CONSTANT, Jean-Joseph Benjamin, mais conhecido como pintor Orientalista clássico, realizou esse estudo para a abóbada do teto da Ópera Cômica parisiense, denominado Glorificação da Música (1898, Papel/ cartão, d=56 cm, no acervo do Museu d’Orsay, Paris).
HISTÓRIA DO IMPRESSIONISMO EUROPEU. Nascimento da arte moderna brasileira: a primeira destacada professora, desbravadora na luta contra o preconceito que rondava as mulheres artistas! Que resultou posteriormente na primeira artista brasileira influenciada pelo Impressionismo europeu, Georgina de Albuquerque…
BIOGRAFIA: WORMS, Bertha; Anna Clémence Berthe Abraham Worms (1868-1939).
A artista nasceu em Uckange (França) e recebeu a melhor educação: Bertha foi aluna de Jules Lefèvre, Gustave Boulanger, R. Fleury e Jean-Benjamin Constant na Academia Julian (Paris, 1885-1887). Na época eram bem poucas as mulheres pintoras, mesmo no berço da arte, a França: as jovens que se dedicavam a esta atividade eram vitimas de preconceito, malvistas socialmente. Moça de família como Berthe recebia aula particular, em casa, pois era de bom tom estudar piano e pintura: mas raras, raríssimas, se aventuravam a ir mais longe como Berthe, que estudou na classe feminina dos ateliês da Escola Nacional Superior de Belas Artes. A jovem, no entanto, encarou o desafio e aos 17 anos de idade recebeu seu diploma de professora de Desenho, apta a ensinar nas escolas comunais, liceus e colégios de Primeiro Grau (1886); no ano seguinte ela obteve o diploma que permitiu-lhe ensinar nos colégios de grau superior. A artista participou de jornadas de estudos nos Museus do Louvre, Luxembourgo, Versailles e Saint-Germain.
Berthe começou a expor suas obras em mostra coletiva importante, a II Exposição Branco e Preto (1888); no ano seguinte, ela participou com dois retratos da Exposição de Belas Artes da Sociedade dos Artistas Franceses (1890). Dois anos depois, Berthe se casou com o cirurgião-dentista niteroiense Fernando Samuel Worms (Paris, abr., 1890) e, em seguida, viajou com o marido para o Brasil, onde ficou conhecida como Bertha Worms. Depois de um ano vivendo em Curitiba onde nasceu seu primogênito Jorge (1893), a familia foi viver em São Paulo (1894). Na cidade bem provinciana não existiam galerias de arte: B. Worms passou a expor suas pinturas nas vitrines das casas comerciais como da Fotografia Alemã, sita à rua direita, no centro de São Paulo. Ao longo da carreira muitas outras foram suas vitrines, como a da Casa Garraux (1895), e a vitrine de muitos artistas como a de O Livro (1919), a Casa Mappin (1923) e a Casa Michel (1928), estre outras. Esses locais atraíam a atenção do público para a obra da artista, garantiam-lhe encomendas, especialmente dos retratos, pinturas de gênero e naturezas-mortas, na época temas usuais abordados pelos artistas. Neste período destacavam-se em exposições individuais pinturas de artistas como Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Oscar Pereira da Silva, Benedito Calixto, bem como de alguns mestres italianos que aportaram por aqui, como Ferrigno, Norfini e Santoro.
Worms continuou expondo: suas obras participaram da 2a Exposição Geral de Belas Artes (ENBA - RJ, 1895), onde a artista recebeu a Medalha de Ouro com o quadro Cabeça de Cardeal. No mesmo ano B. Worms conseguiu expor 21 pinturas na sua primeira mostra individual, realizada no Salão Nobre do Banco União: a abertura da exposição foi prestigiada por autoridades como Bernardino de Campos, presidente do Estado de São Paulo, entre outros. No ano seguinte o Museu do Estado adquiriu um quadro da artista, e B. Worms iniciou no seu ateliê o ensino de Desenho e Pintura. As alunas foram jovens da melhor sociedade como Alice Fairbanks B. de Mattos, Ada de Paula Souza, Cinira Conceição Morato Leme, Carlota Pereira de Queirós e Adilia Seabra, entre outras; várias das citadas participaram com pinturas de salões oficiais de arte, começando assim a presença feminina na arte brasileira.
Obras de B. Worms participaram da III Exposição Geral de Belas Artes na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA - RJ, 1896), e, no ano seguinte, expôs com suas alunas no Clube Internacional São Paulo, sendo que a artista destinou parte da renda da mostra para as famílias dos mortos no conflito de Canudos (1897). No ano seguinte nasceu sua filha Henriqueta (1898); pouco depois a artista viajou para prolongada temporada na França, onde nasceu sua filha Andréa (Paris, 1901). Dois anos depois B. Worms voltou para São Paulo, onde nasceu seu filho Marcelo (1903); e, finalmente, nasceu seu quinto e último filho, Gastão, artista plástico (São Paulo, 1905-1976).
