terça-feira, 15 de maio de 2012

GLOSSÁRIO: SALÃO (PARISIENSE) DOS RECUSADOS

(Paris, 1861-1865).

A arte que tinha a possibilidade de aceitação no salão anual de arte foi sempre a arte convencional, a dita, Arte Acadêmica (v.) possível de ser compreendida por milhares de pessoas que acorriam, anualmente, em visita aos salões oficiais de arte, realizados em Paris. Artistas franceses que posteriormente foram reconhecidos como expoentes da arte mundial, nunca foram aceitos na Escola Nacional Superior de Belas Artes. Por exemplo, Paul Cézanne (1839-1906), entre outros.

O revolucionário pintor Édouard Manet (1832-1883), viu suas obras modernas em relação a seu tempo serem sucessivamente recusadas para apresentação nos salões oficiais de arte. E o público desses salões, que quase sempre não tinha a base cultural que lhe permitisse a compreensão da modernidade na arte, visitava os salões para se divertir, rindo das inovações presentes na arte de seu tempo, rindo porque não podia compreendê-las, nem admitir sua ignorância.

A arte francesa sempre foi extremamente avançada em relação à seu tempo e sempre os artistas vanguardistas sofreram as consequências deste fato. A crítica de arte, possuía muitas limitações na visão intelectual, inclinada a aprovar o que a maioria referendava, pois não seria de sua conveniência o caminho contrário do que a maioria aceitava; então acompanhava a aprovação ou a reprovação popular, condenando sutilmente, através da ironia e da mordacidade a arte dos recusados. A abertura política devido ao lançamento do Manifesto Comunista (1848), levou a população francesa à inssureição revolucionária e a declaração da Segunda República, que levou ao poder Louis Napoleão Bonaparte, sobrinho do Imperador Napoleão Bonaparte. A época propiciou abertura libertária nas artes e, durante três anos os salões suprimiram o júri, que depois foi re-estabelecido. Nessa segunda fase os novos jurados foram escolhidos de forma democrática, eleitos pela comunidade artística.

No Salão Nacional de Belas Artes, promovido depois da implantação das novas regras, a pintura Depois do Jantar em Ornans (1848) de Gustave Courbet (Jean-Desiré-Gustave Courbet, 1819-1877), foi premiada com Medalha de Ouro (1849). Este foi o único prêmio que Courbet recebeu na vida.

No Salão dos Recusados (maio, 1863), participaram obras de Johan Barthold Jongkind (1819-1891), Camille Pissarro (1830-1903), James Whistler (1834-1903), Henri de Fantin-Latour; obras de Armand Guillemin (1841-1927) e de Paul Cézanne (1839-1906), participaram, mas nem foram mencionadas no catálogo.
Édouard Manet (1832-1883), se tornou lendário entre os artistas que seriam hoje considerados de vanguarda, pois, se bem que ele dominasse todas as técnicas acadêmicas, se tornou avançado pelo modo audacioso como abordou seus temas. As obras de Manet foram sucessivamente recusadas por parte do júri dos salões oficiais de arte, até que ele conseguiu expor duas pinturas no Salão de Belas Artes (1861). A primeira foi o retrato dos pais do artista, Monsieur e Madame Auguste Manet (óleo/ tela, 110 cm x 90 cm), obra que recebeu Menção Honrosa. Posteriormente E. Manet submeteu ao júri a pintura O Banho [Le Bain] (1863), que, trocou de título quatro anos depois para O almoço na relva [Le déjeuner sur l' herbe] (óleo/ tela, 207 cm x 264,5 cm), recusado no Salão de Belas Artes, mas que participou do famoso Salão dos Recusados (Paris, 15 maio, 1863). As pinturas de Manet causaram o maior escândalo, foram rejeitadas por parte da Imperatriz Eugênia, a condessa espanhola Eugênia de Montijo, com quem Napoleão III foi casado (1853-).

Pouco antes da realização do Salão dos Recusados (maio, 1863), Manet expôs o conjunto de c. de 16 obras ditas, pinturas espanholas, na sua mostra individual na Galeria Martinet (Paris, 1º mar., 1863). Os quadros foram recebidos de modo deplorável pela imprensa, especialmente devido a crítica ácida de Paul Mantz, publicada na Gazette des Beaux-Arts [Gazeta de Belas Artes] (Paris, Nova York, 1859-1928; 1928-), que se encontra reproduzida (CLAY, 1973):

[...] Esta arte pode parecer honesta, mas não é saudável e nos leva a apresentar o caso do Sr. Manet perante o júri [...]

Ainda o Journal Amusant, publicou:

[...] Delicadas iguarias espanholas servidas ao molho negro pelo Sr. Manet y Courbetos y Zurbarán de los Batignolles [...]

As criticas destilavam evidente menosprezo à arte de inspiração espanhola do artista francês. O período espanhol de Manet rendeu várias pinturas de gênero, como o retrato da dançarina espanhola Lola de Valença (1862), com a roupa pintada com pinceladas claras contrastando com flores multicoloridas bordadas sobre fundo negro na saia de seu traje típico, obra que se encontra reproduzida com detalhes (CLAY, 1973).

Para o júri do Salão de Belas Artes Manet apresentou seu nu Olympia (1863, óleo/ tela, 130,5 cm x 190 cm), quando ele pintou a gloriosa nudez de sua modelo preferida, Victorine Meurent. O que realmente incomodou o público de seu tempo foi o olhar desafiador com que o pintor dotou a jovem retratada: Olympia, até hoje fita, desafiadora, nua e bela, todos os milhões de espectadores que contemplam essa obra-prima da pintura francesa. Na pintura de Manet, a crítica e o público viu a apologia à prostituição. Os jornais da época publicaram vários ditos para Olympia: a Odalisca do ventre amarelo ou a Vênus do gato, entre outras citações irônicas e desabonadoras à arte de Manet. Posteriormente Meurent, tornou-se também pintora e suas obras foram aceitas no Salão de Belas Artes.

No século XX a pintura de Manet, Olympia, foi homenageada por Yasumasa Morimura, na fotografia performática do artista, que se encontra reproduzida (WARR & JONES, 2000. 2002). Todos os quadros citados de Édouard Manet pertencem hoje ao acervo do Museu d' Orsay e se encontram reproduzidos (BONFANTE-WARREN, 2000).


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color. 25,5 x 36,5 cm.

CLAY, J. (Org.); HUYGUE, R. (Pref.) Impressionnisme. Paris: Librairie Hachette - Société d' Ëtudes et de Publications Economiques, 1973.

WARR, T.: JONES, A. (Survey). The Artist´s Body. London: Tracey Warr, Phaidon Press, 2000, 2002.
304p.: il., algumas color. 26 x 30 cm.

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