BIOGRAFIA: BONNARD, Pierre (1867-1947).
Bonnard nasceu em Fontenay-aux-Roses e morreu em Le Cannet; ele foi filho de familia abastada, pois seu pai foi oficial de gabinete do Ministro da Guerra (França). O artista estudou na Academia Julian e entrou para a Escola Nacional Superior de Belas Artes (Paris, 1888), que abandonou um ano depois, quando fracassou na obtenção do Prêmio de Roma. Bonnard se associou ao grupo vanguardista dos Nabis ou Profetas (1889-c. 1900; v.), que incluiu entre os principais expoentes Paul Sérusier, Édouard Vuillard, Ker-Xavier Roussel, Félix Vallotton e Paul Ranson. Bonnard foi artista multimídia, pois desenhou, pintou e fotografou; ele atuou nas Artes Gráficas e Decorativas, realizou Cenografia para o Teatro da Obra [Théâtre de L´Oeuvre] (v.), de Aurélien Lugné-Poé, outro associado ao Grupo dos Nabis (v.); e para o Teatro Livre [Théâtre Libre] de André Antoine.
Bonnard, como a maioria dos artistas Nabis, desenhou Estamparia têxtil, Tapetes e Tapeçarias, mobiliário e objetos de arte. E para os Balés Russos Bonnard realizou o desenho do cartaz promocional para o balé A Lenda de José [Josephlegende], com música de Richard Strauss (Op. 63), dedicada a E. Hermann, coreografia de Michel Fokine, cenários do pintor espanhol José Maria Sert e figurinos de Léon Bakst, encenado com os Balés Russos (Paris, 14 maio 1914).
O artista dedicou-se a fotografar e pintar cenas da vida familiar, com a presença de animais domésticos e nus marcantes, sendo que suas imagens mais interessantes foram as captadas no final do século, visões completamente inovadoras (1890-1900). Bonnard se destacou na Fotografia através do registro amador de cenas de sua vida cotidiana (1894-1920), nas quais se destacaram os seus estudos de luz e de movimento, em fotografias nas quais predominou a visão estética do pintor. O artista nunca procurou tornar-se fotógrafo profissional, mas foi sempre o pintor que fotografou temas em tudo similares aos de suas pinturas intimistas. Bonnard limitou sua área de atuação artística e sua vida a sua mulher, Marie Boursin, mais conhecida como Marthe. Bonnard conheceu-a e começaram seu longo relacionamento até que se casaram (1894-1925); viveram juntos sem filhos, pois Marthe era estéril, até que ela faleceu (1942). O universo familiar de Bonnard incluía seu cachorrinho, com o qual Bonnard deixou-se fotografar no sul da França no final da década de 1930 (Provence).
Pintor e fotógrafo intimista, Bonnard se dedicou a pintar e a fotografar Marthe nua, em diferentes poses, inseridas no seu universo familiar. Uma dessas pinturas chamada simplesmente de Nu Feminino (c. 1932-1933), pertence ao acervo do MASP. A obra retrata o nu de corpo adolescente, portanto não se trata do retrato da esposa de Bonnard, pois nessa época, Marthe, a grande modelo do pintor nas décadas de 1920, 1930 e 1940, tinha c. de 50 anos de idade. A imagem despojada com as feições da Marthe adolescente, se concentra na modelagem do corpo despido dela, centralizado e iluminado, destacado em primeiro plano. Esta é uma imagem silenciosa, de olhar distante, que se destaca sobre fundo abstrato, de pinceladas livres, soltas, marrons. A imagem pictórica se parece com instantâneo fotográfico de qualquer mulher nua, que estivesse passando, saindo do banho para se vestir em outro local, sem transpirar sensualidade, mostrando seu distanciamento no olhar oblíquo e na expressão facial indefinida.
Bonnard foi um dos primeiros artistas a explorar o reflexo nos vidros e a imagem refletida no espelho: ele pintou cenas íntimas da toalete e banho, principalmente de sua esposa, que tomava vários banhos por dia e tinha mania de limpeza. O Boudoir, que Bonnard explorou fotograficamente na sua crônica visual quase que diária da vida familiar, mostrou Marthe em muitas fotografias, nas quais o pintor experimentou ângulos inusitados em composições diversas, raramente mostrando o rosto da esposa.
Bonnard fotografou Marthe nua no jardim em Le Cannet, quando mostrou um corpo de luz com a cabeça oculta, da personagem inacessível ao olhar, posando próxima ao fundo de vegetação enevoada, indefinida, escura. Em outra obra Bonnard desenhou Marthe nua na paisagem, a partir da projeção dessa fotografia dela: se colocarmos as imagens sobrepostas, as formas são idênticas, exatamente iguais. No entanto as duas obras, a fotografia que gerou o desenho e o desenho em si mesmo, se mostram completamente diferentes. Bonnard realizou a transposição desses dois meios plásticos, captando o contorno do corpo despido, e dialogando e respeitando a técnica do desenho.
O artista expôs pela primeira vez individualmente na Galeria Durand-Ruel (1891); suas obras participaram da mostra coletiva do Grupo dos Nabis, realizada na Galeria Le Barc de Bouteville. Bonnard expôs individualmente na Galeria Ambroise Vollard, que se tornou seu marchand exclusivo (1906-). Vollard editou vários albuns de gravuras de Bonnard, inclusive sua série Daphnis e Chloé (1890).
A arte de Bonnard, que sempre incluiu forte componente decorativo, foi encomendada para a residência parisiense da colecionadora e patronesse dos Ballets Russes, Misia Godebska (v. Misia Sert), que Bonnard executou (1910), e que valeu-lhe outra encomenda, a do famoso triptico O Mediterrâneo, que Bonnard executou para a residência moscovita do famoso colecionador russo Ivan Morosov (1911).
Depois da morte de sua espôsa (1942), Bonnard viveu recluso na pequena residência em Le Cannet, onde faleceu poucos anos depois (1947). No século XX o artista foi um dos precurssores do modernismo, com obras que anteciparam a estética do Grupo das Feras, Fauves ou Fauvistas [Fauvistas] (1905-1908). Entre suas obras citamos Mulher com guarda-chuva (1900, óleo/ tela, 63 cm x 34 cm); Avó e criança (1897, óleo/ cartão, 39,6 cm x 39 cm); sua fotografia (c. 1895), que se encontra reproduzida (FRÉCHES-THORY, 1990); e suas obras Nu em Frente a Lareira [Nu devant la cheminée] (1917) e Praia na Maré Baixa [Plage à la marée basse] (1932), ambas no acervo do MNAM - CGP (Paris), que se encontram reproduzidas (SEUPHOR, 1963).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
BREUILLE, J-P. Dictionnaire de la peinture et de sculpture : l'art du XXe siècle. Sous la direction de Jean-Philippe Breuille. Paris: Lib, Larousse, 1991. 777p.: il., retrs.,p. 88. (Dictionnaires specialisés).
CHAMPIGNEULLE, B. A Arte Nova. Tradução de Maria Jorge Couto Viana. Cacém (Portugal): Verbo, 1973, p. 78.
ELLRIDGE, A. Gauguin and the Nabis: Prophets of Modernism. Paris: Terrail, 1995, p. 45.
FRÉCHES-THORY, C.: TERRASSE, A. Les Nabis. Tours: Flammarion, 1990. 319p.: il., p. 87.
NÉRET, G. 30 ans d'art moderne: peintres et sculpteurs. Fribourg: Office du livre, 1988. 248p.: il., p. 229.
PALESTRA. BROLEZZI, R. Nu Feminino de Bonnard: Curso Introdutório à História da Arte a partir da Coleção do MASP. São Paulo: MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 06 de junho de 2009, de 11,00 as 13,00; e visita à Coleção do MASP, de 13,00 às 15,00 h.
DICIONÁRIO. SEUPHOR, V. M. Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963, pp. 31-38.
WILLIAMS, W. J.: BESSONOVA, M.; KOSTENEVICH, A. Impressionism and Post - Impressionism. Leningrad: The Hermitage. Moscow: The Pushkin Museum of Fine Arts. Washinghton D.C.: The National Gallery of Art. New York: Hugh L. Levin, 1986. Park Lane, 1989, p. 268.
Nenhum comentário:
Postar um comentário