domingo, 1 de julho de 2012

BIOGRAFIA: CHALIAPIN, Fedor Ivanovich, Fyodor Ivanovitch Shalyapin (1873-1938).



 BIOGRAFIA: CHALIAPIN, Fedor Ivanovitch, Fyodor Ivanovitch Shalyapin (1873-1938).

O artista russo nasceu em Kazam: tornou-se ator e cantor de grande expressão, que começou cantando ópera no Teatro de Tiflis (Tiblise, 1892). Seu incrível talento de ator dramático e sua poderosa e rara voz de baixo, levaram-no a ser convidado para participar da comunidade de artistas, a conhecida Colônia Abramcevo (v. Grupo da Colônia Abramcevo), sustentada e promovida pelo multimilionário Savva Mamontov. O russo mantinha a Ópera Privada Russa, dedicada a encenar somente produções operísticas que estreavam no seu teatro particular, no seu palacete em São Petersburgo. As óperas itineravam depois por teatros do interior do país; todos os artistas convidados para participarem da comunidade foram seus músicos, pianistas, atores, cantores, cenógrafos e figurinistas de suas produções próprias e, a maioria, se tornou conhecida internacionalmente, devido a esta verdadeira escola. Foi neste local que Chaliapin conheceu e formou uma grande amizade com o músico, compositor e maestro Sergey Rachmaninov, entre vários outros artistas, como Mikhail Vrubel, Victor Simov, Konstantin Korovin, Valentin Serov e Sergey Sudeikin.
 
Shalyapin cantou em Moscou (1896-); ele passou a ser Chaliapin em Paris (1907; 1908; 1912) e em Londres (1913). O cantor se apresentou com a obra para voz e piano Carta a K.S. Stanislavsky, de autoria de Sergey Rachmaninov, primeiro apresentada em Dresden (out.) e, com ele, no Teatro de Arte de Moscou [MChAT] (14 out., 1908).

As primeiras temporadas parisienses foram organizadas por Sergey Diaghilev, que levou o talento do cantor russo para encantar as platéias francesas. Diaghilev conheceu Gabriel Astruc, o primeiro a patrociná-lo na França; Astruc publicava a La Revue Musicale [A Revista Musical] e promovia concertos, e, posteriormente, ele construiu o Teatro dos Campos Elísios (Paris, 1913). Diaghilev destacou a qualidade dos artistas russos e convenceu Astruc a promover os primeiros cinco recitais de música russa para o público francês.

Na primavera, Astruc organizou os concertos, todos realizados no Teatro da Ópera de Paris (1907). Nesta ocasião, foram apresentados para o público francês os até então desconhecidos cantores russos Félia Litvine e Shalyapin, que, sob a influencia de Diaghilev, mudou seu nome para Chaliapin. No primeiro recital foram apresentados trechos da ópera Bóris Godunov, de autoria de Modest Mussorgsky, do Grupo dos Cinco (v.) compositores russos; esta ópera foi baseada no drama de Alexandre Pushkin. Anos mais tarde Sergey Prokofiev criou a música incidental, nunca publicada, Bóris Godunov (Opus 70b, 1936). Em Paris foram encenados trechos da ópera Khovanschina, também de Mussorgsky; e alguns trechos de Príncipe Igor, ópera de Alexander Borodin, completada por Alexander K. Glazunov e Nicolay Andreievitch Rimsky-Korsakov, que, nesta ocasião, regeu a orquestra do Teatro da Ópera de Paris (1907).
 
Na estréia a poderosa música russa foi bastante apreciada pelo público; no mesmo programa inaugural S. Rachmaninov tocou o Concerto n. 2 para piano e orquestra de sua autoria; e foram apresentados trechos de outras músicas dos compositores russos como Mikhail Glinka, Alexander Glazunov e Alexander Scriabin. Nessa primeira temporada, Diaghilev trouxe pela primeira vez ao Ocidente a ópera A Criada de Pskov, de N. Rimsky-Korsacov, apresentada com a Orquestra da Ópera de Paris, sob a regência do próprio compositor. O empresário rebatizou a ópera com o nome de Ivan, o Terrível; o principal cantor foi Chaliapin (Ivan). Na segunda parte, desse que foi o segundo programa operístico da primeira temporada russa em Paris, foi apresentada a ópera Judith, de Alexandre Serov, hoje obra completamente esquecida, mas que, no século XIX, foi considerada a mais russa das óperas, e participou dos primeiros repertórios operísticos dos novos teatros russos.

