sábado, 21 de julho de 2012




BIOGRAFIA: CÉZANNE, Paul (1839-1906).
O artista francês nasceu e morreu em Aix-en-Provence. Cézanne foi dos mais importantes pintores franceses: ele foi associado ao Grupo dos Impressionistas, com os quais expos pela última vez na mostra coletiva (1877). O artista, que sempre manteve seu respeito pela arte de Claude Monet e de Camille Pissarro, rompeu com os Impressionistas através de carta breve (1º abr., 1879). A verdade é que Cézanne sentia-se cada dia mais distanciado dos preceitos que norteavam a arte do grupo e desejava dedicar-se mais e mais as suas pesquisas experimentais, de natureza pessoal. Declarou READ (1960), que foi desse esforço, apaixonado e solitário, que nasceu a revolução que representa sua obra.

A obra de Cézanne influenciou uma das mais destacadas gerações das vanguardas francesas, dos artistas que criaram o Cubismo, pois, pela primeira vez na história da arte ocidental um movimento pictórico resultou produto das teorias de um artista. As teorias do artista se encontram descritas na correspondência publicada de Cézanne, principalmente nas cartas destinadas a seu amigo próximo, o pintor Emile Bernard.

Cézanne nasceu na bela região que tão bem retratou em suas obras, ao sopé do monte Santa Vitória, nos Pirineus franceses. No início da carreira, seu pai foi chapeleiro, mas tornou-se banqueiro e proprietário do único banco da região, que logo prosperou. Por influencia da família Cézanne foi estudar na Faculdade de Direito da Universidade de Aix-en-Provence. O artista viajou para Paris (1861), onde foi encontrar-se com seu amigo, o escritor Émile Zola, que foi seu colega no Colégio Bourbon.

Cézanne frequentou a Academia Suíça (v.), onde conheceu Armand Guillaumin e Camille Pissarro; o futuro pintor tentou o exame de admissão na Escola Nacional Superior de Belas Artes, mas foi reprovado. Cézanne retornou a Aix, quando seu pai obrigou-o à trabalhar, durante alguns meses, no banco da família (1862). Cézanne abandonou o trabalho e optou por dedicar-se inteiramente à pintura. No final do mesmo ano (nov.), o artista voltou para Paris, onde fez amizade com Frédéric Bazille, Claude Monet e Pierre Renoir. Cézanne morou na companhia de Édouard Manet e Johan Barthold Jongkind, pintores de vanguarda, cujas obras foram recusadas no Salão Nacional de Belas Artes (1863). As pinturas deles participaram do famoso Salão dos Recusados (v.), criado com permissão especial de Napoleão III. Cézanne continuou a estudar pintura na Academia Suíça e copiou, no Museu do Louvre, obras dos grandes mestres. O artista passou a viver entre Paris e Aix-en-Provence (1869); ele continuou apresentando suas pinturas para seleção do júri do Salão de Belas Artes, mas suas obras foram sempre recusadas, até mesmo quando o artista recebeu o apoio (1866), do conhecido pintor Charles Daubigny, artista respeitado da Escola de Barbizon (v.).

Cézanne continuou a passar temporadas em Aix, quando conheceu a modelo e encadernadora Hortense Fiquet, com quem ele passou a viver. Devido a guerra da Prússia, quando a Alemanha venceu a França, Cézanne, escapando da mobilização, mudou-se para Estaque, no litoral (1871). Na época, seu pai encerrou seu banco regional e foi eleito membro do Conselho Municipal de Aix-en-Provence. Cezanne mudou-se de volta para Paris, e, no ano seguinte, nasceu seu primogênito Paul (1872). O artista mudou-se novamente, para Saint-Ouen (Oise), de onde saiu para pintar na companhia de Camille Pissarro. Quando esteve em Auvers-sur-Oise, o médico Paul Gachet, imortalizado por Vicent Van Gogh que retratou-o, comprou-lhe alguns quadros; Cézanne mudou-se depois para este vilarejo, juntamente com sua familia (1874). O artista viajava a pé, carregando sua tralha de pintura nas costas, conforme foi retratado por Pissarro e pintando na região, com constantes idas e vindas a Paris. Obras de Cézanne participaram da I Mostra Impressionista (Paris, 1874), no espaço alternativo representado pelo estúdio do fotógrafo Nadar. Cézanne expos as pinturas A Casa do Enforcado (1873, no Museu do Louvre) e a homenagem a Manet, Uma Olímpia Moderna (1872, 46 cm x 55,5 cm, no acervo do Museu d'Orsay, Paris). Cézanne recebeu somente indignação e sarcasmo, por parte do público e da crítica de arte; no final do ano, o artista voltou a viver em Paris. Durante todos estes anos, Cézanne ocultou de sua família sua mulher Hortense e seu filho Paul.

