A noite. A música de Manuel de Falla, alegre e animada, verdadeira festa musical, foi apresentada com a regência de Roberto Minzuk e a OSESP na Sala São Paulo (abril, 2004).
 
 
A idéia de Sergei Diaghilev de criar balé baseado na Commedia del'Arte italiana, inspirado em manuscrito do século XVIII, que contava a história de quatro polichinelos parecidos. Surgiu assim o balé Polichinelo [Pulcinella] (1919), novamente com a cenografia de Picasso que inspirou-se nas decorações barrocas do teatro italiano. O artista começou desenhando cenários formais, que Diaghilev detestou, até que Picasso simplificou-os, agradando ao exigente empresário. O cenário terminou apresentando desenho de casario Cubista em perspectiva profunda, que mostrava ao fundo a lua cheia sobre o mar calmo onde flutuava embarcação à vela; no primeiro plano, Picasso criou falso Proscenium, desenhado de forma gráfica e multicolorida, obtendo efeito moderno para o clima geral de inspiração romântica. Picasso criou o figurino para o Polichinelo, personagem alto e gordo vestido com roupas simples de cores claras, blusão largo com mangas bufantes e calças amplas também bufantes e da mesma cor, levando na cabeça chapéu alto e pontudo. Os desenhos dos costumes foram simplificados, mas funcionaram, apresentando no palco imenso vigor cênico. A trama complicada do balé Polichinelo (1919) mostrou a separação de amantes, intriga amorosa, pais tirânicos, com toda a trama chegando a final feliz devido à interferência do Polichinelo. A coreografia foi de Michel Fokine (1881-1942) e a música foi adaptada por Igor Stravinsky (1882-1971) das partituras de antigo compositor napolitano, Giovanni Battista Pergolesi, que Diaghilev escolheu como tema do balé. Em um ato e oito cenas a música apresentou canções criadas para soprano, tenor e baixo solistas. O impacto da música foi tamanho que permaneceu na Europa durante uma década. Os bailarinos escolhidos por Diaghilev foram russos: Tamara Kasarvina, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Leonid Massine, Tadeusz Idzikovski, Nicolas Zverev; e a única exceção, Enrico Cechetti. No dia da estréia do balé Diaghilev não estava satisfeito, nem com os figurinos de Picasso, nem com a adaptação musical de Stravinsky, mas o balé conheceu grande sucesso à partir da estréia (Paris, 15 maio, 1918).

Diaghilev encontrou a pequena trupe de dançarinos ciganos e cantores em Sevilha, que contratou para se apresentarem no balé Quadro Flamenco [Cuadro Flamenco] (1920). Nessa ocasião, a temporada parisiense dos Balés Russos era de apenas uma semana, a ser realizada no pequeno teatro afastado chamado de Gaieté-Lyrique. Dois balés estrearam na mesma noite: O Bufão [Le Chout] e o Quadro Flamenco. O balé em seis cenas com música de Sergey Prokofiev, O Bufão: Como um bufão enganou sete outros bufões, com libreto de Alexander Afanasiev (1826-1871), renomado autor estudioso do folclore russo, cujo texto, voltado para a comicidade estreou com os Balés Russos [Ballets Russes]. Os cenários e figurinos foram idealizados pelo artista destacado nas vanguardas russas, Mikhail Larionov (1881-1964), com trajes multicoloridos baseados na síntese do Cubismo, mas influenciados pelos costumes folclóricos dos camponeses russos. O próprio Prokofiev foi o regente da orquestra quando o balé estreou, na curtíssima temporada de uma semana, fora do circuito sofisticado parisiense (Paris, 17 maio, 1921). No entanto, esse espetáculo com temática divertida não agradou ao público;o balé foi reapresentado na mesma temporada, quando dançou como bailarino principal o novato Taddeusz Slavinsky, no Teatro do Príncipe [Prince's Theatre] (Londres, 1921) (SHEAD, 1989).O Quadro Flamenco estreou com música de Sergey Sergeevitch Prokofiev (1881-1953), cenários e figurinos de Picasso para o qual o artista desenhou ambiente simples e elegante, que agradou ao público. A música, apresentada com dois guitarristas espanhóis e conjunto de bailarinos, que apresentaram-se dispostos em semi-círculo de acordo com suas tradições, postados na frente da pintura de Picasso para a cortina de cena. Depois da estréia em Paris, o balé partiu para ser apresentado no pequeno Prince's Teather (Londres), pertencente a C. B. Cochrane, onde foi aplaudido pelo Rei da Espanha.

