HISTÓRIA DO PÓS-IMPRESSIONISMO EUROPEU.
BIOGRAFIAS:
VAN GOGH, Vincent Wilhem (30 março, 1852-set. 1852);
o pintor VAN GOGH, Vincent Wilhem (30 março, 1853-29 julho, 1890);
VAN GOGH, Vincent Wilhem (1890-?), filho de Jô e Théo;
VAN GOGH, Théo: Theodorus van Gogh (1857-21 jan. 1891);
VAN GOGH-Bonger, Jô; Johanna van Gogh-Bonger (1855- 1925).
Em Groot-Zundert, Holanda nasceu Vincent van Gogh (1852), filho primogênito do casal formado pelo professor e pastor calvinista nomeado, Theodorus van Gogh (8 fev., 1822-1885) e Ana Cornelia Carbentus (10 set. 1819-1906), filha de encadernador da corte. Vincent morreu aos seis meses de idade. Um ano depois, no mesmo dia (30 março, 1853), e, na mesma cidade, nasceu o pintor Vincent van Gogh, que se tornou o novo primogênito da família posteriormente formada por cinco outros filhos: Cornelius, Elisabeth, Anna, Willermina e Theodorus. A tragédia primordial marcou o nascimento do futuro artista, e, provávelmente, marcou os conflitos de sua herança genética e familiar, refletida na vida conturbada do artista.
A família Van Gogh, distinta e honrada, pertencia à burguesia desde os séculos XVI e XVII; muitos de seus membros foram amantes das artes. O tio Cornelius van Gogh tornou-se um dos sócios da galeria de arte Goupil e Companhia [Goupil et Cie.], com sede em Haia (Holanda) e filiais em Londres e Paris. A galeria comercializava principalmente gravuras e reproduções de paisagens, obras de artistas conhecidos europeus.
Os primeiros desenhos de Vincent van Gogh foram produzidos aos 9 anos de idade (1862). A mãe do futuro artista não apreciava a arte de Vincent e o pintor, desde cedo, entrou em desacordo com o universo familiar. Para fugir da situação Vincent buscava o isolamento e vagava solitário pelos campos da região de Brabant (Holanda), mas depois, cada vez mais frequentemente, passou a fazer-se acompanhar por seu irmão mais novo, Théo (Theodorus).
Arguto observador e amante da natureza, além de muito curioso, o artista percorreu trilhas entre as pequenas cidades de Etten, Breda, Nuenem e Groot-Zundert. Estas não ficavam distantes da fronteira da Bélgica, onde Van Gogh, passou posteriormente período muito difícil de sua vida.Aos 12 anos de idade V. Van Gogh foi internado no colégio de Zevenbergen, cidade vizinha, só retornando à casa paterna nas férias de verão. Quando adulto o primeiro emprego de V. van Gogh foi como vendedor de arte da Goupil e Cia. (Haia, 1869). O futuro pintor passou à manter estreito contacto e a observar diariamente a arte dos melhores artistas de seu tempo, o que possibilitou a evolução de seu aprendizado individual baseado na sua destacada capacidade de observação. A Casa Goupil enviou Vincent van Gogh várias vezes à Bruxelas, onde o pintor visitou o Museu Real. Vincent reviu seu irmão Théo, então com 15 anos de idade, em Oosterwyck, perto da cidade holandesa de Helvoirt (ago., 1872). Foi nesta época que ele começou a extensa correspondência que trocou com o irmão, que Johanna Van Gogh-Bonger, a futura senhora Théo Van Gogh, preservou, organizou e publicou pela primeira vez bem depois da morte do artista (Paris, 1914).
Vincent foi transferido para a filial londrina da empresa Goupil; o futuro artista falava bem o inglês e lia William Shakespeare no original. Van Gogh ficou hospedado na pensão da Sra. Loyer e apaixonou-se pela jovem Úrsula, filha da dona do estabelecimento. Na época Vincent tinha apenas 20 anos de idade. Neste período o pintor desenhou às margens do rio Tâmisa e viveu dias plácidos e tranquilos; no entanto, quando o artista pediu Úrsula em casamento, quando ele foi repelido descobriu que a jovem tinha compromisso secreto. O apaixonado desprezado mostrou sua revolta nas cartas enviadas ao irmão Théo. Vincent viajou de volta à Holanda e passou temporada em Helvoirt, desenhando muito durante este período (CATÁLOGO RAISONNÉ. WALTHER & METZGER, 1993).
