O músico italiano foi aluno de Nicolai Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908) e de Max Bruch. Respighi tornou-se conhecido como regente, pois ele praticou certo brio orquestral e dedicou-se à recobrar a tradição da antiga Escola Sinfônica Italiana, descobrindo músicas compostas para alaúde (1918; 1923; 1932). Respighi criou poemas sinfônicos de grande beleza, como As Fontes de Roma (1916) e Os Pinheiros de Roma (1924); ele criou e adaptou música de compositores italianos para balés. Respighi chamou a atenção do empresário russo S. Diaghilev, na ocasião em que ele se apresentou com série de pequenas peças compostas por Rossini, escritas somente para seu deleite pessoal e de seus amigos, descritas pelo compositor como os Pecados da Velhice. Na ocasião, Diaghilev chamou a atenção de Léonid Massine (1894-1979), entre os principais bailarinos e principal coreógrafo, que imaginou o balé passado em loja de brinquedos, apresentando grande variedade de bonecos dançantes. O tema deste balé se encaixou com perfeição no estilo de coreografia quase mecânica que Massine praticava, desde que levou aos palcos parisienses a inovadora coreografia de Parada [Parade] (1917), balé com cortina, cenários e figurinos de P. Picasso com música de Eric Satie (Erik Alfred Leslie Satie, 1866-1925), que, com movimentos artificiais transformou os bailarinos em autômatos. A idéia original de Massine resultou no balé com música de de Rossini, adaptada e orquestrada por Ottorino Respighi (1879-1936), para A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque] (1920), encenada em primeira récita pelos Ballets Russes de Sergei Diaghilev (1872-1929), com cenários e figurinos de André Derain (1880-1954). No Brasil a obra foi gravada no primeiro registro mundial da Aria Antiche e Danze, na versão com redução para piano de Ana Cláudia Agassi (São Paulo: Masterclass). O balé A Boutique Caprichosa, alcançou grande sucesso, principalmente em Londres (1917), onde, décadas mais tarde, foi reencenado pelo Sadler's Well Ballet, no Teatro do Covent Garden (1947). E, no final da década de 1950, Tatiana Leskova reviveu a coreografia de Massine para esse encantador balé, que estreou no palco do TMRJ/ Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ocasião em que o coreógrafo Massine supervisionou pessoalmente sua antiga coreografia.
Respighi esteve várias vezes no Brasil: ele apresentou o recital de canto de sua esposa Elsa Respighi na SCA/ Sociedade de Cultura Artística (São Paulo, 27 jun., 1927). O músico e maestro voltou novamente ao país, quando apresentou com sua regência o Concerto Sinfônico, na SCA (28 jun., 1928). Não foi somente essa a sua participação nas artes brasileiras: o coreógrafo húngaro Aurélio Milloss utilizou a Passacaglia em Dó menor, de Johan Sebastian Bach, escrita originalmente para orgão, que Ottorino Respighi adaptou para o Ballet do IV Centenário de São Paulo dançar nos palcos brasileiros (Rio de Janeiro - São Paulo, 1954-1955). O espetáculo, com coreografia de Aurélio Milloss e cenários e figurinos de Cândido Torquato Portinari (1903-1962), estreou na dita, Semana da Marinha (Rio de Janeiro, 07-13 dez.; e no TMRJ, dias 08, 18 e 23 dez., 1954); no TS/ Teatro Santana (São Paulo, 18, 19 e 20 jun., 1955). A bailarina Lia Dell'Ara foi assistente de Direção Coreográfica, para este balé que Milloss criou como a maior expressão simbólica destinada às comemorações do IV Centenário de São Paulo (1954).
