BIOGRAFIA: CHABRIER, Emmanuel (1841-1894).
As primeiras peças de Chabrier foram ensaios juvenís estilo opereta, e, tendo o renomado escritor Paul Verlaine como libretista, fizeram sucesso na época, Chabrier compôs suas duas primeiras peças líricas, mas burlescas: Fish-ton-Khan e Vancochard e Filho 1o [Vancochard et Fils 1er]. Chabrier escreveu a ópera-bufa A Estrela [L'Étoile] (1887), encenada com certo sucesso; e outra ópera curta, que, anos depois, a Cia. Teatral S. P. Diaghilev levou aos palcos europeus, na sua particularmente rica temporada na qual encenou quatro trechos de óperas e quatro novos balés (1924). O empresário russo programou quatro óperas de pequena duração, desconhecidas do público europeu, todas compostas no século XIX; foram Philamon et Baucis, La Colombe e Le médicin malgré lui, todas do precurssor das óperas francesas, Charles Gounod (1818-1893); e, de autoria de Chabrier, Uma Falta de Educação [Une éducation manqué] (1897). Diaghilev chamou novos compositores para reeditá-las e modernizá-las, respectivamente Georges Auric, Francis Poulenc, Eric Satie e Darius Milhaud (v. o Grupo dos Seis e a Escola de Arcueil). Os cenários e figurinos das óperas foram desenhados por Léon Bakst e Juan Gris. Na sua estréia, em Monte Carlo essas óperas curtas não agradaram ao público sofisticado: esses espectadores desejavam grandes espetáculos de óperas com renomados cantores. Diaghilev limitou-se a levar a ópera de Chabrier para a estréia da temporada anual (Paris, 1924).
Chabrier pertenceu à S.N.M. - Sociedade Nacional de Música, e participou do grupo de César Franck, que apresentou-o a música de Wagner, da qual ele tornou-se ardoroso defensor. Chabrier resolveu deixar o cargo oficial que ocupava no serviço público e tornou-se secretário e chefe do coral Novos Concertos Lamoureux [Nouveaus Concerts Lamoureux]. Finalmente, aos 40 anos de idade (1881), sem formação musical acadêmica oficial que valeu-lhe muitas observações irônicas por parte dos músicos que tinham educação formal, como Camille Saint-Saëns, do qual ele recebeu o título de Músico de Domingo, Chabrier começou a ser respeitado. O músico compôs duas obras-primas: Dez peças pitorescas [Dix Pieces Pitoresques] (1881) e Espanha [España] (1883), esta última rapsódia para orquestra que obteve de imediato consistente sucesso. Chabrier escreveu depois para dois pianos Três valsas românticas [Trois valses romantiques] (1883); as Melodias [Melodies] (1883), foram destinadas a musicar os poemas de seus amigos Edmond de Rostand e Rosemonde Géard. Chabrier compôs Habanera e A Sulamita (1885); a ópera ligeira Guendoline (1886); O Rei e a Força (1886); e, somente para piano, Marcha Alegre [Joyeuse Marche] (1890); no mesmo ano, Chabrier compôs Ode a música, para coral exclusivamente feminino; e Bourré Fantástica [Bourré Fantastique] (1891).
Chabrier destilou seu agudo senso de humor em outras obras, como na Balada dos Perus Grandes [Ballade des gros Dindons] e [Villanelle des petits canards] (1890), que deixaram rastro de influências nas melodias francesas, como nas Histórias Naturais [Histoires naturelles] de Maurice Ravel; e nas composições de Francis Poulenc. Chabrier compôs para piano suas mais originais obras: as Peças pitorescas, admiradas por Claude Debussy formaram a base de nova escola pianística francesa da qual fizeram parte os seus amigos Adolphe Julien, Camille Benoît e Vicent d'Indy, grupo homenageado em pintura de Henri de Fantin-Latour, hoje no acervo do Museu do Louvre (Paris).
