segunda-feira, 22 de julho de 2013


HISTÓRIA DA ARTE EUROPÉIA DE VANGUARDA.
KHANWEILLER, Daniel-Henry (1884-1979).



O negociante de artes radicado em Paris, nasceu filho de familia rica de origem judaica, com negócios no mercado financeiro (Manheim, Alemanha). Khanweiller foi trabalhar com a família: nos seus momentos livres ele apreciava visitar museus (Manheim e Berlim). Khanweiller resolveu mudar de vida e iniciar sua galeria de arte em Paris. A sua primeira compra para a galeria foram pinturas de Maurice de Vlaminck (1876-1950) e André Derain (1880-1954), que ele apreciou na exposição do Salão dos Artistas Independentes. O negociante de artes conheceu os artistas pessoalmente, quando, no final da mostra, eles foram entregar seus quadros na galeria (rua Vignon 28, Paris, 1907).



 
Kahnweiller adquiriu pinturas das vanguardas Fauvistas; de Kees van Dongen (1877-1968), Georges Braque (1882-1968), Fernand Léger (1881-1955) e Juan Gris (1887-1927). Pablo Picasso (1881-1972), que se tornou o principal artista da galeria, foi caso à parte. Na companhia do negociante alemão Wilhem Uhde, que viajou para Paris com a artista ucraniana Sonia Terk, que se tornou conhecida como Sonia Delaunay (1885-1962) depois de seu casamento com Robert Delaunay (1885-1942), Picasso visitou a galeria de Khanweiller sem se identificar. Logo depois Khanweiler foi visitar o ateliê de Picasso no decadente Bateau Lavoir (v. Grupo (Francês) do Barco Lavoir); quem abriu-lhe a porta foi a bela Fernande Olivier (1881-1966), que vivia com o artista na ocasião. Foi Khanweiller quem relatou o fato na entrevista que ele concedeu a François Cremieux, que publicou-a (KHANWEILLER, D-H. Entrétien avec Francois Cremieux. Paris: Gallimard, 1961). Khanweiller tornou-se o único negociante das obras de Picasso, ele fez o acerto por escrito com o artista, registrado em carta publicada, na qual constam os detalhes dos preços das obras em relação ao tamanho dos quadros. Khanweiller pediu e recebeu com exclusividade todas as obras Cubistas do artista e, por este motivo, essas pinturas de Picasso não puderam participar das inúmeras mostras do Cubismo que ocorreram na capital das artes européias (Paris. 1908-1925).



Khanweiller agendou mostras internacionais para Picasso em Londres, Colônia e Barcelona; e depois nos Estados Unidos. O sucesso de Picasso foi muito invejado pela comunidade francesa das vanguardas artísticas e o fato promoveu várias rupturas com alguns artistas próximos, notadamente com Maurice de Vlaminck, artista que se tornou, por curto período, exclusivo da galeria de D-H. Khanweiller. O sucesso de Picasso foi, no entanto, duramente construído: Picasso pintava quase todos os dias um quadro novo, como podemos verificar através de seu Catalogue Raisonné; e cada obra apresentava novo território conquistado pelo artista. Picasso inovou sempre e evoluiu nas suas várias sucessivas fases Cubistas. Na fase mais hermética no movimento Picasso pintou o Retrato de Khanweiller (1910).



Khanweiller montou bela coleção particular de obras das vanguardas francesas, que foi inteiramente confiscada pelo Governo Francês por ocasião da I Guerra Mundial (I GM). Na época Khanweiler foi obrigado a fugir de Paris e abrigar-se em Zurique (Suíça). Todas as obras de sua coleção pessoal, bem como as pinturas da galeria de arte, foram leiloadas. O negociante de arte perdeu tudo: depois da guerra ele precisou recomeçar de zero, mas voltou para reconstruir sua vida em Paris. Khanweiler reabriu a galeria de arte em sociedade com André Simons, no novo endereço (rua Astorg). Khanweiller foi sempre extremamente correto com seus artistas e, durante as épocas mais duras e recessivas, como no início da década de 1930, ele financiou mensalmente a vida de vários dos contratados da galeria, que pagavam com obras as dívidas contraídas com o negociante.



O negociante de arte se tornou editor do poeta Guilaume Apollinaire (1880-1918) e lançou a primeira edição do livro de poesias O Encantador Putrefato [L' Enchanteur Pourrisant] seguido de Onirocrítica [Onirocritique] (1908), esse em edição limitada de apenas 100 exemplares. O poeta Apollinaire escreveu várias críticas de arte, textos publicados nos convites das mostras de seus amigos pintores, inauguradas na galeria de Khanweiller. Quando o Nu de Braque foi recusado para exposição no Salão dos Artistas Independentes (1908), por júri presidido por Henri Matisse (1887-1927), Khanweiller ofereceu-lhe a primeira mostra individual na sua galeria de arte (Paris, 1909).



