BIOGRAFIA: BAKST, Léon, Lev Samoilovitch Rozenberg (1866-1924).
O artista plástico multimídia, que se tornou crítico de arte, pintor, desenhista, cenógrafo e figurinista, estudou inicialmente na Academia de Belas Artes (São Petersburgo). Bakst estudou com Jean-Léon Gerôme, na Escola Nacional Superior de Belas Artes e na Academia Julian (Paris). Quando voltou a viver na Rússia, Bakst foi um dos fundadores, juntamente com Sergey Diaghilev, do Grupo Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (1898-1924; v.).
Bakst se destacou como cenógrafo e figurinista nos sofisticados palcos europeus devido às inúmeras encenações que realizou para os Ballets Russes [Balés Russos], da Companhia Teatral S. P. Diaghilev. Bakst dominava a técnica do desenho clássico, aliada a sofisticada imaginação: ele participou do mundo da alta sociedade russa na corte do Czar Nicolau II (São Petersburgo).
O primeiro cenário de Bakst realizou foi para Édipo, tragédia em cinco atos de Sófocles, traduzida em versos de D. S. Merezkovsky, na peça dirigida por E. Ozarovsky com música de F. Overback, encenada no Teatro Aleksandrinsky (São Petersburgo, 8 jan. 1904). O artista desenhou para S. P. Diaghilev os cenários e figurinos da primeira encenação de Cleópatra, o último balé da noite de estréia dos Balés Russos nos palcos parisienses (1909). Cleópatra foi baseado no libreto do balé Uma Noite no Egito, com música de Anton Stepanovitch Arensky: Diaghilev trocou de música e o balé foi inicialmente apresentado com música de vários compositores russos, com coreografia de Michel Fokine e cenários e figurinos de Léon Bakst. Nessa apresentação Nijinsky (1889-1950) dançou como par de Tamara Kasarvina; e Michel Fokine (1881-1942) como Amon, foi par de Anna Pavlova (1882-1931), como Ta-Hor. Depois da apresentação da dança, apareceu no palco a dita, Procissão de Cleópatra, quando o grupo de bailarinos carregou o sarcófago, cuja abertura o coreógrafo transformou em ato cênico espetacular. A bailarina Ida Rubinstein, considerada uma das mais belas jovens de seu tempo, foi a estrela principal desse espetáculo dos Ballets Russes, estreando no papel principal de Rainha do Egito, que ela desempenhou com perfeição (2 jun., 1909). Esse balé tornou-se o primeiro espetáculo mais popular dos Balés Russos e promoveu efeito imediato na moda e na decoração parisiense, que recebeu a influência egípcia (1910-1911).
No século XX um dos maiores sucessos dos Balés Russos da Cia. Teatral Sergey P. Diaghilev foi o espetáculo baseado no poema sinfônico Shéhérazade, do compositor Nicolay Rimsky-Korsakov, do Grupo dos Cinco (músicos russos; v.). O balé Shéhérazade estreou na segunda temporada (20 maio, 1910), com a orquestra sob a regência do maestro e compositor russo Nicolas Tcherepnin, com coreografia de Michel Fokine e cenários e figurinos de Léon Bakst. Esse balé foi dançado por Vera Fokina, esposa do bailarino e coreógrafo; e com Vaslav Nijinsky no seu melhor papel, do escravo dourado. A bailarina Ida Rubinstein estreou no papel principal (Zobeida), mas logo depois ela foi substituída por Tamara Kasarvina, que se transformou na principal estrela da companhia russa. O público francês, que aguardava com impaciência o retorno dos Balés Russos, ficou aturdido com o luxo, a magnificência e a esplendorosa beleza dos cenários e figurinos de Léon Bakst. Para esse espetáculo o cenógrafo russo montou imensa tenda com luxuosos tecidos de seda com fundo verde claro e estampado floral, nas cores rosa e âmbar; e, no interior, sobre magnífico tapete Bokhara, pousavam luxuriantes almofadões coloridos, brilhantes, iluminados por lampadários de prata. A fotografia desse cenário se encontra reproduzida (SEUPHOR, 1957); e as guaches originais pertencem ao acervo do Museu das Artes Decorativas [Musée des Arts Decoratifs] (Paris). Outro desses desenhos de Bakst se encontra reproduzido (HAZAM, 1963).
Bakst foi o cenógrafo do balé Carnaval, com música de Schumann, encenado inicialmente na Sala Pavlova (São Petersburgo, 1910): e, encenado pelos Balés Russos, com coreografia de Michel Fokine, bailarino e coreógrafo que dançou esse balé fazendo par com sua esposa, Vera Antonova Fokina, com cenários e figurinos dele, Bakst (Paris, 1910; Londres, 1919).
Bakst desenhou os cenários e figurinos para o balé Narciso (Paris, 1912), com música de Nicolas Tcherepnin, coreografia de Michel Fokine, reapresentado na Temporada Americana dos Ballets Russes da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (1916-1917).