Em Lembranças de Munique, Chabrier utilizou os temas melódicos da conhecida ópera Tristão e Isolda (Wagner, 1865), parafraseou e ao mesmo tempo, homenageou Wagner. Podemos constatar que a significativa força da música de Wagner influenciou as vanguardas européias de modo geral, pesando muito tempo sobre a linguagem musical francesa, especialmente a do grupo marcantemente nacionalista liderado por Vicent d'Indy.
A primeira ópera de Chabrier, Gwendoline (1893), foi apresentada na Bélgica e Alemanha antes de ser encenada na França (Paris, 1893). A sua ópera-bufa Rei à despeito de si mesmo [Roi malgré lui] (1887) teve a carreira interrompida devido ao incendio no Teatro da Ópera Cômica de Paris (1887). Chabrier compôs vários intermezzi, como Festa Polonesa [Fête Polonaise], que não cessavam de serem tocados e divulgados; comentaram que Claude Debussy não conseguia parar de ouvir a Ode à música [Ode à la musique], que Chabrier compôs para o texto de seu amigo Edmond de Rostand.
A bem sucedida carreira musical de Chabrier durou pouco mais de dez anos; a sua obra de poucas peças ofereceu grande influência musical durante o final do século XIX e início do XX. O artista, engajado nas vanguardas de sua época compôs sua música liberada das imposições restritivas do Conservatório de Paris. Como Chabrier foi um músico intuitivo, ele pôde compor livremente e influenciou marcantemente Debussy, que nunca cessou de dar-lhe crédito, ao apregoar o quanto seus Prelúdios [Preludes] deviam à obra inovadora e pura de Chabrier, as Dez peças pitorescas [Dix pieces pitoresques]. O músico foi homenageado por Igor Stravinsky, Francis Poulenc, Erik Satie, Cesar Franck e Claude Debussy, que, logo no início do século XX se tornaram os verdadeiros mestres das vanguardas musicais européias.
Chabrier gostava de se cercar da beleza da arte de excelente categoria: mesmo dispondo de parcos recursos o músico formou extensa coleção com c. de 40 pinturas, escolhidas a dedo entre as obras dos pintores mais avançados de sua geração, principalmente os artistas do Grupo dos Impressionistas (v.). O quadro favorito de Chabrier ficava em cima de seu piano, nada menos que uma das obras-primas do amigo Édouard Manet: Um Bar no Follies-Bergère [Un Bar aux Folies-Bergère], hoje no acervo do Instituto Courtauld (Londres).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
DUFOURCQ, N. (Org.); ALAIN, O.; ANDRAL, M.: BAINES, A.; BIRKNER, G.; BRIDGMAN, N.; Mme. de CHAMBURE; CHARNASSÉ, H.; CORBIN, S.; AZEVEDO, L. H. C. de; DESAUTELS, A.; DEVOTO, D.; DUFOURQ, N.; FERCHAULT, G.: GAGNEPAIN, B.; GAUTHIER, A.; GÉRARD, Y. HALBREICH, H.; HELFFER, M.; HODEIR, A.; ROSTILAV, M.; HOFMANN, Z.; MACHABEY, A.; MARCEL-DUBOIS, C.; MILLIOT, S.; MONICHON, P.; RAUGEL, F.; RICCI, J.; ROUBERT, F.; ROSTAND, C.; ROUGET, G.; SANVOISIN, M.; SARTORI, C. SHILOAH, A.; STRICKER, R.: TOURTE, R.; TRAN VAN KHÊ, A. V., VERLET, C. VERNILLAT, F.; WIRSTA, A.; ZENATTI, A. La Música: Los Hombres, Los Instrumentos, Las Obras. Barcelona: Planeta, 1976, pp. 162-163.
MASSIN, J.; MASSIN, B. História da Música Ocidental. Tradução de Angela Ramalho, Carlos Sussekind e Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. pp. 816-818.
SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 124, 183.
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