quinta-feira, 22 de maio de 2014

BIOGRAFIA: SEGALL, Lasar (1891-1957).



BIOGRAFIA: SEGALL, Lasar (1891-1957).

 



O artista que se tornou consagrado na arte brasileira, nasceu na comunidade judaica de Vilna, capital da Lituânia, que, na época, pertencia à Rússia dos Czares. O artista foi o sexto filho de Abel Segall, escriba da Torá, o livro sagrado dos judeus. A infância e a adolescência de Segall foram marcados por sua fé; ele cursou a Academia de Desenho (Vilna, 1905). Aos 15 anos de idade o artista foi viver em Berlim, onde cursou a Academia Real Imperial de Belas Artes [Koenigliche Kaiserliche Akademische Hochshule für Bildende Kunst] (1906-1909). Segall viveu em Dresden (1910-1921), cidade importante nas artes, onde ele frequentou a Academia de Belas Artes como aluno-mestre, com ateliê próprio. Datam desta época suas primeiras cenografias, pois Segall desenhou cenários e figurinos para peças de teatro amador, representadas em iídiche.
 
 
Segall expôs na sua primeira mostra individual, na Galeria Gurlitt (Dresden, 1910); ele viajou pela primeira vez para o Brasil. No país Segall expôs suas obras em duas mostras, uma em São Paulo e outra em Campinas (1913). Depois de permanecer oito meses no exterior, ele voltou a Dresden: durante o restante do período da I Guerra Mundial Segall foi obrigado a permanecer confinado em Meissenmas [Gueto judaico]. O artista não participou de forma direta do conflito, mas sentiu profundamente o clima geral no seu país, viu matérias nos jornais e fotografias publicadas sobre a guerra. Segall ouviu histórias terríveis, o que resultou na produção, ao longo de toda sua vida, de muitos desenhos, gravuras e pinturas com pungentes imagens da guerra. Foi graças a ajuda de um professor que Segall conseguiu sair do gueto e voltar a viver em Vilna (1917). O artista se casou com Margarete Quack (Dresden, 1918). Segall, acompanhado da esposa, viajou para o Brasil pela segunda vez; o casal depois voltou a Dresden, onde logo depois se separou (1924).

O artista participou com destaque do movimento do Expressionismo alemão; ao término da I Guerra Mundial Segall foi um dos fundadores do Grupo 1919 da Secessão de Dresden [Dresdner Sezession Gruppe 1919], juntamente com Otto Dix (1891-1969), Conrad Felixmüller (1897-1977), Otto Lange (1899-1962), Will Heckroft, Constantin von Mitsche-Collande (1884-1956), Peter August Böckstiegel (1889-1951) e Hugo Zehder.

 
Quando a Alemanha foi derrotada na I Guerra Mundial, o país enfrentou a pior crise econômica e social de sua história: assolada por inflação galopante, a população enfrentou o desemprego em massa, a quase completa eliminação da classe média, e, para a maior parte do povo, fome e miséria. Segall expôs suas obras no Museu Folkwang Essen) e na Galeria Schames (Frankfurt, 1920); e, no começo da década de 1920, o artista foi viver em Berlim (1922). Na época, as pinturas e obras de Segal tornaram-no artista destacado, com participação importante na associação de artistas, a dita, Secessão Berlinense. Segall expôs na Galeria Fisher (Frankfurt) e no Gabinete de Estampas, do Museu de Leipzig (Áustria, 1923).

O artista mudou-se em definitivo para o Brasil: aqui passou a integrar o Modernismo. Segall expôs várias de suas obras executadas anteriormente em duas mostras individuais (São Paulo, 1924; 1928). O artista, agora naturalizado (1928), foi convidado a decorar o dito, Pavilhão Modernista, de Olívia Guedes Penteado. Em São Paulo, Segall se casou com Jenny Klabin (1925); em seguida ele viajou para a Alemanha, onde expôs em mostra individual na Galeria Neumann-Nierendorf (Berlim, 1926). Segell expôs em outra individual, na Neue Kunst Fides (Dresden), as obras que pintou durante sua primeira estada no Brasil. Nasceram seus filhos, Maurício (1926) e Oscar (1930); Segall expôs suas obras em outras duas mostras individuais (São Paulo e Rio de Janeiro).
 