Para o balé O Trem Azul [Le Train Bleu] (1924), com libreto de Jean Cocteau, e cenários de Henri Laurens (1885-1954), marqueteries assinadas por René Prou e acessórios de René Lalique. Na cenografia Laurens evocou, através do desenho das cabines praianas, moderníssimas, a fase do Cubismo dito, Sintético. O Trem Azul partiu de Paris na direção da Côte d'Azur. Os viajantes ávidos de prazeres esperavam ansiosos a visão da terra prometida, as praias do Mediterrâneo. Essas praias seriam invadidas por turba delirante e numerosa, em costumes de banho criados por Mademoiselle Chanel: ela lançou a moda da malha (jersei) para as roupas de banho e esporte, usando listras de cores vivas em linhas contrastantes, estilo de figurinos que, ainda hoje seriam considerados modernos. Picasso pintou a cortina de cena, que reproduziu seu quadro Duas Mulheres Correndo Sobre a Praia [Deux femmes courant sur la plage]. Cocteau conhecia a costa e o mar e Massine soube seduzir o público com a coreografia que incluía proezas de ginástica e malabarismos. Da praia o tema do balé partiu para esportes sofisticados como tênis; Chanel vestiu Bronislava Nijinska (1891-1972), irmã de Vaslav Nijinsky (1889-1950) com costume esportivo branco, sapatos, meias e camisa de malha esporte, até hoje figurino de conhecida grife francesa de roupas esportes. O figurino de Anton Dolin, o bailarino inglês estrela da apresentação, foi camiseta sem mangas e short de malha mescla; e, a bailarina Lidia Sokolova vestiu costume semelhante em outra cor. O balé O Trem Azul colocou na praia, ao mesmo tempo, mais de 20 bailarinos em cena. O argumento de Jean Cocteau, que trabalhou com a coreógrafa Bronislava Nijinska, deveria ser dançado com música leve, frívola e divertida. Diaghilev contratou Darius Milhaud (1892-1974), que estava escrevendo a música de Salada para os Balés do Conde de Beaumont, mas que aceitou escrever ao mesmo tempo a música de O Trem Azul para os Balés Russos. A música foi apropriada para o espetáculo divertido que Cocteau produziu: a fanfarra composta por Georges Auric anunciou o espetáculo quando apareceu o soberbo desenho de Picasso no pano de cena, reproduzido na capa do programa. O balé estreou no Teatro dos Campos Elísios e conheceu imediatamente grande sucesso (20 junho, 1924).

