BIOGRAFIA: VALLOTTON, Félix (1865-1925).
O pintor, gravador, fotógrafo e crítico de arte Félix Vallotton nasceu em Lausanne (Suíça), mas foi viver em Paris aos 16 anos de idade e, posteriormente, naturalizou-se francês (1882). Vallotton estudou na Academia Julian (v. abaixo), onde tornou-se amigo de seus colegas Pierre Bonnard (1867-1947), Paul Sérusier (1864-1927), Édouard Vuillard (1868-1940), Ker-Xavier Roussel (1867-1964) e Paul Ranson (1864-1909), artistas que formaram com outros o grupo bem-sucedido dos Nabis [Profetas, em hebreu arcaico], do qual Vallotton também participou.
O artista tornou-se gravador original produzindo xilogravuras poderosas que ofereciam novas perspectivas da natureza humana: ele executava pessoalmente as suas gravuras. Como alguns de seus colegas Nabis, Bonnard, Vuillard, e Denis, Vallotton se interessou pela nova estética oferecida pela popularização da máquina fotográfica. O artista passou a fotografar com a câmera Kodak n. 2, Modelo Bullet (1898). O artista formou sua família casando-se com viúva que tinha 3 filhos (1899). Vallotton voltou sua objetiva para a récem-formada família; ele próprio revelava todos os seus filmes. A fotografia apresentou meio muito adequado à transposição da pintura simplificada dos Nabis, que utilizava muitas superfícies extensas em cores chapadas.
O crítico alemão de arte Julius Meier-Graefe (1867-1935), o primeiro biógrafo de Vallotton, reconheceu o impacto da fotografia na estética simplificada do artista. Confirma essa observação o caso da fotografia A Senhora Vallotton e sua sobrinha, Germaine Aghion, que assemelha-se a pintura O Aposento Vermelho, Étretat [La chambre rouge, Étretat], produzida depois da aquisição da câmera portátil. Vallotton simplificou os detalhes da decoração interior, traduzidos nas áreas de cores chapadas: no entanto, a pintura diferiu da fotografia na expressão da modelo, além de acrescentar a criança (1899).
O artista enviou sua obra Banhistas em noite de verão (1893), para exposição no Salão dos Artistas Independentes. O obra foi ferozmente criticada por sua ironia e dita, desavergonhada nudez, pois apresentou diversos nus femininos em inúmeras posições. Esta pintura, marcante por sua composição de influência japonesa e senso de humor negro, além da exposição do erotismo, mostrou-se explícita demais para a época. Essa obra de Vallotton provocou considerável hostilidade, tanta que, quando exposta em Zurique as autoridades proibiram jovens senhoras de visitarem a mostra do artista (1910).
Vallotton não baseou na fotografia sua vasta produção de quase 1700 pinturas; no entanto, ele inspirou suas fotografias na sua esposa e vida doméstica. Somente restaram 20 das fotografias de Vallotton: ele pode ter destruído as outras, depois de ter sido criticado por ter baseado uma de suas pinturas na fotografia publicada em revista (1916).
Vallotton retirou-se para a região do Midi e depois foi viver na Normandia; nesses locais produziu soberbas paisagens, nas quais infundiu graciosa luminosidade que, de certa forma, suavizou sua poderosa simplificação das formas. Um excepcional exemplo de sua composição revolucionária encontra-se expressa na pintura A Bola ou Recanto do parque, criança brincando com uma bola (1899, óleo/ tela, 48cm x 61 cm), na qual Valloton colocou a criança correndo atrás de bola, vista de ângulo aéreo, na perspectiva fotográfica vista de cima, no parque que mostra a área ensolarada do solo marcada pela forma arredondada e outra sombreada, ao lado da copa de muitas árvores bem verdes. A bola excêntrica na composição de Vallotton marca a obra com o único ponto luminoso vermelho. O artista pintou duas figuras de pé, no fundo e do lado esquerdo do quadro, que acrescentam profundidade à extraordinária obra vanguardista, que se encontra no acervo do Museu d'Orsay, reproduzida (BONFANTE-WARREN, 2000). Data do mesmo ano a pintura Jantar com candelabro (1899, óleo/ tela, 57 cm x 89,5 cm), na qual Valloton pintou sua família jantando, obra que pertence à coleção do Museu D´Orsay, igualmente reproduzida (BONFANTE-WARREN, 2000). Vallotton ficou ainda muito conhecido por sua particularmente incisiva composição O Rapto de Europa, tema usual no final do século XIX que o artista pintou em estilo grandiloquente na composição com formas simplificadas e belas cores.
Vallotton pintou o retrato de seu amigo Félix Fénéon (1861-1944), no escritório de La Revue Blanche (1896, óleo/ cartão, 52,3 cm x 65 cm, na coleção Josefowicz). Vuillard pintou o retrato seu dileto amigo Vallotton no ateliê (1902, óleo/ tela, 42,5 cm x 44,5 cm, no Museu de Belas Artes, Nancy). A obra de Vallotton A Maré perto de Honfleur (La maré prés d'Honfleur, 1909), encontra-se reproduzida (PIERRE, 1991); a obra Nus com Gatos (1898, óleo/ cartão, 41 cm x 52 cm, na Galeria Vallotton, Lausanne, Suíça), se encontra reproduzida no catálogo da mostra da qual participou, no MNAM (Paris, 1991). A grande mostra da obra gravada de F. Vallotton esteve no Rio de janeiro, em exposição no MNBA (29 abr. - 24 maio, 1987), itinerante ao Centro Cultural São Paulo, à Embaixada da Suíça (Brasília) e ao Palácio das Artes (Belo Horizonte).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color., pp. 236, 237. 25,5 x 36,5 cm.
FRÉCHES-THORY, C.: TERRASSE, A. Les Nabis. Tours: Flammarion, 1990. 319p.: il., pp. 222-223.
CATÁLOGO da obra gravada Felix Vallotton. Rio de Janeiro: MNBA, 1987.
CATÁLOGO.DAULTE, F. De Cézanne a Picasso dans les collections Romandes. Lausanne: Fondation de L'Hermitage, 15 juin - 20 oct., 1985, p. 39.
ELLRIDGE, A. Gauguin and the Nabis: prophets of Modernism. Paris: Terrail, 1995, p. 108.
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