segunda-feira, 13 de julho de 2015

1905-1995-MÚSICA ERUDITA INOVADORA NO SÉCULO XX (Berlim, 1905-; Paris, 1909-; Nova York, 1950-; Rio de Janeiro, 1987-1988; Belo Horizonte, 1995).

MÚSICA ERUDITA INOVADORA NO SÉCULO XX (Berlim, 1905-; Paris, 1909-; Nova York, 1950-; Rio de Janeiro, 1987-1988; Belo Horizonte, 1995). Considerado como o último dos compositores românticos, Richard Strauss (Munique, Alemanha, 1864-1949), inovou na sua ópera Salomé (Opus 54; Berlim, 1905). Strauss, ao introduzir ruídos e dissonâncias na música, antecipou o atonalismo, presente na obra do pintor, músico e compositor austríaco, Arnold Shoenberg (Viena, 1874-1951), que inventou o dodecafonismo, quando ele abandonou o sistema de composição vigente há séculos na música erudita ocidental. A música de Anton von Webern (Viena, 1883-1945), não ficou conhecida nem foi interpretada na sua época: ele viveu modestamente, primeiro perto de Viena em Mödling-bei-Wien (1918-1932) e depois em Maria Enzerdorf (1932-1945). As composições iniciais do músico receberam a influência de Brahms, G.ustav Mahler (1860-1911) e de seu mestre Arnold Schoenberg, mas logo ele descartou-as para desenvolver seu estilo bastante pessoal. No terceiro período de sua obra musical Webern passou a desenvolver composições radicais: ele compôs à seguir obras minimalistas (1910-1914), baseadas nos poemas Hai-Kais japoneses, quando suas músicas se tornaram muito breves e quase inaudíveis, como no Quarteto de Cordas (Opus 13, 1905) composto com um movimento (15'), música apresentada na primeira récita com o quarteto de cordas da Universidade de Washinghton (26 maio, 1962); e os Cinco Lieder dedicados a Richard Dehmel [Fünf Dehmel Lieder] (1906; pub. 1953, ed. Jacques Louis Monod). Durante os 13 anos seguintes Webern compôs somente para voz, quando rompeu a estrutura tradicional do Lied, melodia acompanhada de voz, compondo obras nas quais, de acordo com a declaração (DUFOURCQ, 1976), de Pierre Boulez (Montbrison, França, 1925-), a voz organiza e supervisiona a distribuição dos conjuntos, Esta fase da obra de Webern durou do Opus 13 ao 19 (inclusive). A música de Webern entrou em outra fase de depuração ascética (1924-1934), quando ele compôs Trio para Corda (Opus 20, 1927), obra apresentada no Festival ISCM (12 setembro), transmitida depois pelo rádio (15 outubro, 1928), com membros do trio para cordas com Rudolf Kolish, Eugen Lehner e Benar Heifetz, respectivamente violino, viola e violoncelo; a Sinfonia (Opus 21) dedicada à sua filha Christine, obra que estreou na Liga de Compositores (Nova York), com a regência do maestro Alexandre Smallens (08 dezembro,1929); o Quarteto (Opus 22, 1930), para violino clarinete, tenor, saxofone e piano, por ocasião do sexagésimo aniversário dediado ao arquiteto Adolf Loos (Brno, hoje República Tcheca,1870-1933); o Concerto Opus 24 para Nove Instrumentos, dedicado a Arnold Schoenberg por ocasião de seu sexagésimo aniversário (1934), cuja estréia deu-se anos depois, com o Conjunto de Câmera da Orquestra Nacional da França sob a regência de René Leibowitz (11 fevereiro, 1947). O músico explorou ao máximo as idéias da melodia de timbres [Klangfarbenmelodie], [revelada e parcialmente desenvolvida por seu mestre A. Schönberg, segundo a qual as notas que constituem uma linha polifônica são atribuídas a diferentes instrumentos. Este método inovador de composição criou um dito, Ambiente Sonoro, permitindo à música atingir sua projeção espacial, saindo do universo ambiental sonoro horizontal-vertical. Igor Fedorovich Stravinsky (Lomonosov, Rússia, 1882-1971), compôs e regeu até os 85 anos de idade: é impossível descrevermos com justiça a sua extraordinária contribuição para a música erudita inovadora no século XX. Nas suas composições o músico revolucionou, dando destaque ao ritmo. A mais conhecida de suas composições é a música para o balé A Sagração da Primavera [Le Sacre du Primptemps] (34´), apresentado inicialmente como Cenas da Rússia Pagã em Duas Partes (1911-1913), dedicado a Nicolas Konstantinovich Roerich (1874-1947), encenado pelos Balés Russos de S. P. Diaghilev (Paris, 1909-1929). A relação completa de todas as composições de Stravinsky se encontra publicada (THOMPSON, 1973). Outro músico inovador com forte veia crítica e cômica foi Erik Satie (Honfleur, Le Havre, França, 1866-1925). Satie compôs a música para o balé Parada [Parade], manifesto tridimensional