terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

PRIMEIRA PARTE DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).


O artista plástico e músico russo, Sergei Pavlovich Diaghilev, (1872-1929) transformou-se no bem sucedido empresário dos Balés Russos [Ballets Russes] (Paris, 1909-1929). Quando jovem, Diaghilev sempre conseguiu patrocínio entre a nobreza russa para as primeiras mostras de arte que ele organizou, na Rússia, e no exterior. A primeira no estrangeiro foi a Sala Especial Russa, no Salão de Outono (Paris, 1906). Para essa mostra, organizada com a colaboração do vanguardista Mikhail Larionov (1881-1964), Diaghilev trouxe para a capital francesa desde preciosos ícones antigos até obras dos artistas contemporâneos russos, que pertenciam à associação de artistas Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (São Petersburgo, 1898-1904; 1910-1924). Diaghilev foi organizador desse grupo, juntamente com o artista plástico e cenógrafo russo Alexandre Benois (Aleksandr Nicolaevich Benua, 1870-1960).

Desde a primeira mostra de artes plásticas realizada na Rússia, Diaghilev foi patrocinado pelo Grão Duque Vladimir, até que o nobre faleceu (1909). Entre os vários Presidentes de Honra dos comitês de patrocínio europeus, incluiu-se a Condessa de Greffulhe, casada com banqueiro e patronesse da importante Sociedade dos Concertos Franceses [Société des Concerts Français], que representava uma das mais poderosas presenças na cultura de seu país. Diaghilev apresentou sua idéia e a Condessa aderiu: foi ela quem tornou possível a primeira exposição de Arte Russa, em Paris (1906). Outras das distintas patronesses dos Balés Russos foram Misia Sert (Maria Zofia Olga Zenadja Godbeska, 1872-1950, depois Nathanson, James e, finalmente, Sra. José Maria Sert, 1874-1945); a Mademoiselle Gabrielle Coco Chanel e a Princesa de Polignac, entre outras.

Nos palcos russos Diaghilev apreciou o balé Chopiniana, com a coreografia original que Michel Fokine (1881-1942) criou para a Récita de Gala do Balé Imperial, realizada no Teatro Maryinsky (São Petersburgo, fev., 1907). Este evento resultou na nova apresentação parisiense do balé As Sílfides [Les Sylphides], com a adaptação do Noturno em A Sustenido, da Valsa Brilhante (C Menor) de Fréderic Chopin, que Igor Fedorovich Stravinski (1882-1971) posteriormente orquestrou (1909). Nessa ocasião o balé foi apresentado com a orquestra sob a regência do maestro Sergei Grigoriev (1883-1968). Esse balé, dançado pela grande estrela russa Anna Pavlova (1882-1931), estreou no Théâtre du Châtelet (Paris, 02 jun., 1909).

Os trajes e cenários dessa sua primeira produção, Diaghilev confiou aos até então mais destacados entre os pintores russos pertencentes à associação de artistas O Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (v.). Na estréia, os cenários e figurinos foram de autoria de Léon Bakst (1866-1924) e de Valentin Alksandrovich Serov (1865-1911). Posteriormente, Bakst se tornou o mais celebrado cenógrafo russo na Europa, artista têxtil, especializado em figurinos teatrais.

Os músicos Walter Nuvel e Nicolas Tcherepnin, ajudaram o empresário iniciante escolher o repertório para sua primeira temporada parisiense. O balé proposto foi O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide], apresentado recentemente nos teatros russos. Essa produção de estréia dos Balés Russos de Diaghilev, foi obra de colaboração entre o coreógrafo Michel Fokine, o compositor da música, Tcherepnin, e o cenógrafo Alexandre Benois (Aleksandr Nicolaevich Benua, 1870-1960). Desde então, o que predominou nas montagens dos espetáculos da companhia foi a essência do palco projetado na filosofia wagneriana, do Trabalho de Equipe [Gesamtkunstwerk].

O segundo balé escolhido para a primeira temporada foi Uma noite no Egito [Une nuit d'Egypte], com música de A. S. Arensky, que Diaghilev trocou de nome para Cleópatra [Cléopâtre] (1909). O empresário não gostou da música composta por Anton Stepanovich Arensky, e trocou-a por vários trechos de peças musicais de autoria de Nicholas Tcherepnin e dos integrantes do Grupo dos Cinco (v.).

