sábado, 19 de setembro de 2015

1928-1945-A ARTE ALEMÃ DE VANGUARDA, POUCO ANTES E DURANTE O NAZISMO.

A ARTE ALEMÃ DE VANGUARDA, POUCO ANTES E DURANTE O NAZISMO: 1928 - 1945. Poucos meses depois de Hitler tornar-se chanceler (janeiro, 1933), foi promulgada lei restabelecendo o serviço profissional (07 de abr., 1933). Esta lei permitia que fossem destituídos os funcionários públicos que não estivessem de acordo com as premissas e normas do partido político do governo. Joseph Goebbels tornou-se Ministro da Propaganda e Enriquecimento Cultural, e foi estabelecida a Câmera da Cultura Alemã [Reichskulturkammer]. Foram proibidos de participar dessa instituição todos os judeus, comunistas e outros que não se enquadravam nas normas do partido: no entanto, foram obrigados a participarem todos os arquitetos, artistas plásticos e outros profissionais associados à arte e educação. Anteriormente foram publicados dois livros, que se tornaram importantes no estabelecimento da política cultural nazista: o conhecido arquiteto Paul Schultze-Naumberg publicou Arte e Raça (1928); e Paul Rosenberg, Mito do Século XX (1930). O primeiro livro citado foi ilustrado com imagens retiradas de textos médicos especializados, de pessoas doentes, deformadas, comparando-as com pinturas e esculturas das vanguardas alemãs. O outro compêndio, ilegível e pretensioso, condenava veementemente o Expressionismo Alemão, segundo suas palavras, [...] sifilítico, infantil e “mestiço” [...]. Rosenberg, muito próximo do principal líder nazista, de quem conhecia as preferências em matéria de arte, tornou-se o todo poderoso intelectual do partido nas questões artísticas, recebendo o incrível título de Protetor Total da Educação Intelectual e Espiritual do Partido e de Todas as Associações Coordenadas; ele iniciou a organização filiada ao Nazismo, Liga de Combate para a Cultura Alemã [Kampfbund für Deutsche Kultur]. O lendário diretor do MoMA – Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Alfred Barr, foi testemunha ocular das mudanças que ocorreram na arte da vanguarda alemã, pois ele presenciou o primeiro encontro promovido pela Liga de Combate para a Cultura Alemã (Stuttgart, 1933). O discurso do diretor da Liga enfatizava que, [...] não há liberdade para aqueles que enfraquecem e destroem a arte alemã [...] não haverá remorso nem sentimentalismos ao esmagarmos o que está destruindo nosso vital [...] . Barr sentiu imediatamente o clima pesado e escreveu três artigos sobre o fenômeno da arte sob o Nacional Socialismo: foram todos recusados pelas principais revistas americanas, sob a alegação que eram muito polêmicos. Somente seu jovem associado Lincoln Kirstein, posteriormente patrocinador da Escola do Balé Americano [American Ballet School], reproduziu um dos artigos na revista que lançou (Hound and Horn). Os outros somente foram publicados depois da II Guerra Mundial, no Magazine de Arte [Art Magazine] (1945). As perseguições aos artistas das vanguardas alemãs começaram muito cedo: a mostra do professor da Bauhaus, Oskar Schlemmer, inaugurada em Stuttgart, foi fechada pela policia e recebeu comentários desabonadores por parte da imprensa nazista (março, 1933). Os murais de Schlemmer no prédio da escola, erigido com projeto de Walter Gropius, em Dessau, agora substituída por entidade nazista de artesanato dirigida pelo professor Paul Schultze-Naumberg, foram encobertos por ordem de Wilhelm Frick, antigo chefe de polícia, agora Ministro do Interior e da Educação na Turíngia. O mesmo Frick proibiu que a música de Igor Stravinsky e Paul Hindermith fosse tocada; e proibiu o filme, A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht. E, entre outras ações radicais, depôs das galerias do Museu Schloss obras de Paul Klee, Wassily Kandinsky e Franz Marc, artistas do Grupo do Cavaleiro Azul (Munique, 1911-1912; Berlim, 1913). Outras foram obras de Otto Dix, Ernst Barlach, Emil Nolde e Edvar Munch, participantes do Grupo da Nova Secessão Berlinense (Berlim, 1910-1913), entre outros, totalizando 70 obras. Demitido, por conta de inúmeros excessos (1931), Frick reapareceu dois anos depois como Ministro Nacional do Interior. Quando o novo ministro debutou com pronunciamento nas questões da arte (outubro, 1933), ele declarou: [...] Fora com o espírito da subversão [...] essas construções geladas não germânicas, que fazem negócios com o nome de Nova Objetividade, precisam por agora encerrar sua vida útil [...]