CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO.
2. CUBISMO, PRIMEIRA FASE, ANALÍTICA, 1908-1910.
3. CUBISMO, SEGUNDA FASE, HERMÉTICA, 1910-1912.
4. CUBISMO, TERCEIRA FASE,ABSTRATA,1912-1914.
5. CUBISMO, QUARTA FASE, CRISTAL, 1914-1925.
CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO FRANCÊS.
1. PROTO-CUBISMO (PARIS, 1907-1908)
Destaques: PICASSO, Pablo e Georges BRAQUE.
No âmago do desenvolvimento da arte moderna e no princípio da revolução estética do seculo XX se encontra o Cubismo, iniciado na França. Os seus mais importantes artistas foram os espanhois Pablo Picasso (1881-1973) e Juan Gris (1887-1927); os franceses Georges Braque (1882-1963), Marcel Duchamp (1887-1968), Robert Delaunay (1885-1941), Jean Metzinger (1883-1956), Albert Gleizes (1881-1953), Henri Laurens (1885-1954), Fernand Léger (1881-1955), Jacques Villon (1875-1963) e Henri Le Fauconnier (1881-1946); os escultores franceses Henri Laurens (1885-1954) e Raymond Duchamp-Villon (1876-1918); os escultores russos Alexander Archipenko (Kiev,Ucrânia, 1887-1968) e Jacques Lipchitz (Druskieniki, Lituânia, naturalizado, 1891-1973); a artista multimídia russa, pintora, ilustradora e tapeçeira, Sonia Delaunay-Terk (Gradiesk, Ucrânia, naturalizada, 1885-1979), e todos tendo como centro de convergência e convivência a cidade de Paris. O movimento recebeu a influência dos precursores Jean-Dominique Ingres (1780-1867) e Paul Cézanne (1839-1906); e do intelectual, escritor e crítico de arte das nascentes vanguardas, Guillaume Apollinaire (1880-1918).
Desde o começo do século XX a influência de Cézanne se fez sentir, quando, em carta a Émile Bernard, o artista declarou (15 abr., 1904):
Braque logo avaliou a extrema importância do nascente movimento e abraçou o estilo do Cubismo quando ele pintou a paisagem La Ciotat (verão 1907); e Casario em Estaque (1908, óleo/ tela, 73 cm x 60 cm, no acervo do Kunstmuseum, Berna), pintado na região próxima a Marselha, quadro que encontra-se reproduzido (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 138). Quando Braque pintou esses quadros ele fez restrição à intensa paleta de cores dos artistas em evidência nas vanguardas francesas, pertencentes as Feras ou Fauves [Fauvistas] (1905-1908; v.). Braque escolheu cores básicas e suas variantes, bem como a simplificação do estilo geométrico notada mais dramaticamente na segunda pintura citada, que recebeu a visível influência estilística de Paul Cézanne.
Henri Matisse (1869-1954) expôs duas pinturas no Salão dos Artistas Independentes (1906): A Alegria de Viver e As Três Banhistas. A última obra foi inspirada na pintura famosa da maturidade de Ingres, O Banho Turco (1862). Nesse inverno, Picasso e Matisse se conheceram, por ocasião do encontro no salão parisiense da intelectual, escritora e colecionadora de arte Gertrude Stein, de quem Picasso pintou o retrato Proto-Cubista (1906; v. Círculo de Gertrude e Léo Stein). No ano seguinte e no mesmo salão Picasso foi apresentado a Georges Braque. Picasso pintou seu Auto-Retrato, da fase Proto-Cubista (1907). Como a principal característica dessas pinturas Proto-Cubistas, a simplificação dos traços, que se acentuaram na busca pela inovação no novo movimento, o Cubismo (Paris, 1908-1925).
Matisse expôs seu Nu Azul, Souvenir de Biskra no Salão dos Artistas Independentes (mar., 1907); e André Derain (1880-1954) suas Banhistas [Baigneuses]. Neste ano ocorreu a primeira mostra retrospectiva de Paul Cézanne, quando foram apresentadas quase 80 aquarelas do mestre na Galeria Ambroise Vollard. No Salão de Outono foi apresentada nova mostra retrospectiva de Cézanne, com 56 pinturas a óleo do artista falecido apenas um ano antes. A partir desta mostra somaremos várias influências, da Arte Negra (v.) e das releituras frequentes das obras visuais de Cézanne, bem como de seus escritos teóricos que deram ensejo ao nascimento do Cubismo.
