BIOGRAFIA: SCHWITTERS, Kurt (1887-1948).
O artista multimídia, escultor, poeta e performático, escreveu poesias onomatopaicas, que recitou em apresentações pessoais. Schwitters foi escritor prolixo, tipógrafo e artista gráfico excepcional, que criou obras muito originais de caráter pessoal, que fundiram seu agudo senso de humor Dadaísta com legítimas qualidades plásticas, de uma maneira única na arte das vanguardas ocidentais.
O artista nasceu em Hanover (Alemanha) e morreu em Ambleside (Inglaterra). A familia de Schwitters foi abastada: ele estudou durante seis anos na Academia de Arte (Dresden, 1908-1914). A carreira de Schwitters apresentava a perspectiva de desenvolver-se de forma convencional, o que, felizmente, acabou não ocorrendo. O artista tinha 30 anos (1917), quando foi chamado para prestar o serviço militar durante o período da I Guerra Mundial (1914-1918); mas, após poucos meses Schwitters foi dispensado, pois, desde a juventude ele sofria de epilepsia. A situação econômica alemã no pós-guerra, bem como o prolongado período de inflação galopante, levaram toda a segurança e os recursos da familia de Schwitters, mas, ao mesmo tempo, transformaram-no em artista atuante nas vanguardas alemãs.
As primeiras obras na técnica de Colagem, de Schwitters datam do período do final da guerra (1918); o grande volume de prosa e poesia que ele escreveu, logo tornaram-no conhecido, mesmo fora das fronteiras de seu país. O artista contactou Herwarth Walden, do Grupo Editorial da Tempestade [Der Sturm] e participou de mostras artísticas na Galeria da Tempestade (Berlim). Schwitters tornou-se colaborador da revista Der Zeltweg, onde ele publicou um de seus poemas (único número, Zurich: Otto Flake, Walter Serner, Tristan Tzara, (eds.), nov., 1919), última publicação associada ao Dadaísmo em Zurique. Schwitters tentou participar das vanguardas Dadaístas, nesta cidade, mas foi recusado no grupo (1919). Switters revidou, criando pouco depois, com Hanah Höch e seu parceiro Raoul Hausmann, o Grupo Anti-Dadá-Mércio (v., abaixo), com o qual empreendeu excursão, realizando Performances no caminho de Berlim até chegarem a Praga (República Tcheca, set., 1921).
Schwitters compareceu ao Congresso dos Artistas Construtivistas e Dadaístas (Weimar, 1922; v. abaixo), que reuniu a maioria dos artistas e professores da Bauhaus alemã (Weimar, 1918-1925). Pouco depois, Schwitters iniciou a publicação de sua revista Merz (Hanover, jan., 1923-1932), com seu primeiro número dedicado aos Construtivistas holandeses, grupo liderado por Théo van Doesburg (1882-1931). Com esse grupo suas afinidades foram maiores do que com os Dadaístas, pelo fato de que Schwitters tinha a formação de tipógrafo, profissão que garantiu-lhe o sustento depois de sua enorme perda financeira familiar. Schwitters trabalhou como artista gráfico e desenhista comercial para empresas na região de Hanover, até que foi contratado pelo fundador da Bauhaus, o arquiteto Walter Gropius, para trabalhar para o Dammerstock (Karlsruhe,1929). Schwitters fundou o Círculo dos Novos Desenhistas Comerciais (Hanover, 1929-), quando ele se reuniu à Lazlo Moholy-Nagy, Caesar Domela e Friedrich Vordenberge-Gildewart, grupo ao qual, logo depois, se associaram Willi Baumeister, Walter Dexel e Jan Tschichold, entre outros artistas plásticos e gráficos de qualidade reconhecida. À parte deste trabalho voltado para sua sobrevivência, Schwitters continuou criando suas colagens e pinturas da série, dita, Merz; ele desenvolveu outras obras, relevos, modelos arquitetônicos e cenográficos, culminando com a construção de natureza escultórica do seu Merzbau [Casa Mércio], obra única e precursora nas vanguardas artísticas mundiais. Esta obra, que hoje seria denominada de Instalação, se tornou uma das mais enigmáticas construções da arte moderna e colocou Schwitters no patamar criativo mais elevado na criação de vanguarda.
