O pintor nasceu em Lille e morreu em Paris; Bernard foi artista mutimídia, cenógrafo, escritor, crítico de arte, gravador e pintor, além de atuar nas ditas, Artes Decorativas. A família de Bernard, depois de viver em várias localidades, instalou-se em Paris (outono, 1880). Durante as férias de verão, Bernard copiava obras-primas do Museu de Dunquerque, bem como gravuras de Honoré Daumier, Gustave Doré e também exercitava seu desenho ao vivo e na natureza.
Depois que decidiu tornar-se pintor, Bernard passou a estudar na Academia Fernand Cormon, de onde foi expulso por indisciplina. Bernard encontrou os colegas Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), Louis Anquetin (1861-1932), John Peter Russell (1858-1931) e Vincent van Gogh (1853-1890), que frequentaram a academia na mesma época (1886). Na loja de suprimentos artísticos do Pai Tanguy (Julien-François Tanguy) Bernard viu as primeiras pinturas de Paul Cézanne (1839-1906). Os colegas de academia levaram Bernard para conhecer a vida noturna e boêmia de Montmartre.
Bernard passava as férias na região de Pont-Aven, na Bretanha; quando ele tinha 20 anos de idade foi apresentado à Théo van Gogh e conheceu Paul Gauguin (1848-1903), quando este artista viveu o primeiro período em Pont-Aven, no início do ano (1888), na companhia do pintor Charles Laval (1862-1894). Foi a partir desta época que Bernard se tornou por um certo periodo discípulo de Gauguin, tendo acompanhado Vincent van Gogh no período de Pont-Aven, quando ele saiu para pintar na companhia de Gauguin (out. – dez., 1888). Bernard visitou Van Gogh no ano seguinte (1889): o artista foi um dos poucos que compareceu a seu sepultamento (jul., 1890).
O papel principal que Bernard representou foi o de elo de ligação entre várias das maiores personalidades artísticas de seu tempo, pois ele ajudou a todos. Foi Bernard quem deu grande impulso à carreira de Paul Gauguin quando apresentou-o ao seu grupo de amigos influentes, escritores, editores, jornalistas e críticos de arte Simbolistas, que frequentavam o Café Voltaire, em Paris, grupo do qual fazia parte Pierre-Albert Aurier (1865-1892), coeditor do Mercure de France. Foi Aurier quem publicou o artigo associando a pintura de Gauguin ao Simbolismo (1891), depois que este artista expôs sua obra Visão depois do sermão na mostra do importante grupo belga, Sociedade dos XX [Les XX], em Bruxelas. Depois da crítica favorável publicada por Aurier sobre sua obra, Gauguin passou a tornar-se conhecido e respeitado. Foi ainda Aurier a quem Bernard escreveu a carta, publicada no Mercure de France, contando os detalhes do enterro de Vincent van Gogh. Aurier publicou ainda no jornal a seleção de cartas trocadas entre Émile Bernard e Paul Cézanne, que divulgaram as teorias ditas, Cézanistas sobre arte e cujo impacto, especialmente sobre as pinturas de George Braque e Pablo Picasso, entre outros artistas da primeira geração de vanguarda, tornou possível o nascimento do Cubismo, a arte baseada nas teorias de Cézanne.
Bernard foi da dita, Escola de Pont-Aven e líder do Cloisonismo [Cloisonnisme], que ele iniciou com obras originais e criativas, associadas a uma vertente na via da dita, Arte Decorativa. As obras de Bernard mostravam a mesma perspectiva inovadora encontrada nas obras de caráter revolucionário de Paul Gauguin, ao qual Bernard influenciou. Nas obras pictóricas o Cloisonismo produziu superfícies chapadas, com cores puras e luminosas, cercadas por linhas escuras de contorno, na reprodução pictórica da técnica dos vitrais, inspirados na Arte Sacra medieval.
O maior drama de Bernard foi que o artista em vida não ficou conhecido por suas obras, pois a genialidade artística e a força das pinturas de Paul Gauguin e de Vincent van Gogh, com quem ele conviveu e trabalhou e que estão incluídos entre os maiores artistas atuantes nos séculos XIX e XX, fizeram com que as obras dele ficassem sem a merecida divulgação e análise crítica. O artista se desentendeu com Gauguin (1891), que inspirou-se muito nas suas pinturas: desiludido, Bernard saiu da França pelo prolongado período de mais de 10 anos, quando viajou pela Itália, Espanha e Egito. Quando o artista voltou a viver na sua terra natal (1904), sendo grande admirador de Paul Cézanne, ele aproximou-se do velho artista, rejeitado por muitos de sua geração, que encontrou em Bernard amizade desinteressada. Bernard tornou-se um dos grandes amigos de Cézanne, ao qual apoiou nos dois últimos anos da vida do pintor quando preparou o velho artista para a posteridade, fotografando-o bem vestido na frente de sua obra-prima As Grandes Bahistas (1904-1906). Cézanne viveu na região de Aix-en-Provence e Bernard em Paris: os artistas trocaram extensa e fundamental correspondência, essencial para o desenvolvimento da arte das vanguardas artísticas no século XX.
Bernard escreveu vários artigos, publicados no Mercure de France (1924-1926), sobre a vida e a morte de Vincent van Gogh, com quem ele conviveu no período parisiense (1886-1888) e até o final da vida do artista (1888-1890). Depois da morte dos irmãos Vincent e Théo van Gogh, foi Bernard quem ajudou a esposa de Théo e cunhada de Vincent, Johanna, mais conhecida como Jô (Johanna) van Gogh-Bonger, herdeira de seu marido Théo e de Vincent Van Gogh junto com seu único filho Vincent Wilhem Van Gogh, a conseguir a primeira mostra póstuma das obras do pintor. Bernard e Jô foram os organizadores da primeira exposição póstuma, que ocorreu na conhecida Galeria Le Barc de Bouteville (Paris , abr., 1892).