Segall viajou novamente para a Europa, juntamente com sua família e permaneceu durante certo período vivendo em Paris (1928-1931). Na capital francesa, onde Segall começou a esculpir, o artista expôs suas obras em mostra individual na Galeria Vignon (1931); e, no mesmo ano, a família voltou a viver no Brasil. O arquiteto modernista Gregori Warchavchik (1896-1972), que chegou ao Brasil no final da década de 1920, projetou a dita, Casa Modernista, que revolucionou a arquitetura brasileira (São Paulo, 1930). Este destacado arquiteto, russo de bagagem internacional, foi quem projetou a residência paulista de Lasar Segall e família.

Na década de 1930 Segall desenvolveu intensa atividade na SPAM/ Sociedade Pró-Arte Moderna, da qual foi um dos fundadores e entre os principais animadores, juntamente com Flávio de Carvalho (1899-1973), Emiliano Di Cavalcanti ( 1897-1976), Vittorio Gobbis (1894-1968), Anita Malfatti (1896-1964), Paulo Rossi Osir (1890-1959) e Gregori Warchavchik, entre outros intelectuais e artistas brasileiros. Segall expôs em mostra individual, na Galeria Pró-Arte (Rio de Janeiro, 1933); no ano seguinte na Europa, Segall expôs na Casa d'Arte Bragaglia (Roma), pertencente ao Futurista italiano Anton Giulio Bragaglia (1890-1960); e na galeria Il Milione (Milão, 1934). Segall voltou ao Brasil, ocasião em que passou prolongada temporada em Campos do Jordão, que inspirou o artista a pintar uma série de paisagens; nesta bucólica região serrana ele iniciou sua série Retratos de Lucy (1935). Obras de Segall participaram das três importantes mostras do Salão de Maio (São Paulo, 1937; 1938; 1939), organizadas por Flávio de Carvalho. Segall expôs suas obras internacionalmente na Galeria Renou et Collé (Paris) e representou oficialmente o Brasil no Congresso Internacional dos Artistas Independentes (Paris, 1938). Dois anos depois, o artista expôs em mostra individual, na Galeria Neumann (Nova York, 1940).
Desde o início dos conflitos da II Guerra Mundial a obra de Segall voltou-se para temas universais, como as perseguições, o êxodo, a emigração e a guerra. O artista produziu seu caderno Visões da Guerra (1940-1943); nele, Segall não utilizou apenas uma técnica na produção de suas marcantes imagens, mas sim a mistura pessoal de técnicas que incluiu aquarela, guache, tintas e materiais variados, inclusive areia, que permitiram-lhe obter resultado plástico suave, contrastando com o tema pesado. As imagens espontâneas da recordação do conflito, que Segall reproduziu nesta série, apresentaram na sua maioria transparência e fluidez, que ele acentuou com o uso da pena com tinta preta, que, ao encontrar o papel molhado da aquarela dissolvia e ramificava a linha, tornando as áreas em volta levemente sombreadas. Um exemplo desta técnica é a imagem do Grupo, da série citada, que Segall produziu com tinta preta a pena, tinta sépia aguada e guache branco (15,5 cm x 19,5 cm); outra imagem contundente foi Mães e Filhos (19,5 cm x 15,5 cm, tinta preta a pena e aquarela amarela/ papel): os dois desenhos pertencem ao acervo do Museu Lasar Segall (São Paulo). O segundo desenho mostrou grupo de três mães envoltas em mantos, duas com seus filhos no colo, parecendo mortos, mostrando faces cadavéricas nos traços marcantes, com o grupo em primeiro plano marcado com tinta amarela mais forte e a figura de uma mãe se afastando do grupo, pintado na mesma cor, porém em tonalidade mais suave. No conjunto completo dos 74 desenhos de Segall, podemos notar a representação de muitos grupos de pessoas em estado permanente de tensão e horror; o artista acentuou os olhos das figuras, todos enormes, marcados com muitos traços. Na série Visões de Guerra, Segall pintou temas como Pogrom, Navio de Emigrantes, Guerra (1942); Campo de Concentração (1945); e Êxodo (1947). O artista acentuou, com a leveza da técnica aplicada sobre papel, o contraste com o tema pesado; tal oposição tornou ainda mais interessante o resultado que Segall obteve, nas pungentes imagens que criou.
 