Vincent voltou a viver em Londres acompanhado por uma de suas irmãs (jul., 1873); mas, graças a influência de seu tio Cornelius, agora aposentado e vivendo de rendas conseguiu sua transferência para a filial francesa da Goupil e Cia. (Paris, out., 1853). No final do ano o futuro pintor voltou a Londres à procura de sua amada Úrsula, sem reencontrá-la; como a viagem não fôra autorizada por seus empregadores, a Casa Goupil determinou a dispensa dos serviços de Vincent van Gogh. O jovem voltou a viver na Inglaterra, desta vez empregado como professor de escola em Ramsgate, que pouco depois foi transferida para Isle Worth (jul., 1854). Vincent foi atraído pela religião e abandonou o emprego na escola, tendo passado a assessor não remunerado do pastor e pregador Mr. Jones. Entretanto, como Vincent não demonstrava a menor vocação para a pregação religiosa, no natal foi dispensado e retornou para a casa da família na Holanda. Novamente foi seu tio Cornelius quem lhe arranjou o modesto emprego de escriturário em livraria (Dordrecht). Na época, a família resolveu ajudá-lo com recursos próprios e Vincent foi admitido na Universidade de Amsterdã. No entanto, o estudo formal que o artista recebeu (mai., 1877 – jul., 1878), tornou-se para ele verdadeira tortura: Vincent abandonou a universidade e voltou novamente para a casa da família em Etten (WALTHER & METZGER, 1993).
Desta vez V. van Gogh decidiu abraçar a que pensava ser sua verdadeira vocação de missionário e, preparando-se para tal, seguiu durante 3 meses os cursos da Escola Preparatória Evangelista (Bruxelas). Vincent recebeu a missão religiosa de 6 meses na região do Borinage (Bélgica), passando essa temporada entre os mineiros belgas. Vincent viveu no burgo de Patûrages, perto de Mons, onde foi hospedado na modestíssima casa do mascate Van de Haegen. Nesta fase de sua vida Vincent dedicou-se a visitar os pobres e confortar os doentes em Petites Wasmes, no centro da região do Borinage. Entretanto o Conservatório Belga não renovou sua missão e, o jovem derrotado, sem tostão, viajou a pé para Bruxelas, hospedando-se na casa de um amigo, e posteriormente retornando à casa paterna (Etten, ago., 1879).
Novamente o jovem Vincent partiu por conta própria da casa dos pais, viajando a pé com cajado nas mãos e mochila nas costas, de volta para o Borinage belga. Vincent caminhou debaixo de intempéries, vento e neve, vivendo do pouco que levou e depois dos recursos enviados por seu irmão Théo. Vagueou dias por Cuesmes, quando então desejou procurar o conhecido pintor Jules Breton, da Escola de Barbizon (v., abaixo), mas recuou de seu propósito ante a imponência da residência do pintor. Intimidado, Vincent não ousou sequer bater na porta. Na primavera, Vincent voltou à Etten e passou no Borinage, seguindo como andarilho a rota para Bruxelas. Em comovente carta para Théo, desta feita bastante confiante, Vincent expressou seu ardente desejo de tornar-se pintor. A correspondência entre os irmãos passou a ser mais frequente e Vicent voltou para seu país, radicando-se por poucos meses em Haia, onde obteve a atenção e os ensinamentos de seu primo, o conhecido de pintor da dita, Escola de Haia, Anton Mauve (1838-1888).
No feriado de natal, quando Vincent voltou à Etten, ele propôs casamento a sua prima, viúva recente e que tinha um filho: a jovem o repeliu. No inverno Vincent voltou a viver em Bruxelas (fev.), onde encontrou Classina Maria Hoornick, prostituta grávida que o amante abandonara a qual se propôs posar para o pintor. Durante 20 meses a jovem e sua filha récem-nascida viveram com Vincent, mas, em seguida desapareceram da vida do pintor (set., 1883). O artista pintou-a nos mais pungentes desenhos de sua série Pesar; mas Vincent recebeu muitas críticas contundentes por viver com mulher de presença social considerada inferior: ele foi rejeitado por seu primo Mauve, e desde então deixou de frequentar o meio erudito dos pintores de Haia (Publicarei próximamente a Escola de Haia).