. Na época, a Nova Objetividade [Neue Sachlichkeit] era a mais recente e celebrada vanguarda alemã (1925-1933). No caso dessa vanguarda os Nacionais Socialistas estavam preocupados, menos com as questões formais da pintura e mais com a atitude dos artistas. Logo que Hitler tornou-se chanceler, seguiram-se imediatamente sanções administrativas, pois a maioria dos artistas da Nova Objetividade perdeu suas posições nas escolas e academias de arte, todos demitidos sem vencimentos nem direitos trabalhistas (1933-). A Academia de Baden havia se transformado na Escola Estatal de Arte (Karlsruhe, 1920-), e, desde essa época Wilhelm Schnarrenberger (1892-1966) tornou-se professor, acompanhado cinco anos depois por Karl Hubbuch (1891-1979) e Georg Scholz (1890-1945). Esses mestres renomados formaram o principal grupo da ala dita, Verista, da Nova Objetividade, da qual participaram seus alunos Rudolf Dischinger (1904-1988), Hermann Sprauer(1905-1996), Hanna Nagel (1907-1975)e Willi Müller-Hufschmid (1890-1966), entre outros. Todos os citados, inclusive os professores, se tornaram destacados artistas no grupo da Nova Objetividade em Karlsruhe. Na mesma cidade também vivia o pintor de cenas sentimentais, Hans Thoma. Ocorreu que, líderes do grupo nazista local tendo por colaboradores alunos da Escola Hans Thoma, organizaram a primeira mostra alemã chamada de Arte Degenerada (abril, 1933). A nomenclatura foi denominação depreciativa da arte das vanguardas, alemãs e europeias, cujas obras foram posteriormente confiscadas dos acervos dos museus e instituições culturais por toda a Alemanha. Essa primeira exposição, organizada sem nenhuma diretriz vinda de Berlim, voltou-se para a crítica maliciosa devido ao fato da Khunsthalle haver adquirido obras dos Impressionistas, aproveitando para atacar as obras produzidas na década de 1920 por artistas da Nova Objetividade. A grande crise foi contornada por Alexander Kanoldt(1881-1939) artista de prestígio, que, juntamente com Franz Radziwill (1895-1983), participava da Nova Objetividade e eram membros do Partido Nazista, logo apontados professores, preenchendo vagas dos mestres demitidos por questões políticas. Kanoldt foi indicado professor da Escola Estatal Berlinense de Arte (1933). Logo depois, suas pinturas participaram da mostra coletiva O Novo Romantismo Alemão, realizada na Galeria Kestner-Gesellschaft (Hanover, 1933). A exposição marcou o retorno da arte alemã ao Figurativismo idealizado pelo nazismo, tendência da arte européia que viveu décadas sob a influência marcante dos países dominados por vários ditadores, como a Itália (Mussolini, 1922-1944), a Rússia (Stalin, 1924-1953) e a Alemanha (Hitler, 30 de janeiro 1933-1945). No final da década, apesar de sua convivência permissiva com o regime nazista, várias pinturas de Kanoldt foram apontadas como Arte Degenerada, bem como a arte da maioria dos pintores do grupo da Nova Objetividade. Radziwill assumiu o posto do demitido Paul Klee (1879-1940),na Escola Estatal de Arte (Dusseldorf, 1933). Depois do inicio das perseguições nazistas aos artistas da Nova Objetividade, Franz Lenk(1898-1968),artista apartidário destacado no Grupo 1919 da Secessão de Dresden (1919), assumiu o posto na Escola Estatal Unida (Berlim, 1933-1934), mas resignou do cargo, solidário com seus colegas demitidos pelos nazistas sem direitos, por razões políticas. Georg Schrimpf(1889-1938),pacifista sem partido, tornou-se professor da Faculdade de Arte - Educação (1933-1938); ele, por obra e graça do acaso tornou-se protegido do conhecido nazista Rudolf Hess, antes de converter-se ao catolicismo (1935), ser perseguido e ter suas obras expostas na mostra mais importante de Arte Degenerada (sic), inaugurada em Munique e itinerante por cidades como Dusseldorf e Dresden (1937-1938). Os citados Hubbuch, Kanoldt, Schnarrenberger, Scholz e Schrinpf participaram anteriormente da principal exposição que nomeou a Nova Objetividade, organizada por Gustav Hartlaub, diretor da Kunsthalle (Manheim, 1925). Lenk e Kanoldt participaram da mostra coletiva do grupo, realizada na Galeria Neumann - Nierendorf (Berlim, 1927); e Radziwill inaugurou exposição individual na Galeria Bruno Cassirer (Berlim, 1927) e participou da única mostra internacional da Nova Objetividade, intitulada de Os Independentes [De Onafhangeliken] no Museu Stedelijk (Amsterdã, 1929). A primeira mostra citada de Arte Degenerada determinou o final do grupo de artistas da Nova Objetividade na cidade de Karlsruhe; essa exposição pode ter servido de inspiração para a outra, mais conhecida e divulgada, através do conde Balduissin, amigo de Hitler, nazista e diretor do Museu Folkwang na vizinha Essen, que cedo tomou a iniciativa de vender no mercado externo obras de arte ditas, Degeneradas, retiradas do acervo da instituição que ele dirigia. Começou o expurgo das obras das vanguardas existentes nas instituições culturais alemãs,dos movimentos do Expressionismo, que depois continuou com as obras do Cubismo, Futurismo, Construtivismo e Abstrações das vanguardas europeias. Nas principais cidades começaram as resignações “voluntárias” dos professores e acadêmicos, muitos anteriormente eleitos nas Academias de Arte. Em Dresden, Otto Dix (1891-1969),foi demitido; e em Dusseldorf, Paul Klee. Na Academia da Prússia 10 professores foram intimados a resignarem, entre eles o presidente, o renomado artista judeu, Max Liebermann (18479-1935); e Karl Schmidt-Rottluff (1884-1986)e Kathe Kolwitz(1867-1945), entre outros. Alguns professores se recusaram a demitir-se voluntariamente(13 de maio, 1933), entre esses, Emil Nolde(1867-1956); o arquiteto e antigo professor da Bauhaus, Mies van der Rohe ; e Ernst-Ludwig