terça-feira, 17 de abril de 2012

GLOSSÁRIO: TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL):

FOTOMONTAGEM NA ILUSTRAÇÃO DADAÍSTA (Alemanha, principalmente Berlim: 1916-1924).
A técnica da Fotomontagem nasceu da manipulação das imagens fotográficas, que emergiram nas Colagens Cubistas, e posteriormente das Futuristas, nas quais fragmentos cortados de fotografias, recortes de jornais, anúncios e rótulos de produtos, lantejoulas e objetos, foram aplicados a desenhos e pinturas.
Esse processo de colagens fotográficas, com fotografias recortadas e retocadas, associadas a desenho e outras técnicas, dita, Fotomontagem, foi largamente utilizada no movimento Dadaísta alemão, e, mais especificamente, berlinense, logo após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (I GM).  Esse processo ilustrou as revistas lançadas na época, especialmente as publicadas pela Editora Malik [Malik Verlag] (Berlim, 1916-1924; v.).  As páginas dessas revistas publicaram as ilustrações perturbadoras de George Grosz e as instigantes Fotomontagens de John Heartfield.
Heartfield se destacou como artista gráfico dedicado a Fotomontagem: ele não fotografou, mas concebia suas obras nessa técnica com precisão, desenhando e indicando todos os detalhes da ilustração desejada a lápis. Depois desse preparo, Heartfield solicitava aos fotógrafos associados que fotografassem o tema proposto, de acordo com suas especificações. O maior colaborador de Heartfield, quem produziu o maior número de fotografias utilizadas nas suas fotomontagens, foi o fotógrafo alemão Rolf Reiss. A técnica de fotomontagem que Heartfield utilizou, agrupou várias fotografias juntas; muitas vezes o artista alterou a escala e justapôs passado e presente. Heartfield introduziu nas suas fotomontagens várias fotografias em negativo ou raio X. O artista anexou e justapôs desenhos e pinturas juntamente com as fotografias especialmente posadas para a finalidade proposta por ele, através de seus esboços precisos. As fotomontagens tinham temas previamente escolhidos, como, por ex., a guerra espanhola, bem como os julgamentos nazistas, entre outros.
Ainda hoje, passadas muitas décadas da produção de John Heartfield, sua obra encontra-se posicionada na dimensão universal. As fotomontagens e ilustrações de Heartfield podem ser apreciadas visualmente, pois são de compreensão imediata, dispensam qualquer explicação de natureza histórica para a inserção no seu verdadeiro contexto temporal. Nas mais de 200 Fotomontagens produzidas por Heartfield, ele combateu o nazismo, ridicularizando seu principal líder. As suas obras nessa técnica ilustraram revistas Dadaístas da editora familiar, dirigida por seus irmãos, Tom e Wieland Herzefeld,  a Editora Malik [Malik Verlag] (Berlim, 1916-1924; v.). 
Heartfield colaborou com as ilustrações do livro Alemanha, Alemanha acima de tudo de Kurt Tucholski (1928), para o qual Heartfield criou imagens críticas de viéz satírico, utilizadas na composição das fotomontagens da capa e contracapa. Outras obras do artista merecem citação, como a contundente fotomontagem de ataque ao Congresso do PSD/ Partido Socialista Democrata (jun., 1931). Na época, os titulares do capital não conseguiram estabelecer a hegemonia política na República de Weimar (1930-1932; v. Grupo da Nova Objetividade na República de Weimar). Nessa obra Heartfield colocou o tigre como imagem do capitalismo da direita autoritária, apresentando grande contraste entre a imagem que ele escolheu e o texto do cartaz. Outra de suas mais contundentes fotomontagens mostrou Hitler discursando na frente do espelho, que refletia a imagem da caveira: esta ilustração de Heartfield foi capa da publicação AIZ (24 ago., 1933) e encontra-se reproduzida com o título de Falando, Falando...[Spieglen, spieglen] (BIRO, 1982).
No início da década de 1930, quando os nazistas assumiram o poder no país (1933), Heartfield foi obrigado a refugiar-se em Praga (Tchecoslováquia). No exílio forçado, o artista criou 235 fotomontagens, uma por semana, publicadas na A.I.Z./ Arbeiter Illustrierte Zeitung (1899-1932), periódico fundado em Berlim que transferiu-se com toda sua redação para Praga (1933-).
Na sua arte, John Heartfield buscou desmascarar a propaganda nazista, que sempre se utilizou de fotografias adulteradas publicadas na imprensa da época como se fossem documentos válidos de seu tempo. Em outras obras de Heartfield, criadas na mais pura essência Dadaísta, o artista ridicularizou Hitler de forma contundente, como em Adolf, o Superhomem: engole ouro e fala disparates [Adolf, der Ubermensch: Schluckt Gold und redet Bloch] (1932); em outra, a fotomontagem O homenzinho pede donativos (1932), Hitler aparece diminuto face à grandiosa imagem do capitalista em primeiro plano, cuja mão estendida com dinheiro em quantidade ele destacou, mostrando o poder no desenho de enorme anel de brilhante no dedo da figura avantajada. Em outra fotomontagem, Luz para a noite (23 fev., 1933), Heartfield indicou o culpado pelo incêndio do Parlamento, evento que favoreceu a ascensão de Hitler: a imagem foi publicada na AIZ (14 set., 1933) e, ainda no mesmo ano, a capa (02 de nov.), foi a fotomontagem Irmãos idênticos, assassinos idênticos, em que Heartfield evocou a relação perniciosa de Mussolini com Hitler, desenhando o punhal pingando sangue na mão do criminoso nazista Rudolf Hess, enquanto Hitler esmagava a Alemanha, pisando em cima de seu mapa.
Grosz reivindicou para si a autoria da invenção da técnica de Fotomontagem Dadaísta, também atribuída a John Heartfield, Raoul Hausmann e a Hannah Hoch. Todos esses artistas alemães de vanguarda se apropriaram da técnica inventada por Pablo Picasso, e utilizaram-na com maestria como instrumento de contundente crítica social e política, voltada contra a ascensão do nazismo na sociedade alemã.
O artista húngaro El Lissitzky, professor da Bauhaus alemã, utilizou fragmentos de fotografias para compor as Fotomontagens que ilustraram as Seis histórias de final feliz, de Ilia Erhenburg, lançadas na revista Vechtch/ Gegenstand/ Object pela dupla, El Lissitsky e Ehrenburg, que publicaram três números, cada um traduzido em três idiomas. A publicação foi direcionada à divulgação da arte dos Construtivistas russos na Europa (Berlim, 1922-1923). 
Max Ernst realizou interessantes colagens e fotomontagens, como o seu Auto-Retrato (c. 1920, fotomontagem, 17,5 cm x 11,5 cm, coleção de Arnold H. Crane, Chicago), conhecida como The Punching Ball ou L ´immortalité de Buonarotti, que se encontra reproduzida (ADES, et. al., 1978).[1]


