quinta-feira, 27 de março de 2014

BIOGRAFIA: SERNER, Val; Walter Serner; Walter Edward Seligmann (1889 - c. 1942-1944).


BIOGRAFIA: SERNER, Val; Walter Serner; Walter Edward Seligmann (1889 - c. 1942-1944).



O advogado, escritor, editor, organizador de eventos culturais e artista performático, nasceu em família judia de classe média alta, em Karlsbad, na Áustria, hoje Karlovy Vary, República Tcheca. Serner viajou para temporada em Berlim, onde ele trabalhou com a equipe da revista do Grupo da Tempestade [Der Sturm], de Herwarth Walden (1879-1941) e organizou a primeira mostra individual de Oskar Kokoschka (1886-1980), realizada na Galeria Der Sturm (Berlim, 1910). Durante curto período Serner participou das vanguardas berlinenses; posteriormente ele foi viver em Zurique, onde editou a revista Sirius (Zurique, 1915-1916). Serner se associou aos Dadaístas e participou ativamente, como performático e escritor de manifestos, em todos os eventos do grupo Dadá (Zurique, 1916-1919).


Serner foi um dos artistas mais radicais; ele lançou um de seus manifestos em performance teatral na noite Dadá, realizada no Salão Zum Kaufleten (09 de abr., 1919). A festa foi organizada por ele, conjuntamente com seu amigo próximo, o dadaísta Christian Schad (1894-1982). A sala estava com lotação esgotada, pois compareceram c. 1500 pessoas: nesta noite foram apresentadas músicas de Erik Satie (1866-1925) e foram declamados poemas de Hugo Ball (1886-1927); 20 pessoas recitaram o poema simultâneo A Febre do Macho, de Tristan Tzara (1896-1963). Na apresentação Serner modificou a posição da cadeira que estava colocada no palco e deu as costas para o público, quando leu o texto de seu Último Manifesto Dada Frouxo [Letze Lockerung Manifest Dada], de nihilismo desenfreado, no qual pregou a mais completa radicalização. Os espectadores reagiram indignados e seguiu-se intervalo, destinado a acalmar a audiência, que perdeu toda a compostura e educação. Foram apresentadas danças por cinco bailarinas, usando máscaras de Marcel Janco, da escola de Rudolf von Laban (1879-1958). Seguiu-se outra dança, com seis bailarinas; por fim, a vitória foi dos Dadaístas sobre a audiência, que, embora protestando, permaneceu até o final do espetáculo. A descrição desta noite Dadá foi publicada por Hans Richter (1888-1976), presente ao evento (RICHTER, H. HAUPTMANN, W. (Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Cologne: Du Mont Shauberg, 1964. 1965. 246p.: il., pp. 227, 228).



 
O texto do documento de Serner (Letze Lockerung Manifest Dada)foi publicado na Anthologie Dada, n. 04/ 05 da revista DADA (Zurique, 1919), reproduzido posteriormente pelo editor Paul Steegemann (Hanover, 1920). Outro manifesto de Val Serner, O Gole e o Eixo, Manifesto [Die Schluck und die Achse, manifesto], foi publicado no único número da revista Der Zeltweg (nov., 1919), a última publicação associada ao Dadaísmo em Zurique, editada por Serner associado ao poeta romeno Tristan Tzara e ao editor suíço Otto Flake (1880-1963). O nome da revista foi homônimo da pequena rua onde Hans Arp (1886-1966) vivia, na época (um exemplar se encontra na coleção Robert Valancay, Paris).
 
 
Serner também colaborou com vários artigos em outras publicações Dadaístas como Die Schammade [O Camarada] (Colônia, abr., 1920). Esta publicação, editada por Johannes Theodor Baargeld (1895-1927) e Max Ernst (1891-1976), lançou um único número com a capa ilustrada por Hans Arp e apresentando como ilustração o Dadameter, de autoria de Ernst, e o texto Paneelparabole, etc.., de Val Serner, entre outros autores Dadaístas como Tzara e Richard Huelsenbeck (1892-1974), e dos futuros associados ao Dadaísmo e ao Surrealismo parisiense, Georges Ribemont-Dessaignes (1884-1974), André Breton (1896-1966), Philippe Soupault (1897-1984) e Paul Éluard (1895-1952). Um exemplar original da revista esteve em exposição na mostra dedicada as publicações Dadaístas e Surrealistas: Dadá e Surrealismo Revisados, realizada na Galeria Martha Hayward, que publicou catálogo detalhado (Ades, Dawn, David Sylvester e Elizabeth Cowling. Dada and Surrealism Reviewed. London: Art Council of Great Britain, 1968, p. 110). Serner escreveu vários romances eróticos surpreeendentes, além de novelas policiais (CASSOU, 1993).

Serner, conhecido como o rei do cáos, anarquista e provocador, que Arp apresentava como Gentleman-Cambrioleur aos amigos, viajou para Paris juntamente com Walther Mehring (1896-1991), chamado por T. Tzara para editar a revista Dadaísta Coeur a Barbe, Le journal Transparent [Coração Barbado, o jornal transparente], lançada com único número (1922). Voltando a Alemanha depois que o Dadaísmo parisiense terminou (1923), Serner viveu em muitos endereços, mais de trinta, e seus amigos não sabiam como ele conseguia sobreviver, pois quatro de seus livros foram confiscados pelos nazistas, por “ameaça à moralidade pública” (1933). Serner viajou muitas vêzes a Karlovy Vary, voltando a terra natal: ele casou-se com a judia berlinense, Dorothy Herzer, mas continuou mudando de endereço. Os nazistas decretarem leis perseguindo todos os judeus (21 junho, 1939). Serner solicitou permissão para viajar, mas foi-lhe negada: agora todos os judeus eram identificados com a estrela de Daví, pregada no peito (set., 1939). Poucos anos depois Serner foi aprisionado pelos nazistas, retirado de sua residência e deportado para o Campo de Concentração de Theresienstadt (10 agosto, 1942). Alguns dias depois foi encaminhado para outro campo e o percurso da vida de Serner recebeu várias versões, todas terminando em tragédia, sendo até agora a única certeza de que foi exterminado, mas não sabemos ao certo quando (1942?1944?).
        
O Retrato de Walter Serner (1917, nanquim/ pincel/ papel de máquina de escrever, 26,7 cm x 20,1 cm), caricatura de poucos traços de autoria de Hans Richter; e o Retrato do Dr. Serner (1916), por Christian Shad, pertencem ao acervo da Kunsthaus (Zurique) e se encontram reproduzidos (GIBSON, 1991).

 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


 
 
CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978. 475p.: il., pp. 65, 110.

 
 

ENCICLOPÉDIA. CASSOU, J.; BRUNEL, P.; CLAUDON, F; PILLEMONT, G.; RICHARD, L. (Col.). Petite Encyclopedie du Symbolisme: Peinture, Gravure et Sculpture, Littérature, Musique. Paris: Somogy, 1988, p. 269.

 
MICHALSKI, S. New Objectivity. Neue Sachlichkeit: Painting in Germany in the 1920sPainting, Graphic Art and Photography in Weimar Germany 1920-1933. Cologne - London - Los Angeles - Madrid - Paris - Tokyo: Taschen, 2003, 220p.; il., color., p. 44.
 

PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Éditions d'Art Aimery Somogy, 1983, p. 196.


 

GIBSON, M. Duchamp Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 263p.: il. , pp. 18, 26, 30, 31.
 

 
RICHTER, H. HAUPTMANN, W. (Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Cologne: Du Mont Shauberg, 1964. 1965. 246p.: il., pp. 227, 228.

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