O artista participou com dezesseis pinturas da III Mostra Impressionista (1877), mas Cézanne desistiu de participar das próximas, pois apenas o crítico de arte Georges Rivière publicou  crítica positiva sobre suas obras. Cézanne declarou que a arte consistia essencialmente em realizar universo construído no campo de nossas impressões visuais. Cézanne não queria mudar seu estilo pessoal e reconheceu-se distante do movimento do Impressionismo. Na época, ele trabalhou durante todo o ano em Estaque e Aix-en-Provence, mas, Paul e Hortense permaneceram vivendo distantes, em Marselha (1878). Cézanne encontrou-se com Émile Zola (Medan, 1880), mas os amigos discutiram e se desentenderam: para Zola, Cézanne vivia como fracassado e para Cézanne, Zola vivia como bom burguês e arrivista social. Apesar das divergências, ambos continuaram amigos.


Cézanne conheceu Jóris-Karl Huysmann, de quem pintou o retrato; no ano seguinte Cézanne viveu em Pontoise (maio – out., 1881), juntamente com Camille Pissarro, quando conheceu Paul Gauguin, de quem não apreciou a pintura. O artista passou o inverno em Estaque (1882): quando Pierre Auguste Renoir foi visitá-lo pegou pneumonia, e ficou gravemente enfermo. Cézanne e sua mãe trataram de Renoir, que felizmente recobrou-se. No mesmo ano Cézanne voltou novamente a viver em Paris, onde permaneceu (maio – out.), o artista conseguiu que seu Auto-Retrato fôsse admitido no Salão de Belas Artes. Na época, Gauguin comprou dois quadros de Cézanne, e, de Paul Signac comprou paisagem: ambos os quadros foram negociados com o Pai Tanguy (1883).

Cézanne passou a primavera em Estaque e Aix-en-Provence (1885); mas o artista adoeceu com nevralgia (mar.). Cézanne, acompanhado de Paul e Hortense passou meses na casa de Renoir, em La Roche-Guyon (jun. – jul.). No ano seguinte (1886), Émile Zola (1840-1902) publicou seu romance A Obra [L'Oeuvre]. Cézanne identificou-se com o personagem principal, o pintor Claude Lantier, descrito como genial mas em conflito consigo mesmo e com o mundo e cuja vida acabou em suicídio. Depois da leitura do livro, que Cézanne acreditou que fôsse baseado na sua vida (foi), o artista rompeu definitivamente sua amizade com Zola.

Cézanne, por insistência de sua mãe e de sua irmã, casou-se com Hortense (1886); mas continuaram, no entanto, vivendo em total afastamento, pois apenas com seu filho o artista manteve relação mais próxima e verdadeira. O seu pai morreu, deixando para a viúva e filhos a fortuna de 1,6 milhões de francos; esses recursos permitiram um pouco mais de conforto a Cézanne, que sempre viveu como artista andarilho e errante, com sua tralha de pintura nas costas, como seu amigo e companheiro de andanças Camille Pissarro. O artista continuou vivendo em Aix (1887), mas no ano seguinte alugou ateliê em Paris (1888). Cézanne pintou sua obra-prima Pierrot e Arlequim, mais tarde adquirida pelo colecionador russo Ivan Morosov. Cézanne novamente conheceu um pintor vanguardista, Vincent van Gogh, mas não apreciou as pinturas do artista. Cézanne conseguiu expor sua obra A Casa do Enforcado, na Exposição Universal, comemorativa dos 100 anos da Revolução Francesa (1889). No verão seguinte, o artista pintou em companhia de Renoir em Montbriand, mas os pintores se desentenderam. Cézanne expos três quadros na mostra do Grupo (Belga) dos XX [Les XX], organizada por Octave Maus (Bruxelas, 1890; v.).

Cézanne, junto com a mulher e o filho, passou cinco meses na Suíça (1891); na época apareceram os primeiros sintomas do diabetes que Cézanne veio a sofrer de forma grave. O artista voltou a viver em Aix-en-Provence e exigiu que Hortense e Paul mudassem para a cidade. No ano seguinte Cézanne comprou residência na aldeia de Marlotte (1892). O então jovem comerciante de arte Ambroise Vollard, viu obras de Cézanne na casa do Pai Tanguy e ficou fascinado. Na época Cézanne pintou outra obra-prima, Os jogadores de cartas. O Pai Tanguy, que foi protetor dos pintores vanguardistas, pois permitia a troca de quadros por tintas e materiais artísticos da loja dele, faleceu (1893); seus bens foram a leilão do espólio e, nesta ocasião, os quadros de Cézanne obtiveram a cotação considerada razoável para a época, entre 45 e 215 FF, e foram adquiridos por Ambroise Vollard. No leilão da coleção de Théodore Duret (1894), foram vendidos três quadros de Cézanne, sendo que Claude Monet comprou um. Nesse ano, na festa de aniversário do pintor e amigo Monet, Cézanne conheceu Georges Clemenceau, Auguste Rodin, Mary Cassat e Gustave Geoffrey. Cézanne pintou o retrato de G. Geoffrey, que publicou artigo sobre a obra do artista e se tornou um dos críticos do Impressionismo francês. Finalmente Cézanne realizou sua primeira mostra individual, na Galeria Ambroise Vollard, quando expos c. cinquenta obras (Paris, dez., 1895). O pintor continuou sem aceitação, sem vendas, mas prosseguiu pintando, viajando como andarilho, passando por várias localidades. Cézanne passou este final de ano em Paris, até que Vollard comprou todos os quadros do ateliê do artista (1897); sua mãe faleceu e sua irmã Maria, a quem foi sempre muito ligado, passou a administrar a casa, na época em que surgiram as primeiras desavenças referentes à herança de seu pai (out.).

Quando começou o novo século (1900), Maurice Denis expôs no Salão de Belas Artes seu quadro Homenagem a Cézanne (1901), que mostra Natureza Morta do artista, pintada com maçãs e frutas, quadro no cavalete no centro do quadro de Denis, rodeada por artistas dos quais ele pintou retratos de corpo inteiro, de amigos tais como Vuillard entre inúmeros outros pintores de sua geração. Denis incluiu seu retrato no quadro, e entre os admiradores da obra de Cézanne, seu marchand, Vollard.

Cézanne expôs três pinturas no Salão dos Artistas Independentes (1902) e participou com dois quadros na mostra da Sociedade dos Amigos das Artes [Société des Amis des Arts], em Aix-en-Provence. No mesmo ano, Zola faleceu (set.) e quando seu espólio foi a leilão, as dez pinturas de Cézanne de sua coleção atingiram cotação bem elevada (c. 1500 FF cada). Cézanne expos sete quadros na sua segunda mostra internacional da Secessão Vienense; entre estas obras as pinturas Pierrot e Arlequim e Paisagem de Pontoise.

Cézanne visitou Émile Bernard em Aix (1904); ele estava velho e tinha aparência descuidada. Bernard preparou-o e fotografou-o para a posteridade: nesta conhecida fotografia Cézanne apareceu com a longa barba branca bem aparada, bem vestido, de terno, na frente de sua obra-prima As Grandes Banhistas, ainda por terminar; essa fotografia de Cézanne encontra-se reproduzida (DUCHTING, 1993). Cézanne ainda trabalhava na pintura de grandes dimensões As Grandes Banhistas, quando novamente participou da mostra internacional do Grupo da Estética Livre [La Libre Estéthique] (v.), organizada pelo grupo belga que sucedeu ao Grupo dos XX. Desta vez Cézanne enviou nove pinturas para a mostra coletiva em Bruxelas.

O artista foi convidado para expôr na Sala Especial do Salão de Outono, onde pôde, finalmente, expor conjunto de trinta e três pinturas de sua autoria. O marchand alemão Paul Cassirer, organizou a primeira mostra individual de Cézanne em Berlim. No mesmo ano Gaston Bernheim-Jeune, proprietário da mais famosa Galeria de Arte dedicada às vanguardas na capital das artes, Paris, visitou o velho artista em Aix. Cézanne estava debilitado e com sua saúde comprometida, quando seu gênio difícil, ficou ainda mais difícil.

Vollard expôs aquarelas de Cézanne na Galeria Vollard (1905); as obras do artista participaram do Salão de Outono e do Salão dos Artistas Independentes. Cézanne terminou de pintar As Grandes Banhistas; e, Émile Bernard e Maurice Denis visitaram-no em Aix (mar.). Durante o verão Cézanne passou curta temporada em Fontainebleau.

Monet elogiou o artista, chamando-o de Mestre Contemporâneo e Paul Durant-Ruel, outro galerista de prestígio, expôs dez pinturas de Cézanne na mostra coletiva realizada nas Galerias Grafton (Londres, 1905). No ano seguinte, Vollard expos doze quadros de Cézanne (1906); e Karl-Ernst Osthaus foi visitar o artista (abr.) e comprou dois quadros do mestre para o Museu Folkwang (Essen, Alemanha). Cézanne sofreu severa crise de bronquite (ago.), mas superou-a e expos dez quadros no Salão de Outono.

Cézanne estava como sempre, pintando ao ar livre na paisagem, quando foi surpreendido por tempestade (15 out.); o artista desmaiou e permaneceu desacordado na chuva. Cézanne somente foi encontrado horas depois desta exposição ao tempo inclemente e foi levado para casa de charrete: uma semana depois, o artista morreu de pleurisia (22 out., 1906).

Cézanne foi homenageado com importante mostra retrospectiva no Salão de Outono (1907), quando estiveram em exposição cinquenta e seis quadros. Começou alí o mito do artista e a divulgação de suas obras por todo o mundo, que resultou na sua grande influencia sobre o movimento do Cubismo, que começou c. um ano depois, com a apresentação do Nu de Georges Braque, homenagem a Jean-Dominique Ingres, recusado no Salão de Outono por um júri do qual participou Henri Matisse. No mesmo ano Braque expôs sua obra que inaugurou o movimento Cubista, a pintura produto de teorias, na mostra individual realizada na galeria de D.-H. Khamweiller (Paris; v. biografia).

As obras de Cézanne A Casa do Enforcado (1873); A Casa de Zola em Medan (1880); O Golfo de Marselha visto de Estaque (1883-1885); O Colete Vermelho (1895); Retrato de Ambroise Vollard (1899); Monte Santa Vitória (1904-1906) e As Grandes Banhistas (1898-1905), se encontram reproduzidas (VOWLES). Os quadros Uma Olimpia Moderna (c. 1873-1874), A Ponte em Maincy (1879) e Estaque (c. 1882-1885); Mulher com Cafeteira (c. 1890-1895); Os Banhistas (c. 1890-1900); a obra-prima Os Jogadores de Cartas (1892-1895); e a natureza-morta Maçãs e Laranjas (1896-1900), todas pertencentes ao acervo do Museu d'Orsay (Paris), encontram-se reproduzidas (BONFANTE-WARREN, 2000).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


BOCOLA, S. The Art of Modernism: art, culture and society from Goya to the present day. Edimburg: Catherine Shelbert, Nicolas Levin, Edimburg: Catherine Shelbert, Nicolas Levin, Fiona Elliot - Prestel, 1999, pp. 128-129, 132.

BONFANTE-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000, pp. 119, 140-141, 188-189, 194, 213, 230.

DUCHTING, H. Paul Cézanne, da natureza à arte. Colônia: Benedickt Taschen, 1993, pp. 218-224.

BRITT, D. Modern Art. London: Thames and Hudson, 1993, pp. 51-53.

READ, H. Histoire de la Peinture moderne. Traduction de Yves Rivière. Paris: Aimery-Somogy, 1960, pp. 14-23.

VOWLES, D. Cézanne and Post-Impressionism. Wigston, Leicester: Magna Books (sd), pp. 03-06, 08, 09, 11, 13, 14.

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