quarta-feira, 8 de agosto de 2012

BIOGRAFIA:O PRÉ-IMPRESSIONISTA MONTICELLI, Adolphe (1824-1886).


BIOGRAFIA: O PRÉ-IMPRESSIONISTA MONTICELLI, Adolphe (1824-1886).


O pintor francês pertenceu à Escola de Barbizon, da qual o maior expoente foi Jean-François Millet. Monticelli foi muito pobre, levou vida dificultada pelo vício do álcool e do absinto que trouxeram-lhe dor e padecimento.

No final do século XX Monticelli tornou-se pintor quase esquecido, nunca foi sequer citado entre os principais artistas da Escola de Barbizon, da aldeia situada na região do Sena e Marne [Seine-et-Marne], na orla da Floresta de Fontainebleau. A rica região rural tornou-se conhecida por suas belas paisagens, que atraíram os artistas franceses. A dita, Escola de Barbizon, somente ficou conhecida com este nome depois do início do século XX. Os paisagistas que, na mesma época e na mesma região pintaram suas obras diretamente na natureza, na primeira vez que os artistas deixavam a atmosfera opressiva dos estúdios para expressarem-se de modo livre nas suas pinturas, que, no entanto, finalizavam nos seus estúdios.

Monticelli, o mais jovem pintor do grupo de Barbizon, artista nato e exímio colorista, tornou-se, na sua época, a grande referência artística para Vincent van Gogh, que citou-o inúmeras vezes nas cartas para seu irmão Théo. O vanguardista holandês demonstrou grande admiração pela obra do paisagista francês, entre outros artistas citados, quando Van Gogh escreveu:

[...] Cada vez duvido mais da veracidade da lenda de Monticelli bebedor de enormes quantidades de absinto. Considerando sua obra, parece-me impossível que um homem abatido pela bebida tenha feito isto [...] (carta 478)
 


Monticelli foi novamente citado no texto da carta datada de 20 de abril (1888), escrita em Arles, quando Van Gogh comentou:

[...] e muitas vezes penso neste excelente pintor que era Monticelli, que diziam ser tão beberrão e demente, quando me vejo voltando do trabalho mental para equilibrar as seis cores essenciais, vermelho - azul - amarelo - lilás - laranja e verde [...]

[...] Monticelli colorista lógico, capaz de realizar os mais ramificados e subdivididos cálculos relativos às gamas de tons que ele equilibra, certamente sobrecarregava seu cérebro com este trabalho, assim como Delacroix e Richard Wagner [...] (carta 507).

[...] Ontem ao por-do-sol eu estava em charneca pedregosa onde crescem carvalhos bem pequenos e retorcidos, ao fundo uma ruína sobre a colina e trigais no pequeno vale. Era romântico a mais não poder, à Monticelli o sol derramava raios muito amarelos sobre as moitas e o solo, exatamente como se fôsse uma chuva de ouro. E todas as linhas eram belas, o conjunto de uma nobreza encantadora [...] (carta 508)

[...] Sob o céu azul, as manchas alaranjadas, amarelas, vermelhas das flores tomam um brilho espantoso, e no ar límpido há um não sei que de mais feliz e de mais apaixonado que no norte. Isso vibra como o ramalhete de Monticelli que você tem. Eu me arrependo de não produzir flores aqui [...] Enfim, você tem toda a razão ao dizer: sigamos nosso caminho tranquilamente, trabalhando para nós mesmos. Sabe, independentemente do sacrossanto impressionismo, ainda assim eu gostaria de fazer coisas que a geração anterior, Delacroix, Millet, Rousseau, Diaz, Monticelli, Isabey, Decamps, Dupré, Jongkind, Ziem, Israels, Meunier e muitos outros, Corot, Jacque, etc., pudessem compreender [...] Ah, Manet esteve bem perto, e também Courbet, de casar a forma com a cor (carta 519)

[...] Que engano os parisienses não terem tomado gosto pelas coisas rudes, pelos Monticelli, pela barbotina. Enfim sei que não devemos desanimar só porque a utopia não se realiza. Só que eu acho que o que aprendi em Paris se esvai, e estou voltando às idéias que me surgiram no campo, antes de conhecer os impressionistas [...] Pois, em vez de procurar representar exatamente o que tenho sob os olhos, sirvo-me mais arbitrariamente da cor para me exprimir com força [...] (carta 520).

Na correspondência de Van Gogh com seu irmão encontram-se citados os mais conhecidos artistas de Barbizon, pelos quais Van Gogh demonstrou sua grande admiração. Van Gogh inspirou-se nas paisagens ensolaradas dos artistas; copiou, como estudo, uma composição de Millet, e BERMAN (2002) publicou a fotografia, lado a lado, do original de Millet e da cópia inspirada de Van Gogh, nas cores ensolaradas e nas pinceladas livres, com marcas pesadas de impasto pictórico, lançadas de forma espontânea diretamente sobre a tela com a nítida influência da obra de Monticelli sobre a pintura de Van Gogh.

Declarou CLAY (1973): Van Gogh foi fascinado por Monticelli, e declarou:

Penso, às vezes, que realmente continuo àquele homem.

A obra Natureza-morta com jarra branca (c. 1878-1886, óleo/tela, 49 cm x 63 cm), de Adolphe Monticelli, encontra-se reproduzida (BONFANTE-WARREN, 2000), que publicou:
[...] Van Gogh identificou-se fortemente com Monticelli, uma personalidade complexa e flamboyant, que representou para o jovem holandês uma das atrações do Midi. Em destaque, a aplicação da cor intensa e mesmo pura sobre a tela com pesado impasto pictórico, que inspirou o próprio modo de pintar de Van Gogh [...] .


Monticelli, artista empobrecido, voltou a viver em Marselha (1870), onde foi visitado por seu amigo Paul Cézanne, fascinado com a técnica e as experiências pictóricas vanguardistas dele, conforme encontra-se descrito (CLAY, 1973). Cézanne e Monticelli pintaram juntos em Aix, pintores andarilhos com a tralha nas costas. Cézanne tornou-se influenciado pela obra pictórica de Monticelli, que estudou enquanto observava o pintor no trabalho e absorveu parcialmente a sua técnica.
 
A obra de Monticelli, Negresses segurando pássaros, que tem o subtítulo de O palácio de Shéhérazade (c. 1878, óleo/madeira, 37,44 cm x 50 cm), exemplo de pintura precursora do futuro movimento, o Impressionismo, que lembra a obra de William Mallord Turner e que tipifica claramente o material de pesado impasto pictórico utilizado pelo artista.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

ARTIGO. BERMAN, A. Bucolic Barbizon. Produção Doris Athineos; fotografias Sotheby's. New York: Traditional Home, outubro 2002, pp. 80, 82, 84, 86, 88.

BONFANTE-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000, pp 20-21, 48-49, 56-57, 73, 76, 77, 147.

CLAY, J.; HUYGUE, René (Pref.). Impressionism. Seacaucus, New Jersey: Chartwell Books Inc., 1973, pp. 44-45.

DICIONÁRIO. DUROZOI, G. Dictionaire de l'art moderne et contemporain. Sous la direction de Gérard Durozoi.
Paris: Fernand Hazam, 1992. 676p.: Il, p. 406.

VAN GOGH, V. Cartas a Théo. Nova edição ampliada, anotada e ilustrada. Porto Alegre: L & PM Pocket, vol. 21, julho 2003, pp. 174, 270, 255, 256-257, 269, 170, 172-173, 298-299.

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