domingo, 1 de julho de 2012

BIOGRAFIA: MASSINE, Léonid; Leonid Miasjin (1894-1979). Primeira parte, como coreógrafo dos Balés Russos (Paris, 1909-1929).


 BIOGRAFIA: MASSINE, Léonid; Leonid Miasjin (1894-1979). Primeira parte, como coreógrafo dos Balés Russos (Paris, 1909-1929).

O importante coreógrafo e bailarino russo, nasceu em Moscou e morreu nos E.U.A., naturalizado americano. Depois de dançar no corpo de baile de Teatro Mariinsky (São Petersburgo), onde foi visto por Sergey Diaghilev, Massine, aos 18 anos de idade, foi convidado a integrar o elenco da Cia. Teatral S. P. Diaghilev. Massine não era um prodígio, como Vaslav Nijisky, mas Diaghilev encantou-se com ele e o artista emigrou para a França onde estreou dançando no papel principal (José) do espetáculo A Lenda de José, que estreou no Teatro Nacional da Ópera (Paris, 1914). Diaghilev que tinha sido abandonado por seu principal coreógrafo, seu amante Michel Fokine, pediu a Massine que coreografasse o novo balé, quase uma pantomima, que lembrava a dança livre de Isadora Duncan.

Diaghilev estava preparando sua temporada americana, arranjada pelo Metropolitan Opera House e precisava desesperadamente da arte de Vaslav Nijinsky, internado em clinica para doentes mentais. O empresário fez esforços consistentes para retirá-lo de lá, o que acabou conseguindo, mas não a tempo de usar a arte de Nijinsky na estréia de sua temporada americana, conforme rezava o contrato. Antes da nova companhia partir para os Estados Unidos, realizou-se a única récita do balé O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit], dançado por bailarinos e bailarinas no papel de camponeses russos, com música de Nicolay Rimsky-Korsakov, cenografia e figurinos de Mikhail Larionov e coreografia de Leonid Massine. O balé alcançou certo sucesso e realizou-se outra récita beneficiente em matinê na Ópera de Paris. A companhia partiu de navio (Bordeaux-Boston) e chegou à América (11 jan., 1916); a temporada novaiorquina estreou no Century Theater (Nova York, 17 jan.), quando os Ballets Russes apresentaram quatro espetáculos: O Pássaro de Fogo (Stravinsky); o Pas de deux do Pássaro Azul, de A Bela Adormecida (Tchaikowsky-Stravinsky); O Sol da Noite e Shéhérezade, ambos com música de Rimsky-Korsakov. Todos os espetáculos haviam estreado nos palcos europeus. A recepção do público norte-americano foi calorosa, mas apontou deficiências, pois a companhia que viajou carecia de grandes estrelas dançando no conjunto bem treinado e integrado, com repertório pequeno de apenas oito diferentes balés na bagagem. A troupe de Diaghilev dançou em Boston, Albany, Detroit, Chicago, Cinccinati, Cleveland, Pittsburg, Washinghton, Filadélfia, Milwaukee, Mineápolis e Kansas City, entre outras cidades. A recepção afinal resultou apoteótica; e, de volta a Nova York, a companhia apresentou-se no Metropolitan Opera House, ainda sem Vaslav Nijinsky, que finalmente estava a caminho, mas não tinha chegado. No entanto, esse fato ocasionou a quebra de contrato, quando iniciou-se disputa comercial acirrada: Nijinsky chegou finalmente, mas somente pode dançar depois do dia 12 de abril. Foram apresentados o balé Petrushka (Stravinsky), bem sucedido; e o balé romântico europeu O Espectro da Rosa [Le Spectre de La Rose] mas o público considerou Nijinsky efeminado e não gostou. Todas as apresentações foram bem sucedidas, exceto por Narciso [Narcisse] (Tcherepnin), balé pouco compreendido, considerado cômico quando não era.

