sexta-feira, 15 de junho de 2012

BIOGRAFIA: CENDRARS, Blaise: Frédéric Sausser (1887-1961).


BIOGRAFIA: CENDRARS, Blaise: Frédéric Sausser (1887-1961).

O escritor e poeta nasceu em Chaux-de-Fonds (Suíça) e morreu em Paris (França). O vanguardista Cendrars tornou-se conhecido na arte das vanguardas francesas e brasileiras, que influenciou. O poeta, que fugiu de casa aos 15 anos de idade, viajou através da Rússia, Pérsia e China na companhia de um mascate. O poeta e escritor radicou-se em Paris, onde frequentou a intelectualidade que conheceu a partir do Grupo (Internacional) da Colméia [La Ruche]. Nesse local viveram na pobreza alguns dos maiores poetas europeus, como Max Jacob e André Salmon. Cendrars conheceu também o escritor, crítico de arte das nascentes vanguardas, poeta e intelectual Guillaume Apollinaire, grande influência na arte francesa; e Fernand Léger, Francis Picabia e o casal Sonia e Robert Delaunay, cuja residência toda a sociedade artística parisiense frequentou.


Cendrars tornou-se o teórico do Grupo do Simultaneísmo, de R. Delaunay e tornou-se o mestre de Oswald de Andrade, na época em que introduziu-o nos círculos intelectuais da livraria de Adrianne Monier (rue de L'Odeon, Paris).

Cendrars foi um dos poetas apresentados nos eventos performáticos do Dadaism (Zurique, 1916-1919); a obra do poeta participou das inovações formais e tipográficas que começaram com o Futurismo marinetiano (1909-; v. Futurismo). Foi Cendrars que, em onjunto com Sonia Delaunay, criou o maravilhoso livro A Prosa do Transsiberiano e a pequena Joana da França [La Prose du Transiberien et la Petite Jehanne de France] (1913), dito simultaneísta, no qual o texto contínuo e a ilustração Abstrata e delicadamente multicolorida de Sonia Delaunay ficaram de tal forma integrados que um complementou e ilustrou o outro. O livro foi impresso na tira contínua de papel com três metros de comprimento, dobrada na forma de leque: esse foi um dos mais belos livros publicados pelas vanguardas artísticas no século XX. A imagem integral do livro se encontra reproduzida, reduzida em escala e à cores (RAGON, 1992). Apollinaire publicou a apreciação elogiosa da obra conjunta Delaunay - Cendrars, na sua revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914).

Cendrars colaborou com artigos publicados em várias outras revistas vanguardistas da época, como a editada por Almada Negreiros, Portugal Futurista (Lisboa, 1917). Foi Cendrars quem anunciou a morte do Cubismo no artigo publicado na revista La Rose Rouge (Paris, 1920). Cendrars frequentou o ateliê parisiense da pintora brasileira Tarsila do Amaral, que foi-lhe apresentada por André Lhote, no ateliê de quem Tarsila estudou por curto período. A artista frequentou também o ateliê de Fernand Léger e convidou os artistas vanguardistas destes círculos para reuniões no seu ateliê, onde, segundo AMARAL (1971), Tarsila serviu canja acompanhada de caipirinha e música brasileira. Cendrars tornou-se muito amigo de Tarsila, o que acabou resultando na primeira de muitas viagens do poeta ao Brasil, onde permaneceu durante seis meses (1924). Em São Paulo Cendrars proferiu palestra na Vila Kyrial, moradia de Freitas Valle e reduto dos modernistas paulistas, quando abordou o tema A Literatura Negra (28 maio, 1924). O poeta também apresentou a sua Conferência – Exposição, no Conservatório Musical (São Paulo, 1924). Esta foi a verdadeira primeira mostra da dita, Escola de Paris no Brasil. As obras das vanguardas francesas foram cedidas pelos colecionadores particulares, Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado. Cendrars incluiu na mostra que organizou, três pinturas de Tarsila do Amaral, inclusive a sua pintura E.F.C.B., que o público pôde apreciar, em conjunto com três obras de Lasar Segall e três de Fernand Léger, uma de Paul Cézanne, outra de Albert Gleizes, e outra de Robert Delaunay. Essa exposição recebeu a análise crítica de Cendrars na palestra que o poeta proferiu no local: o jornal A Gazeta do Comércio anunciou a conferência como O Futurismo em São Paulo: Blaise Cendrars e sua conferência amanhã no Conservatório (11 jul., 1924). E depois Guastini, o diretor do jornal, comentou que foram duas horas de infinito prazer.