Diaghilev começou a assinar contratos com seus primeiros bailarinos, Anna Pavlova e Tamara Kasarvina. Diaghilev viu Vaslav Nijinski (1889-1950), dançar nos palcos russos, quando o jovem bailarino tinha apenas 16 anos de idade; Nijinski foi-lhe apresentado pelo príncipe Pavel Dimitrievitch Lvov (1908). O jovem bailarino precisou encenar seu primeiro escândalo no palco russo para conseguir a dispensa da companhia na qual ele trabalhava. Assim que Nijinski viu-se livre das amarras, viajou para Paris em companhia de Sergei Diaghilev, que, posteriormente tornou-o, não só seu amante, mas o principal bailarino e, posteriormente, coreógrafo da companhia. Na escolha dos balés que seriam encenados pelos Balés Russos nos palcos europeus, o empresário determinou os primeiros papéis de destaque para o talentoso jovem bailarino.

O empresário russo tornou-se mundialmente conhecido: ele promoveu o primeiro entre cinco concertos de música clássica e ópera russa (1907; 1908), eventos organizados conjuntamente com Gabriel Astruc (1864-1938), diretor da Revista Musical [La Révue Musicale]. Na primeira temporada da dita, Saison Russe, Diaghilev apresentou a ópera de Nicolai Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908), A lenda da cidade invisível de Kitszh e da virgem Fevrônia (1868), baseada na narrativa popular da tradição oral russa (Paris, 1907). Na segunda Temporada Russa, o programa operístico apresentou, pela primeira vez no ocidente a ópera Ivan o Terrível, de N. Rimsky-Korsakov, baseada na história da revolta dos habitantes de cidade contra o Czar Ivan, nome com que a obra estreou inicialmente nos palcos russos (1907). Diaghilev levou essa ópera para os palcos parisienses com a regência do próprio compositor. Foram muito admirados os cenários de Ivan o Terrível, criação de Nicolai Konstantinovich Roerich (1874-1947). No papel principal, o baixo russo Fiodor Ivanovich Chaliapin (1873-1938), como Ivan, tão admirado como no outro papel que ele desempenhou na mesma temporada, o de Bóris, na ópera Bóris Godunov (Paris, 1908). Essa outra ópera, com música (1891) de Modest Petrovich Mussorgski (1839-1881; v. o Grupo dos Cinco, músicos russos), baseada no texto de Alexandre Puchkin (1709-1737), recebeu a cenografia e figurinos de Ivan Bilibin (Jean Bilibine, 1876-1942), e foi orquestrada por Sergei Vasilievich Rachmaninov (1873-1943). Foi apresentada a segunda ópera, a hoje esquecida Judith, de Valentin Aleksandrovich Serov (1865-1911).

Para a segunda parte do programa da noite de estréia foi Nicolai Roerich quem criou cenografia e figurinos para as Danças Polovetsianas do Príncipe Igor, adaptadas da ópera com prólogo e quatro atos de Aleksandr Porfirevich Borodin (1833-1887), com libreto do próprio compositor baseado em poema anônimo do século XII. Foram apresentadas as Danças, do Ato III da ópera, com cantores, coro, dançarinos e orquestra com coreografia de Michel Fokine (1881-1962). Foram atmosféricos os cenários de Nikolai Roerich, mostrando cenas passadas no deserto, recordando a face russa, bárbara e primitiva. Os figurinos, de inspiração eslava e oriental, apresentaram calças bufantes com listras verticais nas cores ocre, preto e vermelho, usadas com túnicas ultra coloridas debruadas com bordados nas cores ocre e marron avermelhado, com detalhes amarelos e vermelhos. Nas mãos, adereços como flauta, faca, espada curva e arco e flecha (SHEAD, 1989). Esse balé, com cenário e figurinos multicoloridos, ofereceu grande contraste com a primeira parte do programa inaugural que, na mesma noite mostrou os cenários clássicos de Alexandre Benois (1870-1960), para O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide].

A noite de estréia no Théâtre du Châtelet foi esplendorosa, sucesso que consagrou as novíssimas estrelas dos Balés Russos em Paris (maio, 1909). Sobre esta primeira temporada da Companhia Teatral S. P. Diaghilev, c. de vinte anos depois, o crítico de arte Émile Henriot escreveu, (SHEAD, 1989):




Todos os elementos estavam combinados e mesclados conjuntamente de forma tão íntima que não era possível separar qualquer parte destes belos espetáculos do resto... Os Ballets Russes foram o triunfo da unidade, e isto, penso, é a grande lei de toda criação clássica.

Na noite inaugural, Diaghilev viu o primeiro triunfo de seus Ballets Russes do camarote de Misia Godbeska (Mísia Sert, v. abaixo).

Nenhum comentário:

Postar um comentário