BIOGRAFIA: NOLDE, Emil; Emil Hansen (1867-1956).
O artista naturalizado dinamarquês, nasceu em Nolde (Schleswig-Holstein) e faleceu em Seebull (Dinamarca). De origem campesina e modesta, o artista iniciou seu aprendizado artístico em oficina de entalhes de mobiliário (1884-1888). Hansen trabalhou em várias fábricas de móveis (Munique, Karlsruhe e Berlim, Alemanha); ele foi professor da Escola de Artes e Ofícios (Saint Gall, Suíça, 1892-1899), onde começou a desenhar máscaras e a pintar as montanhas locais, em obras do tamanho de cartão-postal. Duas destas pequenas paisagens foram reproduzidas em um postal: a venda surpreendente dessa Arte Gráfica em larga escala, permitiu a Hansen começar a viver a vida de um artista completamente livre.
Hansen foi rejeitado pela Academia de Belas Artes (Munique); o artista iniciou o estudo da pintura em ateliê particular na mesma cidade e estudou na Escola de Verão Luziu (Dachau, 1899) e depois na Academia Judaica (Paris, 1899-1900). Na capital francesa Hansen teve a oportunidade de conhecer a arte dos Impressionistas, bem como apreciar as pinturas de Paul Cézanne (1839-1906) e Vincent van Gogh (1853-1890). Quando voltou a sua região natal (Schlesswig-Holstein), Hansen encontrou sua esposa, a atriz Ada Vilstrup (1879-1946), que ele desposou (1902). Na época, Emil Hansen adotou por sobrenome Nolde, nome da cidade onde ele nasceu. O casal foi viver na ilha de Gudrup (Alsen, 1903), que pertencia a Alemanha, mas passou a pertencer a Dinamarca. O artista se naturalizou dinamarquês (1920) e, no final de sua vida, deixou sua Fundação para seu país de adoção (Seebull, Dinamarca).
A primeira mostra de Nolde foi na Galeria Arnold (Dresden, 1906), quando ele conheceu os artistas do Grupo da Ponte [Die Brücke] (Dresden, 1905-1910; Berlim, 1910-1913], o primeiro grupo importante das vanguardas alemãs, ao qual ele se associou, apenas durante um ano (1906). Os artistas mostraram suas obras em exposições coletivas, mostras em Leipzig (1905); em Hagen (1906); em Dresden (1906; 1907; 1908), anuais, sendo que a última publicou catálogo; e uma mostra em Oldenburg (1908); é possivel que as obras de Nolde tenham participado de duas mostras (1906).
Nolde e sua familia se transferiram Alsen para Berlim e Ruttebull (1906-1912), onde o artista pintou suas primeiras paisagens bíblicas. A Associação de Artistas dita, Secessão Berlinense [Berliner Sezession] (1898-1932), a qual Nolde esteve associado desde o início do século XX (1901), rejeitou todas as suas pinturas submetidas ao júri para participação na mostra anual (1910), bem como todas as obras dos artistas associados ao Grupo da Ponte.
A carta aberta que E. Nolde escreveu ao presidente da Secessão Berlinense, Max Liebermann (1847-1935), provocou sua expulsão da associação de artistas, o que resultou em uma grande cissão. O grupo berlinense se partiu, dando origem à Nova Secessão Berlinense [Neue Berliner Sezession], de curta duração (Berlim, 1910-1913). Na ocasião muitos artistas deixaram a primeira associação para formarem, junto com Nolde entre outros, o novo grupo. Obras de Nolde participaram da segunda mostra do Grupo do Cavaleiro Azul (Munique, 1912), organizado por Wassily Kandinsky (1866-1944), August Macke (1887-1914) e Franz Marc (1880-1916); e da mostra da Sonderbund (Colônia, 1912).
Nolde estudou Arte Primitiva no Museu de Antropologia (Berlim, 1911) e foi incluído como membro de expedição à Nova Guiné, organizada pelo Escritório Colonial Alemão. Nesta longa aventura Nolde percorreu a Rússia até a Sibéria, a Manchúria (China), o Japão e as Ilhas Palau. As obras que o artista pintou nesse percurso se perderam, em razão do começo da I Guerra Mundial, mas depois as pinturas reapareceram (Plymouth, Inglaterra, 1921).