Devido ao sucesso geral da temporada americana dos Balés Russos, Otto Khan, diretor do Metropolitan Opera House, solicitou a Diaghilev nova turnê dos Ballets Russes; mas o empresário precisava cumprir o compromisso europeu assumido com o Rei da Espanha e viajou com parte da companhia. Voltaram à Europa junto com Diaghilev, Massine, Tchernicheva, Woizikowsky e Idzikovsky, mas, infelizmente, o empresário resolveu deixar Nijinsky encarregado da operação sul-americana, o que provou futuramente ter sido a decisão errada, pois resultou em verdadeiro desastre.

Diaghilev havia sido convidado pelo rei da Espanha, Alfonso XIII, para levar seus Ballets Russes ao país, onde o empresário chegou. Diaghilev passou alguns dias em Paris, ocasião em que Pablo Picasso foi-lhe apresentado. A temporada espanhola estreou com a presença do rei de Espanha e sua família; mais tarde, o rei ajudou bastante a Diaghilev, quando, dois anos depois, a fortuna da companhia chegou ao seu limite mais baixo. A companhia descansou alguns dias e depois apresentou-se em San Sebástian (Espanha). Diaghilev preparou dois novos balés: As Meninas, apresentação de cinco bailarinos(as), com a música da conhecida Pavane, de Gabriel Fauré, cenários do artista italiano Carlo Socrate e costumes de Misia Sert. A coreografia foi de Massine, que também dançou com Lydia Sokolova, Olga Khoklova e Léon Woizikowsky. O segundo balé Kikimora, baseado na música de A. K. Lyadov, foi coreografado por Massine; Stanislas Idzikowsky dançou no papel do gato. Nenhuma destas coreografias de Massine mostrou-se excepcional: ele ainda tinha longo caminho à percorrer, antes de tornar-se respeitado coreógrafo internacional (Madri, 26 maio, 1916).

A companhia de Diaghilev embarcou novamente para Nova York (8 set., 1916). Diaghilev havia preparado o novo balé Till Eulenspiegel com música de Richard Strauss, cenografia e figurinos do pintor americano Robert Edmond Jones, que ficou fora das medidas do palco, mas que estreou assim mesmo, pois foi dobrada a parte inferior do pano de cena, que permaneceu sem iluminação. No cenário, o artista pintou imensa quantidade de telhados de casas, em ângulos inusitados, mostrando a cidade medieval na terra de sonhos. Nijinsky dançou no papel de Till e o balé experimentou relativo sucesso. A companhia realizou a segunda turnê prolongada norte-americana, apresentando-se no Texas, Oklahoma, Missouri, Nebraska, Iowa, Colorado, Utah, Califórnia, Seattle, Washinghton, Tennessee e Kentucky; apresentaram-se em Vancouver (Canadá), voltando para a costa leste onde realizaram sua última performance americana (24 fev., 1917). Parte da companhia dos Ballets Russes viajou para Roma e Nijinsky para a Espanha, onde Diaghilev estava. Durante esta segunda temporada norte-americana, Diaghilev permaneceu na Europa junto com Massine e seu pequeno grupo de bailarinos escolhidos, a fim de prepararem os balés para a próxima temporada.

O primeiro novo balé coreografado por Massine foi Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], obra com libreto de Carlo Goldoni, música de Domenico Scarlatti orquestrada por Vicenzo Tommasini, que estreou no Teatro Costanzi (Roma, 1917). Massine coreografou no seu estilo característico com movimentos precisos, mecânicos, que tornavam os bailarinos verdadeiros bonecos animados. Os belos figurinos ajudavam a compor o conjunto e os cenários, ambos desenhados por este verdadeiro mestre da cenografia, Léon Bakst, inspirado nos velhos manuais venezianos de pintura do século XVIII. O espetáculo estreou em Roma (12 abril, 1917). A inspiração da coreografia veio diretamente da Comedia del' Arte italiana, que Massine desenvolveu e o balé foi dançado pelas graciosas bailarinas Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova e Lydia Lopokova; os bailarinos foram Massine, Enrico Checchetti, Léon Woizikovsky e Stanislas Idzikowsky. O balé foi retumbante sucesso e várias fotografias dos bailarinos vestindo os ricos costumes de época, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).