Vincent voltou para Nuenen (Holanda), onde alugou estúdio; nesta fase de sua vida ele desenhou e pintou obssessivamente. Logo depois, seu pai faleceu de colapso na porta de casa (27 mar., 1885), Van Gogh produziu os excepcionais quadros Realistas de sua fase holandesa: Os comedores de Batatas. Na série o pintor retratou, de forma crua, camponeses de sua região natal reunidos em torno da refeição. Essa pintura refletiu a influência da estética do mais conhecido pintor da Escola de Haia, com obras de temática social holandesa, Josef Israëls (1824-1911).
Um ano depois V. van Gogh foi viver em Paris, onde permaneceu durante quase 2 anos (mar., 1886 – fev., 1888). Na capital européia das artes Vincent começou verdadeiramente sua carreira de pintor: o futuro artista passou a frequentar a Academia Fernand Cormon (v. abaixo). Vincent conheceu os pintores, seus colegas que moravam na cidade: Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), Emile Bernard (1868-1941), Paul Gauguin (1848-1903), Paul Signac (1867-1935), Georges Seurat (1859-1891), Armand Guillaumin (1841-1917), Camille Pissarro (1830-1903) e Paul Cézanne (1839-1906), entre outros. O futuro artista visitou com frequencia o Museu do Louvre, onde passou a estudar as obras de Eugène Delacroix (1798-1863), entre outros. À princípio Van Gogh pintou quadros no estilo dos Impressionistas que, na época, começavam a fazer sucesso; mas ele libertou-se de todas as experiências pictóricas alheias à si mesmo e pintou seus primeiros girasóis luminosos, mergulhados nas cores brilhantes, nos amarelos, verdes e azuis profundos.
Van Gogh passou a pintar ao ar livre, às margens do rio Sena e nas ladeiras de Montmartre, visitando os subúrbios de Saint-Cloud e Neuilly. O artista comprava ou trocava suprimentos artísticos por pinturas, na loja do Pai Tanguy (Julien-François Tanguy), frequentada por muitos dos vanguardistas. Nesse local Vincent iniciou sua amizade com Gauguin, e, acompanhado de seu novo amigo frequentou os cafés e bares de Montmartre, especialmente o Cabaré Tambourin, de Augustina Segattori. Esta jovem, que mais parecia camponesa, foi modelo de Édouard Manet (1832-1883) e, serviu de modelo para alguns quadros de Van Gogh, como A Italiana (1887, óleo/ tela, 81 cm x 60 cm, no acervo do Museu D'Orsay). Esta pintura foi influenciada pelas obras dos Neo-Impressionistas, tendo moldura parcialmente pintada sobre a tela e o fundo em pinceladas marcadas nos sentidos horizontal e vertical, de amarelo profundo, onde se destacou a figura maciça e campesina de Segattori, vestida com roupas coloridas e lenço laranja na cabeça, que nos fita com expressão indefinida. As mãos rudes, cruzadas no colo sobre manta multicolorida, seguram duas margaridas pendentes pelas hastes. O quadro reflete o decorativismo advindo da influência das gravuras japonesas, o dito, Japonismo, que, na época, começava a fazer sucesso em Paris (BONFANTE-WARREN, 2000).
Como Van Gogh buscava mais luz e cor, seus passos o levaram à região luminosa do Midi, na França. O artista partiu para sua temporada em Arles, quando recomeçou sua correspondência com Théo, agora em francês. Foi o acordo comercial de Paul Gauguin com Théo van Gogh que levou-o ao encontro de Vincent, nos três últimos meses deste ano importante na vida dos artistas (1888). Gauguin relutou muito em abraçar o plano de V. van Gogh de fundar ateliê conjunto, sendo ambos patrocinados por Théo. No acordo, Gauguin, em troca de exígua pensão e dividindo a moradia com Vincent, comprometeu-se a enviar um quadro por mês para Théo, que trabalhava na Galeria de Arte Boussod e Valadon. No final do ano Gauguin expôs suas pinturas nessa Galeria de Arte, em mostra conjunta com Armand Guillaumin (Jean-Baptiste Armand Guillaumin, 1841-1927).
