segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PICASSO, Pablo (1881-1973). BIOGRAFIA - SEGUNDA PARTE.


Começando o Cubismo através de seu período dito Proto-cubista (1906), Picasso pintou o retrato de Gertrude Stein (v. o Círculo de Gertrude e Léo Stein), seu próprio Auto-Retrato ele iniciou a pintura de suas Demoiselles d'Avignon.

Picasso permaneceu Cubista durante o prolongado período de 18 anos (1907-1925).

GRAVURA DE PICASSO.

O artista tornou-se um gravador privilegiado que marcou época com sua extensa obra gravada, na qual destacamos a conhecida Suite Vollard, formada com mais de 100 gravuras em várias técnicas, realizada no período final de sua longa vida e que esteve em exposição em mostra no MASP - Museu AssisChateaubriand (São Paulo, 1985). Algumas gravuras dessa mesma série estiveram em exposição no CCBB - Centro Cultural Bamco do Brasil (Rio de Janeiro, 1999).

DESENHO DE PICASSO.

Picasso foi artista incansável nas suas pesquisas, e, prolixo, utilizou inúmeras técnicas, entre algumas que criou, sendo que seu gênio permaneceu extremamente original em todos os materiais que tocou e em todas as diferentes fases de sua obra. Seu desenho, de traço pessoal inconfundível, levou-o a ser considerado como um dos maiores desenhistas do século XX; Picasso desenhou o Pai Ubu, homenagem a Alfred Jarry (1873-1907).

ESCULTURA DE PICASSO.

Escultor original, Picasso utilizou a escultura como base de suas pesquisas do Cubismo, na sua obra Cubista de caráter eminentemente pictórico. Citamos a escultura Fernande (1909), quando Picasso criou o retrato espacial, verdadeiramente Cubista de sua primeira companheira, Fernande Olivier, que o artista retratou em desenhos e pinturas. A escultura exemplar é de fundamental importância para a compreensão da deformação Cubista e do Cubismo como movimento das vanguardas artísticas na França. Na escultura precurssora, Picasso atingiu a deformação Cubista da forma, partindo de dentro para fora: conceitualmente inovadora, a obra é uma das mais importantes esculturas do século XX.

Entre outras de suas obras escultóricas experimentais, Picasso criou a escultura inédita, na qual ele utilizou selim e guidon de bicicleta, com os quais montou cabeça com chifres de touro. Essa obra foi fundida em bronze com o título de Cabeça de Touro (33,5 cm x 43,5 cm x 9 cm, no acervo do Museu Picasso, Paris). Todo tipo de objeto serviu para Picasso montar esculturas artísticas, usando sua criatividade pessoal, espontânea e especial.

CERÂMICA DE PICASSO.

Ceramista incomum, Picasso criou obras únicas nesta técnica, com formas e desenhos inconfundíveis.

CENOGRAFIA E FIGURINOS DE PICASSO.

Este texto encontra-se repetido na Sexta Parte da História dos Ballets Russes de S.P. Diaghilev.


Picasso tornou-se cenógrafo e figurinista para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergei Diaghilev (1872-1929), e realizou a cortina do palco, os cenários e figurinos para Parada [Parada] (1917), balé com libreto de Jean Cocteau (1885-1963), e música de Eric Satie (1866-1925), com coreografia de Léonid Massine (1894-1979), que estreou no Teatro do Châtelet (Paris, 18 de maio, 1917).
Diaghilev convidou Picasso para criar os novos cenários e figurinos para o balé de tema Espanol O Tricórnio [Le Tricorne] (1918), baseado no antigo texto de Pedro de Alarcón, com música de Manuel de Falla. Picasso tinha conhecido a bailarina Olga Koklova, com quem ele casou e partiu para Londres (set., 1918), acompanhado por André Derain (1880-1954).

A decoração cenográfica de Picasso para O Tricórnio foi inspirada nos cânones Cubistas e sua maquete original encontra-se no Museu da Ópera (Paris). Esse balé, pode ser considerado como moderno, mas não tem nada de revolucionário como o primeiro balé citado. Durante três meses Picasso dedicou-se à criação dos cenários e figurinos desta obra espanhola, que estreou com imediato sucesso no Teatro Alhambra (Londres, 1918). O Cubismo cenográfico de Picasso em O Tricórnio, ficou reduzido apenas a algumas paredes inclinadas no casario do cenário. Os figurinos foram verdadeira festa de cores e a cortina de cena foi simplificada, mostrando o casario tradicional espanhol em perspectiva com céu noturno estrelado visto através do arco da ponte. A música de Manuel de Falla contribuiu bastante para o sucesso do espetáculo: o músico introduziu sons de palmas, sonoros olés, castanholas, além de duas breves aparições de cantora que, apresentou através da voz, curtas canções O dia e A noite. A música de Manuel de Falla, alegre e animada, verdadeira festa musical, foi apresentada com a regência de Roberto Minzuk e a OSESP, na Sala São Paulo (abril, 2004).