Portinari criou trajes que separou os bailarinos por grupo de cores: em branco, as estrelas Addy Addor e Edith Pudelko; em amarelo, o grupo formado por Addy Addor, Alzira Máttar, Maria Helena Freire, Noêmia Weiner, Oriette Barros e Suzana Faini, nos espetáculos realizados no TS; substituídas por Luisa Splendore, Maria Helena Freire, Neyde Rossi, Noêmia Weiner, Oriete Barros e Suzana Faini (1955). Dançaram com roupas cor-de-rosa Anette Monteiro, Isabel Fernandes, Márika Gidali, Myriam Hirsch, Sioma Fantauzzi e Yara von Lindenau. Nos espetáculos paulistas a bailarina I. Fernandes foi substituída por Consuelo Griffiths (TS, 1955); dançaram vestidas com trajes verdes Cecília Nardelli, Eleonor Orlando, Helena Weber, Neyde Rossi, Tatiana Iewlewa e Yoko Okada; a bailarina Aládia Centenário, substituiu N. Rossi nos espetáculos realizados no ano seguinte (São Paulo, 1955). Dançaram com trajes vermelhos Elizabeth Sewell, Eveline Barré, Marisa Magalhães, Muni Carnewal, Yolanda Verdier e Vera Maia, sendo Barré substituida por Ruth Rachou nas récitas paulistas (1955). Um grupo maior de bailarinos(as), dançou vestido de preto: integraram-no Acir Giannaccini, Djalma Brasil, Eduardo Sucena, Francisco Schwartz, Juan Giuliano, Michel Barbano, Norberto Nigro, Paulo Leandro, René Chomette, Ricardo Abellan, Tito Magnani e Vikton Austin, sendo que Álvaro Ícaro, Paulo Villar e Gilberto Motta substituiram R. Abellán, M. Barbano e R. Chomette nos espetáculos paulistas. A fotografia de Ady Addor, Ricardo Abellán e Yara von Lindenau em Passacaglia, se encontra reproduzida (VALLIN JR., 1998), mas desapareceram os desenhos de Portinari para esse balé. Uma única fotografia que se encontra reproduzida no livro Fantasia Brasileira, foi a que restou como documento histórico desse balé. Outra fotografia, Ottorino Respighi no seu jardim (Storia della Musica, de Franco Abiatti), se encontra reproduzida (TONI, 1998) e a fotografia (Henri Manuel) do jovem maestro italiano Respighi, se encontra reproduzida (DUFOURQ, 1976).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
DUFOURCQ, N. (org.); ALAIN, O.; ANDRAL, M.: BAINES, A.; BIRKNER, G.; BRIDGMAN, N.; Mme. de CHAMBURE; CHARNASSÉ, H.; CORBIN, S.; AZEVEDO, L. H. C. de; DESAUTELS, A.; DEVOTO, D.; DUFOURQ, N.; FERCHAULT, G.: GAGNEPAIN, B.; GAUTHIER, A.; GÉRARD, Y. HALBREICH, H.; HELFFER, M.; HODEIR, A.; ROSTILAV, M.; HOFMANN, Z.; MACHABEY, A.; MARCEL-DUBOIS, C.; MILLIOT, S.; MONICHON, P.; RAUGEL, F.; RICCI, J.; ROUBERT, F.; ROSTAND, C.; ROUGET, G.; SANVOISIN, M.; SARTORI, C. SHILOAH, A.; STRICKER, R.: TOURTE, R.; TRAN VAN KHÊ, A. V., VERLET, C. VERNILLAT, F.; WIRSTA, A.; ZENATTI, A. La Música: Barcelona: Planeta, 1976, p. 240. Los Hombres, Los Instrumentos, Las Obras.
PEREIRA, R. Tatiana Leskova: nacionalidade bailarina. Série Memória do Teatro Municipal. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, FUNARTE, Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 2001, p. 49. 94, 106.
SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp.
TONI, F. C. Música e músicos do Ballet IV Centenário in Fantasia Brasileira. O balé do IV Centenário. Antropofagia nas Artes Cênicas São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC Belenzinho - XXXIV Bienal de São Paulo, 12 out. - 13 dez., 1998, p. 93.
VALLIM JR., A. R. Ballet IV Centenário: Emoção e Técnica in Fantasia Brasileira. O Balé do IV Centenário. Antropofagia nas Artes Cênicas São Paulo 1953-1955. São Paulo: SESC Belenzinho - XXXIV Bienal de São Paulo, 12 out. - 13 dez., 1998, p. 33.
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