 
O artista foi homenageado com sua primeira mostra retrospectiva, no Museu de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1943), com texto de apresentação no catálogo de Mário de Andrade (1888-1945). Segall expôs na Artistas Americanos Associados (Nova York) e na União Pan-Americana (Washington D.C., 1948). Segall expôs na Alemanha e na Holanda; ele foi homenageado com importante mostra retrospectiva no MASP - Museu de Arte de São Paulo; e expôs suas obras na Sala Especial, na I Bienal Internacional (São Paulo, 1951); novamente na Sala Especial na III Bienal (São Paulo, 1955).

A mostra Otto Dix e Lasar Segall: Imagens da Guerra realizou-se no MAB/ Museu de Arte Brasileira, da FAAP/ Faculdade Armando Álvares Penteado (maio - jul., 2002). Nessa exposição foram apresentadas 50 gravuras de Dix e 74 desenhos em técnica mista de Segall, nos quais ambos abordaram o tema da guerra. A mostra das gravuras de Dix foi organizada pelo Instituto de Relações Culturais com o Exterior (Stuttgart) e percorreu vários países (1993-). Outra mostra importante foi Lasar Segall e Otto Dix: Diálogos Gráficos, organizada pelo Museu Lasar Segall, que colocou o foco sobre a crítica social, que ambos empreenderam através de suas obras. A mostra expôs dois conjuntos de 35 gravuras de cada artista; a exposição ocorreu exatamente na mesma época da outra mostra de Segall, no Museu de Arte Brasileira (FAAP - São Paulo, 2002).

As obras de Segall se encontram nas coleções do Museu Judaico e do MoMA, ambos em Nova York; do Museu de Arte Moderna da América Latina (Washinghton, D.C.). As obras Cabeça de Mulata (1927); Retrato de Lucy (1927) Mães e Filhos (1935, nanquim e aquarela/ papel); a pintura Nu com frutas (1938, óleo/ areia/ tela); a obra No mercado em Campos do Jordão (1947); Rebanho em Repouso (1944, óleo/ areia/ tela) e Retrato de Tarsila do Amaral (1928, desenho, grafite/ papel), se encontram reunidas na Coleção Ema Klabin, na Fundação Ema Klabin (Rio de Janeiro).
 
 
Segall foi excepcional desenhista, gravador, pintor e escultor: suas primeiras litogravuras (1910), apresentaram nítida influência de Lovis Corinth (1858-1928), artista das vanguardas alemãs que foi professor de Anita Malfatti e que manteve sempre nas suas obras o traço marcante do Expressionismo alemão. Ao longo de sua trajetória pessoal Segall abandonou as características do primeiro movimento que mais o influenciou, voltando-se para o desenvolvimento de sua obra de traços marcantes; como excelente desenhista e excepcional gravador que foi, Segall produziu vários álbuns de gravuras. Os estudiosos da arte brasileira atribuem a Lasar Segall a introdução do Modernismo na arte brasileira, juntamente com Anita Malfatti: ambos receberam sua formação na arte alemã.


Na década de 1930 quando participou do SPAM, Segall criou a cenografia para dois bailes de carnaval: o primeiro foi Carnaval na cidade de SPAM (1933) e o segundo Expedição às matas virgens de Spamolândia (1934). As coreografias dos bailes foram realizadas por Chinita Ullman; e desses projetos participaram vários artistas plásticos e escritores como Arnaldo Barbosa, Paulo Rossi Osir e Paulo Mendes de Almeida. Na mesma década, Segall realizou a cenografia e figurinos para Sonho de uma Noite de Verão, peça de William Shakespeare (batisado em 1583-1616), encenada pela Escola de Dança e Ginástica de Chinita Ullman e Kitty Bodenheim (TMSP, 1938); para a peça A Sorte Grande, encenada pelo Grupo de Teatro da Biblioteca Scholem Aleichen, no Teatro Ginástico (Rio de Janeiro 1945). Segall criou a cenografia e costumes para o balé O Mandarim Maravilhoso, dito, Ballet dramático em um ato, com argumento de Menybert Lengyel, música do compositor húngaro Béla Bartok (1881-1945) e coreografia do húngaroAurélio Milloss (1906-1988), encenado pelos Ballets do IV Centenário da Cidade de São Paulo, apresentado inicialmente no TMRJ/ Theatro Municipal do Rio de Janeiro (10, 20 e 23 dez., 1954). No ano seguinte, o balé foi encenado no TMSP/ Theatro Municipal de São Paulo (jun., 1955).

