BIOGRAFIA: MODIGLIANI, Amedeo Clemente (1884-1920).
O artista nasceu em Livorno (Leghorn, Toscana) e morreu jovem, em Paris. A família do artista pertencia a burguesia de origem judaica: devido a crise financeira, a mãe de quatro filhos, Eugênia Modigliani começou a dar aulas particulares e realizar traducões. O artista cresceu no ambiente familiar culto, com interesses literários e filosóficos. Modigliani completou seus estudos secundários no Liceu e estudou na Academia de Arte (Livorno, 1898-). Modigliani foi acometido por pleurisia, que deixou-o tuberculoso (1901); o artista realizou a convalescença viajando pelas cidades italianas de Nápoles, Capri e Roma. Nesse período ele manteve corrrespondência com seu amigo, o pintor Oscar Ghiglia (1876-1945).
Em Florença, Modigliani estudou com um dos renomados pintores do Oitocento Italiano, o vanguardista Giovanni Fattori (Livorno, 1825-1908), na Escola Livre de Nus (1902). Modigliani estudou a arte do Renascimento e visitou catedrais, igrejas e museus. Na companhia de Giglia Modigliani viveu em Veneza, quando desenhou modelo vivo no Instituto de Belas Artes (1903). Modigliani viu obras das vanguardas francesas na Bienal de Veneza (1903; 1905): nessas exposições o artista pôde apreciar esculturas de Auguste Rodin (1840-1917) e pinturas dos movimentos europeus mais avançados na época, do Impressionismo e Simbolismo. Na ocasião Modigliani estabeleceu relações de amizade com os artistas Ortiz de Zárate (Manuel Ortiz de Zárate Pinto, 1887-1946) e Ardengo Soffici (1879-1964), com quem ele voltará a relacionar-se depois que todos passaram a viver em Paris (1906-).
Na capital das artes européias Modigliani estabeleceu estúdio em Montmartre, quando ele tornou-se vizinho de vários pintores e escritores, como ele estrangeiros, pertencentes à comunidade judaica. A maioria vivia na edificação conhecida como A Colméia [La Ruche] ou no Barco Lavanderia [Bateau Lavoior]: na época viveram ali Pablo Picasso (1881-1972), Chaim Soutine (1894-1943), Marc Chagall (1887-1985), Osip Zadkine (1890-1967) e Alexandr Archipenko (1887-1964), entre outros, poetas como André Salmon (1881-1969) e Max Jacob (1876-1944), personalidades que se tornaram presenças marcantes na arte das vanguardas internacionais. Modigliani frequentou as aulas de modelo vivo na Academia Colarossi (v.); o artista se tornou amigo por toda a vida de Maurice Utrillo (1883-1955), filho de Suzane Valadon (1865-1938), modelo de Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901). Modigliani visitou a retrospectiva de Paul Cézanne (1839-1906), no Salão dos Artistas Independentes (1906).
Modigliani conheceu o pintor alemão Ludwig Meidner, que descreveu-o como […] o último boêmio autêntico […]. Meidner posteriormente ficou muito conhecido como líder de grupo das vanguardas alemãs, com obras devastadoras, Expressionistas, que anteciparam a I Guerra Mundial (1913-).
Um amigo levou Modigliani para a residência da rua Delta, que o jovem médico Paul Alexandre e seu irmão alugavam para beneficiarem jovens artistas. Surgiu o primeiro patrono de Modigliani na pessoa de Alexandre, que adquiriu desenhos e pinturas do artista e arranjou-lhe encomendas de retratros. Nessa fase a obra de Modigliani refletiu as influências do Simbolismo e das pinturas de Henri de Toulouse-Lautrec e de Edvar Munch (1863-1947). Modigliani expõs seis quadros, inclusive A Judia, no Salão dos Artistas Independentes (1909).
Modigliani participou da vida dissoluta dos artistas boêmios; ele mudou várias vezes de residência, até estabelecer seu estúdio na Cité Falguière (Montmartre, 1909), onde conheceu e tornou-se amigo do escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957). Foi Brancusi quem apresentou Modigliani à escultura dita, Negra, primitiva, de origem africana. Modigliani tornou-se influenciado, e expressou, essas formas nas suas esculturas e depois pintou a verdadeira síntese das cabeças esculpidas da Arte Negra, alongadas e maciças, nas quais ele acrescentou-lhes olhos opacos, azulados ou acinzentados. O artista alcançou sua maturidade através da pintura de suas marcantes figuras alongadas, suaves e elegantes, que apresentavam linhas finas e delicadas de contorno que marcaram seus retratos e nus femininos, temas favoritos dele, que usou na pintura, de estética única e profundamente individual. preferencialmente as cores terrosas e quentes com densidade cromática completamente pessoal.
Max Jacob (1876-1942), de quem Modigliani pintou o retrato, apresentou o artista ao negociante de artes parisiense, Paul Guillaume (v. biografia abaixo). Associado a Pablo Picasso (1881-1972), Guillaume Apollinaire (1880-1918) e ao Grupo do Cubismo, apreciador da arte dita, Negra, que comercializou na sua renomada Galeria de Arte, Guillaume adquiriu várias obras de Modigliani, que pintou o seu retrato. Obras de Modigliani participaram de algumas mostras coletivas realizadas nessa galeria parisiense: o artista participou com pinturas da mostra A Arte do Século XX, na Galeria Whitechapel (Londres, 1914).