Gauguin e Van Gogh
pintaram juntos e logo apareceu a forte influência de Gauguin nas obras de V. van Gogh. Gauguin estimulou Vincent à pintar de memória e surgiram nas telas as lembranças holandesas do pintor. Na época Van Gogh pintou A Mulher de Arles (1888, óleo/ tela, 92,3 cm x 73,5 cm), o retrato da Sra. Marie Julien Ginoux, gerente do café da estação de trem no quadro Café da Estação (Café de la Gare). Como Van Gogh morou durante meses no quarto acima do mesmo café, ele pintou vários retratos da velha senhora, alguns se encontram no acervo do Museu d'Orsay. No entanto surgiram inúmeras divergências entre Gauguin e Van Gogh, especialmente no que se referia aos pintores que Vincent admirava, como o dito, grande Daubigny (Charles-François Daubigny, 1817-1878), da Escola de Barbizon, que Gauguin detestava. Assim foram se ampliando as diferenças estéticas, entre outras, que culminaram com a agressão de Vincent a Gauguin na noite de natal (23 dez., 1888). Gauguin esquivou-se e saiu com a roupa do corpo imediatamente do quarto que ocupava com Van Gogh; ele dormiu em uma pensão. Na mesma noite Vincent cortou sua orelha e enviou-a, embrulhada em lenço para a prostituta do bordel que frequentava. A jovem, horrorizada com o presente, levou-o à polícia, que encontrou V. van Gogh mergulhado em poça de sangue no seu quarto. O artista foi encaminhado ao hospital da vila e sua vida foi salva (WALTHER & METZGER, 1993).
Gauguin escreveu imediatamente carta para Théo, contando sobre o estado mental alterado do pintor; e, no dia seguinte, com Vincent hospitalizado, ele foi buscar seus pertences no quarto que dividia com o holandês e voltou para Paris. Duas semanas depois V. van Gogh recebeu alta do hospital e voltou ao ateliê (7 jan., 1889). Ninguém questionou a saúde mental do pintor.
No entanto, a população de Arles, conhecedora do episódio cuja notícia se espalhou rapidamente, passou a evitar Van Gogh. O pintor foi discriminado, pois ficou marcado desde então com o cruel apelido de Ruivo Maluco [Fou Roux], que lembrava os cabelos vermelhos do holandês. A fase de instabilidade emocional levou Van Gogh a ficar com mania de perseguição; o artista decidiu, por vontade própria, internar-se no Asilo de Saint-Paul de Mausole, em Saint-Remy. A construção no estilo de abadia medieval, pertencia à antigo monastério; Van Gogh ocupou dois quartos no andar de cima, que utilizou como ateliê e moradia. Permitiram-lhe pintar: a bela vista da janela mostrava as encostas dos montes Alpilles, e, ao fundo, longe, os contornos da cidade de Avignon emoldurada pelos picos nevados das montanhas. O pintor viveu mais de um ano neste quarto: no ano seguinte, em maio, V. Van Gogh partiu para sua última temporada em Auvers-sur-Oise, onde colocou-se sob os cuidados do Dr. Paul Gachet, médico e colecionador de obras de Paul Cézanne, Armand Guillaumin e Camille Pissarro, entre outros. O pintor não ficou confinado na instituição dirigida pelo médico, pois alugou quarto modesto no segundo andar do Café Ravoux, na praça da Prefeitura, onde se instalou (21 maio, 1890).