O poeta Max Jacob (1876-1944) se tornou um de seus mais diletos amigos: dele Khanweiller publicou São Matorel [Saint Matorel]. A galeria de arte lançou a primeira série de gravuras de Picasso, realizadas na técnica de Água Forte, bem como Xilogravuras de André Derain. Depois da I GM, a Galeria Simon, de D.-H. Khanweiller, passou a representar o artista suíço que vivia na Alemanha, Paul Klee (1879-1940). Na época dos grandes conflitos internacionais, as duas grandes guerras mundiais, Khanweiller se transferiu para a Suíça onde ele escreveu seu primeiro livro, O Percurso do Cubismo [Der Weg Von Kubismus]. Kahnweiller depois escreveu e publicou as monografias Vlaminck e Derain (Paris, 1920). No período da II GM Kahnweiller escreveu a biografia de outro pintor, seu amigo Juan Gris, que faleceu precocemente (Paris, 1927). Por ocasião do segundo conflito, Khanweiller, saiu da França com sua família, emigrando novamente para o território neutro da Suíça. Na ocasião, D-H. Khanweiller passou a galeria de arte para o nome de sua cunhada francesa, a fim de escapar do que seria o segundo confisco oficial de seus bens. Na época do imediato pósguerra, novos artistas se associaram aos que eram representados pela Galeria de Arte, como o pintor primitivo Manolo, primo de Picasso, além de Henri Laurens, André Masson e Suzanne Roger, além dos poetas e escritores Michel Leiris, Saint-Pol Roux, Yves Rouvre e Kermadec, entre outros. Khanweiller se transformou no amigo da alta sociedade parisiense: ele frequentou as altas rodas e reuniões no salão de Gertrude Stein (v. Círculo de Gertrude e Léo Stein), o Teatro de Antonin Artaud e os espetáculos de balé e ópera promovidos pela Companhia Teatral S. P. Diaghilev (v. Balés Russos, Paris, 1909-1929).
 



No princípio do século, a fase foi favorável às vanguardas artísticas internacionais. A riquíssima sociedade russa do tempo dos Czares comprava muita arte na França: o colecionador russo Sergey Schoukine, adquiriu para sua coleção mais de 50 obras de Picasso, entre outras de Henri Matisse, quadros posteriormente confiscados pelo governo soviético pouco depois da Revolucão Russa (1918). A coleção com centenas de preciosas pinturas dos vanguardistas franceses se encontra hoje no acervo do Museu Puschkin de Belas Artes (Moscou) e do Museu Russo (São Petersburgo). A boa fase dos negócios com a alta sociedade russa durou sete anos (1907-1914). Depois da Revolução Russa (1917), os tempos ficaram bem mais difíceis, pois toda a arte do país foi estatizada (1918).
 
 

O trabalho de Khanweiller representou a ponte para a arte das vanguardas artísticas entre vários países, como França - Rússia, França - EUA, pois Khanweiller divulgou a arte das vanguardas por toda a Europa e América. O papel desempenhado pelo negociante de artes foi fundamental para a aceitação da arte moderna; durante várias décadas de trabalho árduo, a julgar-se pelo grande escândalo provocado pela obra Guernica, que Picasso doou para a Espanha, país que a expôs pela primeira vez no Pavilhão Espanhol da Exposição Universal (Paris, 1937). A arte de vanguarda internacional somente passou e ser um pouco mais compreendida e aceita a partir de meados da década de 1950. Parte desta compreensão e aceitação devemos a personalidades associadas as artes das primeiras vanguardas do século XX, como os europeus Daniel-Henry Khanweiller, a baronesa Hilla Rebay, a galerista Jeanne Bucher e a livreira Adrianne Monnier; e aos americanos Katherine Dreier e Walter Conrad Arensberg, entre outros.


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. , pp. 83-86, 103-104.

CATÁLOGO. HELFEINSTEIN, J. Paul Klee. São Paulo: Salas Especiais na 23ª Bienal Internacional de São Paulo, 2002, p. 359.

 
DICIONÁRIO. CHILVERS, I. The Concise Oxford Dictionary of Art and Artists. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1990. 517p., pp. 308-309. (Oxford reference).

DICIONÁRIO. MAILLARD, R. (Org.). AHSBERY, J.; BIRD, A.; COGNIAT, R.; COURTHION, P.; DORIVAL, B.; ELGAR, F.; FELS, F.; FORMAGGIO, D.; GIEURE, M.; GREY, M.; LASSAIGNE, J.; LÉJARD, A.; LEYMARIE, J.; LINDWALL, B.; LIVENGOOD, E.; MELLQUIST, J.; McEWEN, F.; MEYER, F.; MIDDLETON, M.; MOULIN, R-J.; MULLER, J. É.; POMÈS, M.; RAPSILBER, E. RAYNAL, M.; REWALD, J.; ROCHÉ, H-P.; ROGER-MARX, C.; RONART, D.; SAN LAZARO, G.; SEUPHOR, M.; SOUPAULT, P.; SPAAK, C.; WADIA, B. Dicionário da Pintura Moderna. Tradução de Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus, 1981,p. 163.

ENTREVISTA. KHANWEILLER, D-H. Entrétien avec Francois Cremieux. Paris: Gallimard, 1961.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário