domingo, 2 de fevereiro de 2014

DADAÍSMO EM ZURIQUE (1916-1919).



DADAÍSMO EM ZURIQUE (1916-1919).

Destaque: BALL, Hugo.


O grupo começou quando Hugo Ball (1875-1927) pediu a seu amigo Jan Epharam para utilizar seu cabaré na rua dos Espelhos [Spiegelgasse], em Zurique. No dia da inauguração (5 fev., 1916), apresentaram-se a Ball os jovens romenos Tristan Tzara (Sami Rozenstock, 1896-1963) e Marcel Janco (1895-1984); o suíço Hans Arp (1886-1966) e a alemã Emmy Hennings (1885-1948). Na primeira noite Hennings cantou canções em francês: ela era a única artista profissional do grupo, musa consagrada dos cabarés de Berlim, depois esposa de Ball. Foram declamados poemas de Wassily Kandinsky (1866-1944) e Else Lasker-Schüler (1869-1945); A Canção do Trovão [Donnerwetterlied] de Frank Wedekind (Benjamin Franklyn Wedekind, 1864-1918); a Dança da Morte [Tottentanz]; e a canção A la Villette, de Aristide Bruant (Louis Armand Aristide Bruant, 1851-1925). O cabaré ficou lotado com muitos estrangeiros que abrigaram-se na Suíça, fugindo da I Guerra Mundial, como o próprio Ball, que fugiu do serviço militar alemão e entrou na Suíça com papéis forjados.


 

O Cabaré ofereceu novos eventos todas as noite e no dia 7 foram declamados poemas de Blaise Cendrars (1887-1961) e de Jakob van Hoddis (1887-1942); no dia 11 apresentou-se Richard Huelsenbeck (posteriormente o médico norte-americano Charles T.Hulbeck, 1892-1974), que depois levou o movimento para Berlim. A música começou com a percussão de tambores no estilo africano. Na semana seguinte foram declamados poemas de Franz Werfel (1890-1945), Morgenstern (Christian Otto Josef Wolfgang Morgenstern, 1871-1914) e Alfred Lichtenstein (1889-1914) com contribuições variadas de Hans Arp, Huelsenbeck, Tzara e Janco. Os artistas inauguraram noites temáticas como a Suíça, aos domingos; a Noite Russa, com música de balalaikas. Tzara declamou poemas de Max Jacob (1876-1944), André Salmon (1881-1969) e Jules Laforgue (1860-1887). Tocaram a sonata para violoncelo de Saint-Saëns (Charles-Camille Saint-Saëns, 1835-1921) e Arp leu a peça de Alfred Jarry (1873-1907), O Ubú-Rei (L’Ubu-Roi, 14 mar.). Tzara, Huelsenbeck e Janco declamaram simultaneamente como mantra cadenciado os poemas sonoros do belga Fernand Divoire (1883-1951) e do francês Henri Barzun (Henri-Martin Barzun, 1881-1972), bem como o poema de própria autoria (30 março). Arp foi criador e incentivador das performances, mas nunca apresentou-se no palco. No minúsculo palco do Cabaré Voltaire Ball apresentou-se recitando o seu poema Kara wane, envergando costume de papelão rigido, criado por Janco (23 jun.). No mesmo mês o Cabaré foi obrigado a fechar as portas: o proprietário do local alegou muito barulho para romper o acordo com Ball.
 


O Dadaísmo não terminou, pois os artistas haviam inaugurado a Sociedade Voltaire (16 abr., 1916), onde organizaram mostra internacional de arte. Nesse momento surgiu o nome do movimento, batizado de Dadá, por Ball e Huelsenback. Os artistas partiram para espaços alugados como o Haag Hall, onde foi organizada a primeira Noite Dadá (14 jul. 1916). Neste momento e local Hugo Ball leu seu manifesto; Arp recitou Explicação [Erklärung]; Janco Minhas Imagens [Meine Bilder]; apareceram novos nomes, como do músico e pianista suíço Hans Heusser (1892-1942), que tocou suas Próprias Composições [Eigene Kompositionen]. Tzara recitou com várias vozes o poema ruidista de sua autoria e Huelsenbeck seu Poema Vogal.