A idéia de Sergei Diaghilev de criar balé baseado na Commedia del'Arte italiana, inspirado em manuscrito do século XVIII, que contava a história de quatro polichinelos parecidos. Surgiu assim o balé Polichinelo [Pulcinela] (1919), novamente com a cenografia de Picasso que inspirou-se nas decorações barrocas do teatro italiano. O artista começou desenhando cenários formais, que Diaghilev detestou, até que Picasso simplificou-os, agradando ao exigente empresário. O cenário terminou apresentando desenho de casario Cubista em perspectiva profunda, que mostrava ao fundo a lua cheia sobre o mar calmo onde flutuava embarcação à vela; no primeiro plano, Picasso criou falso Proscenium, desenhado de forma gráfica e multicolorida, obtendo efeito moderno para o clima geral de inspiração romântica. Picasso criou o figurino para o Polichinelo, personagem alto e gordo vestido com roupas simples de cores claras, com blusão largo com mangas bufantes e calças amplas também bufantes e da mesma cor, levando na cabeça chapéu alto e pontudo. Os desenhos dos costumes foram simplificados, mas funcionaram, apresentando no palco imenso vigor cênico. A trama complicada do balé Polichinelo [Pulcinela] (1919), mostrou a separação de amantes, intriga amorosa, pais tirânicos, com toda a trama chegando a final feliz devido a interferência do Polichinelo. A coreografia foi de Michel Fokine (1881-1942) e a música foi adaptada por Igor Stravinsky (1882-1971) das partituras de antigo compositor napolitano, Pergolesi, que Diaghilev escolheu como tema do balé. Em um ato e oito cenas a música apresentou canções criadas para soprano, tenor e baixo solistas. O impacto da música foi tamanho que permaneceu na Europa durante uma década. Os bailarinos escolhidos por Diaghilev foram russos: Tamara Kasarvina, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Leonid Massine, Tadeusz Idzikovsky, Nicolas Zverev; e a única exceção, Enrico Cechetti. No dia da estréia do balé Diaghilev não estava satisfeito, nem com os figurinos de Picasso, nem com a adaptação musical de Stravinsky: mas o balé conheceu grande sucesso, a partir da estréia (Paris, 15 maio, 1918).

Diaghilev encontrou a pequena troupe de dançarinos ciganos e cantores em Sevilha, que contratou para se apresentarem no balé Quadro Flamenco [Cuadro Flamenco] (1920). Nessa ocasião, a temporada parisiense dos Balés Russos era de apenas uma semana, a ser realizada no pequeno teatro afastado chamado de Gaieté-Lyrique. Dois balés estrearam na mesma noite : O Bufão [Le Chout], com a temática de como um Bufão, dançado por Tadeuz Slavinsky, enganou sete outros. O Quadro Flamenco, estreou com música de Sergei Sergeevich Prokofiev (1881-1953), cenários e figurinos de Picasso para o qual o artista desenhou ambiente simples e elegante, que agradou ao público. A música, apresentada com dois guitarristas espanhóis e troupe dos bailarinos espanhóis, que apresentaram-se dispostos em semi-círculo, de acordo com as tradições espanholas, postados na frente da pintura de Picasso para a cortina de cena. Depois da estréia em Paris, o balé partiu para ser apresentado no pequeno Prince's Teather (Londres), pertencente a C. B. Cochrane, onde foi aplaudido pelo Rei da Espanha.

Picasso pintou a cortina de cena para o balé O Trem Azul [Le Train Bleu] (1924), com libreto de Jean Cocteau. Esse trem, com cenários luxuosos e marqueteries assinadas por René Prou e acessórios de René Lalique partiu de Paris na direção da Côte d'Azur. Os viajantes ávidos de prazeres, esperavam ansiosos a visão da terra prometida, as praias do Mediterrâneo.

A cenografia do Trem Azul foi de Henri Laurens (1885-1954). O artista evocou, através do desenho das cabines, construções moderníssimas, derivadas da fase do Cubismo dito, Sintético. Essa praia seria invadida por turba delirante e numerosa em costumes de banho criados por Mademoiselle Chanel: ela lançou a moda da malha (jersey) para as roupas de banho e esporte, usando listras de cores vivas em linhas no estilo de figurinos, que ainda hoje seriam considerados modernos.

