[BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).
Temporada: 1927.
Os dois novos balés da temporada foram A Gata [La Chatte], (Sauguet) e, O Passo de Aço [Le Pas d'Acier] (Prokofiev). Nessa ocasião Diaghilev também reencenou Mercúrio [Mercure], anteriormente encenado pelos Ballets Beaumont (Paris, 1924). Única apresentação da Ópera Oratório Oediphus Rex, de Igor Stravinski, com a Cia. Teatral S. P. Diaghilev, (Paris, 1927; Londres, 1928).
Balé: A Gata [La Chatte] (Sauguet).
Depois de Os Bichos [Les Biches] (1924), Francis Poulenc nunca mais foi convidado a compôr para a Cia. Teatral S. P. Diaghilev. Sauguet compôs várias músicas para espetáculos que estrearam nos palcos parisienses: Sergei Diaghilev encomendou-lhe a música para o balé A Gata [La Chatte] (1927). Nesse balé Bóris Kochno, acessor de Diaghilev, criou com o pseudônimo de Sobeka o argumento baseado em fábula de Esopo, para esse balé com música de Henri Sauguet (v. Grupo dos Seis), coreografia de Georges Balanchine e cenários e figurinos dos irmãos russos naturalizados franceses, Naum Gabo e Anton Pvsner. Todo o cenário e figurinos foi idealizado pelos irmãos Construtivistas Naum Gabo e Anton Pevsner (v. Construtivismo no Blog: http://arterussaesoviética.blogspot.com). Foi Gabo, escultor excepcional, quem realizou a maior parte dos figurinos para o balé, quando empregou materiais moderníssinos para a época, transparentes, brilhantes e prateados, bailarinos com coletes amarelos e calções curtos na cor cinza. Lifar, o principal bailarino da companhia russa, tinha nas pernas amarrado de fita e pintura, que usou com sapatilhas na cor clara. O adereço nas cabeças dos bailarinos, tanto das figuras masculinas como das femininas, foi criado com formas escultóricas modernas no material que parecia ser um tipo de plástico transparente. Outro material sintético, industrializado, rígido e tranparente, foi empregado na sobresaia da bailarina. O cenário de fundo recebeu tecido laminado, liso e super-brilhante; as bailarinas usaram sobresaia e adereço da cabeça na forma escultural do triângulo, de material que parece, mas não pode ser, plástico transparente. Os bailarinos receberam adereço da cabeça do mesmo material, além de peitoral que parecia ter sido executado com material sintético. As estrelas desse balé foram Serge Lifar e Alice Nikitina, dançando a coreografia revolucionária de Georges Balanchine. O destaque ficou para a bailarina Olga Spessivteseva, cujo nome Diaghilev mudou para Olga Spessiva, sendo que na estréia parisiense Nikitina dançou no papel principal, pois Spessiva tinha machucado o pé. Nesse momento Serge Lifar se transformou no principal bailarino da companhia, estrela mantida até o final das apresentações da companhia, que estava próximo. Ambos, bela Alice Nikitina, formando o par com outro belo, o bailarino Serge Lifar, foram retratados em duas fotografias posadas (SHEAD, 1989). Lifar apareceu em outra fotografia, carregado em triunfo por cinco bailarinos, todos vestindo calções curtos com peitoral reduzido, apresentando-se com faixas enviezadas sobre o torso, criadas em material escuro com brilho plástico e usando adereços transparentes com formas moderníssimas na cabeça. O grupo dançou contra fundo de tecido brilhante, na cor prata, mostrando toda a excepcional qualidade e originalidade desta obra-prima em algumas fotografias posadas, que se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989). Declarou SHEAD (1989), que esse balé moderníssimo foi o principal sucesso desde que estreou em Monte Carlo (30 abril, 1927). Esse balé foi considerado pela crítica da época como verdadeira obra-prima dos dos Balés Russos, depois que estreou no Teatro Sarah Bernhardt (Paris, 27 maio, 1927), até o momento que a companhia se dispersou, pouco depois da morte de S. Diaghilev (agosto, 1929).
Ópera Oratório: Oediphus Rex, de Igor Stravinski: estréia com a Cia. Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1927; Londres, 1928; Posteriormente apresentada em Londres, 1936; e São Paulo, Brasil, 2003).
Stravinsky compôs a Ópera Oratório-Oediphus Rex [Édipo Rei] em dois atos (1927), baseada na peça teatral de Sófocles, com a qual o músico presenteou a Cia. Teatral S. P Diaghilev, na comemoração do 20º aniversário da primeira, dita, Temporada Russa (Paris, 1907). Essa obra musical pareceu indigesta a Diaghilev, que, no entanto, encaixou-a em única apresentação entre duas apresentações dos dois novos balés da temporada, estreou no final de maio. Na ocasião não agradou ao empresário nem ao público, tanto que Stravinsky preparou depois nova versão (1948). Esta obra bastante complexa, extremamente erudita, não foi bem compreendida à princípio, pois Stravinsky nela demonstrou o quanto estava avançado em relação à sua época. O músico incorporou-lhe narrador, sendo que o texto com palavras vertidas para o latim por J. Daniélou, foi de autoria de Jean Cocteau (1885-1963), a quem coube o papel de narrador na récita de estréia. Esta ópera impôs com lentidão seu valor, e, anos mais tarde, foi considerada verdadeira a obra-prima musical do século XX.