No mês de julho saiu publicado o primeiro volume da Coleção Dadá, contendo o texto da peça teatral de autoria de Tzara, A Primeira Aventura Celestial do Sr. Aspirina [La première Aventure Céleste de M. Antipyrine]; em setembro ou outubro foram publicados dois volumes de poesia por Huelsenbeck. Em janeiro do ano seguinte (1917) os artistas lançaram a Galeria Dadá, no espaço alugado à Galeria Corray, em Zurique: a primeira mostra apresentou obras de Hans Arp, Otto van Rees (1884-1957), Marcel Janco e Hans Richter, além do programa didático de palestras por Tzara que falou sobre Cubismo, O Velho e o Novo e A Arte do Presente. A galeria durou menos tempo que o Cabaré Voltaire: apenas 11 semanas. Ball e Hennings partiram para outra cidade suíça, Agnuzzo, na região do Ticino. No entanto, o grupo encontrou apoio com Herwarth Walden (1879-1941), do Grupo Editorial da Tempestade [Der Sturm], que organizou a segunda mostra de artes plásticas na Galeria da Tempestade (Berlim, 9 abr., 1917). Huelsenbeck, que estudava medicina, permaneceu em Berlim, onde tornou-se a figura inaugural do movimento nesta cidade.


 

Tzara continuou em Zurique tentando levar adiante o movimento, através da publicação de manifestos nas revistas lançadasTzara leu seu manifesto na Sala Zur Meise (23 jul., 1918). E, finalmente, a Noite Dadá conseguiu reunir c. 1500 pessoas na Sala Zur Kaufleten. O evento foi organizado por Val Serner (Walter Serner, 1889-1942), médico, escritor e performático. Participaram Hans Richter, Hans Arp que pintou os cenários, além das alunas da Escola de Dança de Rudolf von Laban (1879-1958), como Suzanne Perrotet (1889-1983), Mary Wigman (1886-1973), Käthe Wulff, Maja Kruscek e Maria van Vanselow, que dançaram. O artista sueco Viking Eggeling (1880-1925), proferiu palestra com o tema Desenho e Arte Abstrata [Gestaltung und Abstract Art]. Foram apresentadas músicas de Erik Satie (1879-1953) e Arnold Shoenberg (1874-1951). Tzara declamou com 20 vozes seu poema simultâneo A Febre do Macho e Val Serner realizou performance, enquanto lia seu manifesto, Última Perturbação [Letzte Störung]; cinco alunas de Rudolf von Laban dançaram Nem Cacatua [Nor Kakadu]. A noite encerrou o Dadaísmo em Zurique. Francis Picabia (1876-1958) ofereceu festa regada a champanhe no Hotel Elite, onde ele lançou o número especial de sua revista 391 (Zurique, 1918). Esta revista foi publicada nos locais que Picabia visitou, Barcelona (1916), Nova York (1916-1917), Zurique (1918) e Paris (1919-1920; v. revistas detalhadas; ADES,1978).




Encontram-se publicadas inúmeras fotografias como as de Ball e Emmy Hennings (Zurique, 1916); de Ball vestido com costume de Marcel Janco, recitando no palco do Cabaré Voltaire o poema Kara wane, de sua autoria, cuja fotografia original encontra-se no acervo da Kunsthaus, Zurique; a fotografia de Hennings, bela e elegante; a fotografia de Tzara, Arp e Richter (Zurique, 1917-1918); a fotografia de Arp com Sophie Taeuber, que tornou-se sua esposa, junto com marionetes criadas por ela e usadas nas performances de seu teatro de marionetes (GOLDBERG, 1978; e RICHTER, 1993).


 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 

CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978.
475p.: il., pp. 79-86,


 
BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire Général du Surréalisme et ses environs. Fribourg: Office du livre - Presses Universitaires de France, 1982, p. 16.

 


BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il., p. 222.

 
GOLDBERG, R. Performance Art: from Futurism to the Present. London: Thames and Hudson, 1978,2001. 206p., il., some color. 15 x 21 cm (world of art), pp. 56-59, 60-67. 

 




RICHTER, H. HAUPTMANN, W. (Post-Scriptum). Dada art & anti-art. Koln: Du Mont Shauberg, 1964. 1965. 246p.: il., p.100.



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