Picasso descobriu a escultura negra: foi ele quem mais claramente absorveu as lições da Arte Negra. O pintor, fascinado e influenciado, pintou As Senhoritas de Avignon (Les Demoiselles d'Avignon, 1907, óleo/ tela, 243,9 cm x 233,7 cm, no acervo do MoMA, Nova York). Nasceu com esse quadro a dita, Figuração Cubista, devido à composição revolucionária da pintura. Esse quadro de Picasso, que pertence à fase da obra do dito, Proto-Cubismo, ou seja, anterior ao Cubismo, na composição mostra profunda e intensa reflexão, pois a pintura foi muito bem estudada pelo artista. Picasso produziu 19 esboços para a obra, sem contarmos os inúmeros estudos individuais de cada figura, além do primeiro esboço; o quadro completo, cuja imagem e do Busto de uma Mulher (estudo para As Senhoritas de Avignon, 1907, óleo/ tela, 58,5 cm x 46 cm, no acervo do MoMA, Nova York), encontram-se reproduzidas (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 6-7).
O nome inicial do quadro foi O Bordel Filosófico; somente depois que o costureiro Jacques Doucet adquiriu a tela, foi que o quadro recebeu o nome com o qual ficou conhecido (1920-). Esse quedro, de dimensões de expressiva monumentalidade, mantém fortíssima a impressão visível da influência da Arte Negra, acentuada pela ênfase na agudeza dos ângulos formados pelas posições dos braços, cotovelos e joelhos das figuras femininas, bem como da mesa e da fatia de melancia e, mesmo dos espaços vazios da tela, cuja angularidade ainda podemos notar entre as cinco figuras. No quadro, as senhoritas apresentam composição entrelaçada, porém mantendo visível a independência de cada figura; as mãos foram desenhadas com traços diferentes, e suas faces, do lado direito do quadro, relembram máscaras africanas. Os olhos foram bem acentuados nas faces que apresentam formas cubistas, marcantemente Picassianas. A única figura sentada tem o corpo voltado para a frente, mas a face modificada, que é nitidamente Cubista, está voltada para o espectador. Podemos notar na face das duas senhoritas, pintadas do lado direito da obra, a lição da Arte Negra assimilada por Picasso.
Essa pintura, marco na produção das vanguardas ocidentais, refletiu a ruptura de vários cânones longamente estabelecidos para as artes. Na obra, o tema principal abordado por Picasso não foi realmente as ditas, senhoritas, suas figuras ou expressão, mas o verdadeiro tema abordado foi a quebra de todas as normas estabelecidas para a pintura, há centenas de anos, desde a primeira regra, da perspectiva do ponto de vista de um único ângulo de visão; e da segunda regra, da pintura com um único estilo por quadro, confrontado aqui com a diversidade dos vários estilos de pintura apresentadas no mesmo quadro; e da terceira regra, da arte nascida das teorias Cubistas, que produzia distorções propositais pesquisadas por Picasso. A quebra de todas estas regras deu-se justamente naquele peculiar momento em que a maioria dos artistas buscava a afirmação da estética condizente com o início do novo século, o XX.
O quadro As Senhoritas de Avignon não apareceu em público senão 13 anos após a sua criação: a obra permaneceu por mais de 2 anos coberta com um pano no estúdio de Picasso. O quadro foi somente exibido publicamente décadas depois de sua criação (1937-), mas exerceu influência de extrema capilaridade entre os artistas e convidados de Picasso, desejosos de contemplar essa obra-prima da arte das vanguardas ocidentais.
De 1909 a 1911 se associaram ao Cubismo outros artistas como Marcel Duchamp, Roger de La Fresnaye (1885-1925) e Louis Marcoussis (1883-1941); os escultores Constantin Brancusi (1876-1957) e Alexander Archipenko. Foram teóricos do Cubismo Albert Gleizes e Jean Metzinger, sendo que o último citado se dedicou ao ensino da pintura, juntamente com Henri Le Fauconnier na sua academia, A Paleta [La Pallette]. Foram alunas as artistas russas Olga Rozanova (1886-1918), Nadeshda Udaltsova (1885-1961), Aleksandra Ekster (1882-1949) e Vera Pestel (1887-1952). Rozanova levou o livro O Cubismo (Le Cubisme, Paris, 1912), de Gleizes e Metzinger, para a Rússia, onde foi traduzido por Ecatarina Guro, irmã de Elena Guro (1877-1913), onde influenciou a formação do movimento do Cubo-Futurismo russo São Petersburgo, 1913; v. no meu Blog,
arterussaesovietica.blogspot.com).
CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO FRANCÊS.
1. CUBISMO, PRIMEIRA FASE ANALÍTICA, 1908-1910.
Na primeira fase Braque e Picasso desenvolveram o Cubismo juntos, essa arte baseada em teorias; eles se tornaram amigos, mas somente até o início da Primeira Guerra Mundial (1914). Na época o Cubismo terminou para a maioria dos outros artistas. Braque apresentou paisagens junto com seu Nu, no qual ele homenageou o nu ingresco, na seleçào do Salão de Outono, sendo que todos os quadros foram recusados pelo júri do qual fez parte Henri Matisse. Os cubistas, por esssa razão, afastaram Matisse de seu grupo. Os quadros de Braque, inclusive o Grande Nu (1907-1908, óleo/ tela, 142 cm x 102 cm), que se encontra reproduzido (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 10), somente foram exibidos na sua primeira mostra individual realizada na Galeria de Daniel-Henry Khanweiller (1884-1979), sendo a apresentação no convite escrita por Guillaume Apollinaire (1908).
A galeria de D-H. Khanweiller foi de importância fundamental no desenvolvimento do Cubismo: foi lá que os jovens artistas encontraram apoio para suas carreiras e para a arte do nascente movimento. Esse comerciante apoiou as vanguardas francesas, desde a poesia dos intelectuais vanguardistas como Guillaume Apollinaire, André Salmon (1881-1969) e Max Jacob (1876-1942), que ele foi o primeiro a publicar. A mostra individual de Georges Braque foi alvo de pesadas críticas: o jornalista Louis Vauxcelles, crítico da revista Gil Blas foi quem nomeou o Cubismo [Cubisme], ao publicar sua opiniao desfavorável à pintura de Braque. O nome Cubismo repercutiu negativamente, mas os artistas aceitaram-no com restrições. Khanweiller adquiriu para sua galeria de arte as primeiras pinturas de Pablo Picasso, diretamente do ateliê do artista, que começou a divulgar internacionalmente (1907-1908).
CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO FRANCÊS.
2. CUBISMO, SEGUNDA FASE HERMÉTICA, 1909-1910.
Foi curioso o processo nascente de características marcantes da primeira fase da Figuração Cubista, do chamado Cubismo Analitico, que Picasso estendeu a tudo, desenhando, pintando e esculpindo. Gris, Braque e outros artistas logo absorveram a compreensão desse estilo, visto claramente nas obras do período. A Figuração Cubista apresentou dinamismo próprio e mudou logo, evoluiu, devido ao concurso da grande amizade entre Braque e Picasso, cujas brilhantes mentes criativas concorreram nas inovações, juntamente com Fernand Léger.
No verão em Horta de Ebro (1909), Picasso pintou inúmeras paisagens cubistas, que nos remetem diretamente à influência das paisagens de Cézanne do Monte Santa Vitória, pintadas c. dez anos antes. As pinturas mais importantes de Picasso na época foram: (01). O Reservatorio da Horta de Ebro (1909, 81 cm x 65 cm), que pertenceu à coleção de Gertrude Stein (Z 261); (02). A Usina em Horta de Ebro (1909, 53 x 60 cm, hoje no acervo do Museu Ermitage, em São Petersburgo), que pertenceu à coleção de Sergei Schoukine (Z 267); (03). Paisagem com Ponte (c. 1909, 81 x 100 cm, na Galeria Narodni do Museu de Praga (277, não há certeza se foi produzida em Horta de Ebro, pois não figura no catálogo Zervos). Esses foram os quadros iniciais de Picasso para a Figuração Cubista.