Em outras obras na técnica de Colagem (v.), o artista utilizou gravuras do século XIX, que colou com tal perfeição que parecem originais desenhados. Não sabemos se Ernst utilizou recortes de fotografias em outras de suas extensas obras realizadas na técnica de Colagem; ele não utilizou fotografias nas suas interessantíssimas colagens que formaram o livro Uma Semana de Bondade (1934), que estiveram em exposição no MASP (São Paulo, abr. - maio, 2010). 


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed.
Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978. 475p.: il., pp. 28; ill.9, 15.
BIRO, Adam, René Passeron. Dictionaire Général du Surréalisme et ses environs. Fribourg: Office du livre - Presses Universitaires de France, 1982, p. 16.
DICIONÁRIO. BREUILLE, J-P. Le dictionnaire mondial de la photographie : la photographie des origines a nos jours. Sous la direction de Jean-Philippe Breuille. Paris: Larousse, 1994. 735p.: il., retrs., pp. 290-291.         
BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il., p. 222.
FABRIS, A. Photomontage as political function. São Paulo: 2003, pp. 11-57.

FOLHETO. Max Ernst. Uma Semana de Bondade.Collages Originais, a partir de 23 de abril de 2010. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 2010. 
GIBSON, M. Duchamp Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 263p.: il., pp. 84-93, 111.
MICHALSKI, S. New Objectivity. Neue Schlichkeit: Painting in Germany in the 1920s. Painting, Graphic Art and Photography in Weimar Germany 1920-1933. Cologne - London - Los Angeles - Madrid - Paris - Tokyo: Taschen, 2003,  20 x 24,5 cm. 220 p.il.
PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, pp. 172-173.
TESCH, J.; HOLLMANN, J. Icons of Art: the 20th Century. New York: Ekhardt Hollman, Prestel, 1997. 216p.: il, pp. 87, 88.
CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978,  pp. 79-86, 88, 103, 118.[2]


[1] Ilustração 5.25 na.p. 118 do catálogo.
[2] Exemplar consultado na coleção José Guilerme Melquior, na Biblioteca do CCBB - Rio de Janeiro.

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