O belo e jovem Modigliani viveu relação conturbada com a jornalista inglesa Beatrice Hastings (1914-1916); mas notívago e dissipado, o artista entregou-se cedo ao álcool e as drogas, levando vida desregrada na boemia, permanecendo mergulhado na pobreza. Modigliani não filiou-se a nenhuma escola pois permaneceu, acima de tudo, Modigliani. Nesse período, no decurso da I Guerra Mundial, Modigliani foi dispensado, mas Paul Alexandre foi convocado, quando cessaram seus contactos. Os c. de 400 desenhos de Modigliani que Paul Alexandre adquiriu do artista durante seu período de convivência amigável, décadas depois estiveram em exposição (1990).
O artista foi apresentado pelo pintor Chaim Soutine (1893-1943) ao negociante de artes Leopold Zborovsky, que passou a representá-lo e interessou-se em ajudá-lo. O marchand polonês ofereceu a Modigliani sua residência na rua Joseph Bara, que, depois que ele rompeu seu relacionamento com B. Hastings utilizou como ateliê durante certo período. Nessa fase Modigliani retratou muitas personalidades conhecidas; o artista expôs suas obras na mostra realizada no estúdio do pintor Lejeune, na rua de Huygens (Paris, 1916). Algumas vagas informações mencionam a participação de obras de Pablo Picasso e Amedeo Modigliani na mostra que deu início ao Dadaísmo em Zurique, organizada nas paredes do Cabaré Voltaire (1916; v. Dadaísmo).
Modigliani conheceu na Academia Colarossi a estudante de dezenove anos, Jeanne Hebuterne, jovem de classe média que por ele apaixonou-se perdidamente; mesmo contra a vontade da família dela, ambos assumiram a vida a dois. No final do ano em que pintou c. de trinta nus, Modigliani realizou a sua primeira mostra individual na renomada Galeria Berthe Weill (Paris, 03-30 dez., 1917). Devido a ameaça da entrada de tropas alemães em Paris, Modigliani e Jeanne abandonaram a capital e instalaram-se na costa Mediterrânea, em Nice e arredores. Modigliani pintou muitos retratos que enviou para Zborowski comercializá-los em Paris. No final do ano Jeanne deu a luz a uma criança, que Modigliani reconheceu como filha e deu-lhe o nome de sua mãe, Eugênia (Nice, 29 nov., 1918). Obras de Modigliani participam de exposição coletiva organizada por Paul Guillaume no Faubourg Saint Honoré (Paris, 1918).
O negociante de artes promoveu as pinturas de Modigliani em mostras coletivas na Inglaterra: na Pintura Moderna Francesa, em Heale e na Galeria Hill (Londres, 1919). Os colecionadores ingleses de arte adquiriram obras do artista. Modigliani voltou a Paris (maio); ele assinou documento comprometendo-se a desposar Jeanne, que se encontrava grávida do segundo filho do casal (julho). Quando a jovem estava com oito meses de gravidez, Modigliani foi internado com tuberculose no Hospital La Charité (Paris). Modigliani morreu no dia seguinte (24 jan., 1920); no outro dia, Jeanne, desesperada com a perda amorosa, jogou-se pela janela do apartamento que ambos ocupavam. O casal e seu filho não nascido foi enterrado no cemitério Pére Lachaise (Paris). No mesmo ano ocorreu a primeira retrospectiva do artista na Galeria Montaigne (Paris, 1920). A irmã de Modigliani, que vivia em Florença, adotou a filha do artista, Eugênia Modigliani, que posteriormente escreveu importante biografia de seu pai.
Depois de sua morte as obras de Amedeo Modigliani estiveram em exposição em muitas mostras póstumas, para consagrá-lo como um dos mais originais artistas das vanguardas do século XX. A primeira retrospectiva do artista ocorreu na Galeria Montaigne (Paris, 1920). A obra de Modigliani Auto-retrato (1919, óleo/ tela, 100 cm x 64,5 cm), um dos quadros mais importantes do acervo do MAC - USP, foi doação de Francisco Cicillo Matarazzo e de Yolanda Penteado; outros seis quadros do artista pertencem ao acervo do MASP, sendo que o Retrato de Léopold Zborowski, foi enviado do Brasil e participou da grande mostra retrospectiva Além do Mito: Homenagem a Amedeo Modigliani, realizada no Museu Judaico (Nova York, maio - junho, 2004). Nessa exposição estiveram expostos retratos importantes como o de Paulette Jourdain; e o de sua mulher grávida, Jeanne Hebuterne, pintada em tons suaves de azul, pouco antes da tragédia do casal.
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ARGAN, G. C.; VINCA-MASSINI, L. (Biogr.). Arte Moderna. Tradução de Denise Bottman e Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 709p., p. 676
CARIELLO, R. Exposição redesenha mitos de Modigliani. Nova York - São Paulo:Folha Ilustrada, Jornal Folha de São Paulo, quarta-feira, 2 de junho de 2004, p. E 10
CATÁLOGO. BARBOSA, A. M. Catálogo Geral de Obras 1963-1993. São Paulo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Fundação Bienal, 1993, p. 320.
DICIONÁRIO. SCHAMALENBACH, W.; GRASSKAMP, W. (Biogr.). German Art of the 20th Century: painting and sculpture 1905-1985. Translated by John Ormond. Munich - Düsseldorf: Prestel, 1987, p. 489.
KRYSTOF, D. Modigliani: 1884-1920. A Poesia do Olhar. Tradução de Teresa Curvelo. Colônia: Taschen, 2007.
NÉRET, G. 30 ans d'Art Moderne. Fribourg: Office du Livre, 1988, p. 84.
SCHMALENBACH, W.: UNDERWOOD, P. (Doc.). Modigliani: paintings, sculptures, drawings. Translated by David Britt. Munich - Düsseldorf: Prestel, 1990. 227p: il., retrs.,pp. 205-210.
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