terça-feira, 15 de setembro de 2015

1933-1939-ARTE (ALEMÃ) DEGENERADA [ENTARTETE KUNST] (Karlsruhe - Berlim – Munique – Dusseldorf – Dresden (Alemanha); Lucerna, Suíça; 1933-1943).

ARTE (ALEMÃ) DEGENERADA [ENTARTETE KUNST] (Karlsruhe - Berlim – Munique – Dusseldorf – Dresden (Alemanha); Lucerna, Suíça; 1933-1939) A dita, Arte Degenerada, foi denominação depreciativa da arte das vanguardas alemãs, cujas obras foram confiscadas pelos nazistas nos estúdios dos artistas ou depostas das paredes dos museus alemães. Em Karlsruhe, os alunos de Hans Thoma, líderes do grupo nazista local, organizaram a primeira mostra dita, Arte Degenerada [Entartete Kunst] (abril, 1933). Esse grupo dirigiu seus ataques maldosos para a arte dos Impressionistas alemães, e, particularmente, voltou-se contra os artistas da vanguarda mais recente, do Grupo da Nova Objetividade [Neue Sachlichkeit], não seguindo nenhuma diretriz ou ordem vinda de Berlim, Essa primeira crise na arte das vanguardas alemãs foi contornada por Aleksandr Kanoldt (1881-1939), artista de prestígio e influência: essa exposição determinou o fim do Grupo da Nova Objetividade na cidade de Karlsruhe (v.) Alguns artistas jovens que pintavam no estilo da Nova Objetividade, como Albert Heinrich, Georg Siebert, Werner Peiner, Bernhardt Dörries e Adolf Wissel, continuaram progredindo nas suas carreiras, pois se submeteram as novas normas estéticas para a arte, decretadas pelo principal líder nazista. Algumas decisões administrativas logo foram sentidas pelos artistas da Nova Objetividade, destituídos de seus cargos nas academias e escolas de arte, pouco antes ou depois de 1933 (MICHALSKI, 2003: 197). No entanto, ocorreu protesto por parte de alguns membros do Partido Nacional Socialista [SPD], criticando a proeminência da arte de classe média, elogiando a coleção de arte de vanguarda reunida pelo Dr. Ludwig Justi, diretor da Galeria Nacional desde 1910. Os burocratas de plantão decidiram solicitar que Justi resignasse: ele se recusou e foi realocado na biblioteca da instituição até atingir a idade da aposentadoria (Berlim, junho de 1933). Depois de breve período na direção da Galeria Nacional, o antigo assistente de Justi, Alois Schardt, tentou impingir aos nazistas novos conceitos para a aceitação da arte de vanguarda, quando associou os estilos rejeitados pelos nazistas, dos Românticos e Expressionistas alemães, às formas emanadas do folclore nacional do país. O discurso não convenceu as autoridades, que fecharam para dita, reforma, a Galeria Nacional. Para substituir Schardt, sumariamente demitido, escolheram Eberhardt Putzi Hanfstaengl, amigo e conhecedor do gosto de Hitler, diretor da Galeria Estatal de Munique [München Städtische Galerie]. Putzi, que assumiu a direção da Galeria Nacional berlinense, guardou as obras consideradas ofensivas (sic) e, na época, acalmou os ânimos dos associados ao partido (NICHOLAS, 1995: 11-12). Hitler desejava o completo afastamento das idéias esquerdistas dos anos marcados pela Bauhaus (Weimar - Dessau - Berlim, 1919-1933): desagradavam-no especialmente as obras que o ditador chamava de inacabadas. Começou o expurgo das obras das vanguardas alemãs. A Galeria Nierendorf organizou mostra individual de Franz Marc (1880-1916), que seria inaugurada com palestra de Alois Schardt, o antigo diretor destituído da Galeria Nacional. A Gestapo impediu a inauguração (Berlim, maio, 1936), sob o argumento de que a mostra colocaria em perigo a Política Cultural [Kulturpolitik] do SPD, e, por extensão a lei e a ordem. Um dos irmâos Nierendorf tomou o rumo dos Estados Unidos, no que foi seguido de perto por Schardt (NICHOLAS, 1995: 12). As obras dos pintores de vanguarda se encontravam expostas, principalmente, nas paredes do Palácio Konprinz, que fechou as portas