Picasso pintou somente a cortina de cena, que reproduziu seu quadro Duas mulheres correndo sobre a praia [Deux femmes courant sur la plage], mas parece que foi convidado na última hora. Jean Cocteau conhecia a costa e o mar, e Massine soube seduzir o público com a coreografia que incluía proezas de ginástica e malabarismos. Da praia o tema do balé partiu para esportes sofisticados, como tênis; Chanel vestiu Bronislava Nijinska (1891-1972), irmã de Vaslav Nijinsky (1889-1950) com costume esportivo branco, sapatos, meias-calça e camisa de malha esporte, até hoje figurino de conhecida grife francesa de roupas esportes. O figurino de Anton Dolin, o bailarino inglês estrela da apresentação, foi camiseta sem mangas e short de malha mescla; e, a bailarina Lydia Sokolova vestiu costume semelhante em outra cor. O balé O Trem Azul colocou na praia, ao mesmo tempo, mais de vinte bailarinos em cena. O argumento de Jean Cocteau, que trabalhou com a coreógrafa Bronislava Nijinska, deveria ser dançado com música leve, frívola e divertida. Diaghilev contratou Darius Milhaud, que estava escrevendo a música de Salada para os Balés do Conde de Beaumont, mas que aceitou escrever ao mesmo tempo a música de Le Train Bleu para os Balés Russos. A música foi apropriada para o espetáculo divertido que Cocteau produziu: a fanfarra composta por George Auric anunciou o espetáculo e a aparicão do soberbo desenho de Picasso no pano de cena, foi a obra escolhida para ilustrar o programa. O balé estreou no Teatro dos Campos Elísios e conheceu imediatamente grande sucesso (20 de junho, 1924).

Ballets do Conde de Beaumont.


Massine, agora considerado o maior coreógrafo mundial, havia se desligado da companhia de Diaghilev quando passou a colaborar para os espetáculos do Conde de Beaumont. O rico empreendedor, que começou organizando noites artísticas para entreter convidados de suas festas particulares, as quais toda a sociedade parisiense comparecia, foi convencido a organizar o Festival Noites de Paris [Soirées de Paris] (1924; 1925).


Picasso criou a cenografia para o balé Mercúrio [Mercure], para o qual pintou a cortina de cena para palco pequeno (400 cm x 500 cm) e discutiu muitas idéias novas para esta realização com o coreógrafo e bailarino Massine. A cenografia de Picasso foi bastante inovadora, moderna e baseou-se no relevo da linha contínua em desenhos moderníssimos, muito comentados, pois bem avançados para a época. Picasso estudou com Massine os diferentes modelos de figurinos, entre outros, os da carruagem de Perséfone que permitiu à Plutão fugir com sua prole, bem como do cavalo atrelado ao carro. O balé Mercúrio (Paris, 1924) foi montado com três quadros, que ilustravam as aventuras burlescas de deuses gregos, misturados aos humanos através da imaginação. O argumento foi de Jean Cocteau (1885-1963), que, buscou divertir enquanto escandalizava o público. Este balé foi encenado pela Cia. de Balé do Conde de Beaumont (Paris, 1924; 1925), que patrocinou os espetáculos As Noites de Paris [Les Soirées de Paris], nome com que homenageou a revista homônima, que Guillaume Apollinaire (1880-1918) editou anteriormente (Paris, 1912-1914).


Beaumont foi aristocrata com recursos, tinha muitos amigos na cidade-luz onde viveu e promoveu festas que ficaram famosas; ele arriscou seus recursos levando alguns espetáculos de balé aos palcos parisienses, como Salada [Salade], com música de Darius Milhaud (1892-1974), entre outros. Certo número de excelentes bailarinos russos que haviam colaborado anteriormente com os Balés Russos, mas que agora estavam afastados da companhia, participaram do balé Mercúrio, que não conheceu nenhum sucesso, nem mesmo depois quando foi reencenado por Diaghilev (1927).

Picasso, no final da década de 1940, criou os cenários e figurinos para outros balés.

PICASSO: ESCRITOR.

Picasso tornou-se escritor, depois que associou-se informalmente ao grupo dos escritores e artistas Surrealistas: ele passou a explorar a dita, Pintura-Poema, principalmente por seu legítimo interêsse na poesia Surrealista devido à sua imensa apreciação da poesia de Paul Éluard. Algumas destas poesias desenhadas e escritas por Picasso, foram publicadas nos Cahiers d'Art (vol. 10, nos. 7/10, 1935).

