quarta-feira, 17 de abril de 2013


 
HISTÓRIA DA ARTE EUROPÉIA DE VANGUARDA. FREUD E AS VANGUARDAS: FREUD, SIGMUND; Sigismund Schlomo Freud(1856-1939). 
 

Sigmund Freud nasceu em Viena, Áustria; no final de sua vida emigrou para a Inglaterra, onde faleceu. As pesquisas pioneiras de Freud levaram-no a ser considerado o pai da psicanálise. O médico e analista Dr. S. Freud tornou-se uma das figuras mais importantes do século XX, influente na vida contemporânea, mesmo mais um século depois de sua primeira publicação (1899).

Os artistas surrealistas, através de André Breton (1896-1966),foram os primeiros à despertarem para o conhecimento da obra de Freud na França; através das inúmeras revistas publicadas pelo grupo, citaram Freud nas suas pesquisas e despertaram o interesse geral dos intelectuais. Na Europa proliferavam as teorias mais absurdas e canhestras sobre o universo da saúde mental: as teorias do Dr. Freud foram recebidas com muitas reservas, por parte da comunidade científica internacional. Antes da primeira obra de Freud aparecer traduzida, publicada em Paris (Félix Alcan, 1926, na BN), sua obra já era conhecida por Breton, que deparou-se com a mesma por circunstâncias do acaso. Breton estagiou como enfermeiro do exército no Instituto de Psicologia, em Nantes, sob a autoridade do Dr. Raul Leroy, que foi anteriormente assistente do Dr. Charcot, que por sua vez foi professor do Dr. S. Freud no Hospital de La Salpetrière (Paris, 1884-1885).

O professor Dr. Jean-Martin Charcot publicou suas Conferências sobre as doenças do sistema nervoso, cuja versão (francês-alemão) foi feita por S. Freud e publicada (Viena, 1886). Freud continuou em Viena as pesquisas que iniciou com Charcot em Paris: sua primeira publicação foi A Interpretação dos Sonhos, que completou o centenário de publicação (4 de nov., 1999). O livro do pioneiro foi homenageado com edição comemorativa, traduzida (Imago, Rio de Janeiro); foi publicado, inicialmente datado de 1900, eseu sumário foi publicado pela primeira vez no idioma francês, traduzido pelo Dr. Maeder (1906).

Breton, que conhecia os escritos de Freud e tinha problemas pessoais para resolver, foi procurar o Dr. Freud (Viena, 1921). Do ponto de vista do intelectual francês sua entrevista com o célebre médico foi frustrante; Breton publicou-a em uma de suas primeiras revistas. Breton buscava soluções imediatas para problemas humanos complexos e Freud não pode fornecer respostas rápidas às questões mais profundas dele. Depois deste episódio Breton pouco citou Freud nas suas publicações; no entanto ele divulgou as pesquisas do Dr. Charcot no artigo comemorativo do cinquentenário da descoberta da histeria, publicando fotos dos arquivos do médico francês em uma de suas revistas.

As obras de Freud levaram mais de 20 anos para chegarem traduzidas à França; mas Max Ernst, como Breton, também conhecia vários dos livros que leu em alemão, quando estudou Psicologia Criminal na Universidade de Bonn. Ernst foi  erudito e trouxe subsídios culturais e teóricos às reuniões que Breton promoveu, antes de tornar-se surrealista e um dos mais influentes artistas europeus no século XX.
    
As teorias de Freud levaram todo o grupo de futuros artistas surrealistas, na época (c. 1921-1922), a empreenderem a série de experiências que ficaram conhecidas na arte como o Período do Sono. Nas reuniões conjuntas do grupo Surrealista os artistas produziram obras, principalmente desenhos, sob efeito de hipnose, e no período, dito, de meio sono. Deste grupo anterior à eclosão do Surrealismo (1924-1966), participaram André Masson, André Breton, Phillipe Soulpaut, Paul Éluard, Louis Aragon e Théodore Fraenkel. Tanto Aragon como Fraenkel estiveram no exército francês junto com Breton: várias fotos dos futuros escritores em uniforme do exército, encontram-se publicadas (BEAUMELLE, 1991). Depois que os artistas, futuros Surrealistas, deram baixa do exército, Soupault e Breton produziram o livro Os Campos Magnéticos (Les Champs Magnetiques, 1922), produto do Automatismo Psíquico, que Breton passou a publicar em capítulos na primeira revista editada por ele, Littérature (Paris, 1919-1924); os capítulos foram reunidos em livro homônimo, publicado posteriormente (1922). O grupo pioneiro de Breton, que empreendeu experiências com hipnose, foi obrigado a interromper essas atividades por ter obtido alguns efeitos indesejados em alguns membros do grupo, o que levou-os a abandonarem esta, entre outras práticas experimentais. Um dos artistas mais afetados foi André Masson, posteriormente paciente de Lacan.

Breton continuou associado à vertente do Automatismo, pois escreveu e publicou nas suas revistas o artigo Poetas de Sete Anos [Poètes de Sept Ans], sobre crianças que escreveram poesias complexas nesta idade precoce. Breton divulgou outros escritores que produziram obras completas quando no estado de alteração da consciência do Automatismo, como a jovem Gisele Prassinos. Sabemos que Rimbaud foi um dos autores que escreveu sua mais famosa obra Une Saison em Enfer (1893), como produto do automatismo da escrita, fato que os Surrealistas valorizaram. Depois que terminou o Período do Sono de seu grupo, Breton desinteressou-se de Freud, que não foi mais citado. Nas primeiras décadas do século XX as obras e teorias de Freud chegaram ao grande público francês por esta via transversa da literatura e da arte, como uma das primeiras aberturas no sistema fechado do pensamento europeu.