depois das ditas, Olimpíadas nazistas (Berlim, 1936). Hitler encarregou o pintor acadêmico Ziegler, artista no qual o ditador confiava, de eliminar obras degeneradas das paredes da instituição, que perdeu 69 pinturas, 07 esculturas e 33 desenhos de artistas como Conrad Felixmüller (1897-1977), do qual incluíram 04 pinturas e 03 gravuras na mostra Arte Degenerada. No total foram destruídas 151 obras de Felixmüller, expoente do Grupo da Nova Objetividade (Dresden, 1925-1933), que se encontravam no acervo de vários museus alemães (1938). Enquanto isso se acelerou nas províncias o expurgo dos vanguardistas: Gustav Frfiedrih Hartlaub (1884-1963), mentor da Nova Objetividade, foi humilhado por ter adquirido a pintura Rabbi, do russo e judeu, eminentíssimo artista multimídia Marc Chagall (Mark Zakharovich Shagal, 1887-1985). Na parada organizada pelos nazistas a pintura desfilou em carro aberto, ao lado da fotografia de Hartlaub e do preço que o Museu de Manheim pagou para adquirí-la. Os nazistas confiscaram do Museu Folkwang, de Essen, 1202 obras, inclusive a pintura de Matisse, Banhistas com Tartaruga, posteriormente leiloada na Galeria Fischer (Lucerna, 1939). A Kunsthalle de Hamburgo perdeu 1302 obras. O diretor das Coleções Bávaras, que mantinha relações próximas com Hitler, foi visitado pela comissão de confisco de obras, liderada por Ziegler: de sua instituição foram confiscadas apenas 16 obras (NICHOLAS, 1995: 12). O temível jornal editado por Goebbels, Der Angriff [O Assalto] continuou defendendo a vanguarda Expressionista do Grupo da Ponte [Die Brücke]. O nazismo perseguiu outros vanguardistas, começando com a destituição daqueles que tinham o cargo de professores nas universidades ou academias de arte como Kathe Köllwitz (1867-1945) e do escritor Heinrich Mann (1871-1950). Os primeiros mestres destituídos do ensino da Academia da Prússia foram obrigados a entregarem voluntariamente (sic), suas cartas de resignação. Kollwitz passou a viver isolada, falecendo no ateliê situado ao norte de Berlim. Outros mestres destituídos em Berlim foram Karl Höfer (1878-1955) e Max Beckmann (1884-1950); da Academia de Dusseldorf, Paul Klee (1879-1940); Otto Dix (1891-1969), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1986), bem como o presidente da Academia da Prússia, o judeu Max Liebermann (1847-1935), associados ao escultor Ernst Barlach (1870-1938), Max Pechstein (1881-1955) e Oskar Kokoschka (1886-1980), todos foram obrigados a resignarem de seus cargos, sem vencimentos nem benefícios devidos (1938). No entanto, Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), o antigo diretor da Bauhaus Mies van der Rohe (Maria Ludwig Michael Mies, 1886-1969) e o simpatizante nazista, Emil Nolde (1867-1956), se recusaram a resignarem de suas posições, mas, mesmo esses artistas não resistiram ao expurgo nazista. Muitos membros das vanguardas alemãs emigraram: os que permaneceram no país, foram condenados a viverem no limbo artístico (NICHOLAS, 1995: 13). Os monumentos e as esculturas públicas de Ernst Barlach foram destruídos; Karl Höfer (1878-1955) foi destituído de seu cargo público, suas obras foram confiscadas e incluídas na mostra Arte Degenerada [Entartete Kunst]. Os nazistas confiscaram 412 obras de Christian Rolfs (1849-1938), ele foi destituído de seu cargo público e banido do país. Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) mergulhou na depressão e passou a apresentar graves problemas mentais depois do confisco e destruição de 639 de suas obras. Heinrich Nauen (1880-1940) foi destituído de seu cargo público e foram confiscadas 117 de suas obras, sendo que várias foram incluídas na mostra Arte Degenerada. Erich Heckell foi destituído de cargo público, seu estúdio foi destruído e 729 obras foram confiscadas, sendo várias incluídas na citada mostra. Foram destruídos os murais de Oskar Schlemmer (1888-1943), pintados na Bauhaus, quando os nazistas forçaram a escola a se transferir de Dessau para Berlim, para finalmente encerrar completamente as atividades (v. Bauhaus: Weimar, Dessau e Berlim). O artista que vivia com Wassily Wassilyevich Kandinsky (1866-1944) na casa dos russos em Murnau, Alexei von Jawlensky (1864-1941), foi deportado junto com sua companheira, Marianne von Werefkin (1860-1938) e o filho do casal, levando apenas uma mala; seu estúdio foi confiscado. O russo Kandinsky foi expulso da Alemanha, ocasião em que 100 de suas obras foram confiscadas e 17 incluídas na mostra Arte Degenerada. Os nazistas também confiscaram 600 obras de Karl Schmidt-Rottluff, sendo 25 incluídas na exposição. Ludwig Meidner (1884-1952), Max Beckman (1884-1950) e Kurt Schwitters (1897-1948) foram tão perseguidos que se auto-exilaram. Obras de Max Beckmann, c. de 20, foram expostas na citada mostra, e as obras de outro professor da Bauhaus, Willi Baumeister (1883-1955), e de Heinrich Campendonck (1889-1957), Rudolf Schlichter (1890-1955), Otto Dix (1891-1969) e Conrad Felixmüller, foram todas depostas das paredes dos museus. Proibiram Baumeister e Nolde de pintar, quando Nolde passou a produzir centenas de obras do tamanho de cartão postal, ditas, Não Pintadas (1941-). O artista teve, ao longo de alguns anos, mais de 1050 obras confiscadas pela policia alemã. Um dos maiores artistas do Expressionismo alemão, Otto Dix, foi preso e difamado: depois de libertado por falta de provas da acusação de ter perpetrado atentado contra a vida de Hitler, foi novamente aprisionado. As obras de Ernst Nay (1902-1968) foram banidas dos museus, sendo o artista perseguido tendo várias de suas obras incluídas na mostra Arte Degenerada. Durante a campanha levada a cabo pelos nazistas foram removidas das paredes dos museus alemães 17 pinturas de A. Kanoldt. No final do ano as pinturas de Georg Schrimpf (1889-1938), professor expulso da Academia de Baden e expoente do Grupo da Nova Objetividade, também foram incluídas na citada mostra itinerante à vários museus alemães (1937-1938). Schrimpf, completamente destruído, faleceu um ano depois. Igualmente Kanoldt, considerado membro degenerado do Partido, também faleceu um ano depois (1938); e Lenk, protestando contra a política cultural nazista, retirou-se da vida pública (MICHALSKI, 2003). A principal e mais conhecida mostra da Arte Degenerada, expôs 720 obras de 140 artistas das vanguardas alemãs. Essa exposição foi itinerante a outras cidades como Dusseldorf e itinerou ao Museu Estatal, em Dresden. A mostra causou comoção e, antes de seu encerramento (30 novembro), recebeu c. 2 milhões de visitantes. Muitas das obras confiscadas, que não participaram da exposição, foram guardadas no quartel berlinense, sito na Copernicussrasse (NICHOLAS, 1995: 22). Hitler assinou lei, eximindo o governo de pagar qualquer compensação pelas obras confiscadas. Alguns curadores foram diligentes, pois conseguiram salvar muitas obras valiosas do confisco. Outros casos isolados ocorreram, resultando nas vendas iniciais das obras confiscadas por debaixo dos panos, para alguns negociantes de arte inescrupulosos. No final, a Comissão removeu das coleções públicas alemãs c. 16.000 obras de arte (NICHOLAS, 1995: 23). Formou-se a Comissão para Exploração da Arte Degenerada com Ziegler, o fotógrafo Heinrich Hoffmann, Robert Scholz, o negociante de artes berlinense Karl Haberstock, que começou sua carreira na Galeria de Arte Paul Cassirer, que mantinha relações comerciais com a maioria dos marchands europeus. Quatro negociantes alemães foram indicados para comercializarem a pilhagem nazista: Karl Buchholz, Ferdinand Möller, Bernhrad Bochmer e