André Breton comentou que a escrita de Picasso apresentava como ponto de partida a realidade imediata, no sentido da criatividade pendendo mais para a estética do pensamento criativo de James Joyce do que para o automatismo psíquico do texto que o Surrealismo celebrava.Anos depois, Picasso escreveu em três dias (14-17 jan., 1941), a peça de teatro Surrealista, O Desejo seguro pelo rabo [Le Désir atrapé pour le queue]. A peça foi lida públicamente uma única vez; Breton comentou-a de modo crítico no livro O Surrealismo e a pintura [Le Surréalisme et la peinture] (Paris, republicado, 1961).

Bem que Breton gostaria de contar com artista como Picasso no seu quadro de associados ao Surrealismo, mas Picasso sempre foi por demais independente. No entanto, a peça de Picasso parece completamente Surrealista, pois, em vários momentos ocorrem poemas automáticos, formados por associacão de idéias, palavras encadeadas além de imagens arbitrárias com humor desenfreado, e, um tanto quanto negro. Nesse momento Picasso refletiu na liberação de sua veia literária as grandes dificuldades que a França e seus habitantes passaram durante os quatro anos de ocupação nazista.

A peça de Picasso parece reduzir-se a dois grandes temas - a fome e o amor. Picasso reinvindicou ao amor a liberdade e exerceu a liberdade de criação, sem as quais a vida do poeta e do verdadeiro artista torna-se impossível.

TAPEÇARIA DE PICASSO.

Em meados da década de 1920 a pintura cubista de Picasso, O grande Inquisidor, tansformou-se em Tapeçaria, tecida pelos Ateliês de Aubusson, encomendada pelas Edições Cutoli, de Marie Cutoli (Paris). A empresária convidou os mais destacados artistas plásticos europeus para criarem cada um uma pintura, que foi reproduzida na obra tecida na técnica, dita, de Gobelin. Esse conjunto de obras esteve em exposição na Galeria Reid e Lefèvre (Londres) e no Arts Club (Chicago, 1933).

Picasso foi o modelo de qualidade na diversidade de meios que empregou para expressar-se nas artes e tornou-se guia de várias gerações de artistas: foi único, simplesmente Picasso. Várias de suas obras (13), estiveram em exposição na importante mostra Surrealismo, no CCBB (Rio de Janeiro, 2001). Entre estas destacamos Cabeça de mulher [Tête de Femme] (1927, óleo/ areia/tela, 55 cm x 55 cm); Guitarra [Guitarre] (1926, cartão/ tule/ barbante/ traços de crayon, 12,5 cm x 10,4 cm); outra Guitarra [Guitarre] (1926, tule/ cartão pintado/ nanquim/ barbante/ fita, 14,2 cm x 9,5 cm); Homem lendo seu jornal [Homme lisant son journal] (1914, aquarela/ grafite/ papel, 32,1 cm x 23,9 cm); a escultura Cabeça de Mulher [Tête de Femme] (1929-1938, ferro/ chapa/ mola/ filtro de ar, 100 cm x 37 cm x 59 cm). Todas as obras de Picasso citadas, que apresentaram grande diversidade técnica, pertencem ao acervo do Museu Picasso (Paris).

Picasso foi homenageado por Henri-Georges Clouzot com o filme que retratou o artista, O Mistério Picasso [Le Mystère Picasso] (França, 1956), com fotografia de Claude Renoir e montagem de Henri Colpi, direção de Henri Clouzot. O filme foi projetado no Festival Marin Karmitz, do editor francês de filmes, que ocorreu no Centro Georges Pompidou (Paris, 10 abril - 24 junho, 1985). A mostra cinematográfica apresentou noventa e três filmes, além de exposição de fotografias.

Picasso foi homem de muitos amores, que tornaram-se famosos; foi tido como gênio de difícil convivência, mas foi homem apaixonado, não só pela arte, mas pela vida, que nunca deixou de celebrar intensamente. No século XX talvez Picasso tenha sido o artista que mais produziu, pois pintava um quadro completamente inovador a cada dia e somente deixou de fazê-lo durante período de poucos meses, quando perdeu sua amada Marcelle, que morreu de gripe (1914). Este foi o único período de sua longa vida no qual o artista parou de pintar por três ou quatro meses.

Podemos celebrar a vida e obra de Picasso, seu legado especial à humanidade, que tivemos a excepcional oportunidade de visitar através da mostra retrospectiva, que trouxe 126 obras do artista a Oca, no Parque do Ibirapuera, mostra que permaneceu aberta ao público no primeiro semestre (2004).

PICASSO ATOR.

Picasso atuou como ator em obras cinematográficas experimentais, como no filme O Testamento de Orfeu [Le Testament d'Orphée] (França, 1959, dir. Jean Cocteau, P&B, sonoro, 77').

Nenhum comentário:

Postar um comentário