Durante a formação familiar, B. Worms nunca deixou de pintar e começou à ficar conhecida por seus retratos de personalidades, como Carlos Gomes, Dr. Cesário Motta, Senador Lacerda Franco e do presidente do Estado de São Paulo Jorge Tibiriçá, entre outros. A artista expôs com suas alunas em mostra coletiva, apresentando 51 pinturas de sua autoria no Salão Castellões (São Paulo, 1907). No ano seguinte, B. Worms participou da Exposição Nacional do 1º Centenário da Abertura dos Portos (ENBA/ RJ, 1908), onde seu quadro Invocação foi premiado com Medalha de Ouro (1908). Worms expôs em outra mostra individual no Círculo Francês (São Paulo) e finalmente realizou sua mais importante exposição individual, na ENBA (Rio de Janeiro, 1911), inaugurada pelo Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente da República. Worms expôs na 1ª e na 2ª Exposição Brasileira de Belas Artes no Liceu de Artes e Ofícios (São Paulo, 1911; 1912); em mostra individual no Polytheama Rio Branco (Santos, SP, 1916); em mostra individual na loja da editora O Livro, de Jacinto Silva (São Paulo, 1919-1920); na 1ª Exposição Geral de Belas Artes, no Palácio das Indústrias (São Paulo, 1922); em mostra individual, no Salão de Chá da Casa Mappin (São Paulo) e em mostra coletiva, com a participação de obras de seu filho Gastão Worms (Belo Horizonte) e, no mesmo ano, em mostra individual realizada em São Paulo (1923).
Na época Bertha pintou algumas excelentes Naturezas-Mortas, como Maçãs e Uvas (1922) e Camarões (1923). A estética clássica da natureza-morta encontra-se marcada pela cor, que dá a cada objeto sua vida própria separadamente e cujos reflexos não tocam as outras superfícies; as naturezas-mortas de Bertha fugiram desta estética classicista e seus reflexos brilham e interligam-se às outras superfícies na composição harmoniosa com luz e sombra estudadas.
A artista realizou outra viagem a Europa, à bordo do Lutetia, seguindo para Gibraltar onde encontrou sua filha Henriqueta e seus netos. Worms prosseguiu viagem até a França, onde encontrou seu filho Gastão e reviu familiares e amigos (1927). De volta ao Brasil, Worms expôs quadros e pinturas sobre porcelana, na Casa Michel, mas perdeu seu marido (1928). A artista continuou pintando e expondo, na que foi sua última mostra em vida, o 1º Salão Paulista de Belas Artes (1934). Worms passou algumas curtas temporadas em estações de águas, como Araxá e Poços de Caldas (1932; 1935) e, poucos anos depois faleceu na sua residência (São Paulo, 1937).
Duas mostras póstumas revelaram as obras da família: a primeira Os Worms, Bertha e Gastão (1996) e a segunda, a coletiva que revelou artistas brasileiras de sua e de outras gerações que a sucederam, na mostra Mulheres Pintoras: a Casa e o Mundo (2004), ambas com a curadoria de Ruth S. Tarasantchi, que mostraram ao público a trajetória desta artista, mãe e pioneira, desbravadora da arte nas terras brasileiras. Bertha ousou ser pintora e foi excelente artista, passou sua vida dedicada a essa carreira tão ingrata: ela foi uma das poucas mulheres de sua geração que conseguiu se profissionalizar e alcançar o sucesso no universo inteiramente dominado pelos homens, onde ensinou e abriu o caminho para outras jovens que seguiram-na, no seu exemplo ousado. A segunda mostra citada mostrou pinturas de várias outras artistas, algumas de sua geração como Abigail de Andrade (1864-1890) e Elizabeth Krug de Malfatti (1866-1952), mãe da conhecida Anita Malfatti; entre outras, como Emma Voss, excelente retratista alemã que veio viver em São Paulo no início do século; Nicota Bayeux, outra artista brasileira educada na França; e pinturas de artistas mais jovens como Louise Visconti (1882-1964); a excelente Georgina de Albuquerque (1885-1956), que foi a primeira pintora brasileira influenciada pelo Impressionismo; Sylvia Mayer (1889-1955), Regina Veiga (1890-1960), Tarsila do Amaral (1890-1973), que, entre tantas pintoras dedicadas a arte mais tradicional, ousou ser moderna; a filha de Eliseu Visconti, esposa do pintor Henrique Cavalleiro, Yvonne Visconti Cavalleiro (1901-1965); Aurélia Rubião, dedicada ao retrato; Regina Gomide Graz (1902-1975), irmã do pintor Antonio Gomide e casada com o artista suíço que viveu no Brasil, John Graz, que, mais do que pintar dedicou-se às obras nas técnicas têxteis; Marie Nivouliès de Pierrefort, cuja obra encontra-se fortemente marcada pela influência do vanguardista francês Paul Cézanne; Lucy Citi Ferreira, Haydéa Santiago, Ana Chinaka, todas, se não vanguardistas nas obras o foram por abraçarem a carreira artística com maior ou menor sucesso, com maior ou menor reconhecimento, sempre pioneiras. Entre outras artistas brasileiras destacadas, algumas esquecidas como Lisa Ficker (1879-); Elizabeth Nobling e Geza Heller (1902-), Marianne Overbeck (1903-). As destacadas escultoras Maria Martins (1900-), Felicia Leirner (1904-) e Moussia Pinto Alves (1910-); as pintoras Pola Rezende (1906-) e Zélia Salgado (1909-), todas com obras em exposição na II Bienal Internacional (São Paulo, 1953). E Yolanda Mohalyi (1909-), grande pioneira da Abstração paulista, seguida por Wega Nery (1916-) e Tomie Othake, que podemos incluir entre as mulheres com marcante expressão na arte moderna brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário