quinta-feira, 1 de março de 2012

DERAIN, Andrè (1880-1954).

Derain nasceu em Chatou e faleceu em Garches; seu pai foi comerciante de tratores e pertenceu ao Conselho Municipal da cidade. Derain recebeu educação tradicional de alto nível na rigorosa instituição Sainte-Croix-du-Vesinet; e depois, no Colégio Chaptal (Paris). Desde cedo Derain demonstrou seu gosto pelos esportes, pela pintura e música, decepcionando as perspectivas familiares, que desejavam-no engenheiro. O futuro artista abandonou os estudos formais aos deseseis anos de idade, com notas mediocres, com exceção das notas excelentes nas matérias Desenho Ornamental e Desenho Linear.

Na Academia Carrièrre, Derain conheceu Henri Matisse (1869-1954), que era bem mais velho e que conseguiu convencer seus pais a deixá-lo prosseguir na carreira artistica. Derain foi seduzido pelo fogo pictórico de Maurice de Vlaminck e admirou a circunspeção de Matisse, mostrando-se desde o primeiro momento supertalentoso nas suas obras, como no Retrato de Matisse (1905, óleo/ tela, 25 cm x 31 cm, no Museu de Arte da Filadélfia) e ainda na pintura Três árvores em Estaque (1906, óleo/ tela, 100,33 cm x 80 cm, na Galeria de Arte de Ontario, Toronto, Canadá).

Derain lançou suas pinturas no Salão de Outono, presidido por Frantz Jourdain, Eugène Carriére e Pierre Auguste Renoir (1841-1919), quando ele expôs quatro paisagens de Collioure que pintou na companhia de Matisse. O público detestou as pinturas de Derain; e o crítico de arte Camille Mauclair, do jornal Le Figaro, declarou, sem nenhuma originalidade, que

[...] um pote de pintura foi jogado na cabeca do publico […],

repetindo na França as palavras publicadas pelo crítico de arte inglês John Ruskin, proferidas em relação à pintura de James Whistler (1834-1903).

André Gide, critico de arte da Gazette des Beaux Arts [Gazeta das Belas Artes], batizou o movimento de A Gaiola das Feras [La Cage aux Fauves], parodiando a conhecida peça A Gaiola das Loucas e comparando os Fauvistas aos loucos. Gide publicou essa critica com as palavras

[…] É a loucura […]

Gide, no entanto, conseguiu reconhecer na aparente loucura das cores uma arte produto de teorias. Vlaminck, amigo de Derain, tinha horror de museus, a partir do cheiro que detestava, mas Derain passou longos periodos no Museu do Louvre, onde ele descobriu os artistas primitivos pelos quais se apaixonou de modo delirante, pois pareciam ser para ele

[…] a verdadeira, a pura, a pintura absoluta.

Derain obteve carta de copista e encontrou no Louvre antigo colega do Colégio Chaptal, que copiava em tons puros o quadro A Batalha de San Romano, de Ucello. Impressionado, Derain ousou copiar a Descida da Cruz de Ghirlandaio, obra hoje atribuida a Biagio D'Antonio. O artista empregou uma paleta que pareceu muito violenta para a época, o que determinou sua expulsão do Louvre por atentado à beleza.

Derain conheceu em Chatou Maurice de Vlaminck (1876-1958), artista plástico, músico e ciclista de competição. Circunstancias de pane nos trens jogaram Derain e Vlaminck literalmente, nos bracos um do outro, na linha férrea Garenne-Bezons (jun., 1900). Os dois artistas passaram a colaboradores, e, alugaram por dez francos mensais o salão de refeições de restaurante fechado, situado entre as duas pontes de Chatou. Nesse belo entorno, a paisagem, as árvores e as barcaças do Sena permitiriam consolidar a pintura cromatica da Îlle de France. Os artistas pesquisaram em conjunto durante quinze meses e efetuaram as primeiras conquistas: Matisse foi visitá-los e levou Derain para pintar em sua companhia (Collioure, 1905). Formou-se o grupo Fauvista, com pinturas em formas puras e primitivas inundadas de cores primárias, expostas na Sala VII do Salão dos Artistas Independentes, que ficou conhecida como a Sala das Feras [Fauves] (Paris, 1905).

Derain também obteve sucesso pessoal quando vendeu três pinturas para o russo Ivan Morosov, que colecionava Matisse; e para o marchand Ambroise Vollard, que com ele assinou contrato de exclusividade. Vollard desejava relançar a produção de Derain, como fizera anteriormente com Claude Monet (1840-1926), que, pagtrocinado por ele, passou várias temporadas em Londres (1870-1904). Vollard, da Galeria de Arte parisiense que levava o seu nome não teve a menor dificuldade de convencer Derain a colocar seu cavalete às margens do rio Tâmisa. Derain viajou para Londres duas vezes (nov., 1905; final jan. a mar., 1906). Derain, adorou as margens do Tâmisa, foi seduzido por seus cais e pontes, como as de Westminter e Charing Cross; e seus edifícios monumentais, como a construção neogótica do Parlamento Britânico. Em Londres Derain multiplicou seus temas e modificou sua maneira de pintar, com áreas de cores maciças e não por simples aplicação do material pictórico. Na obra de Derain surgiram pinturas surpreendentes com cores fantasiosas e luminosidade arbitrária, como se fosse a pintura da cidade fantástica transformada em fabuloso espetáculo, onde a água e o céu ficaram cor-de-malva, verde ou violeta e o Parlamento surgiu na paisagem pintado de amarelo ouro; e a Ponte de Westminster pintada em vermelho mais parecia sair da paleta psicodélica de uma vertente Pós-Impressionista da Pintura Pontilhista. Na obra de Derain surgiu também a cidade de Londres mostrada no seu dia a dia, com parques de aléias rosas, com árvores vermelhas e grama verde inglês, com crianças cachorros e pessoas que passeavam,como em Hyde Park (1906, óleo/ tela, 66 cm x 99 cm, no Museu de Arte Moderna de Troyes) ou como a Ponte de Charing Cross (1906, óleo/ tela, no Museu d'Orsay, Paris); a outra Ponte de Charing Cross (1906, óleo/ tela, 80,3 cm x 100,3 cm, na Galeria Nacional de Arte, Washginghton, DC); e a Ponte de Waterloo (1906, óleo/ tela, 80 cm x 100 cm, na Coleção Thyssen-Bornemisa, Lugano, Suíca); a Ponte de Londres (1907, óleo/ tela, 63 cm x 95,5 cm 1907, coleção particular, Zurique); ou o Parlamento, Vista Noturna (1906, óleo/ tela, 78,7 cm x 99,1 cm, no acervo do Museu Metropolitan, em Nova York) e ainda obra pontilhista, quase abstrata, Efeitos de sol sobre a àgua, Londres (1906, óleo/ tela, 80,5 cm x 100 cm, no Museu da Anunciação, em Saint Tropez). Essas pinturas são obras de outro Derain, diferente daquele copista do Museu do Louvre, pinturas da persistência da linha e composição liberada. Derain pintou ainda sua conhecida obra Três banhistas (1906) que ele expões no Salão dos Artistas Independentes do mesmo ano, certamente por influência da pintura O Banho Turco de Ingres, que esteve exposta no Salão de Outono (Paris, 1905).

A reprodução da pintura Cinco Banhistas, obra-prima do final da vida de Paul Cézanne (1839-1906), permaneceu em exposição na parede do estúdio de Derain. O artista, atingiu a maturidade artística depois dos cinqüenta anos de idade; ele prosseguiu sempre na dianteira das vanguardas, e foi, considerado por muitos, como Elie Faure […] o maior pintor francês.

Os Balés Russos de Sergei Diaghilev (1872-1929), montaram A Pastoral [La Pastorale], (1926), balé com libreto de Bóris Kochno, sendo a música encomendada a Georges Auric, do Grupo dos Seis, com cenários e figurinos de André Derain e coreografia do russo Georges Balanchine. Esse espetáculo passou despercebido, mas destacou o virtuosismo de Léon Woizikowsky, que dançou com o apoio das excepcionais bailarinas Félia Dubrovska e Lubov Tchernicheva.

Depois de 1930 Derain pintou As Bacantes; e Duas mulheres nuas com natureza-morta, entre suas obras mais notáveis dessa fase. Derain participou da mostra pioneira de Marie Cutoli, que encomendou e patrocinou Tapeçarias Artísticas dos expoentes da arte francesa, que expôs na Galeria Reid e Lefèvre (Londres) e no Clube da Arte [Arts Club] (Chicago, 1933). O artista executou várias tapeçarias de grandes dimensões na técnica, dita, de Gobelin: foram reproduzidos seus cartões desenhados, obras que anteciparam o renascimento dessa categoria artística nas vanguardas do século XX.

Derain morreu de acidente (10 set., 1954). Certamente, em vida, não foi um dos artistas mais cobertos de glória como Matisse, que faleceu algumas semanas mais tarde, consagrado e celebrado. No entanto, Derain foi um dos artistas franceses mais puros, com grande espontaneidade e talento expresso nas suas pinturas, artista presente na importante vanguarda dos Fauvistas, a primeira vanguarda francesa do século XX.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

FERRIER, J. L.: SIMON, A. Les Fauves le régne de la couleur: Matisse, Derain, Vlaminck, Marquet, Camoin, Manguin, Van Dongen, Friesz, Braque, Dufy. Paris: Pierre Terrail, 1992. 223 p.: il., pp. 59-76. p. 302.

LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs.,

CATÁLOGO. A Escola de Paris. Rio de Janeiro: MAM, sd, pp. 14, 15, 52.

NÉRET, G. 30 ans d'art moderne: peintres et sculpteurs. Fribourg: Office du livre, 1988. 248p.: il., p. 302.

 SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989.

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