Kirchner (1880-1938) O permanentemente otimista Nolde, membro do partido que desejava salvar suas obras da destruição, foi fulminado pelas sanções que caíram com violência inaudita sobre sua cabeça, pois foram confiscadas de seu estúdio ou depostas dos museus 1050 obras dele, sendo 50 exibidas na mais importante mostra dita, Arte Degenerada (1937-1938). Nolde, proibido de pintar, como muitos artistas das vanguardas alemãs, produziu sua série de pequenas obras, do tamanho de cartão postal, ditas, Não Pintadas: mas ele somente pôde conseguir tal fato por ter seu estúdio na Dinamarca, no território que anteriormente pertenceu à Alemanha. Na Alemanha os estúdios dos artistas eram visitados frequentemente pela Gestapo: o odor de terebentina ou pincéis molhados serviam de motivo para a prisão do artista infrator. Outras tantas obras de Nolde e de artistas renomados das vanguardas europeias, depostas das paredes dos museus e instituições culturais por toda a Alemanha, foram oferecidas no leilão de arte realizado por Theodore Fisher, em Lucerna, na Suíça (1939). Nas províncias foi bem mais rápido o processo de eliminação de todos os profissionais da arte que não concordavam com as novas regras, sumariamente demitidos. Gustav Hartlaub (1884-1963)foi o curador que tornou conhecidos os artistas da atual vanguarda, através da mostra que promoveu anteriormente, Nova Objetividade, Pintura Alemã desde o Expressionismo [Neue Sachlichkeit. Deutsche Malerei seit dem Expressionismus], no Museu de Mannheim (1925). Hartlaub levou três anos organizando a grande exposição que apresentou obras de 124 artistas no estilo do Realismo Mágico [Magischer Realismus], a nova estética valorizadora do Figurativismo na arte das vanguardas alemãs. A ênfase nessa mostra foi colocada na seleção das pinturas da ala Verista dos artistas de Munique, cujas obras representaram mais da metade das pinturas colocadas em exposição. Hartlaub não só foi demitido, mas também foi submetido à humilhação, pois a obra do judeu russo Marc Chagall (Mark Zakharovich Shagal, 1887-1985), Rabi, que o diretor adquiriu anteriormente, foi exposta em parada pública junto com seu retrato e o preço que o museu pagou por ela. O Dr. Ludwig Justi(1876-1957),diretor da Galeria Nacional desde 1919, foi solicitado a resignar: ele recusou-se, e foi alocado na Biblioteca da instituição até sua aposentadoria (Berlim, junho, 1933). Assumiu a direção do museu seu assistente, Alois Schardt (1889-1955),imediatamente atacado pelas eminências pardas citadas anteriormente, Paul Rosenberg, Wilhelm Frick e Paul Schultze-Naumberg. Tentando tornar aceitável a arte do Expressionismo alemão Schardt proferiu palestra para estudantes,mas, como essa não era a intenção do partido, a Galeria Nacional foi imediatamente fechada para a dita, “reorganização”. Shardt reformulou os espaços expositivos do museu, expondo nos principais salões do museu as obras aceitas pelo partido dos pintores Casper David Friederich, Hans von Marées e Anselm Feuerbach ; e organizou nos andares superiores exposição muito impactante com quadros das vanguardas alemãs dispostos nas paredes pintadas nos tons combinando com cada pintura, como hoje se faz nas principais mostras de arte. Shardt deixou de fora Paul Klee e Max Beckmann, artistas muito condenados pelos nazistas, mas expôs, destacando como precurssores da arte alemã de vanguarda obras dos estrangeiros Emil Nolde (naturalizado Dinamarquês), Vincent van Gogh (Holandês) e Edvar Munch (Norueguês). O Ministro da Cultura, Bernhard Rust, que inspecionou o museu antes da reabertura, não aceitou a reorganização e Schardt foi demitido. A Galeria Nierendorf, em Berlim, organizou mostra de Franz Marc (1880-1916), artista que morreu na I GM e recebeu a Cruz de Ferro como herói alemão. Alois Shardt deveria proferir palestra na inauguração, mas a recepção e a exposição foram fechadas pela Gestapo (Berlim, maio, 1936). No dia seguinte os responsáveis pela galeria receberam carta afirmando que a palestra e a exposição de Marc colocavam em perigo a política cultural Nacional Socialista, e, por extensão, a ordem e a segurança pública. Pouco antes do acontecido um dos irmãos Nierendorf emigrou com a família para os Estados Unidos: Shardt seguiu-o. O Museu Nacional continuava fechado: foi convidado para dirigir a importante instituição Ebehardt Hanfstaengel, diretor da Galeria Estatal de Munique, especialista na arte do século XIX admirada por Hitler. O professor judiciosamente reformulou o museu e foi hábil, acalmando os ânimos, permitindo a Galeria Nacional ser reaberta ao público. Hanfstangel, que não era nazista, permaneceu diplomata nas relações com os nazistas. Esse diretor, que aceitou continuamente doações de obras de artistas ditos, degenerados, continuou comprando para a instituição obras consideradas polêmicas; ele preparou cuidadoso catalogo do acervo do museu, no qual muitas obras indesejáveis na época foram propositalmente esquecidas, deixadas de lado, não catalogadas. Hanfstaengel trabalhou para que o museu participasse do circuito das exposições