Massine, agora considerado o maior coreógrafo mundial, havia se desligado da companhia de Diaghilev quando passou a colaborador dos espetáculos do Conde de Beaumont, que começou organizando noites artísticas para entreter convidados de suas festas particulares, as quais toda a sociedade parisiense comparecia. O rico empreendedor foi convencido à organizar o Festival Noites de Paris [Soirées de Paris] (1924; 1925). Picasso criou a cenografia para o balé Mercúrio [Mercure], para o qual pintou a cortina de cena para palco pequeno (400 cm x 500 cm) e discutiu muitas idéias novas para esta realização com o coreógrafo e bailarino Massine. A cenografia de Picasso foi bastante inovadora, moderna e baseou-se no relevo da linha contínua em desenhos moderníssimos, muito comentados, pois bem avançados para a época. Picasso estudou com Massine os diferentes modelos de figurinos, entre outros, os da carruagem de Perséfone que permitiu a Plutão fugir com sua prole, bem como a do cavalo atrelado ao carro. O balé Mercúrio (Paris, 1924) foi montado com três quadros que ilustravam as aventuras burlescas de deuses gregos, misturados aos humanos através da imaginação. O argumento foi de Jean Cocteau (1885-1963), que, buscou divertir enquanto escandalizava o público. Este balé foi encenado pela Cia. de Balé do Conde de Beaumont (Paris, 1924; 1925), que patrocinou os espetáculos As Noites de Paris [Les Soirées de Paris], nome com que homenageou a revista homônima que Guillaume Apollinaire (1880-1918) editou anteriormente (Paris, 1912-1914). A participação de Picasso nos balés não terminou neste balé de Jean Cocteau, pois o artista, no final da década de 1940 criou os cenários e figurinos para outros balés.

 
Beaumont foi aristocrata com recursos, tinha muitos amigos na cidade-luz onde viveu e promoveu festas que ficaram famosas; ele arriscou seus recursos levando alguns espetáculos de balé aos palcos parisienses como Salada [Salade], com música de Darius Milhaud, entre outros. Certo número de excelentes bailarinos russos que haviam colaborado anteriormente com os Balés Russos, mas que agora estavam afastados da companhia, participaram do balé Mercúrio, que não conheceu nenhum sucesso, nem mesmo posteriormente quando foi re-encenado por Diaghilev (1927). Nesse ano Picasso separou-se da esposa, de quem nunca se divorciou, a bailarina Olga Khokhlova, mãe de seu único filho legítimo, Paul Joseph Ruiz-Picasso (1921-1975), pai de Pablo (1949-1973), que suicidou-se no dia do enterro de Picasso; de Marina (1950-) e Bernard Ruiz-Picasso (1959-). Picasso viveu com a linda Marie Thérèse Walter (1909-1971), que ele seduziu aos 17 anos de idade, com quem conviveu nove anos (1927-1936). Do relacionamento nasceu Maya (Maria de la Concepción Widmeier-Picasso, 1935-). Marie Thérèse suicidou-se cinco anos após a morte de Picasso.
 
 
A peça Antigona, Tragédia em três atos de Sófocles, adaptada por Jean Cocteau, estreou em Paris (jan., 1924) e foi re-encenada posteriormente (fev., 1925). A peça foi apresentada com música de Arthur Honegger composta para harpa e moinho de vento (dez., 1922), cenários e figurinos de Pablo Picasso no Teatro do Ateliê [Théâtre de L'Atelier]. Atuaram Genica Atanasiou (Antígona) e Charles Dullin (Créon), conforme publicado na revista Feuilles Libres [Folhas Livres] (jan., 1924). Outro artigo publicado sobre Antígona, de autoria de Paul Bertrand foi No Teatro do Jorat: Antígona [Au Théâtre du Jorat: Antigone], publicado na revista Le Ménestrel [O Menestrel (Paris, 21 ago., 1925). O prefácio da peça foi dedicado a Vaura pelo próprio compositor (Barème, set., 1927). 

