BIOGRAFIA: LARIONOV, Mikhail Fiodorovitch (1881-1964).
Larionov organizou grupo de artistas de vanguarda com seu irmão Ivan Larionov, com os irmãos David e Ivan Burliuk e Aleksandra Ekster, entre outros. Em conjunto com o grupo, Larionov organizou várias mostras de arte, entre essas a Estefanos I e II [Sthepanhos]; o Salão do Grupo Velo de Ouro, mega-exposição de arte que incluiu amplo panorama da arte das vanguardas internacionais, convidadas para participarem de mostras na Rússia. Os três salões de arte do Velo de Ouro foram patrocinados pela revista homônima; as duas primeiras mostras apresentaram obras das vanguardas internacionais, principalmente da francesa, enquanto que a terceira e última mostra somente apresentou obras de artistas russos. Foi deste modo que a nascente arte das vanguardas européias, influenciou a nova arte das vanguardas russas (Moscou, 1907-1910).
Larionov expôs sua conhecida pintura O Boulevard, com influência da obra de Paul Gauguin, que se encontra reproduzida (LODDER, 1993). Na mesma mostra coletiva do Estúdio Kraft, Natália Gontcharova também expôs obras (Moscou, 1910). Larionov organizou a coletiva internacional, dita, Salão de Vladimir Izdebsky (Odessa, 1910). Outra mostra que Larionov organizou foi da associação de artistas União da Juventude (São Petersburgo, 1910). Mikhail Larionov passou o verão seguinte na companhia do escritor, dito, Futurista russo, Velemir Khlebenikov; de Aristarkh Lentulov e David Burliuk, quando o artista e promotor organizou o grupo revolucionário Valete de Diamantes [Bubnovy Valet] (v.). Para esse grupo Larionov organizou a primeira mostra, da qual ele participou com 25 pinturas. O artista tornou-se amigo de Vladimir Tatlin, de quem pintou o retrato no estilo cubista (1911).
Larionov tornou-se precurssor da Arte do Corpo [Body Art], através do primeiro Acontecimento [Happening], quando artistas de seu grupo como Natalia Gontcharova, Mikhail Le Dantu e Ilya Zdanevich, participaram de passeata pelas ruas de Riga, vestidos com roupas formais, mas com os rostos pintados com símbolos abstratos. Foi assim que os artistas das vanguardas russas compareceram à inauguração do cabaré Cachorro Viralata, de Nicolay Kulbin (Moscou). A fotografia posada dos artistas com os rostos pintados encontra-se publicada (KOVTUN, 1983).
Mikhail Larionov foi convocado, e prestou o serviço militar (1910-1911). Na primavera seguinte, ainda no exército, Larionov pintou mais de 40 obras figurativas com temas militares e de soldados, nas quais utilizou técnica baseada na Arte Primitiva (1912-1913; v.). Nessa época, Larionov, na companhia de N. Goncharova, Vladimir Tatlin, Aleksey Morgunov e Kasemir Malevich, abandonou o Grupo Valete de Diamantes [Bubnovy Valet], para, fundar outro grupo próprio, o Rabo de Burro [Osliny Kvost].
Larionov apresentou 140 pinturas na mostra com apenas um dia de duração, mas que incluiu debates e palestras (Moscou, 8 dez., 1912). Larionov apresentou o seu Manifesto Raionista na mostra coletiva do Grupo União da Juventude (São Petersburgo, dez., 1912). O artista expôs suas primeiras pinturas no novo estilo dinâmico, dito, Raionista, nas quais pinturas multicoloridas, com nítida influência do Futurismo italiano, quase chegaram à Abstração. Essa mostra apresentou obras de mesmo estilo, dito raionista, de N. Gontcharova e de M. Le Dantu.
Larionov publicou vários escritos sobre arte, entre outros textos, alguns com coautoria de Nicolay Kruchenykh, Mikhail Rogovin e Vladimir Tatlin. Na época, as obras raionistas do grupo estiveram em exposição (São Petersburgo e Moscou, 1912-1914). Obras de Larionov participaram de importantes exposições no exterior, como a segunda mostra do Grupo do Cavaleiro Azul [Der Blaue Reiter] (Munique, 1912; v.), organizada pelo artista russo emigrado, Wassily Kandinsky. Foi Larionov quem organizou a mostra A Diana (1913), em homenagem ao casal Robert e Sonia Delaunay: Sonia era russa, e seu marido Robert Delaunay, francês, casal que Larionov conheceu na primeira temporada parisiense (1906).
O poeta e escritor Ilya Zdanevich escreveu a primeira monografia sobre M. Larionov e N. Goncharova. O casal produziu e atuou no filme Drama no Cabaré 13 (Moscou, 1913); um fotograma [still] do filme encontra-se reproduzido (HULTEN, 1986).
