Arte européia de vanguarda, desde seus primórdios, no século XIX: biografias e história, artistas, escolas, grupos e movimentos.Imagem da Exposição dita, Neo-plástica, no Museu Sztuki em Łodz (1946), projetada por Władysław Strzeminski para expor seleção das 111 obras da nata das vanguardas européias, colecionadas pelo Grupo Internacional dos A. r. (Artistas revolucionários, 1929-1936).
sábado, 5 de julho de 2014
BIOGRAFIA: DIX, Otto (1891-1969).
BIOGRAFIA: DIX, Otto (1891-1969).
O conhecido artista nasceu em Unterhaus e faleceu em Hemmenhofen (Alemanha). Dix foi ilustrador e o pintor mais importante do movimento da Nova Objetividade (v.), em Dresden e Hanover. Dix foi um dos mais contundentes artistas ao abordar na sua obra, como em uma reportagem fotográfica, as misérias da guerra. O artista vivenciou as dores do conflito quando ele prestou serviço militar ativo no território russo e francês, como artilheiro da infantaria. Dessa lição da guerra (1914-1918), Dix trouxe o Realismo quase fotográfico para suas obras, as quais podemos assinalar entre as mais notáveis da arte do grupo alemão citado. Um dos exemplos mais notótrios é Rua de Praga (1920, óleo/ tela, 100 cm x 80 cm, na Galeria Estatal, Stuttgart) e, sua obra-prima Trincheira em Flandres (1934-1936, técnica mista/ tela, 200 cm x 250 cm, no Museu Staatliche, Berlim).
Dix, o filho de um operário ferroviário, chegou a pintura inicialmente devido a seu trabalho como assistente de um pintor-decorador, ocasião em que o artista ficou fascinado pela arte (Gera, Turíngia, 1905-1909). Dix foi bolsista da Escola de Arte e Artes Aplicadas (Dresden, 1910-1914); o artista realizou viagem de estudos na Itália (1913). No decurso de sua educação artística Dix adquiriu as primorosas e laboriosas técnicas mais sofisticadas dos meios plásticos, que ele dominava, e que utilizou de forma expressiva e contundente. O artista foi mestre, elaborou sua expressão pessoal, e, nas suas obras, privilegiou o acabamento dos quadros com verniz, aplicado ao modo dos velhos mestres. Essa técnica minuciosa, trabalhosa e delicada, tornou suas obras, pintadas em telas de grandes dimensões, obras-primas artísticas da técnica que ele ressuscitou para a estética das vanguardas do Grupo da Nova Objetividade (Alemanha, 1925-1933).
Quando deu baixa do serviço militar Dix voltou a estudar na Academia de Belas Artes (Dresden, 1919-1922). O artista tornou-se fundador e participante do Grupo 1919, ramificação da associação de artistas mais conhecida da Secessão de Dresden.
Nesse período, quando o Dadaísmo floresceu na Alemanha, marcadamente em Berlim, Dix participou de algumas mostras como da 1ª Feira Internacional Dadá realizada na Galeria Otto Buchard (Berlim, 1920). Dix enviou obra de grandes dimensões intitulada Os Cretinos da Guerra, que causou escândalo; no decurso da mostra citada esta obra foi fotografada na parede da galeria, enquanto pairava no teto da mesma o Arcanjo Prussiano, de Rudolf Schlichter e John Heartfield, artistas que colocaram focinho de porco na cabeça de manequim inflável vestido com o uniforme das forças especiais alemãs.
Quando, mais tarde, Dix participou do movimento da Nova Objetividade, ele pintou prostitutas e cenas de lupanares com uso acentuado da cor, arte do mais alto nível técnico e plástico. No final da década de 1930 Dix foi um dos artistas mais perseguidos pelos nazistas, que dominaram o governo alemão. Várias de suas obras foram incluídas na mostra Arte Degenerada [Entartete Kunst] (sic), itinerante por várias cidades, inclusive Dresden (1938-1939). Dix foi destituído de seu posto de professor da Academia de Arte de Dresden (1927-1933), sem vencimentos nem direitos trabalhistas, forçado a resignar da Academia de Arte da Prússia, proibido de pintar e de participar de mostras. Na ocasião, quando Dix foi preso e difamado, destruíram, além de sua carreira, mais de 200 de suas obras. O quadro de Dix A Trincheira (1934-1936) foi utilizado como ícone principal da campanha nazista contra os artistas das vanguardas alemãs.