 
Picasso tornou-se escritor depois que associou-se informalmente ao grupo dos escritores e artistas Surrealistas: ele passou a explorar a dita, Pintura-Poema, principalmente por seu legítimo interesse na poesia Surrealista, devido à sua imensa apreciação da poesia de Paul Éluard. Algumas destas poesias desenhadas e escritas por Picasso foram publicadas nos Cahiers d'Art (vol. 10, nos. 7/10, 1935). André Breton (1896-1966) comentou que a escrita de Picasso apresentava como ponto de partida a realidade imediata, no sentido da criatividade pendendo mais para a estética do pensamento criativo de James Joyce do que para o automatismo psíquico do texto que o Surrealismo celebrava. Anos depois, Picasso escreveu em três dias (14-17 jan., 1941) a peça de teatro Surrealista, O Desejo Seguro Pelo Rabo [Le Désir atrapé pour le queue]. A peça foi lida públicamente uma única vez; Breton comentou-a de modo crítico na re-edição de seu livro O Surrealismo e a Pintura [Le Surréalisme et la peinture] (1928. 1961). A peçadePicasso parece completamente Surrealista, pois, em vários momentos ocorrem poemas automáticos, formados por associacão de idéias, palavras de humor um tanto quanto negro. Nesse momento Picasso refletiu na liberação de sua veia literária as grandes dificuldades que a França e seus habitantes passaram durante os quatro anos de ocupação nazista. Esta peça de Picasso parece reduzir-se a dois grandes temas - a fome e o amor. Picasso reinvindicou ao amor a liberdade e exerceu a liberdade de criação, sem as quais a vida do poeta e do verdadeiro artista torna-se impossível.

 
Na fase em que esteve próximo do Surrealismo Picasso viveu com a excelente fotógrafa iugoslava naturalizada francesa, Dora Maar (1907-1997), que documentou a criação da pintura Guernica (1937). Maar viveu oito anos com Picasso (1936-1944), mas estava sempre infeliz e Picasso apelidou-a de Senhora Chorona; as pinturas realizadas no período, retratos de Maar, tinham cores tristes. Picasso trocou Maar pela jovem Marie Françoise Gilot (1921-), de quem nasceram seus filhos Claude (1947-) e Paloma (Anne Paloma Ruiz-Picasso, 1949-). Picasso tinha 62 anos quando foi viver com Gilot, que tinha 32 anos; viveram dez anos juntos (1943-1953). Em maio de 1951 Picasso re-encontrou Geneviève Laporte (1927-2012), que, nunca viveu maritalmente com o artista, foi somente amante; ela conheceu Picasso quando, ainda estudante, entrevistou-o para trabalho escolar (1944). Depois re-encontou o artista, que vivia maritalmente com Gilot; esse relacionamento de Laporte e Picasso durou dois anos (1951-1953). Durante esse período foi musa de Picasso, que presenteou-a com 20 obras; Laporte colocou em leilào essas obras (2005) e angariou recursos para concretizar o sonho de inaugurar a Fundaçào Geneviève Laporte de Pierrebourg para a Defesa da Natureza e dos Animais. Documentarista e escritora, Laporte seguiu sua vida; ela realizou 18 documentários na África, escreveu e publicou poesia premiada pela Academia Francesa (1999), além de outros 15 livros, sendo quatro sobre Picasso. Quando Gilot descobriu a vida dupla de Picasso, separou-se; além de linda, ela foi a musa mais culta do artista, formada em Literatura Inglesa em Cambridge, com mestrado em Filosofia pela Sorbonne, posteriormente escritora do sucesso Vida com Picasso. O artista processou-a pela biografia, mas perdeu a ação, e, depois do ocorrido abandonou seus filhos, Claude e Paloma. Posteriormente Gilot casou-se (1970) com o famoso pesquisador e criador de vacinas, Dr. Jonas Salk.


 
Picasso encontrou na ceramica Madour, onde executava suas obras, Jacqueline Roque (1926-1986), com quem viveu até o final de sua longa vida (1953-1973). Picasso foi homenageado por Henri-Georges Clouzot com o filme que retratou o artista, O Mistério Picasso [Le Mystère Picasso] (França, 1956), com direção de H.-G. Clouzot, fotografia de Claude Renoir e montagem de Henri Colpi. O filme foi projetado no Festival Marin Karmitz, do editor francês de filmes, que ocorreu no Centro Georges Pompidou (Paris, 10 abril - 24 junho, 1985). A mostra cinematográfica apresentou 93 filmes, além de exposição de fotografias (v. INTERNET, abaixo, REFERÊNCIAS SELECIONADAS PARA PICASSO).

