ARTE NEGRA [ART NÈGRE] (Paris, 1900-1920).
O colecionador Paul Guillaume (1891-1934), também negociante de arte, foi um dos amigos diletos de Guillaume Apollinaire (1880-1918), um dos primeiros à concentrar-se na divulgação e comercialização da arte dita Negra [Nègre], africana e primitiva. A galeria de arte de Guillaume tornou-se o ponto de encontro dos artistas Cubistas, movimento das vanguardas francesas, onde muitos adquiriram suas próprias coleções de arte primitiva (1908-1925).
Guillaume foi um dos pesquisadores que, juntamente com Apollinaire publicou um dos primeiros estudos sobre a arte da África e Oceania, no livro Esculturas Negras (Sculptures Négres. Paris: Paul Guillaume ed., 1917), no qual o marchand surgiu como coautor. A galeria de arte publicou anúncios na revista que Apollinaire editou com sucesso, As Noites de Paris (Les Soirées de Paris, 1912-1914). Guillaume organizou a primeira mostra deste tipo de arte com o nome de Premiére Exposition d'Art Négre et d'Art Oceanien, realizada na Galerie Devambez, onde foi reproduzido no catálogo o texto de Apollinaire, À Propósito da Arte dos Negros (A propos de l'art des noirs, Paris, 1919). Paul Guillaume foi muito amigo de Pablo Picasso (1871-1982) e Amedeo Modigliani (1884-1920).
Nos anos que se seguiram a Arte Negra passou a ser notada e comentada: inúmeros artigos sobre a Arte Negra foram publicados em várias revistas. Foram lançados textos de Tristan Tzara, Nota sobre a Arte Negra (Note sur l' Art Nègre, 1917) e Nota sobre a Poesia Negra (Note sur la Poèsie Nègre, Paris, 1918). A estas influências somaram-se as pinturas idílicas das ilhas percorridas por Paul Gauguin (1848-1903), que começaram sua carreira de exposições internacionais no começo do século XX, exercendo a maior influência sobre toda a geração que, depois da Primeira Guerra Mundial buscava partir em busca de paraísos perdidos nas terras exóticas. A arte influenciada pela Arte Negra foi a arte da evasão, da fuga do cotidiano no ambiente pesado que permeava a vida política e social dessa geração européia.
Foi Maurice de Vlaminck (1876-1958), quem encontrou em um brechó em Bougival, a escultura, dita, Negra [Nègre], que ele adquiriu e levou para o estúdio de seu amigo, André Derain (1880-1954). De acordo com o relato de F. Carco (De Montmartre au Quartier Latin. Paris: Albin Michel, 1927), Vlaminck avaliou a beleza da peça, comparando-a com a Vênus de Milo dizendo ser esta escultura quase tão bela quanto a estátua no acervo do Museu do Louvre; Derain avaliou-a como tão bela quanto a verdadeira Vênus. Foi Picasso quem declarou que a escultura negra era mais bela do que a beleza clássica da Vênus de Milo. As lições desta fase da arte das vanguardas marcaram a obra de Picasso.
Na época, a nomenclatura Arte Negra abrangia as artes nativas da Polinésia, da Oceania, de todas as regiões da África, englobando sem distinções toda a arte dita, primitiva, sem muita especificidade entre as obras oriundas de diversos povos. Estas obras, visivelmente despidas de qualquer decorativismo, externavam o sólido poder de síntese, apresentando volumes definidos, caráter simples e intrínseco à matéria bruta, sendo marcantemente expressivas. O fato de que os artistas franceses puderam compreender e sentir que a Arte Negra transcendia a matéria da qual era formada, pois transmitia toda a tragédia da existência em simples blocos monolíticos, expressando a natureza em estado bruto e a magia dos povos na universalidade da arte.
A Arte Primitiva exerceu considerável influência sobre o Cubismo, devido à exposição de arte arcaica das esculturas ibéricas de Osuna, tema da grande mostra realizada no Museu do Trocadero, posteriormente denominado Museu do Homem (Paris, c. 1905-1906). Picasso viu a exposição e identificou-se com as obras de Arte Primitiva e levou sua influência para as primeiras pinturas e esculturas Cubistas (Paris, 1908-1925).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
APOLLINAIRE, G. Aesthetic Meditations on Painting: The Cubist Painters. Paris, 1913. Apud APOLLINAIRE, G.; EIMERT D.; PODOKSIK, A. (Biograf.). Cubism. Translated by Dorothea Eimert. New York: Parkstone Press International, 2010, 200p., ils. color., pp. 06-26.
CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentation par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia.
DAIX, P.; ROSSELET, J.
Lecubisme de Picasso: catalogue raisonée de l'oeuvre peint, 1907-1916. Neuchatel: Îdes et Calandes, 1979. 366p.: il.
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