No entanto, a população de Arles, conhecedora do episódio cuja notícia se espalhou rapidamente, passou a evitar Van Gogh. O pintor foi discriminado, pois ficou marcado desde então com o cruel apelido de Ruivo Maluco [Fou Roux], que lembrava os cabelos vermelhos do holandês. A fase de instabilidade emocional levou Van Gogh a ficar com mania de perseguição; o artista decidiu, por vontade própria, internar-se no Asilo de Saint-Paul de Mausole, em Saint-Remy. A construção no estilo de abadia medieval, pertencia à antigo monastério; Van Gogh ocupou dois quartos no andar de cima, que utilizou como ateliê e moradia. Permitiram-lhe pintar: a bela vista da janela mostrava as encostas dos montes Alpilles, e, ao fundo, longe, os contornos da cidade de Avignon emoldurada pelos picos nevados das montanhas. O pintor viveu mais de um ano neste quarto: no ano seguinte, em maio, V. Van Gogh partiu para sua última temporada em Auvers-sur-Oise, onde colocou-se sob os cuidados do Dr. Paul Gachet, médico e colecionador de obras de Paul Cézanne, Armand Guillaumin e Camille Pissarro, entre outros. O pintor não ficou confinado na instituição dirigida pelo médico, pois alugou quarto modesto no segundo andar do Café Ravoux, na praça da Prefeitura, onde se instalou (21 maio, 1890).
Van Gogh passou a frequentar a casa do médico Gachet, que convidou-o para jantar com sua família pelo menos uma vez por semana. Van Gogh pintou alguns retratos da Srta. Gachet e deu um dos quadros para a jovem de 16 anos, filha do médico. Nas cartas para Théo, Vincent contava toda sua vida, seus sentimentos e emoções, seus passeios pelo campo e descrevia os quadros que pintou. Na carta para Théo (4 jun.), o artista contou sobre o retrato do Dr. Gachet, que executava: Doutor Paul Gachet (1890, óleo/ tela, 68 m x 57 cm). Na época Paul Gachet tinha perdido a esposa: seu retrato é perpassado por certa melancolia: um retrato pertence ao acervo do Musée d'Orsay e se encontra reproduzido (BONFANTE-WARREN, 2000). Outro tornou-se lendário: durante décadas o retrato se tornou o quadro mais caro do mundo, pois foi vendido ao colecionador japonês Ryoei Saito por 82,5 milhões de dólares pela casa de leilões Christie's (Londres, 1990). O milionário, pouco tempo depois acusado de corrupção, foi preso (1993) e morreu (1996): comenta-se que o quadro foi enterrado com Saito, pois desapareceu.
Van Gogh escreveu para Gauguin em resposta à carta do artista, que cobrava a visita dele; o artista passou 3 dias em Paris antes de instalar-se em Auvers-sur-Oise, mas não visitou Gauguin. O incidente entre ambos, em dezembro do ano anterior, foi a última vez em que ambos se encontraram. Pesquisas recentes sugerem que Vincent não se suicidou, antes foi vítima de assassinato por jovens que o perseguiam. Outra versão mais antiga afirmou que, c. de dois meses depois Vincent arranjou uma pistola e atirou contra seu peito; mas errou, e o tiro alojou-se na virilha (27 jul., 1890). O Dr. Gachet foi ao encontro de seu paciente, mas chegou a conclusão que não poderia retirar a bala e salvar-lhe a vida. Théo chegou de Paris no dia seguinte e passou as últimas horas na cabeceira do irmão moribundo. O pintor faleceu a uma e meia da manhã (29 jul., 1890), deixando no bolso de sua roupa a última carta para o irmão Théo(WALTHER & METZGER, 1993). A carta (652), que se encontra publicada, traduzida (Cartas a Théo. Porto Alegre: L & PM Pocket, reimpressão jun., 2003), não explicava nem mencionava que Van Gogh teria a intenção de se suicidar, nem era carta de despedida da vida, o que confere, à priori, a possibilidade da veracidade da nova versão de assassinato do jovem artista aos 37 anos de idade
A morte prematura do irmão chocou Théo, que tentou organizar imediatamente a retrospectiva das obras de Vincent van Gogh na Galeria Durant-Ruel, que, no entanto, recusou a mostra. Uma paralisia acometeu Theodorus van Gogh: seu filho, batizado de Vincent Wilhem van Gogh, nasceu no mesmo ano em que seu tio, o pintor Vincent van Gogh faleceu (1890). Théo faleceu logo no início do ano seguinte (Paris, 21 jan., 1891).