A primeira temporada da Cia Teatral S.P. Diaghilev abriu caminho para a segunda, no ano seguinte, que contou na platéia de estréia com a presença de três Grãos-Duques russos, além do Presidente da França. Na récita de gala foi apresentada a ópera completa Bóris Godunov, com Chaliapin no papel de Bóris. A ópera representou novamente grande triunfo do cantor, que se apresentou juntamente com Coro e Orquestra da Ópera do Teatro Bolshoi de Moscou (Paris, 1908). O pintor russo A. Golovin retratou Chaliapin vestido com os ricos costumes típicos russos apresentados em Bóris Godunov, no quadro que pertence ao acervo do Museu de Leningrado e se encontra reproduzido (DUFOURCQ, 1976). Em outra temporada, quatro anos depois, foi reapresentada Judith de A. de Serov e Mazeppa, de Sergey Rachmaninov, ópera baseada no texto de Alexandre Puschkin. Nesta ocasião, Diaghilev passou a intercalar o programa operístico com programas de balé, que o público francês acabou preferindo (1912- ).

Diaghilev organizou os Balés Russos (Paris, 1909-1929), cujos programas acabaram prevalecendo sobre os operísticos, embora ocasionalmente ele organizasse alguns, especialmente para suas temporadas em Monte Carlo. Stravinsky escreveu, a pedido de Diaghilev, a versão conjunta com Maurice *Ravel (mar.- abr., 1913), para a ópera Khovanschina do compositor russo M. Mussorgsky. A obra estreou cantada por Chaliapin, no Teatro dos Campos Elísios (Paris, 5 jun., 1913). Na mesma temporada, esta versão musical foi apresentada no Teatro Drury Lane (Londres, 1º jul.). O Coro Final, com arranjo e orquestração de I. Stravinsky, somente foi publicado no ano seguinte (Bessel, 1914).

Depois da Revolução russa (1917), Chaliapin emigrou para o Ocidente: ele viveu na França e desenvolveu vitoriosa carreira internacional, que levou-o a se apresentar nos maiores teatros do mundo, inclusive na América.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


DICIONÁRIO. CHAMBERS. Biographical Dictionary. Chaliapin. Fedor. London: Melanie Parry-Chambers-Hanap, 1997, p. 367

DUFOURCQ, N. (org.); ALAIN, O.; ANDRAL, M.: BAINES, A.; BIRKNER, G.; BRIDGMAN, N.; Mme. de CHAMBURE; CHARNASSÉ, H.; CORBIN, S.; AZEVEDO, L. H. C. de; DESAUTELS, A.; DEVOTO, D.; DUFOURQ, N.; FERCHAULT, G.: GAGNEPAIN, B.; GAUTHIER, A.; GÉRARD, Y. HALBREICH, H.; HELFFER, M.; HODEIR, A.; ROSTILAV, M.; HOFMANN, Z.; MACHABEY, A.; MARCEL-DUBOIS, C.; MILLIOT, S.; MONICHON, P.; RAUGEL, F.; RICCI, J.; ROUBERT, F.; ROSTAND, C.; ROUGET, G.; SANVOISIN, M.; SARTORI, C. SHILOAH, A.; STRICKER, R.: TOURTE, R.; TRAN VAN KHÊ, A. V., VERLET, C. VERNILLAT, F.; WIRSTA, A.; ZENATTI, A. La Música: Los Hombres, Los Instrumentos, Las Obras. Barcelona: Planeta, 1976, p. 263.


SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Wellfleet Press, 1989, pp. 20-21, 28, 70.

THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth Century Composers: 1911-1971. London: Farber and Farber, 1973, p. 572.

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