O artista espanhol Surrealista Salvador Dali, também visitou Freud (1938): ele desenhou o retrato de Freud, que mereceu a observação:  ...esse espanhol... Freud foi homenageado com outro retrato pelo notável artista uruguaio Ernesto Arostegui, que teceu na técnica de gobelin o moderno Retrato duplo de Sigismund Freud com câncer no maxilar inferior esquerdo (1980, gobelin de alto liço com fios plásticos e sintéticos sobre urdume de algodão, com desenho a craiola sobre papel), obra que participou da representação uruguaia enviada à Bienal de Veneza (1986). Freud foi também homenageado com seu retrato, pertencente à série Personalidades Judaicas Célebres do Século XX, de autoria de Andy Warhol, que desta forma homenageou vários intelectuais e cientistas através de seu álbum com 10 serigrafias, sendo uma delas Freud (1987).

A mostra As Antiguidades de Freud, trouxe ao Rio de Janeiro parte da coleção amealhada pelo professor, que chegou à ter c. 2000 peças e que o Museu Nacional de Belas Artes exibiu (Rio de Janeiro, 05 agosto - 18 setembro, 1994). Quando Freud fugiu dos nazistas escapando para Londres, conseguiu levar sua coleção, com peças raras e muito antigas da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia, da Itália, da China e do Japão, do Peru, da Nova Guiné e do México. Um catálogo foi publicado por ocasião da exposição que mostrou a rara reunião de amuletos eróticos, votivos, em formas de pênis em diferentes materiais como faiança, bronze e marfim, raras jóias eróticas datadas entre 3392 e 4686. Freud foi o pai do termo Penisleid, conhecido como inveja do pênis, e conhecia perfeitamente o simbolismo do fálico no mundo arcaico romano, egípcio e mesmo japonês, de onde provêm a maioria das peças. As fotos das peças encontram-se publicadasno catálogo da mostra vinda do Museu Freud, Londres. O catálogo cita ainda menções de Freud na carta datada (4 de abril, 1898), quando elereferiu-se à asas que terminavam em pênis, formas de alguns dos amuletos, e descreveu a estátua de Priapo, no Museu Arqueológico de Aquiléa.
 
Várias correntes da moderna medicina refutam as descobertas do Dr Freud e da psicanálise; a maioria dos críticos mais ferrenhos encontra-se nos Estados Unidos. O conceito da Anti-Psiquiatria iniciou-se com os Drs. Ronald Laing e David Cooper (1931-1986) que assinaram o Tratado de Psiquiatria e Anti-Psiquiatria (1967); outro dos ferrenhos opositores é o Dr. Adolf Grunbaum, professor de psiquiatria e chefe do Departamento de Filosofia da Universidade de Pittsburg, e autor de Fundamentos da Psicanálise : uma Crítica Filosófica [The Foundations of Psychoanalysis: A Philosophical Critique]; ele abordou o tema em outro livro de sua autoria, Validação na Teoria Clínica da Psicanálise [Validation in the clinical Theory of Psychoanalysis]. O maior questionamento europeu das teorias de Freud surgiu com os filósofos franceses Giles Deleuze, Michel Foulcault e Félix Guattarri, através de sua publicação O Anti-Édipo. Outras correntes pregaram que o caminho promissor para o estudo da mente humana seria o concurso da neurociência, com várias especialidades reunidas, trabalhando e pesquisando em conjunto, médicos, psicanalistas e neurologistas. Vale ler o livro de GAY (1990), detalhada biografia que explica parcialmente o Dr. Sigmund Freud. E, no Brasil repetimos o dito popular, Freud Explica...

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
CATÁLOGO. BEAUMELLE, A. de la; MONOD-FONTAINE, I.; SCHWEISGUTH, C. André Breton: La Beauté Convulsive. Paris: Musée National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, 1991, p. 187.

 
CATÁLOGO. ZUSMAN, W.; GAY, P. (Introd.). Sigmund Freud e Arqueologia: sua coleção de Antiguidades. Rio de Janeiro: Salamandra e Museu Freud, Londres, 1994, pp. 98-99.

 
BÉHAR, H. André Breton  le grand indésirable. Paris: Calmann-Levy, C. N. de Lettres, 1990. [16] p. de lam.: retrs., p. 187

 
CATÁLOGO.RAISONÉE. FELDMANN, F.; SCHELLMANN, J. Andy Warhol's Prints. Catalogue Raisonée. New York: Ronald Feldmann Fine Arts, Shellman Verlag, Abeville Press.

 
GAY, P. Freud – Uma Vida para Nosso Tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990,

 
MONTREYNOUD, F.; BADINTER, E. (Pref.); HELFFER, C (Cinema); KLYMAN, L.; PERROT-LANAUD, M.; AUDÉ, F. Le XXe Siécle des Femmes. Paris: Nathan, 1995, p. 287.

 
PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 155.

 
PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Éditions d'Art Aimery Somogy, 1983, pp. 304-305.

 
SEUPHOR, M.: RAGON, M.: PLEYNET, M. L'Art Abstrait. Paris: Maeght, 1949. 1971-1988, 05 v.: il., pp. 46-47.

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