Picasso voltou a desenhar a figura humana nos seus estudos, quando alcançou maior liberdade no traço que foi adquirindo mais e maiores ângulos, exaltando e destacando nas partes independentes a deformação das figuras. São exemplos da primeira fase na obra de Picasso os quadros Cabeça (1909, 61,8 x 47,8 cm, sd, Zervos II 1.140 (232); Cabeça (1909, 31,5 x 24,2 cm, crayon conté, Z VI 1084 (240); Cabeça (1909, 63,0 x 47,0 cm, bico de pena sépia que não figura em Zervos. Essas obras se encontram reproduzidas (CACHIN; MINERVINO, 1977).
Continuando a se inspirar em Cézanne e na Arte Negra, Picasso efetuou a verdadeira dissecação da figura humana, aplicando-lhe as mesmas volumétrias das esculturas africanas, na análise detalhada e quase científica das diferentes formas da face, que, um pouco mais tarde, resultou na revolucionária conquista espacial da primeira escultura cubista, executada por ele, a Cabeça de Fernande (Bronze, 40,5 cm x 23 cm x 26 cm, Paris, outono, 1909), no acervo do Museu Picasso, que se encontra reproduzida lado a lado com a pintura Cabeça de Fernande 1909, óleo/ tela, 61 cm x 43 cm, no acervo do Kunstsammlung, Nordrhein-Westfalen, Dusseldorf) (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 132).
As telas de Picasso tornaram-se quase que completamente monocromáticas, privilegiando os tons beges e cinzas na multiplicidade de tons e semitons. As figuras foram absorvidas por todas estas facetas e desapareceram, restando apenas alguns traços visíveis, marcantes e característicos de cada figura, de caráter caricatural, como podemos observar nas pinturas Retratos do Poeta (G. Apollinaire) e de George Braque, D-H. Khanweiller, Wilhelm Uhde e Ambroise Vollard. São exemplos claros da segunda fase, presente na pintura da Figuração Cubista de Picasso, dita, Analítica.
O retrato de Daniel-Henry Khanweiller (1910, 100,1 cm x 73,3 cm, no Instituto de Artes de Chicago) e o Retrato de Ambroise Vollard (1910, 93 cm x 66 cm), que figurou na coleção do russo Sergei Schoukine, confiscado depois da Revoluçào Russa, em 1918, agora no acervo do Museu Pushkin de Belas Artes, Moscou, Rússia (Zervos II 1. 197, 325) e o Retrato de Wilhem Uhde (1910, 81 cm x 60 cm, na Coleção Pulitzer, Saint Louis), todos encontram-se reproduzidos (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 84-85;90-91). No Retrato de Braque (1909, 61 cm x 50 cm, coleção Crowninshield, Nova York) a figuração é desabonadora. Outro quadro, conhecido como o Retrato de Apollinaire, o Poeta (1912, 60 cm x 48 cm, Kunstmuseum, Bâle, Suíça, Z II 1. 313,455), influenciou Fernand Léger e Juan Gris.
Nessa fase Analítica as facetas das figuras foram se multiplicando até ficarem submersas em centenas de planos de semitons diferentes, com pinceladas que apresentavam paralelismo no sentido horizontal dos planos de cores em meios tons. As cores escolhidas eram quase mortas, apresentavam poucas vibrações, e, nas pinturas, sobressaíam alguns detalhes figurativos marcantes. No espaço dos quadros dessa fase a figura se encontra decomposta, fragmentada, dividida na multiplicidade de facetas; desapareceu o relevo no objeto analisado, sendo todos os elementos reduzidos ao mínimo na superfície plana da tela. Nessa fase da Figuração Cubista o objeto se encaminhou para o beco sem saída da emergente Abstração, na qual o fundo se fundiu com o tema da pintura, nas obras nas quais desapareceu qualquer noção de perspectiva e as cores se transformaram em semitons pálidos (Paris, 1909-1910).
Picasso começou a pintar telas ovais com Mulher ao violão [Femme à la Mandoline] (1910-); Violino, Taça de Vinho, Cachimbo e Tinteiro (1912, 81 cm x 54 cm, na Galeria Narodní, Praga), e Violino (1912, 55 cm x 46 cm, no Museu Pushkin de Belas Artes, Moscou, Rússia), que encontram-se reproduzidas (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 92-93). Picasso foi seguido por Braque, Léger e Gris, quando, nessa fase, as pinturas de todos os expoentes cubistas se tornaram extremamente parecidas, como podemos ver nas obras do período dos citados. A identidade dos cubistas quase desapareceu, quando tudo se fundiu e se confundiu, e, se não fosse pela assinatura disposta no verso da tela, característica do Cubismo, não poderíamos reconhecer alguns quadros, nem sabermos a que pintor atribuir a obra.