Cubista de Pablo Picasso, apresentado nos palcos parisienses pelos Balés Russos (Paris, 1917). Satie compôs a música para sua peça teatral, Le piège de Méduse, dita, Comédia Lírica em Um Ato e Nove enas (1913), interrompida por sete danças de um macaco mecânico (M. Jonas). Esta obra, apesar de ser anterior ao movimento Dadaísta, certamente o antecipou; no espetáculo teatral, Satie procurou ilustrar a crítica da linguagem através do emprego de língua estapafúrdia. O músico usou como temática um argumento original e engraçado, que girou em torno de Astolfo, empregado em divórcios e acidentes de trabalho, que desejava pedir em casamento. ao Barão Méduse, a mão de Frisette, sua filha. Essa peça teatral, de comicidade incomum, foi apresentada no Teatro Michel (Paris, 24 maio, 1921). No mesmo ano Diaghilev organizou concerto em homenagem a E. Satie, realizado em Londres. Outra música para balé de E. Satie foi Relaxe [Relâche] (1924), composta para os Balés Suecos, de Rolf de Maré (1888-1961), com libreto de Francis Picabia (1879-1953), autor do argumento do filme Entreato [Entr'acte] (1924), dirigido por René Clair (1898-1981), projetado no intervalo entre os dois atos do espetáculo de balé. Esta peça musical de Satie foi elevada à categoria de primeira peça Surrealista: o espetáculo encerrou a carreira de quatro anos dos Balés Suecos nos palcos parisienses (1920-1924). A obra, que estreou no Teatro dos Champs Elysèes (04 dezembro, 1924), foi levada aos palcos brasileiros. O balé em dois atos Relaxe foi encenado com a Cia. de Dança e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Belo Horizonte, 23-26 setembro, 1995). No espetáculo brasileiro a direção musical e a regência foram do maestro Roberto Duarte, a concepção e a coreografia de Tíndaro Silvano, a cenografia e os figurinos de Marco P. Rolla, o projeto de luz de Jorge Luiz, pintura de arte de Vânia Sales, a criação do vídeo de abertura foi de Marcos Barreto, a coordenação de cena de Raúl B. Machado e coordenação geral de Vera N. Campos e José Zuba Júnior. Para a Cia. de Dança de Minas Gerais a direção foi de Patricia A. Zol e Tíndaro Silvano, com a Maîtresse de Ballet Bettina Bellomo e os assistentes ensaiadores Cristina Rangel, Lydia del Picchio e Cristina Pedroso, tendo como principais bailarinos convidados Fernando Cordeiro e Márcia Guerra, acompanhados do corpo de baile com 24 bailarinos. A instalação do hall de entrada foi concepção de Tarcísio Ramos: a abertura apresentou composições para piano solo de Erik Satie tocadas pelo pianista Eduardo Hazam e seguidas da apresentação de Relaxe, Balé Instantâneo em dois atos e um entreato cinematográfico. Satie escreveu quadro a quadro a música para o filme Entreato (1924), projetado no intervalo entre os dois atos do espetáculo de balé. Esta foi a primeira composição musical criada especialmente para o cinema das vanguardas parisienses, no filme que foi como uma grande brincadeira para um grupo destacado de artistas, entre eles Marcel Duchamp, Man Ray e o bailarino e coreógrafo dos Ballets Suedois, Jean Borlin, entre outros, . Satie escreveu dissonâncias deliberadas no seu conjunto de peças para piano que incluiu Fragmentos em Forma de Pêra (1903); ele compôs a Missa dos Pobres (1895); o drama sinfônico Sócrates (1918), com vozes e leitura, segundo recitação ideal de texto de Platão. Os músicos e pesquisadores Maria da Gloria Capanema Guerra e Paulo Barcelos levantaram todas as partituras compostas por Erik Satie de música de câmera, que divulgaram em um único concerto (Rio de Janeiro, 1987). As teorias libertárias do movimento do Estridentismo Mexicano (v.) influenciaram a obra musical de Silvestre Revueltas (1899-1940), sobre a qual SOTO (1999) declarou que, distante de ser um compositor nacionalista esterotipado, Revueltas foi expressionista com complexa e profunda visão da emoção humana. O músico se tornou conhecido de seu público através do sentido altamente refinado de drama, contraste e movimento. Intelectuais da estatura de Edgar Varèse, Aaron Copland, Manuel Maria Ponce, Amadeo Roldán, Carlos Pellicer, Octávio Paz, Pablo Neruda, Rafael Alberti, Nicolás Guillén e Luis Cardoza y Aragón, admiravam-no. Quanto aos músicos do Futurismo italiano Francesco Balila Pratella (1880-1955), foi compositor e maestro; Luigi Russolo foi instrumentista, pintor e compositor; outros como Alfredo Casella (1883-1947) e Franco Casavolla (1891-1955), foram compositores vanguardistas que se tornaram conhecidos e lançaram vários manifestos sobre a música e ruído. Entre o grupo de músicos experimentais norte-americanos que se destacou no começo do século, citamos Georges Antheil (Trenton, NJ, EUA, 1900-1959), pianista de origem polonesa que viveu na Europa. Antheil recebeu a bolsa Guggenheim Fellowship (1922-1923), quando viajou para Paris, onde entrou em contacto com vários artistas de vanguarda. O músico foi amigo de Salvador Dali, Man Ray, Joan Miró, André Breton e Louis Aragon, sendo que o último escreveu o libreto para a ópera Fausto III, obra inacabada de Antheil. O músico ilustrou musicalmente a obra do Surrealista Max Ernst, realizada na técnica de Colagem, Mulher de 100 cabeças [Fêmme 100 Têtes], com 50 pequenos prelúdios, retomados anos mais tarde e dançados por Martha Graham. Para sobreviver, Antheil tocava piano nas noites parisienses, onde fez bastante sucesso; ele compôs a música para o seu Balé Mecânico para dez pianos, campainhas e serras elétricas, buzinas de automóveis e xilofones. Antheil compôs a música para o filme Retorno à Razão [Retour à la Raison], de Man Ray, exibido na mostra Surrealismo, Cinema e Vídeo, realizada no CCBB (Rio de Janeiro, 2001). Como estudante de música, o grego Yannis Xenakis (1922-) foi discípulo de Arthur Honneger, Darius Milhaud e de Olivier Messiaen; como arquiteto, ele tornou-se assistente de Le Corbusier (Paris). Xenakis ficou mais conhecido como músico do que como arquiteto, por ter sido um dos primeiros que superou a música serial, a eletrônica e a concreta, para, na década de 1950, mergulhar na música composta em parceria com os primeiros computadores. O artista possuía profundos conhecimentos matemáticos que fizeram-no aderir às composições executadas com o auxílio do computador, no qual ele inseriu dados que deram partida para suas inusitadas composições. Xenakis compôs para orquestra Metastasis (1954), Phitoprakta (1956) e Achorripsis (1957); e, para meios concretos e eletrônicos, o Concerto PH, Diamorfosis e Analógica A + B. Uma de suas mais surpreendentes composições foi Estratégias (1963), música composta para dois maestros e duas orquestras, que competiam em combate frontal, cujos golpes eram fragmentos musicais, enquanto um computador servia de árbitro. No caso de suas inovadoras composições, Xenakis buscou, acima de tudo, a liberdade: nelas ele utilizou a aliança de vários instrumentos, que concorreram em prol do desenvolvimento espacial da música. A estratégia possibilitou ao músico alçar vôo em busca de ilimitadas perspectivas inovadoras, nas quais, sem dúvida, a indeterminação e o acaso desempenharam o seu papel. A trajetória concreta e eletrônica marcou, através do estudo da escala sonora, a composição Metastasis: nela, o compositor se rebelou contra a construção linear da música serial, e resolveu de modo matemático o problema da distribuição das alturas musicais na totalidade do espaço físico. REFERÊNCIAS SELECIONADAS: ARTIGO. MARTINS, S. 100 Anos de Dissonância. São Paulo: Veja, 1º Abr., 2009, pp. 120-123. ADES, et al, 1997, pp. 127-129. BEHAR, H. Sobre el Teatro Dada y Surrealista. Barcelona: Barral Editores, 1970, pp. 79-81. DORY, K.; LEVINE, B. M. Music of Latin American Masters: Silvestre Revueltas: Redes, Sensemayá. Julian Orbon, Concerto Grosso for String Quartet and Orchestra. Alberto Ginastera, Pampeana n. 3. Simon Bolivar Synmphony Orchestra of Venezuela: Eduardo Mata, Conductor, Cuarteto Latinoamericano. (v. catálogo Dorian Records, n. DOR-90178, recorded at Aula Magna of the University Central de Venezuela, Caracas, Nov., 1992). DUFOURCQ, et al., 1976, pp. 180, 185, 303, 325, 355, 359, 364, 365, 369, 373, 378. HAGER, 1989, p. 299. MORAES, J J. Música da Modernidade. Origens da música de nosso tempo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983, pp. 115-122. PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 146.. PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p. 97, 301 SHEAD, 1989, pp. 142, 145, 154. SOTO, Eduardo Contreras. Revueltas, Centenial Anthology, 1899-1999. 15 Masterpicies. Eduardo Mata, New Philamornic Orchestra. David Atherton, com a London Sinfonietta. Luis Herrera de la Fuente com a Orquestra Sinfónica de Xalapa. Leopoldo Stokowski com sua Orquestra. (catálogo 09026-63548-2) www.bmgclassics.com

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