Desde que Schwitters passou a publicar a revista Merz (Hanover, jan. 1923-1932), ele publicou várias vezes a palavra Anti-Dadá-Mércio, anunciando sua posição na arte. O nome de sua publicação, com periodicidade muito irregular, derivou do radical retirado da sílaba central da palavra Privat Kommerzbank, que existia em Hanover, cidade onde Schwitters viveu a maior parte de sua vida. Schwitters usou Merz como título de suas obras, entre outras, a Merzbau [Casa Merz]. Essa construção começou com madeiras e outros restos de materiais achados pelo artista nas ruas, lixo descartável: a construção foi crescendo em um canto da sala de estar de Schwitters, até que se transformou em Instalação permanente, a primeira que se tem notícia na arte, quando ainda nem existia nomenclatura que designasse esse tipo de obra nas artes plásticas. Schwitters morava no interior da mesma, em perfeita integração artista - obra ambiental. O artista alemão tinha a mente extremamente racional, organizada e sua Merzbau, que evoluiu lentamente, foi pintada quase toda de branco com pequenos detalhes em cor, gigantesca, dominante do ambiente, quase ascendendo ao céu (1925-). Essa obra de Schwitters foi completamente destruída durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial (1940-1945), mas posteriormente foi reconstruída, fotografada e se encontra reproduzida (GIBSON, 1991: 142-143).
Schwitters participou do Grupo Círculo e Quadrado [Cercle et Carré] (Paris, 1929-1931), de Théo van Doesburg; e do Grupo Arte Concreta Abstração Criação [Art Concrète Abstraction Création] (Paris, 1932-1936). Devido à ascensão do Partido Nacional Socialista no seu país, Schwitters foi perseguido pelos nazistas (1937-1939), ocasião em que várias de suas obras foram incluídas na mostra dita, Arte Degenerada [Entartete Kunst] (sic), inclusive sua primeira colagem da série Merz, hoje desaparecida. Para fugir dos nazistas o artista emigrou, época em que viveu no país ondecostumava passar temporadas de férias, Noruega (1937-1940). Na ocasião Schwitters executou outra construção bastante similar à primeira Instalação, que chamou de Merzbau [Casa Merz], mas ele foi obrigado a fugir novamente, e abandoná-la, devido a invasão alemã à Noruega. O artista viajou para a Inglaterra, onde ele foi aprisionado, internado em campo de prisioneiros como inimigo alemão. Depois da guerra ele foi libertado, e viveu em Ambleside, onde começou a construir seu novo Merzbau. O artista morreu no exílio sem completar sua obra (1948). Não foi senão depois de sua morte que sua obra vanguardista foi reconhecida internacionalmente: Schwitters se tornou um dos mais destacados artistas das vanguardas alemãs.
O retrato do artista, sua colagem Merzbild (sd, colagem/ papel, 97,8 cm x 65,8 cm, no Sprengelmuseum, Hanover) e seu Merzbild KJKDVIN (1923, montagem/ madeira, 74,3 cm x 60,3 cm), se encontram reproduzidos (GIBSON, 1991). A pequena, mas perfeita colagem de K. Schwitters, obra-prima das vanguardas artísticas pertence ao acervo do MAC – USP (São Paulo). Uma montagem de Schwitters (1926), se encontra reproduzida em RAGON (1992).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978. 475p.: il., pp. 132-133.
DICIONÁRIO. SEUPHOR, M. Dictionaire de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.: il., pp. 259, 260.
GIBSON, M. Duchamp Dada. Paris: N. E. F. Casterman, 1991. 263p.: il., pp. 132-136, 137-146, 255.
PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968,p. 182.
NÉRET, G. 30 ans d'art moderne: peintres et sculpteurs. Fribourg: Office du livre, 1988. 248p.: il., pp. 02.
SCHAMALENBACH, W.; GRASSKAMP, W. (Biogr.). German Art of the 20th Century: painting and sculpture 1905-1985. Translated by John Ormond. Munich - Düsseldorf: Prestel, 1987, p. 100.
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RAGON, M. Journal de l´Art Abstrait. Genève: Skira, 1992. 163p: il., p. 54.
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