[…] a esta exibição ninguém resistiu […],

embora acrescentasse vários comentários desabonadores sobre a arte dos vanguardistas, chamando Lasar Segall de impagável Bolchevista; o seu comentário sobre a obra de Robert Delaunay foi a pergunta - "Quem será este?" e de Tarsila comentou que os quadros pareceram-lhe menos grotescos (sic) e bem mais compreensíveis, já que davam idéia de pintura que até criança de grupo escolar conseguia realizar. Cendrars recebeu ampla cobertura e o jornal Correio Paulistano, na época dirigido por Paulo Menotti del Picchia, elogiou a cultura e a personalidade do suíço, informando que toda a melhor sociedade paulista compareceu ao evento no Conservatório Musical, acabando com a celeuma provocada por certas pessoas, contrárias aos modernistas.

Quando Cendrars estava em São Paulo estourou a revolução (1924). Tarsila, Cendrars e Oswald de Andrade saíram da cidade, abrigando-se na fazenda da família de Tarsila, no interior de São Paulo, na companhia do grupo que incluiu Nonê (Oswald de Andrade Filho), o filho ainda menino de Oswald de Andrade. O grupo citado organizou excursão com D. Olívia Guedes Penteado, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, que com o poeta e viajante passou pelo interior de São Paulo e visitou várias cidades históricas de Minas Gerais. Outro grupo, que incluiu Cendrars, visitou o Rio de Janeiro durante o carnaval.

Quando Cendrars voltou para Paris, o resultado foi a publicação de seu livro de poesias Folhas de Rota [Feuilles de Route] (Paris: Au Sans Pareil, 1924), ilustrado por Tarsila do Amaral com o desenho esquematizado de sua pintura A Negra (1923, óleo/ tela, 100 x 81,3 cm, no acervo do MAC - USP).

A influência de Cendrars sobre a obra de Oswald de Andrade fez-se sentir na redação final de João Miramar (1923) e na poesia no estilo sucinto e telegráfico de Pau-Brasil (1925), na qual o brasileiro adotou a sistemática de Cendrars de abolir acentos. Cendrars admitiu públicamente a forte impressão que a obra de Oswald causou-lhe, quando o autor leu os seus poemas no evento performático para seleta audiência (São Paulo). Foi O. de Andrade quem apresentou Cendrars a Paulo Prado (1923): ele tornou-se grande amigo do escritor e patrono do movimento modernista paulista, amizade que perdurou até a morte de Prado (1943). O poeta suíço foi recebido por D. Marinette Prado com lautos almoços na casa na Av. Higienópolis, e, através do livro publicado de Prado, Retrato do Brasil, introduziu Cendrars na história do Brasil (1928). A partir do início da relação de amizade de Prado com Cendrars, data a correspondência trocada entre ambos (1925-1942), resgatada pela pesquisadora Ana Maibach, que encontrou 37 cartas e vários bilhetes trocados entre os intelectuais. A amizade estendeu-se às famílias de ambos, entre as esposas Raymonde (Cendrars) e Marinette (Prado); discutiu-se mais tarde até mesmo a possibilidade de Remy, filho de Cendrars, vir trabalhar com Paulo Prado, o que acabou não ocorrendo.