A obra de Vincent Van Gogh, que, por circunstância do destino encontrava-se integralmente na posse de seu irmão Théo Van Gogh, com exceção do único quadro que Vincent vendeu em vida e c. de 70 obras que sua mãe vendeu para o brechó quando se mudou para Breda, foi avaliada no testamento dele pela módica quantia de 2000 florins. A viúva, Johanna van Gogh-Bonger (Jô) e seu filho Vincent van Gogh, se tornaram herdeiros universais da totalidade da obra do pintor Vincent van Gogh, pois todos os parentes declinaram da herança.
No final das mostras anuais Impressionistas (1874-1885), a exposição anual de arte belga promovida pela Sociedade dos XX (Les XX, v., abaixo), convidou vários artistas renomados internacionais para expôrem suas obras. Foram convidados pintores como James McNeill Whistler (v. biografia no meu Blog: <http://arteamericandevanguarda.blogspot.com>), e escultores como Auguste Rodin (1884); e enfim, Vincent van Gogh, que, pela primeira vez ainda em vida expôs internacionalmente dois de seus quadros (1889). Novamente convidado na mostra seguinte, V. van Gogh enviou dez pinturas (1890). A única obra que o pintor holandês vendeu durante a vida foi adquirida exatamente nessa mostra por 400 francos: Vinhedo vermelho em Arles (1888, óleo/ tela, 73 cm x 81 cm, no acervo do Museu Pushkin de Belas Artes, Moscou), adquirida pela irmã Anne Bloch, do pintor belga Bloch,amigo de Vincent. Hoje o quadro pertence ao acervo do Museu Pushkin de Belas Artes (Moscou). Foi na mesma mostra belga que ocorreu a primeira retrospectiva da obra de Van Gogh, no ano seguinte à morte do artista (1891); no mesmo ano o grupo belga expôs obras de Paul Gauguin, Camille Pissarro e Georges Seurat.
Outra retrospectiva das obras do pintor V. Van Gogh ocorreu no Salão dos Artistas Independentes (Paris, 1891). No ano seguinte Jô van Gogh-Bonger organizou nova mostra com 100 quadros, no dito, Panorama de Amsterdã; e, com a ajuda de Emile Bernard, ela organizou outra retrospectiva da obra de V. van Gogh na renomada galeria de arte Le Barc de Bouteville (Paris, 1892). Estas foram as exposições iniciais da brilhante carreira póstuma do pintor Vincent Willem van Gogh, que se desenvolveu no decorrer do século XX. Jô compilou a totalidade das cartas de Van Gogh para seu marido Théo e publicou todas as 652 cartas, devidamente numeradas, no volume com mais de 1000 páginas lançado inicialmente pela editora Maatschappif Voor Goede (Holanda, 1914). Na década de 1930 a antologia organizada por Georges Phillipart foi publicada (Paris); no Brasil foram selecionadas e publicadas traduzidas as 200 cartas mais importantes. As cartas fornecem o retrato denso e pessoal do pintor Vincent van Gogh, sempre associando seus sentimentos à sua poderosa obra pictórica
[…] no clima de intensa e dramática comunicação entre Vincent e Théo […],
como explica a nota de seu editor brasileiro.
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ALLEY, R. Gauguin. Traduction française de C. de Longevialle. Paris: O.D.E.J., 1962, 96p., il. color., 7-13, 27. 23,5cm x 27,5 cm.
BOCOLA, S. The art of modernism: Art Culture and Society from Goya to the Present Day. Translated by Catherine Shelbert & Nicholas Levin. Edimburgh: Fiona Elliot. Munich: Prestel, 1999, pp. 78, 79, 137-139.
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color.,pp. 22, 28, 29, 30, 173, 178, 183, 184, 185, 186-187, 188. 25,5 cm x 36,5 cm.
CATÁLOGORAISONNÉ. WALTHER,I.; F., METZGER, R. Van Gogh: the complete paintings. Arles, February 1888. Auvers-sur-Oise, July, 1890. Cologne: Benedikt Taschen, 1993. 02 v., 740p.: il. color. 19 cm x 24 cm.
VAN GOGH, V. Cartas a Théo. Tradução de Pierre Rupracht. Nova edição ampliada e anotada. Porto Alegre: L & PM, 2003, pp. 7-20, 21.
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Museu Vincent Van Gogh. Coleção permanente:
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