O músico, regente e compositor de origem judaica, nasceu em Kalischt (Morávia, Alemanha), mas faleceu em Viena (18 maio, 1911). Desde cedo Mahler sofreu com a pobreza, a brutalidade de seu pai e a desunião de sua família. A infância difícil marcou a vida e a obra do compositor: no entanto, esse período foi musicalmente enriquecedor para a obra de Mahler. Na época, seu pai foi proprietário de taverna, um dos poucos negócios permitidos aos judeus, sendo que a família vivia no andar de cima. Mahler cresceu ouvindo o burburinho humano associado ao som dos pequenos conjuntos de cinco ou seis músicos, que se apresentavam frequentemente na taverna.
Desde os 15 anos de idade Mahler estudou no Conservatório Musical (Viena, 1875-1878): ele também estudou Filosofia e História da Música. Na época, as marchas de bandas militares acompanhavam os enterros vienenses; todas essas influências sonoras repercutiram quando Mahler compôs sua I Sinfonia e o ciclo de vários Lieder (1880-1908). Aos 26 anos de idade, Mahler regeu pela primeira vez O Anel do Nibelungo, obra de Richard Wagner. Mahler foi convidado para trabalhar internacionalmente: o músico aceitou ser regente de orquestra e assumiu a direção musical do Conservatório de Kassel (Alemanha, 1880); posteriormente, em Lujubljana e Praga (República Tcheca); depois ele dirigiu a orquestra da Ópera de Budapeste (Hungria) e de Hamburgo (Alemanha).
Mahler passou período trágico em sua vida, marcado pela morte de seus pais, de seu irmão Ernst e do suicídio de seu irmão caçula, Otto. O músico, que se sentiu impotente para impedir essas tragédias, abandonou o judaísmo e abraçou o catolicismo. Mahler aceitou o cargo de mestre-de-capela (Viena, 1897). Depois, durante dez anos, ele foi diretor da Ópera Imperial (Viena, 1897-1907).
No início do século XX, Mahler casou-se com Alma Mahler (1902). O casal participou das altas rodas intelectuais e musicais da sociedade vienense, uma das mais requintadas, modernas e cultas de toda Europa. A vida social neste período se encontra descrita nos romances autobiográficos de Elias Canetti (Prêmio Nobel de Literatura), escritor que conheceu Mahler e frequentou sua residência, inserido no meio cultural da alta sociedade vienense. Canetti descreveu principalmente Alma, através das paixões que ela despertou na época em que Sigmund Freud despontava como médico analista, na sociedade e na corte austríaca, enquanto escrevia e publicava seus primeiros livros, bastante contestados e criticados (1899-). No seio dessa sociedade reinou inconteste Lou Andreas-Salomé (1861-1937), psicanalista, aristocrata e intelectual de origem russa, escritora de mais de 20 romances, ensaios, e mais de 120 artigos sobre psicanálise. O nome Andreas-Salomé esteve associado ao das mais importantes personalidades de sua época, como Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche, o poeta e escritor Rainer Marie Rilke e, inclusive Gustav Mahler.
Mahler foi muito atacado pela imprensa, se bem que, desde décadas anteriores seu gênio havia sido reconhecido como o de grande músico e regente, admirador de dramas: no seu repertório, ele regeu obras de Glück, Mozart, Weber, Wagner e Richard Strauss, entre outras. O músico foi paciente do Dr. Sigmund Freud (1910). Mahler viajou com Alma para passar temporada nos Estados Unidos, onde apresentou-se como regente em 65 concertos, quando ele regeu a sua Quarta Sinfonia com a Orquestra Filarmônica de Nova York (1910-1911). A temporada foi exaustiva e Mahler, que retornou com Alma a Viena, faleceu de súbito ataque cardíaco aos 50 anos de idade (18 maio, 1911).
A obra de Mahler favoreceu a orquestra, na dramatização de suas sinfonias, que apresentaram a maior riqueza possível de timbres: cada movimento foi composta como ato de ópera. Mahler compôs 07 sinfonias, vários Lieder [Cantos], nos quais a voz dominava, como no O Canto da Dor [Das klagende Lied] (1880); compôs o ciclo do Canto de um acompanhante errante [Lieder eines fahrenden Gesellen] (1883-1884); o Canto do Nascimento Maravilhoso [Wunderborn Lieder], composto inicialmente para acompanhamento do piano (1882) e depois da orquestra (1903); o Canto das Crianças Mortas [Kindertotenlieder] (1901-1904). Mahler compôs O Canto da Terra [Das Lied von der Erde] (1908), que é uma verdadeira sinfonia para tenor alto e orquestra. Na via oposta, Mahler compôs algumas sinfonias puramente instrumentais, nas quais favoreceu o canto dos Lieder, bem como melodias populares; e mesclou caráter de oratório nas suas sinfonias, como na Segunda Sinfonia [Dies Irae]; e recorrendo a temas como o da canção de ninar francesa, a conhecida Irmão Jacques (Frère Jacques ou Bruder Martin), Mahler utilizou-a no terceiro movimento de sua Primeira Sinfonia, tema obssessivo da marcha fúnebre.
A Sinfonia n. 6, em Lá menor, dita, Trágica (1903-1904), de autoria de Gustav Mahler foi apresentada pela OSESP, sob a regência de Robert Minczuk (São Paulo, 2003). Declarou FERRAZ (2003):
Mahler se vale da oposição de elementos […]O material temático é riquíssimo, beirando os quinze motivos distintos que se alternam com grande mobilidade. O motor do movimento é este jogo de alternância, cortes rápidos e passagens graduais tecem vez por outra os modos expressivos, sempre pautados pela forte característica rítmica dos motivos originais - que, após uma longa série de transformações, só são reconhecíveis por sua estrutura rítmica e pela clareza da forma A-B-A que Mahler usa […]
[...] Por fim, o último movimento: Mahler mantém aqui a tradição dos grandes sinfonistas, que fazem do último movimento o eixo principal de suas obras - as sinfonias a finale […].(FERRAZ, 2003).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ENCICLOPÉDIA. RICHARD, L. Petite Encyclopedie de l' Expressionisme. Paris: Somogy, 1993, pp. 256-257.
FERRAZ, S. Gustav Mahler: Sinfonia n. 6 em lá menor - Trágica. Notas do Programa da OSESP. São Paulo: programa 2003, pp. 72-74.
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