O Futurista italiano F. T. Marinetti visitou a Rússia, a convite de Nicolay Kulbin (jan.-fev., 1914). O escritor proferiu palestras no cabaré Cachorro Vira-lata e ofereceu recepção as vanguardas russas, que compareceram em peso. A fotografia dos artistas russos, com Marinetti sentado em primeiro plano e Natália Gontcharova a seu lado com vestido de gola rendada e Vladimir Tatlin sentado do lado direito de Marinetti, que fuma charuto, no centro da foto; e Larinonov, ladeado por V. V. Maiakovsky, encontra-se em pé, do lado esquerdo da foto publicada (HULTEN, 1986, 498; v. acima). Larionov associou-se aos artistas das vanguardas russas que fizeram violenta oposição à visita do Futurista italiano; inclusive, foram publicados artigos incisivos na imprensa da época.
Larionov organizou outra mostra: a N. 4, Raionistas, Futuristas e Primitivos (1914), na qual valorizou a arte primitiva de raiz folclórica, através da participação do pintor primitivo Niko Pirosmani (Geórgia, Armênia). Nessa mostra Larionov expôs os ícones russos e as gravuras produzidas na técnica primitiva, dita, Lubok. Participaram da mostra obras no novo estilo Raionista de Larionov, nas quais o artista incorporou as cores e o dinamismo plástico Futurista, chegando quase à abstração.
O artista foi convidado para expôr na mostra internacional, dita, Salão de Outono alemão, realizada na Galeria da Tempestade [Der Sturm] (Berlim, set., 1913). Obras do artista participaram de coletiva nas Galerias Grafton (Londres, 1914). Larionov viajou para Paris com Natalia Gontcharova com quem expôs obras raionistas na mostra conjunta na Galeria Paul Guillaume (junho, 1914), com apresentação no convite do crítico de arte e poeta Guillaume Apollinaire.
Larionov regressou a seu país, quando serviu ao exército russo que passou a participar da I Guerra Mundial (1 agos., 1914). O artista lutou e foi gravemente ferido na frente de batalha e permaneceu vários meses hospitalizado. Nesse período, Larionov foi visitado por Ossip Brik e Vladimir Lentulov: a fotografia dessa visita encontra-se publicada (KRENS,1992). O artista foi desmobilizado (1915); e, em seguida, convidado por seu amigo Sergey Diaghilev para tornar-se Diretor de Arte dos Balés Russos, da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1909-1929). Larionov abandonou a Rússia e retornou a Zurique, onde reuniu-se a Natália Gontcharova.
Antes da companhia partir para a primeira turnê nos Estados Unidos, realizou-se a primeira récita do balé O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit], dançado por bailarinos e bailarinas no papel de camponeses russos, com música de Nicolay Rimsky-Korsakov, coreografia de Léonid Massine e cenografia e figurinos de Mikhail Larionov. O balé alcançou certo sucesso e realizou-se outra récita beneficente, em matinê, no Teatro da Ópera de Paris (Paris, dez., 1915).
A companhia partiu de navio (Bordeaux-Boston) e chegou à América (11 de janeiro, 1916); a temporada nova-iorquina estreou no Teatro Century (Nova York, 17 jan.), quando os Ballets Russes apresentaram quatro espetáculos: O Pássaro de Fogo (Stravinsky); o Pas de deux do Pássaro Azul, de A Bela Adormecida (Tchaikowsky-Stravinsky); O Sol da Noite e Shéhérezade, ambos com música de Rimsky-Korsakov. Todos os espetáculos haviam encenados nos palcos americanos haviam estreado nos palcos europeus, menos Till Eulenspiegel (R, Strauss): foram O Sol da Noite (Rimsky-Korsakov), Shéhérezade (Rimsky-Korsakov), Petruschka (Stravinsky), O Especto da Rosa (Reynaldo Hahn), Narciso (Tcherepnin), Cleópatra (Arensky) e O Pássaro de Fogo (Stravinsky). Os balés Shéhérezade (1910) e O Pássaro de Fogo (1914) foram estrondosos sucessos europeus dos Balés Russos (Paris, 1909-1929).
Como diretor artístico da Cia. Teatral S. P. Diaghilev, promotora dos Balés Russos, Larionov participou com Natália Gontcharova da criação e confecção de cenografias e figurinos para muitas das produções de Sergey Diaghilev (Paris, 1915-1929). Os artistas trabalharam durante vários anos nessa companhia, até o final, depois da morte do empresário Diaghilev. Larionov criou a cenografia e figurinos para os balés O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit] (1915); Contos Russos [Contes Russes] (1917); O Bufão [Le Choût] (1921), A Raposa [Le Renard] (1922); e, reencenou, com cenários e figurinos Construtivistas A Raposa (1929), último balé apresentado pela Cia. de Diaghilev, que faleceu nesse ano (Veneza, agosto, 1929). Infelizmente, nunca nos deparamos com imagens publicadas dessas produções citadas acima dos Balés Russos.
Depois da Temporada Americana, ocorreu a Temporada Italiana dos Balés Russos, quando o antigo balé Kikimora, com música de Anatoly Lyadov recentemente falecido. Esse balé, agora renomeado, integrado aos Contos Russos, foi encenado com coreografia de Léonid Massine, cenários e figurinos de Mikhail Larionov, estreando no Teatro San Carlo (Nápoles, 1917). sendo apresentado na mesma temporada parisiense (11 maio, 1917).