O Salão dos Artistas Independentes (Paris, 20 mar. - 16 maio, 1911) apresentou a mostra da nova vanguarda Cubista, além da retrospectiva póstuma de Henri Le Douanier Rousseau, que faleceu no ano precedente. No mesmo salão apresentaram pinturas o holandês Piet Mondrian (1872-1944) e o mexicano Diego Rivera (1886-1957), que viviam em Paris e pintaram obras na estética do Cubismo.
CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO.
3. CUBISMO, TERCEIRA FASEABSTRATA, 1912-1914.
O Cubismo de Picasso caminhou a passos largos para sua terceira fase, dita Abstrata (1912-1914). Picasso não pintou mais paisagens: ele passou a pintar objetos do dia a dia com as primeiras sugestões e referências às formas do copo, garrafa, cachimbo, instrumentos musicais como violão, jogo de cartas de baralho e jornais, diários e revistas, além de papéis avulsos colados sobre a tela, como rótulos de bebidas; usualmente as letras dos nomes dos jornais e revistas foram pintadas parcialmente, com o nome apenas sugerido, mostrando também pinturas algumas marcas de produtos de consumo diário presentes na vida de qualquer cidadão francês, objetos participantes na vida diária. Na primeira obra dessa fase Picasso colou pedaço de tecido oleado que representava o tramado de cadeira de palhinha sobre a tela, dita, Natureza Morta à Cadeira de Palhinha (Nature Morte à la Chaise Canée, 1912, óleo/ tela polida envolvida por corda grossa, 29 cm x 37 cm, Museu Picasso, Paris). Essa pintura, que encontra-se reproduzida (APOLLINAIRE; EIMERT, 2010; 36-37), foi a segunda revolução Cubista promovida por Picasso, entre as inúmeras que ele estabeleceu posteriormente, marco na evolução da arte das vanguardas artísticas.
Durante todos estes anos desenvolvendo o Cubismo Picasso pintou um quadro por dia, cada um diferente do outro, avançando na sua estética pessoal. Parte desse período o artista alternou com obras de outros estilos, inclusive realizou cenografias e figurinos para os Balés Russos de Sergei Diaghilev sendo o primeiro Parade [Parada] (Paris, 1917), bem como para os Balés Beaumont, patrocinados pelo Marquês de Cecil de Beaumont (Paris, 1924; 1925; v. detalhes na biografia de Picasso).
Nessa fase pictórica foram explorados outros verdadeiros temas da revolução Cubista na pintura, quando começaram a aparecer nas obras referências à música, apresentando sugestões gráficas que lembravam instrumentos musicais, pautas, letras, e instrumentos como guitarra, bandolim, violino e violão. Outro aspecto a ser ressaltado foi o aparecimento das letras do alfabeto, que primeiro apareceram esparsas, pedaços de palavras, como os que podemos observar nas obras de Juan Gris. Aos poucos as referências foram se tornando mais explícitas e formais.
O início dessas inclusões extraordinárias com colagens de outros materiais nas pinturas ocorreu mais acentuadamente no verão, quando Picasso alugou para passar as férias o monastério em Ceret, no Montes Pirineus, compartilhadas com sua campanheira Fernande Olivier, com o poeta Max Jacob e o pintor Georges Braque (1911). Foi nessa localidade que se instalaram pouco depois, antes do início da I GM, alguns artistas vanguardistas como Auguste Herbin (1882-1960), Gris e Matisse (1914).
No primeiro semestre de 1912, o XXVIII Salão dos Artistas Independentes apresentou mostra Cubista, com a participação de pinturas de Henri Le Faucconier (1881-1946) e esculturas de Archipenko (1887-1964). Obras da artista alemã Jeanne Mammen (1890-1976), que estudava em Paris, também participaram desse salão (v. o Grupo Alemao da Nova Objetividade). O francês Robert Delaunay expôs as suas Janelas Simultâneas: a crítica publicada por Guillaume Apollinaire sobre esse quadro representou o início do dito, Orfismo, que o crítico de arte nomeou, a partir de Orfeu (v.
GRUPO (FRANCÊS) DO CUBISMO ÓRFICO OU GRUPO DO ORFISMO [ORFISME], Paris, 1912-).