ditas, Grandes Alemães na Pintura de seu Tempo, preparada para ser inaugurada concomitantemente com os Jogos Olímpicos, mais conhecidos como os Jogos de Hitler (1936). O diretor organizou a mostra coletiva Arte Alemã desde Dürer (Albreth Dürer, 1471-1528). Hanfstsangel abriu totalmente todos os espaços da Nova Ala da Galeria Nacional, expondo obras de Paul Klee e Lovis Corinth (1858-1925), entre outros artistas considerados degenerados por nazistas. O Museu recebeu publico recorde c. de 10.000 pessoas por semana; mas, assim que o fluxo dos turistas diminuiu, Rust, Ministro da Cultura, fechou por ordens superiores a Nova Ala do Museu. Pouco depois as mesmas ordens foram expedidas para o fechamento de todas as alas similares em todas as instituições públicas do III Reich. Também Rudolf von Laban (Jean Baptiste Attila de Varalja, 1879-1958) conseguiu desagradar Hitler nos mesmos Jogos de Berlim. O húngaro Laban, depois de abrir suas escolas de movimento por toda a Alemanha, tornou-se funcionário público trabalhando para o Teatro Estatal Berlinense. Quando os nazistas assumiram, ele continuava na função e foi escolhido para preparar a coreografia da festa inaugural dos Jogos Olímpicos. Laban, apesar de compreender as expectativas de glorificação da raça alemã pelo partido nazista, criou obra coreográfica para 2000 participantes preparando a festa a seu modo, valorizando cada indivíduo, o que não preencheu as expectativas do Führer e do partido. Laban foi perseguido, mas conseguiu fugir para a Inglaterra (1938), onde desenvolveu seu dito, Método Laban, posteriormente adotado em todas as escolas do país. No entanto, o que Hitler realmente teve que engolir foi a vitória do norte-americano Afrodescendente, Jesse Owens, que recebeu o troféu como o homem mais rápido do mundo nos Jogos Olímpicos de 1936. Owens e a arte das vanguardas alemãs permaneciam como as maiores pedras no sapato de Hitler. O ditador desejava o mais completo afastamento das idéias esquerdistas dos anos marcados pela Bauhaus (Weimar, 1919-1925; Dessau, 1925-1928; Berlim, 1929-1932). O temível jornal editado por Goebbels, Der Angriff [O Assalto], defendia a vanguarda expressionista do Grupo da Ponte [Die Brücke]. No entanto, foram confiscadas obras dos pintores desse grupo, que se encontravam expostas, principalmente nas paredes do Palácio Konprinz, que fechou as portas logo depois das ditas, Olimpíadas Nazistas. Adolf Ziegler, o pintor de nus acadêmicos, muito conhecido nos circuitos artísticos da época como o Mestre dos Pelos Púbicos, foi o encarregado de eliminar as obras ditas “degeneradas” das paredes da instituição, que perdeu 69 pinturas, 7 esculturas e 33 desenhos e obras gráficas. No entanto, alguns artistas mais jovens fizeram carreira dentro das normas nazistas como Hans-Adolf Bühler, Bernard Dörries, Albert Heinrich, Werner Peiner e Adolf Wissel, identificados na transição da arte da vanguarda da Nova Objetividade para o romantismo da arte idealizadora da dita, nova ordem civilizadora alemã. Esse novo romantismo poderia ser identificado nas obras denominadas Pinturas do Solo Alemão, como por ex., a pintura de Peiner, Trabalhando nos Campos (Feldarbeit, 1931). Também nesse estilo destacou-se a pintura de Wissel, Família de Fazendeiros em Kalenberg [Kalenberg Bauernfamilie], que mostra a família alemã ideal, pois trabalhadora, com crianças bem nutridas de faces rosadas, a menor abraçada por mãe amorosa, com pai e avó presentes, todos louros e bem dispostos (1939, óleo/ tela 150 cm x 200 cm, Oberfinanzdirektion, Munique). Outro estilo aceito pelos nazistas seria o dito, Heimatstil, ou seja, Estilo da Terra Natal, com linha extremamente naturalista, pintura que mostrava exatamente o que era; essa era a pintura desejada pelo líder nazista, Adolf Hitler. As pinturas citadas encontram-se reproduzidas (MICHALSKI, 2003). Anteriormente Hitler lançou a pedra fundamental da Casa da Cultura Alemã [Haus der Deutschen Kultur] (outubro, 1933). Esta instituição foi sonhada pelo ditador como o verdadeiro Templo da Arte Alemã, e, segundo suas aspirações, necessitava ser preenchida com o que de melhor houvesse nos acervos das reservas culturais, não somente das alemãs, mas igualmente grandes obras dos museus europeus. O Templo deveria se tornar o melhor museu do mundo, com as melhores obras. Apesar das oposições Hanfstaengel foi novamente chamado para apontar o que havia de melhor para ser selecionado, na formação do acervo do novo museu. Hitler ofereceu a diretiva, que desejava, [...] uma exposição compreensiva de alta qualidade da arte contemporânea [...]