Em meados da década de 1920 Nolde viajou para a Inglaterra, França, Espanha, Itália (1925); no entanto, o artista passou todos os verões em Uterwarf. Nolde adquiriu sua fazenda em Seebull (1926), que permaneceu como sua residência fixa até a sua morte, embora o artista tenha sempre conservado, enquanto pôde, seu estúdio berlinense. Nolde associou-se ao partido nazista, recusou-se a apresentar sua resignação “voluntária”, da Academia da Prússia, presidida pelo renomado artista judeu, Max Liebermann (1847-1935), que resignou, entre outros (13 de maio, 1933). Nolde tornou-se simpatizante nazista e filiado à Câmera da Cultura Alemã e ao Partido Nazista, mantendo correspondencia com Goebbels, tentando recobrar a posse de suas obras deixadas nos Museus Alemães. Por ocasião do expurgo nazista, Nolde foi um dos artistas mais perseguidos e prejudicados, pois foram confiscadas mais de 1050 de suas obras (1937), sendo que c. de 50 obras participaram da mostra Arte Degenerada [Entartete Kunst], inaugurada em Munique, itinerante a Dresden, entre outras cidades (1937-1938). Obras de Nolde, depostas dos museus alemães foram comercializadas no leilão por Theodore Fisher (Lucerna, Suíça, 30 de Jun., 1939).
Algumas pinturas voltaram para o artista em 1939, mas no ano seguinte Nolde foi intimado a mostrar toda a sua produção anual para ser examinada. Em seguida o artista foi expulso da Câmera da Cultura Alemã, sob alegação de inconfiabilidade (Ago., 1941). Quem era expulso era impedido de exercer atividade artística, proibido de pintar e impedido de adquirir materiais artisticos. Os nazistas davam frequentes batidas nas residências dos artistas e ao menor sinal de desobediência, tipo pincéis molhados e cheiro de terebentina, o infrator era preso. Nolde desobedeceu e continuou pintando obras do tamanho de postais, mas declarou as obras produzidas neste período como Ungemalte Bilder [Pinturas não pintadas]. Essas obras foram produzidas no seu paraíso particular, Seebull: Nolde perdeu seu ateliê alemão durante o bombardeio de Berlim pelos ingleses (1944). Pouco depois do final da II Guerra Mundial, sua primeira esposa Ada faleceu (1946); o artista se casou em segundas núpcias com Jolanthe Erdmann, jovem de 26 anos de idade (1948).
Nolde doou as obras que lhe pertenciam para a Fundação Ada e Emil Nolde (Seebull); e foi nesse local que o artista faleceu com a idade avançada de 89 anos. Nolde deixou obra instigante, pesada e perturbada, visível nas suas primeiras obras gravadas e nos desenhos de sua primeira fase, marcada por muitos problemas; muitas dessas obras, reveladoras de grave perturbação de natureza mental do artista, foram gravadas nas cores preto e sépia. Nolde pintou sempre tema de figuras, além de paisagens como Mar de Outono XI (1910); Dançarinas com Velas (1917) e obras como as xilogravuras Desespero (1906) e O Grande Pássaro o Profeta (1912).
Nolde foi um dos principais artistas das vanguardas européias, mestre na utilização de várias técnicas de gravação como a litogravura e gravura em metal; sua obra gravada é notável e marcou indelévelmente a arte de seu tempo. Gravuras de Nolde participaram da mostra Expressionismo Alemão, Destaques da Coleção Van Der Heydt-Museum, realizada no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 08 ago. - 24 set., 2000), itinerante ao MAM (São Paulo, 10 out.- 10 dez.) e ao Museu Lasar Segall (2000), que trouxe 69 obras Expressionistas do Museu de Arte de Wuppertal; 121 gravuras, do Instituto Goethe (Stuttgart), além de expôr as ditas, Matrizes do Expressionismo no Brasil, que apresentou 90 obras gravadas dos brasileiros Lasar Segall (1891-1957), Oswaldo Goeldi 1895-1961) e Lívio Abramo (1903-1992).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
FEHLEMANN, S.; BIRTHÄLMER, A., MÜLLER, B. (Biogr.) Expressionismo Alemão. Destaques da ColeçãoVan Der Heydt-Museum. Rio de Janeiro: Paço Imperial. São Paulo: MAM, Museu Lasar Segall, 2000, pp. 30-38, 82-89.
NICHOLAS, L. H. The Rape of Europa: the Fate of European´s Treasures in the Third Reich and the Second World War. New York: Vintage Books, 1994. 1995. 499p.,pp. 05, 9, 10, 12-16, 22, 24.
SCHAMALENBACH, W.; GRASSKAMP, W. (Biogr.). German Art of the 20th Century: painting and sculpture 1905-1985. Translated by John Ormond. Munich - Düsseldorf: Prestel, 1987, pp. 487-488.
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