Hildebrand Gurlitt. O encarregado da operação foi o advogado e historiador amador, Rolf Hetsch, que conhecia o verdadeiro valor das obras. A primeira venda foi organizada nos arredores de Berlim, na Schloss Niederschonhausen. Os negociantes de arte indicados poderiam adquirir as obras por valores baixos, e alemães poderiam comprar as obras de arte oferecidas, desde que pagassem em moeda estrangeira. O cidadão Curt Valentin conseguiu adquirir muitas obras, nesse, e no outro leilão, em Lucerna (Suíça): posteriormente, ele se estabeleceu em Nova York como bem sucedido negociante de arte. Hetsch vendeu obras por praticamente nada, simplesmente para salvá-las da destruição, tirá-las do país. Mais de 20 páginas de objetos e obras confiscadas da Galeria Nacional foram listados na pesquisa realizada depois da II Guerra Mundial: os preços pagos soam completamente ridículos. Claro que não foram os preços da revenda das obras no estrangeiro, por valores nunca reportados à Comissão (NICHOLAS, 1995: 24). No outono de 1938 o marchand Karl Haberstock sugeriu a Hitler e Goebbels que o retorno da venda das obras poderia ser maior em leilão público no estrangeiro: ele trouxe o negociante suíço, Theodore Fischer, para selecionar as obras que participariam do leilão. Juntos, Haberstock e Fischer escolheram 126 obras. O grande leilão das obras confiscadas ou depostas das paredes dos museus alemães foi organizado em Lucerna (Suíça, junho, 1939). Os nazistas esperavam auferir grandes lucros com o evento, o que não ocorreu, pois os grandes compradores, diretores de museus europeus convidados, não compareceram ou se compareceram não adquiriram as obras que sabiam ser fruto da pilhagem nazista, pinturas depostas das paredes dos museus alemães além de muitas outras obras de arte confiscadas da população civil, especialmente a de origem judaica. O destino das obras que não encontraram compradores, bem como as outras confiscadas anteriormente, esperavam as ordens de Hitler: o depósito, na Copernicussrasse continuava lotado de arte. Hoffmann, desejoso de seguir a política de purificação almejada por Hitler, apressou-se em declarar que todas as obras guardadas eram impossíveis de serem comercializadas e sugeriu que fossem queimadas como ação de propaganda simbólica do governo. Chocados com a idéia da destruição Hetsch e os outros retiraram tudo o que puderam. Goebbels aderiu à idéia de Hoffmann; e, no Quartel de Bombeiros berlinense (20 março, 1939), foram queimadas 1.004 pinturas e esculturas e 3.825 desenhos, aquarelas e obras gráficas (NICHOLAS, 1995: 24). O anúncio das obras a serem comercializadas no leilão em Lucerna (Art News, Nova Iorque, 29 de abril, 1939); a fotografia de Fischer leiloando o Autorretrato de Vincent van Gogh (1853-1890) que pertencia à Neue Staatsgalerie, em Munique; a vista da instalação, dita, Anarquista-Bolchevista na Exposição de Arte Degenerada, se encontram reproduzidas (NICHOLAS, 1995). O nazismo marcou a invasão européia com 15.000.000 túmulos (1939-1943), sendo 7.000.000 na URSS, 4.620.000 na Polônia, 500.000 na Grécia, quase 2.000.000 na Iugoslávia e República Tcheca, 820.000 na França, quase 400.000 na Inglaterra, 204.000 na Holanda, 125.000 na Bélgica e 11.000 Noruega, além das próprias vidas alemãs ceifadas (BRECHT, 1973). REFERÊNCIAS SELECIONADAS: BENTON, H. H. (Org.). Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro – São Paulo: Encyclopaedia Britannica Ed., 1975, pp. 101-102. BRECHT, B. Journal de Travail. Translated by Philippe Ivernel. New York: Stefan S. Brecht, 1973. Paris: L'Arche, 1976. NICHOLAS, L. H. The Rape of Europa: the Fate of European´s Treasures in the Third Reich and the Second World War. New York: Vintage Books, 1994. 1995, pp. 1-25.

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