. A comissão para escolha das obras recaiu sobre alguns medíocres, como o citado Ziegler, e, entre outros, a esposa Gerda Troost, do arquiteto Paul Troost, que projetou o Templo da Arte. Ainda não estava claro para os envolvidos exatamente que tipo de obra seria aceita. Hanfstaengel perguntou ao Ministro da Cultura se Emil Nolde e Ernst Barlach poderiam ser incluídos na mostra, recebendo como resposta que o nome do artista não importava, pois somente obras seriam escolhidas. O júri resolveu abrir competição para seleção e foram recebidas c. de 15.000 obras: foram escolhidas 900. Quando Hitler viu a seleção mostrando-se colérico retirou c. 80 obras, dizendo que não tolerava pinturas “inacabadas”. O júri foi imediatamente dispensado; Hitler substituiu-o por outro, liderado por seu fotógrafo de confiança Heinrich Hoffmann. Logo, logo, Hoffmann tornou-se especializado na aceitação e rejeição de obras de arte, pois guiando sua cadeira de rodas motorizada no local da seleção, gritava, - Aceito! Rejeito! Seguiam-no seus atarantados assistentes, que, correndo, tinham de separar as obras escolhidas. Para um colega Hoffmann gabou-se ter selecionado em uma única manhã 2000 pinturas. No mesmo ano Goebbels, apertando o controle, proibiu toda e qualquer crítica de arte (novembro, 1934). Poucos anos depois Adolf Ziegler, que sobreviveu ao expurgo do júri, foi elevado ao posto de presidente de ramificação da Câmera Alemã de Cultura, escolhido para selecionar obras da arte dita, degenerada (sic), para futura exposição, pinturas e esculturas desde 1910-, na posse dos museus e instituições culturais do III Reich (30 de junho, 1937). O pintor tornou-se organizador relâmpago, pois coordenou a mostra a ser inaugurada menos de um mês depois (19 de julho). Os curadores e diretores dos museus não tiveram muito tempo para esconder as melhores obras das vanguardas existentes nos seus acervos e correram para devolverem obras particulares que estavam sob sua guarda, pois o comitê agiu muito rápido e na surdina. A Galeria Nacional devolveu pinturas de artistas como Picasso, Georges Braque, Raoul Dufy e Edvar Munch, pertencentes à Associação dos Amigos da Galeria Nacional para seu presidente, o Barão Edmund von der Heydt, que guardou-as em cofre bancário. O mesmo museu foi visitado pelo comitê, mas Hanfstaengel recusou-se a recebê-los: seu assistente, Paul Ortwing Rave, foi obrigado (7 de Julho, 1937). A Galeria Nacional perdeu 68 pinturas, 07 esculturas e 33 obras como desenhos, aquarelas e obras gráficas. A cena repetiu-se em museus e instituições por toda a Alemanha: do Museu Folkwang, em Essen, foram retiradas 1202 obras; Hamburgo perdeu 1302; Karlsruhe perdeu 47 obras. Ziegler e companhia pouparam a Coleção Estatal da Bavaria, pois seu diretor era próximo ao Führer: foram confiscadas somente 16 obras das vanguardas. Esse Museu da Bavaria dirigido pelo amigo de Hitler, Conde Baudiussin, segurou as obras retiradas de seu acervo declarando alto valor mercadológico: a Câmara de Cultura generosamente pagou o prêmio do seguro. Ao dia do aniversario da Câmera de Cultura Alemã, a festa com a presença de Hitler, discurso de Goebbels e pronunciamento de Adolf Ziegler, seguiu-se o dia seguinte, domingo, declarado Dia da Arte Alemã. Munique viu desfilarem mais de 7000 pessoas, animais e máquinas na parada que seguiu na direção do novo Templo da Arte. A fotografia publicada mostra a população apática, sem sequer um movimento visível, paralisada com a parada de Hitler. Parecia desfile de Escola de Samba, pois a arte alemã ofereceu antigos figurinos misturados a navios dourados Viking e prelados das antigas sagas. Carlos Magno surgiu atrás de Henrique Coração de Leão e Frederico Barbarrossa: a mistura eclética apresentou artistas vestidos com costumes renascentistas, precedidos por tropas de mercenários armados. O último quadro da parada apresentou unidades da Wehrmacht, A.S. Corporação de Trabalho, Corporação Motorizada e S.S. (18 de julho, 1937). O discurso que Hitler pronunciou neste dia não deu a desejada trégua: depois da introdução, o Führer mostrou-se cada vez mais enraivecido, declarando que os artistas estavam proibidos de usarem formas diferentes da natureza nas suas pinturas. Se insistissem, se mostrassem doentes ou estúpidos para continuarem a pintar dessa maneira, os estabelecimentos médicos e as cortes poriam fim a esta fraude e corrupção. Se isto não pudesse ser conseguido em um dia, ninguém deveria decepcionar-se, pois mais cedo ou mais tarde, sua hora chegaria. Ele lideraria a guerra de “purificação” da arte alemã, guerra sem trégua, de extermínio contra os últimos elementos que prejudicaram [...] a nossa arte [...]. Hitler mostrava-se mais colérico a cada frase pronunciada e mesmo seus acompanhantes olhavam a cena demonstrando horror. Em seguida o público pôde entrar no Templo da Arte, que recebeu da população os nomes de Palazzo Kitsch e Terminal da Arte em Munique. A exposição apresentada pelos nazistas mostrava famílias alemãs idealizadas, nus comerciais, cenas de guerra e pinturas que glorificavam Hitler e mesmo algumas pinturas do selecionador, Ziegler. A imprensa alemã revelou que, somente obras completamente finalizadas estavam na exposição, pois qualquer tipo de esboço havia sido eliminado, deixando bem claro o que cada pintura queria expressar. O nu feminino estava representado, encarregado somente de mostrar a saúde do corpo humano. A exposição recebeu poucos visitantes, as vendas foram ainda menores e Hitler acabou adquirindo para o governo a maioria das obras expostas. Diversa foi a inauguração da mostra Arte Degenerada, no dia seguinte. O discurso de Ziegler ecoou o de Hitler do dia precedente, condenando os diretores de museus que haviam permitido ao povo alemão contemplarem pinturas que eram exemplos de decadência. Sobre o portal de uma das galerias encontrava-se a inscrição: ELES TIVERAM QUATRO ANOS. Representados estavam todos os que, nos últimos quatro anos, não haviam compreendido a mensagem de Hitler, artistas proeminentes das vanguardas europeias. Muitas obras encontravam-se destacadas com dizeres desabonadores escritos nas paredes, como sobre as pinturas de Oskar Schlemmer, Ernst Ludwig-Kirchner, Otto Dix e George Grosz. Sobre as obras do francês Jean Metzinger e do professor da Bauhaus, Willi Baumeister e de Kurt Schwitters estavam os dizeres [...] Loucura total [...]. Outros dizeres destacavam as pinturas do artista do Grupo da Ponte [Die Brücke], Emil Nolde (1867-1956), centralizadas sobre seu Cristo na Cruz, entre muitos outros. O catálogo estava recheado com as mais contundentes declarações de Hitler sobre a arte das vanguardas. Uma fotografia da mostra encontra-se publicada. A Associação dos Oficiais reclamou da inclusão na mostra de 5 pinturas de Franz Marc (1880-1916), que pereceu como herói na Batalha de Verdun (França, 1916); a comissão retirou uma obra, mas quatro outras permaneceram na exposição. Quando a mostra foi encerrada em Munique, viajando para Dusseldorf, mais de 2 milhões de visitantes haviam-na percorrido, muitos desejosos de contemplarem pela ultima vez as obras de seus artistas preferidos das vanguardas internacionais (30 de novembro, 1937). O comitê de seleção da dita, Arte Degenerada, retirou das coleções alemãs 16.000 obras; essa mostra expôs 720 obras das vanguardas, alemãs e europeias, de 140 artistas; e itinerou aos maiores centros artísticos da época, Dusseldorf e Dresden (1937-1938). No antigo deposito de gesso estavam dispostas centenas de obras das vanguardas europeias, especialmente das alemãs, retiradas nas ultimas semanas das instituições e museus. O que fazer com milhares de obras, que, nesse momento se acumulavam no depósito na Copernicusstrasse berlinense? Sim, pois também foram confiscadas obras nos ateliês e residências dos artistas: 412 de Christian Rohlfs (1849-1938). O artista foi destituído de seu cargo publico e precisou sair do país. O russo Wassily Kandinsky (1866-1944), teve 100 obras confiscadas, sendo 17 incluídas na mostra Arte Degenerada; ele foi expulso do país, bem como seus amigos russos, o casal Alexei von Jawlensky (1864-1941) e Marianne von Werefkin (1860-1934), levando o filho e uma mala. O confisco também ocorreu com artistas alemães: Karl Höfer (1878-1955) foi destituído de seu cargo publico, suas obras foram confiscadas e várias incluídas na mostra Arte Degenerada. O escultor Ernst Barlach (1870-1938) teve destruídos seus monumentos e esculturas públicas. Foram confiscadas no total 150 obras de Conrad Felixmüller (1897-1977), expoente da Nova Objetividade, sendo que 4 pinturas e 3 gravuras foram posteriormente incluídas na mostra de Arte Degenerada. Os nazistas também confiscaram 600 obras de Karl Schmidt-Rottluff (1884-1986), sendo 25 incluídas na exposição. Depois do confisco de 729 obras Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) passou a apresentar forte depressão, que resultou no seu suicídio. Heinrich Nauen (1880-1940) foi destituído de seu cargo público e foram confiscadas 117 de suas obras, sendo várias incluídas na mostra Arte Degenerada. Ludwig Meidner (1884-1966) e Kurt Schwitters (1887-1948) foram tão perseguidos que se auto-exilaram, bem como Max Beckmann (1884-1950), que teve 20 obras apresentadas na exposição citada. As obras de Willi Baumeister (1883-1955), anteriormente professor da Bauhaus, foram depostas das paredes dos museus: ele foi proibido de pintar. O mesmo ocorreu com as obras de Heinrich Campendonck (1889-1957), participante do Grupo do Cavaleiro Azul (Munique – Berlim, 1911-1913) e do Grupo Novembro [Novembergruppe] (Berlim, 1918-1924), bem como Rudolf Schlichter (1890-1955), fundador do Grupo RIH e participante do Grupo Novembro e da Nova Objetividade. Erich Heckell (1883-1970), outro participante do Grupo Novembro foi destituído de seu cargo publico, foi perseguido (1937-) e foram confiscadas 729 de suas obras, várias exibidas na mostra Arte Degenerada. Heckell foi um dos artistas alemães mais prejudicados pela perseguição nazista; ele foi proibido de expor suas obras e seu ateliê foi destruído em bombardeio. E dois artistas demitidos da Academia da Prússia, Kathe Kolwitz (1867-1945) e Franz Lenk (1898-1968), que protestou contra a nova política cultural, retiraram-se da vida pública. Kolwitz isolou-se no seu estúdio ao sul de Berlim, onde faleceu (MICHALSKI, 2003). Otto Dix (1891-1969), um dos maiores expoentes as vanguardas alemãs, foi preso e difamado; libertado por falta de provas da acusação de ter organizado atentado perpetrado contra a vida de Hitler, ele foi novamente aprisionado. No final da década de 1930 