Balé: O Passo de Aço [Le Pas d'Acier] (Prokofiev).
Na época Diaghilev havia recebido algumas ofertas tentadoras do novo regime soviético, que o empresário levou muito a sério. Diaghilev, que rejeitou a composição musical do primeiro balé de Sergei Prokofiev, Alla e Lolli, encomendou ao compositor russo a música para outro balé, O Passo de Aço [Le Pas d'Acier] (1927). A temática desse balé em duas cenas foi a glorificação do novo modo de vida soviético, com cenários e figurinos do artista Construtivista russo, Georgi Bogdanovich Iaculov (1884-1928). Nessa temporada, Léonid Massine (1894-1973), que tinha sido demitido da companhia do empresário russo, pediu para voltar e voltou, novamente como bailarino e coreógrafo dos Balés Russos. Massine foi o coreógrafo desse balé que estreou com a orquestra sob a regência do maestro Roger Desormière (Paris, 1927). As primeiras cenas do balé, O Passo de Aço [Le Pas d'Acier] mostraram a vida atarefada do dia a dia da nova U.R.S.S., quando os bailarinos se transformaram nos agora empobrecidos aristocratas da velha Rússia. Nesse balé, vários bailarinos dançaram calçados com botas de couro de cano alto ou com os pés descalços, verdadeiro desafio para a coreografia de Léonid Massine. O figurino de Iaculov privilegiou novos materiais sintéticos e industriais, utilizou matérias-primas transparentes e rígidas, que, aliadas aos novos tecidos sintéticos enfatizaram a nova temática socialista. As moças e os jovens carregaram marretas imensas, significando a valorização trabalho braçal. Serge Lifar dançou no papel principal masculino, acompanhado das estrelas femininas Félia Dubrowska, que dançou com Lubov Tchernicheva e Alice Nikitina; e, Léonid Massine, bailarino e coreógrafo, foi par da bela Alexandra Danilova. O apelo desse balé não foi nada fácil para as audiências parisienses e londrinas, abastadas e afastadas da problemática que a obra destacava, do proletariado soviético. O balé suscitou inúmeras críticas negativas, mas a audiência nem imaginava que os verdadeiros anos de chumbo do regime soviético estavam ainda por vir. Fotografias posadas dos bailarinos e do cenário Construtivista de Georgi Iaculov encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).
Reencenação do balé Mercúrio [Mercure] (Erik Satie).
A Cia. de Balé do Conde de Beaumont que patrocinou os espetáculos ditos, As Noites de Paris [Les Soirées de Paris] (Paris, 1924; 1925), nome que homenageou a revista homônima, que Guillaume Apollinaire (1880-1918; v.) editou anteriormente (Paris, 1912-1914). Beaumont foi aristocrata com recursos, tinha muitos amigos na cidade-luz onde viveu e promoveu festas que ficaram famosas. O conde arriscou seus recursos levando alguns espetáculos de balé aos palcos parisienses, como Salada [Salade], com música de Darius Milhaud (1892-1974), entre outros. Certo número de excelentes bailarinos russos que haviam colaborado anteriormente com os Balés Russos, mas que agora estavam afastados da companhia, participaram da estréia de Mercúrio, que buscou divertir enquanto escandalizava o público parisiense. Diaghilev, que reencenava um balé por temporada, reencenou Mercúrio [Mercure] com argumento de Jean Cocteau, cortina, cenários e figurinos de Pablo Picasso, coreografia de Léonid Massine e música de Erik Satie. Picasso criou a cenografia para o balé Mercúrio [Mercure], para o qual pintou a cortina de cena para palco pequeno (400 cm x 500 cm) e discutiu muitas idéias novas desta realização com o coreógrafo e bailarino Léonid Massine. A cenografia de Picasso foi bastante inovadora, moderna, com desenhos moderníssimo baseados no relevo da linha contínua. Esses cenário foram muito comentados, por serem avançados para a época. Picasso estudou com Massine os diferentes modelos de figurinos, entre outros, os da carruagem de Perséfone que permitiu à Plutão fugir com sua prole, bem como a estética do cavalo atrelado ao carro. O balé foi encenado com três quadros que ilustravam as aventuras burlescas de deuses gregos misturados aos humanos através da imaginação. Nenhum sucesso, nem na sua primeira apresentação nem agora (Paris, Ballets Beaumont, 1924; Ballets Russes, 1927).
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