O segundo espetáculo foi Contos Russos [Contes Russes] , com a adaptação da música miniatura de Anatol Lyadov (v.), para Kikimora, que havia sido apresentado anteriormente, mas agora transformado em balé completo com cenários de Mikhail Larionov e figurinos de Natália Gontcharova. Depois de temporada desastrosa no Teatro San Carlo (Nápoles), o balé partiu para Paris. O balé Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], abriu com grande sucesso a curta temporada parisiense, de semana única no Théâtre du Chatelet (11 maio, 1917). A apoteose dos Balés Russos foi a cena final de O Pássaro de Fogo, pois, com toda a sociedade parisiense presente no teatro e os alemães na porta de Paris, Diaghilev resolveu abrir a bandeira russa no meio do palco. Foi verdadeiro escândalo, que acabou repercutindo na bilheteria e tornando desastrosa a temporada teatral.

O terceiro balé foi Parada [Parade] (1917), com libreto de Jean Cocteau, música de Erik Satie, cenografia e figurinos de Pablo Picasso, que desenhou a cortina de cena e vários costumes para os sete bailarinos que apareceram na Parada, sendo que dois, o Manager americano e o Manager francês que anunciavam a Parada, vestiram os costumes rígidos de inspiração Cubista, extremamente altos (c. 3,00 m) e bem pouco adequados aos movimentos dos bailarinos. As obras cenográficas e as fotografias dos figurinos de P. Picasso encontram-se reproduzidas (CACHIN, 1977). Massine apresentou-se como o Prestidigitador Chinês, vestiu a túnica colorida, usada com calças justas pretas e sua fotografia neste balé vanguardista encontra-se reproduzida (SHEAD, 1987). O balé estreou no Teatro do Chatelêt (Paris, 18 maio, 1917). O público levou verdadeiro choque e manifestou a rejeição violenta, por ocasião da estréia do espetáculo; quem salvou a Parada dos vanguardistas foi Guillaume Apollinaire (1880-1918), herói da França, que subiu ao palco pedindo que os espectadores mantivessem a calma. Os parisienses conheciam e cultivavam Apollinaire, depois que o poeta, escritor e crítico de arte editou a sua revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); foi dele a apresentação do balé no programa, quando escreveu o artigo Parada e o Novo Espírito [Parade et l'Esprit Nouveau].
Massine, bem como Satie, Cocteau e Stravinsky tornaram-se amigos de Picasso, que passou prolongada temporada com a companhia dos Balés Russos (Roma, 1918), preparando a cenografia de outro espetáculo que estreou na próxima temporada em Londres, O Tricórnio [Le Tricorne], balé com música (Manuel de Falla) e inspiração espanhola (1918). Na ocasião, Picasso desenhou muitos retratos dos seus amigos citados.