Dix foi um dos artistas mais perseguidos pelos nazistas que dominaram o governo alemão. Várias de suas obras foram incluídas na mostra Arte Degenerada. Quando Dix foi destituído de seu posto de professor da Academia de Arte de Dresden (1927-1933), também foi forçado a resignar da Academia de Arte da Prússia, proibido de pintar e de participar de mostras. Na ocasião em que Dix foi preso e difamado, destruíram, além de sua carreira, mais de 200 de suas obras. O quadro de Dix A Trincheira (1934-1936) foi utilizado como ícone principal da campanha nazista contra os artistas das vanguardas alemãs. Quando o artista completou 54 anos de idade, ele foi novamente convocado para servir nas milícias e foi feito prisioneiro de guerra (Alsácia, França, 1945). Dix pintou seu Autorretrato como Prisioneiro de Guerra (1947). Foram removidas das paredes dos museus alemães as pinturas de Georg Schrimpf (1889-1938), professor expulso da Escola Estatal de Baden, sendo que várias foram incluídas na mostra Arte Degenerada: c. de um ano depois Schrimpf faleceu, completamente destruído. Nem o considerado membro degenerado do partido, Alexander Kanoldt (1881-1939), escapou da deposição de suas obras das paredes dos museus alemães: ele também faleceu c. de um ano depois. Goebbels, que até então vivera a existência da mão à boca, agora desejava outro padrão de vida: reconhecendo o valor da pilhagem nazista, enviou seu preposto, Sepp Angerer, para escolher pinturas de artistas ditos, degenerados, mas que tinham reconhecido valor fora da Alemanha. Foram escolhidas obras de Paul Cézanne (1839-1906), Edvar Munch (1863-1944), Franz Marc e cinco quadros de Vincent van Gogh (1853-1890), que seriam usados como moeda de troca na aquisição de pinturas dos velhos mestres e tapeçarias antigas, que ele queria exibir no seu Carinhall. Angerer vendeu para um banqueiro em Amsterdã a pintura de Cézanne, Ponte de Pedra, e dois quadros de Vincent van Gogh, o Retrato do Dr. Gachet e Jardins de Daubigny, por RM 500.000. Sempre cioso das aparências Goebbels pagou RM 165.000 à Galeria Nacional, valor total das obras confiscadas: segundo Rave, verdadeira pechincha, pois somente um dos Van Gogh, na época, valia c. RM 250.000. O caso citado acima foi exceção: os museus e instituições que tiveram suas obras confiscadas e os colecionadores particulares, especialmente os judeus, nunca viram sequer um centavo da venda das suas obras legalmente adquiridas. Depois da guerra muitos entraram com longos e delicados processos, a fim de recobrarem suas obras confiscadas, as que sobreviveram à II Guerra Mundial. Alguns conseguiram, mas poucos. Ainda hoje ocorrem novos processos reclamando obras confiscadas. Mais de 20 paginas da listagem de objetos retirados da Galeria Nacional na pesquisa realizada após o termino da II Guerra Mundial, mostraram os valores ridículos pagos pelos negociantes de arte alemães que tiveram acesso ao depósito na Copenicusstrasse e ao estabelecimento que posteriormente promoveu a venda da arte degenerada aos alemães, que podiam adquiri-las desde que pagassem com moeda estrangeira. Os preços pagos foram absolutamente irrisórios. Claro que este não foi o valor da revenda das obras no estrangeiro, valores nunca reportados à Comissão. O diretor do comitê de confisco, Franz Hofmann, declarou que os museus alemães, [...] foram purificados [...] (março, 1938). Hitler assinou decreto declarando o governo liberado de qualquer compensação pelas obras de arte sob sua “guarda”, um dos primeiros eufemismos utilizado oficialmente (junho, 1938). Formou-se a Comissão para Exploração da Arte Degenerada, chefiada por Robert Scholz, agente de confiança de Rosenberg, junto com o pintor Adolf Ziegler; o fotógrafo de Hitler, Heinrich Hoffmann e o negociante de arte berlinense Karl Haberstock, que durante décadas trabalhara na Galeria de Arte Paul Cassirer e era profundo conhecedor do mercado de arte europeu. Quatro negociantes de arte foram apontados para procederem às vendas desse extraordinário inventário: Karl Buchholz, Ferdinand Möller, Bernhard Boehmer e Hildebrand Gürlitt. Buchholz era associado ao marchand alemão Kurt Valentin, que, por sua vez trabalhou na Galeria de Arte Bucholz, em Berlim, e, depois da pilhagem nazista partiu com obras “degeneradas” adquiridas dos nazistas e iniciou sua bem sucedida Galeria de Arte Bucholz em Nova Iorque. Posteriormente Valentin apareceu no leilão em Lucerna, onde adquiriu inúmeras pinturas que comercializou posteriormente nos Estados Unidos. Durante o período do confisco muitos curadores e diretores dos museus alemães mantiveram táticas de postergação e desculpas, visando preservar suas coleções da arte considerada “degenerada” por nazistas. Para um dos membros da comissão de exploração, Franz Hofmann, tudo que fosse ligeiramente impressionista, era “degenerado”. Ziegler tentava moderar a situação, que se tornou muito peculiar no caso da obra de Lovis Corinth (1858-1925), professor da artista destacada nas vanguardas brasileiras, Anita Malfatti (1896-1964). Muitas pinturas do artista foram