Bernard foi fundamental para a vida artística de seu tempo, especialmente por sua personalidade; sua arte, de caráter Simbolista, necessita ser resgatada. O artista, quando jovem, foi considerado gênio precoce: ele entrou para a classe de Fernand Cormon na Academia Cormon com apenas 16 anos de idade. No decorrer de sua vida produziu obras nas técnicas de Pintura e Escultura, nas Artes Decorativas, nas técnicas de Tapeçaria e Mobiliário; e Gravuras nas Artes Gráficas, obras que permanecem desconhecidas entre nós.
A originalidade da pintura de Bernard influenciou realmente a obra de Pablo Picasso: no início de seu período em Paris, o catalão inspirou-se completamente no estilo de Émile Bernard, quando produziu as primeiras pinturas de sua dita, Fase Azul, influência marcante, expressa nas pinturas de Picasso A Vida (1903) e Mendigos junto ao mar (1904). Picasso, considerado um dos maiores gênios artísticos do século XX, depurou a composição mais intrincada de Bernard, mas utilizou a mesma base estilística e as mesmas cores das pinturas que o inspiraram, mas melhorou-as do ponto de vista estético.
Bernard morreu amargurado, pois não foi reconhecido como o artista que foi no seu tempo de vida, tendo ficado mais conhecido por sua amizade com os grandes gênios de sua geração. Nos primeiros anos do século XX, esses artistas ainda eram pouco reconhecidos, mas, no decorrer do tempo, passaram a serem considerados gênios da arte como Henri de Toulouse-Lautrec, Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Paul Cézanne e Odilon Redon, entre outros. Declarou ALLEY (1962: 11), que Bernard sustentou amarga polêmica com P. Gauguin, quando o artista foi aclamado como inovador e mentor do novo estilo da Escola de Pont-Aven, que ele, Bernard, se encontrava na origem da escola e que suas pinturas influenciaram Gauguin, como, por exemplo, no quadro As Mulheres Bretãs [Les femmes bretonnes]. Por outro lado, Gauguin se tornou receptivo ao Cloisonismo, justamente devido ao fato que sua pintura evoluiu na mesma via que a de E. Bernard. sob a marcante influência da pintura de Paul Cézanne, o pai do modernismo no século XX.
Bernard foi amigo de Henri de Toulouse-Lautrec, que pintou o Retrato de Emile Bernard (1886, óleo/ tela, 54,5 cm x 43,5 cm, no acervo da Tate Gallery, Londres), que se encontra reproduzido no catálogo da mostra do artista realizada na Hayward Gallery (Londres), itinerante às Galerias Nacionais do Grande Palácio (1992). A interessante obra precurssora de Bernard, Banhistas à vaca vermelha (1887), encontra-se reproduzida (PIERRE, 1991); sua obra Madeleine no Bosque do Amor (Madeleine au Bois de l'Amour, Pont-Aven, 1888, óleo/ tela, 138 cm x 163 cm., no acervo do Museu d'Orsay, Paris), se encontra reproduzida (BREUILLE, 1991); influenciou a obra de composição similar de Paul Gauguin, A Perda da Virgindade (La Perte de Pucelage, 1890-1891, 89 cm x 130 cm, coleção Walter P. Chrysler Jr., Nova York), e que se encontra reproduzida (ALLEY, 1962: XXIII).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ALLEY, R. Gauguin. Traduction de C. de Longevialle. Paris: O.D.E.J., 1962, pp; 07-11, planche XXIII, p. 93.
BONFANTI-WARREN, A. The Musée D'Orsay. New York: Barnes and Noble, 2000. 320p., il., color., 29, 202, 203.
BOYLE-TURNER, C. Paul Serusier, la technique, l'oeuvre peint. Traduction de Ivone Rosso. Lausanne: Edita, 1988, pp. 60-61, 152-154.
BRITT, D.; MACKINTOSH, A.; NASH, J. M.; ADES, D.; EVERITT, A; WILSON, S.; LIVINSGSTONE, M. Modern Art: from Impressionism to Post-Modernism. London: Thames and Hudson, 1989, 416p.: il., p. 67.
CHAMPIGNEULLE, B. A Arte Nova. Tradução de Maria Jorge Couto Viana. Cacém (Portugal): Verbo, 1973. 309p., pp. 60-69.
DICIONÁRIO. BREUILLE, J-P. Dictionnaire de la peinture et de sculpture : l'art du XXe siècle. Sous la direction de Jean-Philippe Breuille. Paris: Lib, Larousse, 1991. 777p.: il., retrs.,
p. 57. (Dictionnaires specialisés).
FRÉCHES, C.; FRÉCHES, J. Toulouse-Lautrec: les lumiéres de la nuit. Paris: Gallimard, 1993.
176p.: il. color. (Découvertes Gallimard, v. 132).
FRECHES-THORY, C.; TERRASSE, A.; LE ROUX, J. Les Nabis. Tours: Flammarion, 1990, 319p.: il., p. 129.
GIBSON, M. Odilon Redon 1840-1916: le Prince des Rêves. Köln: Taschen, 1995, pp. 229, 247.
PIERRE, J. L'Univers Symboliste: fin de siécle et décadence. Paris: Somogy, 1991, p. 247.
PRATHER, M. Paul Gauguin: a retrospective. New York: Charles Stuckey, Park Lane, 1987, pp. 80-88.
WALTHER, I.; METZGER, R. Van Gogh The Complete Paintings. 02 vols. Köln: Taschen, 1991, pp. 702-720.
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