Diaghilev começou a preparar outro balé para a temporada espanhola: A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque], com música de Ottorino Respighi (v. biografia nas postagens antigas do Blog); ele foi aluno do russo N. Rimsky-Korsakov e para o qual Massine idealizou a ambientação em loja antiga de brinquedos. Bakst queria muito desenhar o cenário para esse balé e chegou a criar vários desenhos para os figurinos, que encontram-se reproduzidos (SHEAD, 1989). Diaghilev rejeitou-o e escolheu André Derain para criar a cenografia e os figurinos. Derain não tinha nenhuma experiência cenográfica e cometeu vários erros, mas, de modo geral, seu cenário agradou, mas certamente não chegou nem aos pés da qualidade dos vários cenários de Bakst para os Balés Russos. No entanto, o cenário de Derain permitiu certo clima de intimidade; dançaram Enrico Cecchetti, Sergey Grigoriev, Lydia Sokolova, Léon Woizikovsky, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Stanislas Idzikovsky, Nicolas Zverev e Vera Clark. Na temporada parisiense formaram o par principal Lydia Lopokova e Leonid Massine; na temporada londrina, Massine dançou com Tamara Kasarvina. O balé alcançou grande sucesso, seu maior sucesso desde a temporada que parecia bem distante no tempo (1914).
Balé ainda melhor estreou em Madrid (abril, 1917): O Tricórnio ou O Chapéu de Três Pontas, com música do espanhol Manuel de Falla y Matheu, baseado no relato antigo de Pedro Antonio de Alarcón (1815), adaptado como libreto por Martinez Sierra com o nome original de O Corregedor e a Moleira [El Corregidor y la molinera]. Esse balé nada revolucionário estreou com os alegres figurinos de Picasso e a colorida cenografia, introduzindo a perspectiva bastante presente: os cenários do catalão mostravam o céu noturno estrelado, com um monte nevado visto ao fundo, por entre o arco inferior da grande ponte branca; em primeiro plano, o casario espanhol estava pintado nas cores branco, terra e azul acinzentado, ao lado da rua que decaía em perspectiva coberta pela ponte ao fundo. Os figurinos de Picasso apresentavam desenhos grandes, marcantemente gráficos, com listras, curvas, bolas grandes e pequenas, em linhas grossas e contínuas que o pintor aplicou livremente em preto, sobre as cores alegres e lisas dos costumes, contrastando com o laranja vivo, o verde claro e o vermelho, entre outras. Os dançarinos espanhóis usavam camisas brancas, de manga comprida, com calças pretas lisas, ou com grafismos aplicados em branco. Na primeira récita deste balé, os papéis principais ficaram com Leonid Massine, Tamara Kasarvina e Léon Wotzikowsky, sendo que Stanislas Idzikowsky interpretou o pequeno papel do Dandy.

A música de Manuel de Falla, foi bastante melhorada a pedido de Diaghilev, sendo que passou a abrir o balé antes da cortina levantar, apresentando a fanfarra sonora com tímpanos, trompetes e trompas, seguida do som das castanholas, palmas e gritos de Olé, intermediados pela ronda infantil: a abertura foi eletrizante. Na estréia seguiu-se a dança solo Farruca, do moleiro (Massine), herói da história; a heroína, a dita molinera (moleira), foi dançada por Vera Nemtchinova. A fotografia do casal de bailarinos e a foto de Massine neste balé, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989). O balé obteve sucesso imediato; na sua colorida decoração o Cubismo de Picasso não apareceu senão muito discretamente e a música de Falla tornou-se obra importante no catálogo não muito extenso do músico. O balé foi apresentado em duas temporadas londrinas, sendo que a primeira estreou em 22 de julho e a segunda, realizada no Empire Theatre, estreou em 29 de setembro (1919); este ano foi um dos mais bem sucedidos para os Ballets Russes de Diaghilev.

A primeira audição brasileira da música do balé Manuel de Falla na versão integral (ed. Chester, 37 m.), com a OSESP, aconteceu na Sala São Paulo, com a regência de Roberto Minczuk (São Paulo, 22-24 de abril, 2004). A música introduziu elementos bem espanhóis, como o som de castanholas, palmas, olés, com a batida seca do tam-tam e a surda do bumbo, amenizadas pelos sons melodiosos de três flautas, da harpa, da celesta e das cordas, do xilofone e do piano, aliados aos instrumentos de sopro, com seu som muito presente, cheio, com dois oboés, um corne-inglês, duas clarinetas, dois fagotes, quatro trompas, três trompetes, três trombones e uma tuba, cortados às vezes pela batida seca do glokenspiegel; e, durante duas interrupções pela voz da mezzo-soprano solista, que, em breves aparições, cantou O Dia e A Noite.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 523.


CATALOGUE RAISONNÉ, CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm, pp. 85, 127.

PEREIRA, R. Tatiana Leskova: nacionalidade bailarina. Série Memória do Teatro Municipal. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, FUNARTE, Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 2001, pp. 49, 52.

SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 74, 81-86, 95-96, 97-99, 107, 151, 154-157, 167, 183.



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