 
Picasso atuou como ator em obras cinematográficas experimentais, como no filme O Testamento de Orfeu [Le Testament d'Orphée] (França, 1959, P&B, sonoro, 77'). A cópia do filme dirigido por Jean Cocteau, que também atuou como ator, pertence ao acervo da Biblioteca do Filme do Museu de Moderna de Nova York a MoMA Film Library, e foi projetada na mostra Surrealismo: Cinema e Vídeo, organizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - Rio de Janeiro, 2001).


Em meados da década de 1920 a pintura cubista de Picasso O Grande Inquisidor, transformou-se em Tapeçaria tecida pelos Ateliês de Aubusson, encomendada pelas Edições Cutoli, de Marie Cutoli (Paris). A empresária convidou os mais destacados artistas plásticos europeus para criarem cada um uma pintura, reproduzida na obra tecida na técnica, dita, de Gobelin. Esse conjunto de obras esteve em exposição na Galeria Reid e Lefèvre (Londres) e no Arts Club (Chicago, 1933). Posteriormente outras pinturas de Picasso foram transformadas em tapeçarias, algumas tecidas nos Ateliers des Gobelins, em Paris.
 
 
EXPOSIÇÕES DE PICASSO NO BRASIL.


 
O Cubismo, segundo Bernard Dorival, que trouxe a primeira grande mostra a pedido do MAM, como representação francesa à II Bienal Internacional de São Paulo, declarou no catálogo:




É, na realidade, essencial acentuar que o cubismo não foi nem uma capela nem uma doutrina. Elaborado, ao mesmo tempo, por pintores que não se conheciam pessoalmente, que reuniram, depois, suas pesquisas semelhantes - Picasso, Braque, Delaunay, Léger - o cubismo teve, desde o início, diversos focos principais - o ateliê de Picasso no Bateau-Lavoir em Montmartre, de Gleizes em Courbevoie, dos irmãos Villon em Puteaux, de Delaunay, na Rue des Grandes Augustins - onde, todas as formas múltiplas, mais gráficas em um, mais coloridas em outro, tendendo às vezes para a abstração, fiel outras vezes às aparências da natureza. (DORIVAL, 1953).


A mostra celebrou o artista na Sala Especial Pablo Picasso, que apresentou 51 obras, inclusive o Retrato de Mulher (1937, óleo/ tela, 91,5 cm x 64 cm); Mulher Sentada de Frente (1920, óleo/ tela, 116 cm x 73 cm); Flauta de Pan (1923, óleo/ tela, 201,5 cm x 173,5 cm); Minotauro Correndo (1928, óleo/ tela, 159,5 cm x 128,5 cm), todas as citadas reproduzidas no catálogo da mostra. Outras obras que participaram da Sala Especial do artista, na exposição organizada com a participação direta de Picasso, que trouxe ao Brasil a mais conhecida obra dele, Guernica (1937, 380 cm x 850 cm), pintura que esteve pela primeira vez em exposição no Pavilhão Espanhol da Exposição Universal (Paris, 1937). Esta obra, que tornou-se uma das mais importantes pinturas do século XX, participou da mostra paulista, que, na época trouxe outras obras de Picasso hoje consideradas marcantes na carreira do artista como Os Jogadores de Cartas (1914, 108 cm x 89 cm, no acervo do MoMA, em Nova York), homenagem que Picasso prestou ao mestre das vanguardas francesas, Paul Cézanne (1839-1906); e duas de sua últimas e importantes pinturas da dita, Fase Cristal do Cubismo: As Três Graças (1924, 197 cm x 147,5 cm) e A Dança (1925, 211,5 cm x 141 cm). Citamos ainda a mostra retrospectiva, que trouxe 126 obras do artista à Oca, no Parque do Ibirapuera, exposição que permaneceu aberta ao público no primeiro semestre (São Paulo, 2004).