Foi encenado o balé O Bufão: Como um Bufão Enganou Sete Outros Bufões, com música de Sergey Prokofiev, coreografia de Léonid Massine e cenários e figurinos de Mikhail Larionov. No início do ano Diaghilev levou Bóris Kochno consigo para Madri, quando ele preparava os novos balés para a próxima temporada. O empresário russo acabara de ser abandonado por seu amante de longa data, o bailarino e principal coreógrafo de sua companhia, Léonid Massine, que ele transformou em estrela de primeira grandeza. Diaghilev transferiu o principal papel do balé O Bufão [Le Chout], que pertencia a Massine, para o jovem bailarino Taddeusz Slavinsky dançar. A estética empregada por Larionov na cenografia misturou a influência do Cubismo com a colorida síntese da arte folclórica campesina russa. O balé não fez sucesso, somente foi apresentado na curta temporada de apenas uma semana no pequeno teatro afastado do circuito sofisticado parisiense, o Gaieté-Lyrique (Paris, 17 maio, 1921).
O balé considerado obra-prima dos Ballets Russes foi A Raposa: história burlesca cantada e brincada [Le Renard, histoire burlesque chantée et jouée], que estreou com música de Igor Stravinsky, coreografia de Bronislava Nijinska, cenários e figurinos do vanguardista russo Mikhail Larionov (Paris, 1922). A música cantada foi escrita para o quarteto composto por dois tenores, barítono e baixo: a música instrumental Stravinsky escreveu para pequeno grupo de instrumentistas, oferecendo papel proeminente ao instrumento oriental que ele ressuscitou, o Cimbalon, espécie de cítara. A marcha que abre e fecha a música, contém certo tom de inevitabilidade, e, palavras sem sentido (Pribaoutki), causam grande impacto quando cantadas no final. O quarteto ficou posicionado no fosso com pequeno conjunto de músicos, enquanto no palco os dançarinos se apresentavam nos papéis de animais: o galo tolo sendo estrangulado pelo gato, o bode e a raposa predadora, todos juntos. Declarou SHEAD (1989: 120):
[…] As modestas dimensões de Le Renard, histoire burlesque chantée et jouée, disfarçam sua importância […]
Anos depois Larionov criou novos cenários Construtivistas para a reapresentação da nova versão musical de Igor Stravinsky para A Raposa [Le Renard] (1929). O público achou desconcertante a música de Stravinsky, mas o balé recebeu certo sucesso de estima. A primeira apresentacão foi no Teatro da Ópera (Paris, 18 maio, 1922), com a orquestra sob a regência do maestro Ernest Ansermet, o mesmo que regeu o Invitational Concert, na Brodcasting House (Londres, 12 abr., 1935); e a reapresentação, com a Orquestra da Suíça Romande (Genebra, 17 out., 1955).
Anos depois Larionov criou novos cenários Construtivistas para a reapresentação da nova versão musical de Igor Stravinsky para A Raposa [Le Renard] (1929). O público achou desconcertante a música de Stravinsky, mas o balé recebeu certo sucesso de estima. A primeira apresentacão foi no Teatro da Ópera (Paris, 18 maio, 1922), com a orquestra sob a regência do maestro Ernest Ansermet, o mesmo que regeu o Invitational Concert, na Brodcasting House (Londres, 12 abr., 1935); e a reapresentação, com a Orquestra da Suíça Romande (Genebra, 17 out., 1955).
Obras de Larionov continuaram a participar de mostras coletivas internacionais, como na Galeria de Duas Ilhas (Roma, 1917); em Tiflis (hoje Tbilisi capital da Armênia, na Geórgia, 1918); na Galeria Tretiakov (1919); na Bienal de Veneza, mostra itinerante a Paris e Londres, entre outras capitais européias (1920).
Décadas depois Larionov participou com c. 40 obras da mostra individual na Galeria de Duas Ilhas [Deux Îlles] (1948); com obras na importante coletiva Primeiros Mestres da Arte Abstrata, na Galeria Maeght (1949); na A Obra do Século XX, no MNAM (1952); na mostra da Galeria do Instituto (1956), todas as citadas ocorreram em Paris. Na década de 1960 os artistas N. Goncharova e M. Larionov, morreram em relativo ostracismo (Paris, 1962; 1964). A fotografia do artista e de sua obra quase abstrata, Raionismo em vermelho e azul (1911), encontra-se reproduzida (RAGON, 1992); a pintura Raionismo (1913), encontra-se reproduzida (SEUPHOR, 1957).
A cidade de São Paulo recebeu a mostra 500 anos de Arte Russa, vinda com 350 obras do Museu Russo de São Petersburgo, contando toda a trajetória da arte no país. As vanguardas russas foram brindadas com pequena mostra de obras em seção da exposição, inaugurada na Oca do Parque do Ibirapuera (São Paulo, junho 2002). A obra Vênus (1912) de Mikhail Larionov esteve em exposição e sua fotografia foi publicada no Caderno B do (JB), Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, 9 jun., 2002).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS PARA A BIOGRAFIA DE LARIONOV: v. abaixo.
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