Poucos anos depois, Segall faleceu vítima de problemas cardíacos (1957); sua esposa, Jenny Klabin Segall, conjuntamente com seus filhos criaram o Museu Lasar Segall (1970). A instituição foi absorvida pelo IPHAN/ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do MINC/ Ministério da Cultura (1985), e permanece como referência para a obra de Segall. O museu, aberto à visitação pública, promove mostras e possue em seu acervo mais de 2000 obras de Lasar Segall, produzidas nas técnicas de pintura, desenho, gravura e escultura, além de abrigar a Biblioteca Jenny Klabin Segall, que oferece atividades educativas, que tornam a instituição centro cultural e artístico vivo e dinâmico (São Paulo). O MASP possue no seu acervo a obra-prima de Segall: Guerra (1942, óleo/ tela, 183 cm x 268 cm), pintada em tons monocromáticos, beges e ocres claros. Pietro Maria Bardi, fundador e diretor do MASP, escreveu a monografia sobre o artista (1951).
 
 
Gravuras de Segall estiveram em exposição na mostra Expressionismo Alemão, Destaques da Coleção Van Der Heydt-Museum, realizada no Paço Imperial - Rio de Janeiro (08 ago., 24 set.), mostra itinerante ao MAM e ao Museu Lasar Segall (São Paulo, 2000). A mostra, apresentou 68 obras de vários artistas, vindas do Museu de Wuppertal e 121 obras gravadas de artistas diversos, vindas do Instituto Goethe (Stuttgart). Outras obras foram as ditas, Matrizes do Expressionismo no Brasil, com noventa obras dos gravadores brasileiros Lasar Segall, Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Livio Abramo (1903-1998). A escultura em bronze de Segall As Três Jovens (115 cm x 73 cm x 83 cm, sobre base de granito), pertence ao acervo do Palácio do Itamaraty (Brasília). A pintura de Segall Interior com Indigentes (1920, óleo/ tela, 85 x 40 cm, doação de Luba Klabin), pertence ao acervo do MASP.

 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

ADES, D.; BRETT, G.; CATLIN, S. L.; O´NEILL, R. (Biogr.). Arte na América Latina. A Era Moderna, 1820-1980. Tradução de Maria Thereza de Rezende Costa. São Paulo: Cosac e Naify Edições, 1997, p. 325.

 
CATÁLOGO. O Desenho de Lasar Segall. São Paulo: Museu Lasar Segall - IPHAN/ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1991, pp. 161-165.


CATÁLOGO. DIX, Otto. Kritische Graphik 1920-1924. Der Krieg Radierwerk, 1924. Stuttgart: Institut fur Auslandbeziehungen, 1993. Encarte em português.

 
CATÁLOGO. Gravura Expressionista Alemã. São Paulo: Museu Lasar Segall, 18 ago. - 18 set., 1977.

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ENSAIO. BARBOSA, A. M. A Cumplicidade com as Artes. Apud CATÁLOGO. Fantasia Brasileira. Antropofagia nas Artes Cênicas, São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC São Paulo - XXIV Bienal de São Paulo, 1998, pp. 52-77.

 
ENSAIO. D'HORTA, V. Artistas Plásticos no Balé IV Centenário. Apud CATÁLOGO. Fantasia Brasileira. Antropofagia nas Artes Cênicas, São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC São Paulo - XXIV Bienal de São Paulo, 1998, pp. 173-174.
ENSAIO. FEHLEMANN, S. Sur l'oeuvre d'Alexei von Jawlensky. Apud GABARSKY, S. La peinture Expressioniste allemande. Stuttgart: Herscher - Cantz Verlag, 1987, p. 06.

ENSAIO. TONI, F. C. Música e Músicos do Balé do IV Centenário. Apud CATÁLOGO. Fantasia Brasileira: Antropofagia nas Artes Cênicas, São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC São Paulo - XXIV Bienal de São Paulo, 1998, pp. 78-95.

 
ENSAIO. VALIM JÚNIOR, A. R. Ballet IV Centenário: Emoção e Técnica. Apud CATÁLOGO. Fantasia Brasileira. Antropofagia nas Artes Cênicas, São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC São Paulo - XXIV Bienal de São Paulo, 1998, pp. 26-43.

SEGALL, L. Lasar Segall, Material Didático. São Paulo: Museu Lasar Segall/ Ação Educativa, 1998.

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