BIOGRAFIA: GONTCHAROVA, Natália Sergueevna (1881-1962).
A artista russa naturalizada francesa (1938-), nasceu em Ladzimo (Toula). Gontcharova foi a companheira artística por mais de 50 anos da vida de Mikhail Larionov (1881-1964). A artista estudou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou e foi aluna do escultor Troubetskoy. Goncharova começou a expor suas obras na Rússia (1900). A artista participou da Sala Russa no Salão de Outono (Paris, 1906), organizada por Larionov a pedido de Sergey Diaghilev (1872-1929). Gontcharova organizou a mostra do Grupo A História dos Quadros (1910;v.) e participou, juntamente com Larionov, da organização do Grupo Rabo de Burro [Osliny Kvost], surgido no momento da cissão com o Grupo Valete de Diamantes [Bubnovy Valet] (12 fev., 1912). A artista assinou o Manifesto do Raionismo [Luchism] com Larionov (1912). Gontcharova viajou a Paris, mas depois regressou à Rússia, levando consigo a visão apreendida das vanguardas artísticas francesas.
Gontcharova participou do Grupo União da Juventude (São Petersburgo, 1913), onde divulgou o Manifesto citado, ilustrado com seis litografias de sua autoria. Na ocasião, o poeta armênio Ilya Zdanevich (Iliazde, 1894-1975), nascido em Tiflis (hoje Tbilissi, capital da Armênia), apresentou-se e passou a participar do grupo vanguardista Rabo de Burro. Outros participantes foram Mihkail Ledentu (1891-1917), Vladimir Mikhailovich Konashevitch (1888-1963) e Aleksander Shevchenko (1883-1948), que, em conjunto com Larionov e Gontcharova, organizaram a primeira mostra do Grupo Alvo, seguida de debates sob o tema O Ocidente, a nacionalidade, o Oriente (23 mar., 1913). O conjunto da mostra causou escândalo e provocou inúmeras discussões, o que atraiu muitos visitantes para a exposição, inaugurada no dia seguinte aos debates.
Obras de Gontcharova, passaram a participar de mostras internacionais, juntamente com Larionov e Kasimir Malevich (1878-1935), entre outros artistas estrangeiros, como da segunda exposição do Grupo do Cavaleiro Azul [Der Blaue Reiter] (Munique, 1912). Essa exposição, organizada pelo russo Wasily Kandinsky (1866-1944), itinerou ao primeiro e único Salão de Outono Alemão [Herbstsalon], organizado por Herward Walden na Galeria da Tempestade [Der Sturm] (Berlim, 1913; v.).
Larionov, Gontcharova e Vladimir Maiakovsky (1893-1930), participaram da primeira incursão das vanguardas russas no cinema: os artistas dirigiram, produziram e atuaram no filme Drama no Cabaré 13 (1913). Esse filme é o primeiro de que temos notícia como produzido por artistas das vanguardas internacionais nas artes plásticas.
Gontcharova participou da exposição organizada por Larionov, a N. 4, Futuristas, Raionistas e Primitivos (1914); ela participou, na companhia de Larionov e Zdanevich, todos com o rosto e mãos pintados com simbolos abstratos, de passeata pela ruas de Riga (1910). Posteriormente os artistas citados, entre outros como David Burliuk (1882-1967), compareceram dessa forma à inauguração do cabaré Lanterna Rosa (Moscou, 1913). A fotografia posada do grupo com as mãos e rostos pintados que encontra-se reproduzida (KOVTUN, 1988), na época foi publicada na revista Argus, que publicou também o Manifesto Porque pintamos à nós mesmos. Os artistas depois participaram da mostra Rostos Pintados, organizada por Ilya Zdanevich (Moscou, 1914).
Larionov e Gontcharova viajaram a França para apresentarem sua exposição conjunta na Galeria Paul Guillaume (Paris, jun., 1914). A Rússia entrou no conflito da I Guerra Mundial (I GM), no lado oposto ao da França (ago., 1914). Gontcharova não voltou mais à Rússia, pois foi convidada por Sergey Diaghilev (1872-1929) para criar os cenários e figurinos para o balé O Galo de Ouro [Le Coq D'Or] (1914-). A artista criou cenários deslumbrantes, nos quais reviveu imagens inspiradas na arte popular e folclórica russa. Esse balé foi encenado com música de Nicolay Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908), com arranjo de Igor Fedorovich Stravinsky (1882-1971), coreografia de Michel Fokine (1881-1942) e regência da orquestra por Pierre Montreux. Quando estreou no Teatro da Ópera, esse balé conquistou a cidade: foi um dos maiores sucessos dos Balés Russos (Paris, 1914). Os desenhos cenográficos de para os cenários e figurinos do balé O Galo de Ouro, encontram-se reproduzidos (SHEAD, 1986)
Durante a I GM Gontcharova viajou para a Suíça com o que restou da Companhia Teatral S. P. Diaghilev; mas Larionov voltou a seu país, convocado para servir ao exército russo como oficial. O artista foi gravemente ferido na frente de batalha e passou longo período hospitalizado: ele foi visitado por Osip Brik (1888-1945), burocrata que exercerá importante influência e participação nos rumos políticos das vanguardas soviéticas, após a Revolução Russa (1917-) A fotografia que documenta essa visita encontra-se publicada (KRENS, 1992). Larionov deu baixa do exército (1915) e voltou à França, onde viveu o restante da vida com Gontcharova, com quem posteriormente se casou (1948).