Quando o artista completou 54 anos de idade, ele foi novamente convocado para servir nas milícias, e foi feito prisioneiro de guerra (Alsácia, França, 1945). Dix pintou seu Auto-retrato como Prisioneiro de Guerra (1947); por essa época ele abandonou sua primorosa técnica de acabamento dos quadros, para pintar de forma mais liberada, rápida e expressionista. Liberto da prisão logo depois do final da II Guerra Mundial, Dix voltou-se para temas mais conformistas da arte como a pintura de paisagens, e, quando abordou temas de cunho político, o fez de forma alegórica.
Implicado no atentado contra a vida do líder nazista (1939), correndo grande risco de vida, ainda assim Dix permaneceu na Alemanha. Nessa fase o artista pintou temas religiosos como a Paixão de Cristo e a Crucificação de Jesus (1946). Depois da guerra o artista foi homenageado e convidado para participar de inúmeras mostras nas duas Alemanhas, a Oriental e a Ocidental, bem como no exterior; suas pinturas participaram da importante coletiva Pintura e Escultura [Painting and Sculpture], realizada no MoMA (Nova York, 1948). Dix voltou a ensinar na Academia de Dresden e Dusseldorf; ele tornou-se presidente da associação de artistas, dita, Secessão do Lago Constanza (Alta Swabia, 1954). O artista recebeu o Prêmio Cornelius, da Cidade de Dusseldorf e recebeu a Cruz Federal do Mérito (1a Classe, 1959).
Logo no início da década de 1960 Dix passou temporada como convidado da Vila Mássimo (Roma, 1962). O artista tornou-se membro honrário da Accademia delle Arti del Disegno (Florença); ele recebeu a Medalha Carl von Ossietsky (1964); recebeu o Prêmio Lichtwark da Cidade de Hamburgo e o Prêmio Martin Andersen Nexö, da Cidade de Dresden (1966). Dix recebeu o Prêmio Ernst Thoma do Estado Federal de Baden-Württemberg (1967); e foi homenageado como membro honorário da Academia de Arte de Karlsruhe (1968). Obras de Dix participaram da mostra Arte na Europa 1918-1968 (Estrasburgo, 1968).Dix viveu retirado na localidade de Hemmenhofen, junto ao lago Constanza, onde ele faleceu (25 de jul., 1969).
Algumas obras importantes de Dix como Rua de Praga (1920, óleo/ tela, 101 cm x 80 cm) e Inválidos de Guerra Jogando Cartas (óleo/ colagem/ tela, 110 cm x 87 cm), ambas na Galeria Estatal de Stuttgart, encontram-se reproduzidas (GIBSON, 1991). As obras O Salão I (1921, óleo/ tela, 86 cm x 120,5 cm); Mama do Bordel (1923, aquarela/ papel, 50 cm x 35 cm, na Fundação Otto Dix, em Vaduz); Retrato do Negociante de Arte Alfred Flechtheim (1926, técnica mista sobre madeira, 120 cm x 80 cm, na Nationalgalerie, Staatliche Museen zu Berlin); e o desenho A Anunciação (1921/1923, lápis, 50 cm x 60 cm, acervo da Galeria Huber-Nising, em Frankfurt am Main); a pintura Três Mulheres (1926, técnica mista/ madeira, 181 cm x 105,5 cm, na Galeria Estatal, em Stutgart); e Cena II, Assassinato (1922, aquarela/ papel, 62 cm x 47,5 cm), no acervo da Fundação Otto Dix, Vaduz), encontram-se reproduzidas (MICHALSKI, 2003).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
BARRON, S.; DIETER DUBE, W. German Expressionism: Art and Society. New York: Rizzoli, 1997, p. 308.
GIBSON, M., Op. cit., pp. 84-93, 98-100
MICHALSKI, S. New Objectivity. Neue Schlichkeit: Painting in Germany in the 1920s – Painting, Graphic Art and Photography in Weimar Germany 1920-1933. Cologne - London - Los Angeles - Madrid - Paris - Tokyo: Taschen, 2003, 20 x 24,5 cm. 220p.; il., color., pp. 19-39, 210.
SCHAMALENBACH, W.; GRASSKAMP, W. (Biogr.). German Art of the 20th Century: painting and sculpture 1905-1985. Translated by John Ormond. Munich - Düsseldorf: Prestel, 1987.
SCHAMALENBACH, W.; GRASSKAMP W. (Biogr.). Masterpieces of 20th Century Art: from Kunstasammlung Nordheim-Westfalen Düsseldorf. Translated by John Ormond. Munich – Düsseldorf: Walter Grasskamp, Prestel, 1990. 354p: il.
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