terça-feira, 22 de abril de 2014

TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): FOTOMONTAGEM NA ILUSTRAÇÃO DADAÍSTA (Alemanha, principalmente Berlim, 1916-1924; e Praga, República Tcheca, 1925-).

 
 
TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): FOTOMONTAGEM NA ILUSTRAÇÃO DADAÍSTA (Alemanha, principalmente Berlim, 1916-1924); e Praga, República Tcheca, 1925-).

 


A técnica da Fotomontagem nasceu da manipulação das imagens fotográficas, que emergiram nas Colagens Cubistas, e posteriormente nas Futuristas, quando fragmentos cortados de fotografias, recortes de jornais, anúncios e rótulos de produtos, lantejoulas e objetos foram aplicados a desenhos e pinturas. Esse processo de colagens fotográficas, com fotografias recortadas e retocadas, associadas a desenho e outras técnicas, dita, Fotomontagem, foi largamente utilizada no movimento Dadaísta alemão, e, mais especificamente, berlinense, logo após a derrota da Alemanha na I Guerra Mundial (I GM). Esse processo ilustrou as revistas lançadas na época, especialmente as publicadas pela Editora Malik (Malik Verlag, Berlim, 1916-1924; v. abaixo). As páginas dessas revistas publicaram as ilustrações perturbadoras de George Grosz e as instigantes fotomontagens de John Heartfield.

 
Heartfield se destacou como artista gráfico dedicado à fotomontagem, de crítica política e social, nesses tempos conturbados da vida do povo Alemão. O artista não fotografava, mas concebia suas obras na técnica da fotomontagem com precisão, desenhando e indicando todos os detalhes da ilustração desejada a lápis. Depois desse preparo, Heartfield solicitava aos fotógrafos associados que fotografassem o tema proposto, de acordo com suas especificações. O maior colaborador de Heartfield, quem produziu o maior número de fotografias utilizadas nas suas fotomontagens, foi o fotógrafo alemão Rolf Reiss. A técnica de fotomontagem que Heartfield utilizou, agrupou várias fotografias juntas; muitas vezes o artista alterou a escala e justapôs passado e presente. Heartfield introduziu nas suas fotomontagens várias fotografias em negativo ou raio X. O artista anexou e justapôs desenhos e pinturas juntamente com as fotografias, especialmente posadas para a finalidade proposta por ele, através de seus esboços precisos. As fotomontagens tinham temas previamente escolhidos, como, por ex., a guerra espanhola, bem como os julgamentos nazistas, entre outros. Ainda hoje, passadas muitas décadas da produção de John Heartfield, sua obra encontra-se posicionada na dimensão universal. As fotomontagens e ilustrações de Heartfield podem ser apreciadas visualmente, pois são de compreensão imediata, dispensam qualquer explicação de natureza histórica para a inserção no seu verdadeiro contexto temporal. Nas mais de 200 fotomontagens produzidas por Heartfield, ele combateu o nazismo, ridicularizando seu principal líder. As suas obras nessa técnica ilustraram revistas Dadaístas da editora familiar, dirigida por seus irmãos, Tom e Wieland Herzefeld, a Editôra Malik.
 
Heartfield colaborou com as ilustrações do livro Alemanha, Alemanha Acima de Tudo (1928),de Kurt Tucholski para o qual ele criou imagens críticas de viéz satírico utilizadas na composição das fotomontagens, da capa e contracapa. Outras obras do artista merecem citação, como a contundente fotomontagem de ataque ao Congresso do PSD/ Partido Socialista Democrata (jun., 1931). Na época, os titulares do capital não conseguiram estabelecer a hegemonia política na República de Weimar (1930-1932; v. Grupo da Nova Objetividade na República de Weimar). Nessa obra, Heartfield colocou o tigre como imagem do capitalismo da direita autoritária, apresentando grande contraste entre a imagem que ele escolheu e o texto do cartaz. Em outra fotomontagem de Heartfield, O Homenzinho Pede Donativos (1932), Hitler aparece diminuto face à grandiosa imagem do capitalista em primeiro plano, cuja mão estendida com dinheiro em quantidade ele destacou, através do desenho, mostrando o poder no enorme anel de brilhante no dedo. Em outra fotomontagem, Luz para a Noite (23 fev., 1933), Heartfield indicou o culpado pelo incêndio do Parlamento, evento que favoreceu a ascensão de Hitler: a imagem foi publicada na AIZ [Arbeiter-Illustriert Zeitung] ou Revista Ilustrada do Trabalhador (Berlim, 14 set., 1933) e, ainda no mesmo ano, a capa (02 de nov.), foi a fotomontagem Irmãos Idênticos, Assassinos Idênticos, na qual Heartfield evocou a relação perniciosa de Rudolf Hess com Hitler, desenhando o punhal pingando sangue na mão do criminoso nazista Hess, enquanto Hitler esmagava a Alemanha, pisando em cima de seu mapa.
 
 
 
Em outras obras de Heartfield, criadas na mais pura essência Dadaísta, o artista ridicularizou Hitler de forma incisiva como em Adolf, o Superhomem: Engole Ouro e Jorra Bobagens (Adolf, der Ubermensch: Schluckt Gold und redet Bloch, 1932); esta fotomontagem, bem como outra contundente, que mostrou Hitler discursando na frente do espelho que refletia a imagem da caveira, intitulada Espelho, Espelho Meu, Quem é Mais Forte em Todo o País: a Crise, ilustração que foi capa da publicação AIZ (24 ago., 1933) e encontra-se reproduzida com o título de Falando, Falando...[Spieglen, spieglen] (BIRO, 1982), e ambas, com a tradução correta do título se encontram reproduzidas no catálogo da extensa mostra intitulada John Heartfield Fotomontagens, organizada por Jorge Schwartz e Marcelo Monzani no Museu Lasar Segall (São Paulo, nov., 2012).
No início da década de 1930, quando os nazistas assumiram o poder no país (1933), Heartfield foi obrigado a refugiar-se em Praga (República Tcheca). No exílio forçado, o artista criou 235 fotomontagens, uma por semana, publicadas na A.I.Z./ Arbeiter Illustrierte Zeitung (1899-1932), periódico fundado em Berlim que transferiu-se com toda sua redação para Praga (1933-). Na sua arte, John Heartfield buscou desmascarar a propaganda nazista, que sempre se utilizou de fotografias adulteradas publicadas na imprensa da época como se fossem documentos válidos de seu tempo.
 
Em Berlim, Grosz reivindicou para si a autoria da invenção da técnica de Fotomontagem Dadaísta, também atribuída a John Heartfield, Raoul Hausmann e a Hannah Höch. Todos esses artistas alemães de vanguarda utilizaram com maestria essa técnica como instrumento de contundente crítica social e política, voltada contra a ascensão do nazismo na sociedade alemã.
O artista húngaro El Lissitzky, professor da Bauhaus alemã, utilizou fragmentos de fotografias para compor as fotomontagens que ilustraram as Seis Histórias de Final Feliz, de Ilia Erhenburg, lançadas na revista Vechtch/ Gegenstand/ Object editada pela dupla, El Lissitsky e Ehrenburg, que publicaram três números, cada um traduzido em três idiomas. A publicação foi direcionada à divulgação da arte dos Construtivistas russos na Europa (Berlim, 1922-1923).
Max Ernst realizou interessantes Colagens e Fotomontagens (v.) como o seu Auto-Retrato (c. 1920), que se encontra reproduzida (ADES, et. al., 1978). Em outras obras o artista utilizou gravuras do século XIX, que colou com tal perfeição que parecem originais desenhados. Não sabemos se Ernst utilizou recortes de fotografias em outras de suas extensas obras realizadas na técnica de Colagem; ele não utilizou fotografias nas suas interessantíssimas colagens que formaram o livro Uma Semana de Bondade (1934), que estiveram em exposição no MASP (São Paulo, abr. - maio, 2010).
Jeanne Bucher (v. biografia), tradutora e negociante de artes, abriu sua livraria na rua du Cherche-Midi, com a finalidade de emprestar livros estrangeiros: o estabelecimento tornou-se frequentado pelas vanguardas artísticas. Bucher aceitou os conselhos de Jean Lurcat e anexou à livraria sua Galeria de Arte, para expor e comercializar as obras de seus amigos artistas. Bucher propôs aos artistas que criassem desenhos para ilustração dos livros que ela passou a editar, juntamente com várias tiragens de gravuras de seus amigos. Foi Bucher quem editou os primeiros livros ilustrados por Juan Miró e Jean Lurçat; ela lançou livros ilustrados com Colagens de Max Ernst, a História Natural [Histoire Naturelle] (1926) e Uma Semana de Bondade [Une Semaine de Bonté] (1927).




REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978, pp. 79-86, 88, 103, 118.
 
BIRO, A.; Passeron,R Dictionaire Général du Surréalisme et ses environs. Fribourg: Office du livre - Presses Universitaires de France, 1982, p. 16.
 
DICIONÁRIO. BREUILLE, J-P. Le dictionnaire mondial de la photographie: la photographie des origines a nos jours. Sous la direction de Jean-Philippe Breuille. Paris: Larousse, 1994. 735p.: il., retrs., pp. 290-291.
 
 
ENSAIO. Evans, D. John Heartfield: Fotomontagens, 1930-1938. Apud CATÁLOGO. John Heartfield Fotomontagens. Jorge Schwartz, Marcelo Monzani (Orgs.). São Paulo: Museu Lasar Segall, nov. 2012, pp. 114-149.
BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il., p. 222.
 
FABRIS, A. Photomontage as political function. São Paulo: 2003, pp. 11-57.
 
GIBSON, M. Duchamp Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 263p.: il., pp. 84-93, 111.
 
PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, pp. 172-173.
 
TESCH, J.; HOLLMANN, J. Icons of Art: the 20th Century. New York: Ekhardt Hollman, Prestel, 1997. 216p.: il, pp. 87, 88.

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