salvas por diligentes curadores, pois os nazistas do comitê de confisco não chegavam à conclusão sobre Corinth, anteriormente considerado patrimônio da arte alemã. Finalmente ficou decidido que, somente eram “degeneradas” as pinturas que Corinth produziu depois de 1911, ano em que ele sofreu o infarto que deixou-o parcialmente paralisado, pois mesmo assim o artista continuou pintando. Hofmann chegou mesmo ao cúmulo de considerar parte da terra na paisagem de uma pintura de Corinth aceitável, mas o céu, decadente, portanto degenerado. Felizmente prevaleceu a terra, e a pintura, ainda hoje, pertence às coleções alemãs. O comitê deparou-se em Berlim com caixas e mais caixas de arte gráfica para serem examinadas, mais de 2000 gravuras. Depois de retirarem 588 obras, a comissão retirou-se, exausta. De noite o curador, Willy Kurt, substituiu as consideradas “degeneradas” mais valiosas por outras menos importantes do mesmo artista: entre as gravuras separadas estavam obras de Edvar Munch, Pablo Picasso e E-L. Kirchner, entre outros. Foi estabelecido escritório para vendas da arte confiscada, próximo de Berlim, na Schloss Niederschonhausen, controlado por advogado e historiador de arte amador, Rolf Hetsch. Os negociantes de arte poderiam adquirir as obras nesse local, pagando muito pouco, desde que o valor fosse pago em moeda estrangeira. As transações com a arte confiscada não estavam alcançando o resultado esperado pelos nazistas. No outono Karl Haberstock sugeriu a Hitler e Goebbels que um leilão poderia trazer melhor resultado: ele e um antigo aluno de Cassirer, o suíço Theodore Fisher, examinaram os depósitos de arte “degenerada”. Fisher selecionou 126 pinturas e esculturas, que seriam vendidas em leilão no Grande Hotel Nacional, em Lucerna, na Suíça (30 de junho, 1939). O que tornou este leilão diferenciado foi o fato de que, as pinturas e esculturas haviam sido anteriormente selecionadas e adquiridas por museus alemães de Munique, Bremen, Dresden, do Wallraff-Richartz em Colônia, do Folkwang em Essen e da Galeria Nacional, em Berlim. O leiloeiro enviou cartas para os maiores compradores, especialmente os diretores de museus europeus, assegurando que os proventos do leilão seriam destinados aos museus alemães, proprietários das obras leiloadas. Mentira. Todos sabiam que os proventos financiariam as atividades bélicas dos nazistas, o que ocorreu realmente. Entre as obras vendidas o Autorretrato de Van Gogh, que alcançou o maior preço da noite, SFr 175.000. A obra de Henri Matisse, Banhistas com Tartaruga foi adquirida por SFr. 9.100,por Pierre Matisse, filho do pintor e, posteriormente diretor da Galeria Pierre (Nova Iorque, década de 1940). O grupo belga, liderado por banqueiro, adquiriu pinturas do vanguardista belga James Ensor, Tahiti do francês Paul Gauguin, Acrobata e Jovem Arlequim do espanhol Picasso, a Casa Azul do russo Marc Chagall, além de pintura do austríaco Oskar Kokoschka, da francesa Marie Laurencin e do dinamarquês naturalizado Emil Nolde, além de obras dos alemães George Grosz e Karl Höfer. Quando o leilão terminou 28 lotes não haviam sido vendidos: a renda total, de SFr 500.000, foi bem abaixo da que os nazistas esperavam obter. Essa renda foi transformada em libras esterlinas e depositada em Londres, na conta corrente controlada por nazistas. É claro que os museus alemães, legítimos proprietários das obras, não viram nem um centavo sequer da renda da noite. O banqueiro belga que comprou o Picasso, nem nos seus mais extraordinários sonhos poderia supor que este quadro, vendido 49 anos depois, alcançaria a astronômica soma de US $ 38 milhões. A fotografia de Fisher leiloando o Autorretrato de Van Gogh, que pertencia à Neue Staatsgalerie, em Munique, se encontra publicada (NICHOLAS,1995). O fanático nazista Franz Hofmann, desejoso de seguir ao pé da letra a “purificação” ordenada por Hitler, declarou que as obras remanescentes no depósito eram invendáveis e sugeriu ao Führer que uma fogueira seria ação eficaz de propaganda nazista. Os negociantes de arte autorizados ficaram horrorizados e levaram dos depósitos e do escritório de vendas da arte “degenerada” tudo o que puderam; mas Goebbels aderiu ao plano de Hofmann e queimou na fogueira acesa no pátio do corpo de bombeiros berlinense 1004 pinturas e esculturas e 3825 aquarelas, obras gráficas e desenhos (30 de março, 1939). Isso foi somente o começo: depois de exterminarem a arte das vanguardas alemãs e europeias, os nazistas, nos próximos seis anos, exterminaram milhões de pessoas. O Nazismo marcou com mais de 16 milhões de túmulos a invasão européia (1939-1943), sendo 7.000.000 na Rússia, 4.620.000 na Polônia, 500.000 na Grécia, 2.000.000 na Iugoslávia e República Tcheca, 820.000 na França, quase 400.000 na Inglaterra, 204.000 na Holanda, 125.000 na Bélgica, e 11.000 na Noruega, além das inúmeras vidas alemãs ceifadas (BRECHT,1976:50). REFERÊNCIAS SELECIONADAS: BARRON, S.; DIETER DUBE, W. German Expressionism: Art and Society. New York: Rizzoli, 1997, p. 308. 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