Depois que voltou a viver em Paris Cendrars continuou com suas estreitas ligações com as vanguardas francesas: ele foi o roteirista do filme A Roda [La Roue], de Abel Gance (v. biografia). Cendrars escreveu o libreto para a o balé A Criação do Mundo [La Création du Monde], com música de Darius Milhaud, coreografia de Jean Borlin, principal bailarino da companhia dos Balés Suecos, cenários e figurinos gráficos e abstraatos, criados por Fernand Léger. Cendrars presenteou Tarsila e Oswald de Andrade com os ingressos para o casal assistir à apresentação do balé, programa duplo com Skating Rink [Rinque de Patinação], obra com libreto de Ricciotto Canudo, música de Arthur Honegger,  coreografia de Jean Borlin e cenários e figurinos também de F. Léger. Esses espetáculos vanguardistas representaram dois grandes sucessos dos Balés Suecos, de Rolf de Maré (1924). AMARAL (1986), publicou a fotografia do ingresso presenteado a Tarsila; e HAGER (1989), publicou as fotos dos desenhos originais dos figurinos de Léger para os dois balés.

O artigo Blaise Cendrars e o Brasil, de autoria de Michel Simon, foi publicado no jornal O Correio da Manhã (Rio de Janeiro, 28 nov., 1948). Um dos patrocinadores paulistas da Semana de Arte Moderna (1922), René Thioller, escreveu outro artigo, Blaise Cendrars no Brasil, publicado no Jornal do Comércio (Rio de Janeiro, 19 ago., 1962). Da viagem de Cendrars ao Brasil restou o poema em homenagem a São Paulo, no qual o poeta suíço confessou seu grande amor pela cidade; esse poema foi enviado de presente para Tarsila do Amaral que reproduziu-o no convite de uma de suas mostras individuais.

Dois anos depois o poeta suíço voltou ao nosso país (1926), quando aproveitou a oportunidade para entrevistar o poeta italiano F. T. Marinetti; o texto foi publicado no Jornal do Comércio, dirigido por Joaquim Inojosa (Recife, 2 mar., 1926; v. Futurismo no Brasil).

Blaise Cendrars tornou a voltar ao Brasil (1928): o periódico Terra Roxa e Outras Terras, editado por Antônio de Alcântara Machado, publicou na sua primeira página a entrevista de Sérgio Milliet com Cendrars (São Paulo, fev., 1928). Cendrars publicou Navios em Nova York [Pâques a New York] (1912); a versão do livro O Panamá ou as Aventuras de meus Sete Tios [Le Panama ou les aventures de mes sept oncles], do poeta americano John dos Passos, escrito em 1918, mas publicado em 1931, influente sobre a moderna estética da poesia internacional.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
AMARAL, As Artes Plásticas na Semana de 22. 5ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora 34, 1970-2001. 335p. 13,5 x 21 cm..


AMARAL, A. Blaise Cendrars no Brasil e os Modernistas. São Paulo: Editora Martins, 1970, pp. 89, 93, 94, 96, 98, 101, 105, 114-116, 124-125, 133, 146-147, 166-173.

AMARAL, A. Tarsila, a sua obra, o seu tempo. 2 v. São Paulo: Perspectiva, 1975.

ANDRADE, O.; CAMPOS, H. de (Introd., nota). Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro, 1966.

ANDRADE, O.; PIGNATARI, D.; CÂNDIDO, A. Um homem sem profissão sob as ordens de mamãe. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura - Editora Globo, 1990.

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 445.

CHAMBERS. Biographical Dictionary. Cendrars, Blaise. Londres: Melanie Parry-Chambers-Hanap, 1997, p. 363

FOLHETO. Arte Conceitual e conceitualismos, anos 70; no acervo do MAC - USP. Obra em Contexto: A Negra e o Caipira. São Paulo: MAC - USP, 2000.

HAGER, B. Les Ballets Suedois. Translated by Ruth Sharman. London: Thames and Hudson, 1990. 303p.: il., algumas color., pp. 293-294.


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