A mostra do dito, Grupo da Seção de Ouro [Section d’Or], apresentou mais de 200 pinturas nessa exposição que pode ser considerada como a segunda mostra coletiva do Cubismo. Na inauguração foi lançado o único número da revista Section d' Or [Seção de Ouro]. Essa exposição, que obteve grande sucesso de público e crítica, foi realizada na Galeria La Boétie (10-30 out., 1912). No final do ano foi realizado o Salão de Outono, que apresentou como grande atração a Casa Cubista, realizada pelo decorador André Mares pelo artista plástico Raymond Duchamp-Villon, irmão de Marcel Duchamp. Inúmeros vanguardistas colaboraram com os interiores como Gleizes, Laurencin, Metzinger, La Fresnaye e Villon (Paris, 1-8 nov., 1912). O escândalo Cubista foi tão grande que repercutiu na Câmara dos Deputados.
As pinturas Cubistas de Braque e Picasso participaram da mostra coletiva, Salão de Outono Alemão [Ester Deutscher Herbstsalon], realizado na Galeria da Tempestade (Berlim, março,1913; v.). Esta Galeria de Arte pertencente a Herwarth Walden levou a mostra para Dresden e Munique (Alemanha). Essa mostra reuniu os destaques das vanguardas européias, e, graças aos contactos de Walden, itinerou à Galeria 291 pertencente ao fotógrafo vanguardista norte-americano Alfred Stieglitz, em Nova York.
Picasso e Braque reforçaram sua amizade através da convivência diária, com visitas a museus, mostras e galerias de arte. Os artistas plásticos passaram juntos vários verões, quando Picasso viajou ao sul da França com Braque e amigos (1911, 1912 e 1913). A Primeira Guerra Mundial separou os artistas: Braque serviu ao exército e foi gravemente ferido, mas Picasso não lutou e continuou pintando no estilo Cubista até meados da década de 1920.
CUBISMO [CUBISME] E GRUPOS DO CUBISMO.
4. CUBISMO, QUARTA FASE CRISTAL, 1914-1925.
Picasso foi o único artista que permaneceu Cubista durante um período mais prolongado (1908-1925). O Cubismo de Picasso apresentou três fases distintas: a primeira, com maior influência de Paul Cézanne, ficou conhecida como Fase Cézanista (Paris, 1908-1910). Na segunda fase, a dita, Analítica, Picasso foi imitado por F. Léger, e G. Braque, quando as pinturas ficaram extremamente Abstratas, e muito parecidas umas com as outras, sendo quase impossível distinguir obras de Picasso das de Léger e J. Gris (Paris, 1910-1912). A terceira fase deu início as colagens de materiais diversos sobre a tela, como papel impresso, oleado, rótulos de bebidas, jornais, etc. Braque, que tinha formaçào nas artes decorativas introduziu as técnicas de Trompe l’oeil [Engana o Olhar] nas pinturas, e foi seguido por Juan Gris, entre outros (Paris, 1912-1914). A quarta fase, somente vivida por Picasso, considerada como a de um Cubismo maduro e depurado, foi chamada de Cristal (Paris, 1914-1925).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS;
APOLLINAIRE, G. Aesthetic Meditations on Painting: The Cubist Painters. Paris, 1913. Apud APOLLINAIRE, G.; EIMERT, D.; PODOKSIK, A. (Biograf.). Cubism. Translated by Dorothea Eimert. New York: Parkstone Press International, 2010, 200p., ils. color., pp.6-26.
24.5 cm x 28.5 cm.
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CATALOGUE RAISONNÉ. DAIX, P.; ROSSELET, J. Le cubisme de Picasso: catalogue raisonée de l'oeuvre peint, 1907-1916. Neuchatel: Îdes et Calandes, 1979. 366p.: il.
ENCICLOPÉDIA. READ, H. Encyclopaedia of the Arts. London: Thames and Hudson, 1966.
PICASSO, P. LEIRIS, M.; BERNADOC, M. L. (Og.); PIOT, C. (Intr.). Picasso: Collected Writings. Translated by Carol Volk. New York: Abbeville, 1989. 454p.: il.
PICASSO, P.; CORTENOVA, G. (Colab.); DOLL, C (Adapt.). Picasso. Paris: Grund, 1991. 287p.: il.
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