 
Picasso tornou-se gravador privilegiado que marcou época com sua extensa obra gravada, na qual destacamos a conhecida Suite Vollard, formada com mais de 100 gravuras em várias técnicas, realizada no período final de sua longa vida e que esteve em exposição em mostra no MASP - Museu Assis Chateaubriand (São Paulo, 1985). Algumas gravuras dessa mesma série estiveram em exposição no CCBB - Centro Cultural Bamco do Brasil (Rio de Janeiro, 1999). Várias das obras representativas de Picasso (13), estiveram em exposição na importante mostra Surrealismo, no CCBB (Rio de Janeiro, 2001). Entre estas destacamos Cabeça de Mulher [Tête de Femme] (1927, óleo/ areia/ tela, 55 cm x 55 cm); Guitarra [Guitarre] (1926, cartão/ tule/ barbante/ traços de crayon, 12,5 cm x 10,4 cm); outra Guitarra [Guitarre] (1926, tule/ cartão pintado/ nanquim/ barbante/ fita, 14,2 cm x 9,5 cm); Homem Lendo Seu Jornal [Homme lisant son journal] (1914, aquarela/ grafite/ papel, 32,1 cm x 23,9 cm); a escultura Cabeça de Mulher [Tête de Femme] (1929-1938, ferro/ chapa/ mola/ filtro de ar, 100 cm x 37 cm x 59 cm). Todas as obras de Picasso citadas pertencem ao acervo do Museu Picasso (Paris).
 
 
 
No século XX talvez Picasso tenha sido o artista que mais produziu, pois pintava um quadro completamente inovador a cada dia e somente deixou de fazê-lo durante período de poucos meses, quando perdeu sua amada Eva (Marcelle Humbert), que morreu de gripe (1915). Este foi o único período da longa vida do artista quando ele parou de pintar por três ou quatro meses. Picasso foi tido como gênio de difícil convivência, mas foi homem apaixonado, não só pela arte, mas pela vida, que nunca deixou de celebrar intensamente. Picasso foi modelo de qualidade na diversidade de meios que empregou para expressar-se nas artes, tornou-se guia de várias gerações de artistas: foi único, simplesmente Picasso.





 
 


REFERÊNCIAS SELECIONADAS PARA PICASSO:

 
BARR, A. Cubism and Abstract Art. Harvard: The Belknap Press-Harvard University Press. New York: 2a ed., Museum of Modern Art, 1986, p. 219.
 
 

BEHAR, H. Sobre el teatro Dada y Surrealista. Barcelona: Barral, 1979, pp.221-225.

 
CATÁLOGO de Filmes. Marin Karmitz, éditeur de films à Paris. Paris: Centro Georges Pompidou, 1985.
 
 
CATÁLOGO. DENIS, I.; LAGRANGE, J.C.; LE NOUËNE, P.; LOISON, M.; DE LOISY, F.; MASSÉ-BERSANI, H.; MICHOT, G.; PLAYE, P.; SAMOYAUL, J,P.; SCHOTTER, B.; ZUBER-CUPISSOL, M. Manufactures nationales, de 1960 à nos jours. Ville d'Angers, France: édition Ville d'Angers, il.;color., 96 p., 21 cm x 30 cm.



CATÁLOGO. Le sexe dans l'art, Féminimasculin. Paris: Éditions du Centre Georges Pompidou, 1995, pp. 83, 127, 172, 202, 203, 209.
 
 

CATÁLOGO. II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. França, pintura. Sala Especial Pablo Picasso. São Paulo: EDIAM, 1a Edição, dez. 1953, pp. 156-160, 177-180.
 

CATÁLOGORAISONNÉ. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentation par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977, pp. 83, 86-87, 101, 102, 528, 529, 530, 781, 892-895; p. 230, il. de Parade: cortina pronta 879; desenhos preparatórios da cortina il. 880-881; cavalo, il. 895; costumes ils. 892, 893, 894. Projeto da cortina de Tricorne il. 926-929; maquete Il. 930; costumes, il. 931; estudos para Pulcinella, il. 940-942; costumes, il. 943; Mercure (v. Ballets Beaumont) ils. 973-978; 1350p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm.



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