Larionov tornou-se o Diretor de Arte dos Balés Russos, companhia de seu amigo Sergey Diaghilev e, juntamente com Gontcharova, participou durante décadas da vida diária da companhia para a qual ambos trabalharam até a morte do empresário (Veneza, 1929). Tanto Gontcharova, bem como Larionov, criaram cenografia e figurinos para inúmeros espetáculos; a dupla criou o balé Liturgia com música litúrgica, Suite com sete Movimentos Plásticos, com libreto da dupla e coreografia de Léonid Massine (1894-1979; v. biografia), programado para ser encenado mas nunca levado aos palcos (Lausanne, 1915). Posteriormente Goncharova criou para Diaghilev os figurinos de Contos Russos [Russkie skazki], com cenografia de de Larionov e música de Anatol Konstatinovich Lyadov (1923). A artista também criou a cenografia para o balé As Núpcias [Les Noces], encenado com música de Igor Stravinsky (Monte Carlo, 17 abr., 1924). Goncharova criou cenários e figurinos para Uma Noite no Monte Calvo [Noc na Lyusoj gore] (1926), com música de Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881) do Grupo dos Cinco músicos russos (v.).
Gontcharova tornou-se professora de pintura do artista americano Gerald Murphy (1888-1964), no período em que ele viveu na França (v. o Círculo de Gertrude e Leo Stein, Paris, c. 1903-1933). A artista russa apresentou-o ao empresário sueco Rolf de Maré, quando Murphy restaurou cenários da Companhia dos Balés Suecos [Ballets Suedois] (Paris, 1920-1924). Na primeira metade do século XX, Murphy foi o único artista plástico norte-americano que criou cenografia e figurinos para balé europeu, com música de seu antigo colega Cole Porter, da Universidade de Yale.
Em Paris, as obras do Cubo-Futurismo (v.), de Gontcharova participaram da mostra coletiva do Cubismo, do Grupo da Seção de Ouro [Section D'Or] (1920); do XXXI Salão dos Artistas Independentes (1921); de mostra retrospectiva na Galeria Deux-Îlles (1948); da coletiva A Obra do Século XX [L'Oeuvre du XXème Siécle], no Museu Nacional de Arte Moderna (MNAM) (Paris, 1952); de mostra individual com c. de 50 obras (1907-1956), na Galeria do Instituto (1956).
No final da década 1920 o Museu Russo de São Petersburgo, sob orientação de Nicolay Punin (1888-1953), adquiriu para seu acervo inúmeras obras de Gontcharova e Larionov. O Museu inaugurou a Mostra Comemorativa do X Aniversário da Revolução Russa, e homenageou Larionov e Gontcharova com Sala Especial (nov., 1927).
Gontcharova foi artista com grande influencia na arte das vanguardas russas, devido ao trabalho no qual resgatou as raízes primitivas e folclóricas da arte do seu país, que divulgou criando o movimento de retorno às tradições e que, de certa forma, rejeitou a influência dos movimentos da arte estrangeira como do Cubismo francês e do Futurismo italiano. Na velhice, marcada por relativo ostracismo, Natália Gontcharova faleceu na França. Na juventude foi uma bela mulher, como documentam suas fotos publicadas (HULTEN, 1986; e KRENS, 1992).
Duas das pinturas Raionistas de Goncharova encontram-se reproduzidas: Raionismo (1917, acervo da Galeria Franka Berndt Bastille, Paris) e Floresta verde e amarela [Forêt vert et jaune, 1922, óleo/ tela, 102 cm x 85 cm) (DUROZOI, 1992). As obras Os Gatos (1910) e Eletricidade (1910-1911), encontram-se reproduzidas (SEUPHOR, 1957).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
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CATÁLOGO. CELANT, G. (Org.); GIMENEZ, C. (Org.); GASSNER, H. The Great Utopia: the Russian and Soviet avant garde, 1915-1932. Translated by Jurgen Riehle. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10, May, 1992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 39-40.
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CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C. La Vanguardia Rusa, 1905-1925 en Las colecciones de los Museos Rusos. Madrid: Fundación Central Hispano, Fondación ELF, 1993. 295p.: il., color., pp. 27-32, 40-44.
DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Dictionaire de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.: il., pp. 36, 180, 181.
HAGER, B. Les Ballets Suedois. Translated by Ruth Sharman. London: Thames and Hudson, 1990. 303p.: il., algumas color.
KOVTUN, Y. Mikhail Larionov. Bornemouth, England; Parkstone Press, 1998, pp. 55-85, 92, 131- 142, 155- 175, 172- 175.
MONOGRAFIA. SILVA, V. P. P. da. Performance artística: apresentação estética e visual do corpo no contexto educativo das artes plásticas. São Paulo: Centro Universitário Maria Antônia, Universidade de São Paulo, 2008.
SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp.
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