O balé O Espectro da Rosa, foi criado pelo poderoso grupo intelectual de Gays parisienses, liderado por Jean Cocteau; com música de Reynaldo Hahn, cenários e figurinos de Léon Bakst, apresentado pelos Ballets Russes da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1912). Esse balé atingiu sucesso muito maior que o esperado, permaneceu no repertório da companhia e foi apresentado em outras temporadas (1914-), e também na primeira excursão européia dos Balés Russos, quando estreou em Monte Carlo e acompanhou a companhia que viajou se apresentando em Roma, Paris e Londres; também foi reapresentado na Temporada Americana dos Balés Russos (1916-1917).
Bakst desenhou cenários e figurinos para o balé O Deus Azul, com música de Reynaldo Hahn; para Daphnis e Chloé, com música de Maurice Ravel (Paris, 1909), balé que posteriormente participou das festividades comemorativas da coroação do Rei George V e da Rainha Mary (Londres); para o balé Thamar, apresentado com música de Mili Balachirev do Grupo dos Cinco músicos russos; para o balé Narciso, com música de Nicholas Tcherepnin, todos os citados com coreografia de Michel Fokine e todos apresentados pelos Ballets Russes, da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1912). Na mesma temporada parisiense Bakst criou a cenografia e figurinos para o novo balé O Entardecer de um Fauno [L' aprés midi d'un faune], com música Claude Debussy e coreografia de Vaslav Nijinsky para a Companhia Teatral S. P. Diaghilev.
No ano seguinte Bakst criou cenografia e figurinos para Jogos [Jeux], com música de Claude Debussy. Esse balé, pouco reconhecido na época, mais do que sobre um jogo de tenis a três, explícito, pois o quarto personagem mencionado nunca apareceu no palco, versou implícitamente sobre o verdadeiro jogo amoroso. Passaram-se décadas até a música de Debussy pudesse ser reconhecida como obra-prima musical das vanguardas parisienses (Paris, 15 maio, 1913).
Estreou com os Ballets Russes A lenda de José [La Legende de Joseph], com libreto do conde Harry Kessler e do romancista Hugo von Hoffmansthal, a música de Richard Strauss dedicada a E. Hermann (Opus 63), a coreografia de Léonid Massine, a cenografia do pintor espanhol José Maria Sert e os figurinos de Léon Bakst. Nos papéis principais dançaram na estréia Maria Kusnetsova (a esposa de Potifar) e Léonid Massine (José), com a orquestra sob a regência do próprio compositor (Paris, 14 maio; Londres, 17 maio, 1914).
Depois da Temporada Americana, na Temporada Italiana, cenários e figurinos de Léon Bakst encenaram o balé Mulheres Bem Humoradas [Donne de Buon Umore], com libreto de Carlo Goldoni, música de Domenico Scarlatti orquestrada por Vincenzo Tommasini, coreografia de Léonid Massine, que estreou no Teatro Costanzi (Roma, 12 abril, 1917).
O último balé que estreou com luxuosos cenários e figurinos de Léon Bakst foi A Bela adormecida [The Sleeping Princess]. Stravinsky compôs A Bela Adormecida: Variação de Aurora e Entreato Sinfônico [The Sleeping Beauty: Variation d'Aurore and Entr'acte symphonique], destinado a reapresentação do balé homônimo baseado na música de P. I. Tchaikowsky, com coreografia de Léonid Massine (Londres, 3 nov., 1921). As roupas luxuosas do século XVIII foram bordadas em ouro e prata sobre tecidos nobres como brocado de seda, usando profusão de plumas e adereços nos chapéus, arranjos de cabeça, colares e pedrarias. O cenário foi ambientado no século XVIII. Essa temporada londrina fracassou, não pagou nem as despesas principais: após 105 récitas no teatro vazio, Diaghilev terminou o ano com dívida junto a seus financiadores bem maior do que no começo. No final da temporada, os luxuosos cenários e figurinos criados por Léon Bakst para A Bela adormecida, foram confiscados por Oswald Stoll. Esse balé completo jamais foi encenado novamente pela companhia dos Ballets Russes; os desenhos de vários dos figurinos de Bakst se encontram reproduzidos (SHEAD, 1989).
Bakst viveu muito tempo na capital francesa (1912-1924); ele também foi cenógrafo da companhia de Ida Rubinstein, dos Balés de Monte Carlo, unindo ao esplendor oriental das mil e uma noites as cores das vestes folclóricas russas. Alguns dos desenhos originais de Bakst podem ser encontrados no acervo do Victoria and Albert Museum (Londres), mas a maioria pertence à Biblioteca da Ópera e ao Museu das Artes Decorativas (Paris); ainda outros, ao Museu Teatral Aleksey Bachrusín (Moscou). A pintura de Bakst O Café da Manhã ou o Jantar [Le Dejeuner ou le Dîner] (1902), se encontra reproduzida (PIERRE, 1991). Obras do artista participaram de mostras póstumas, como a do 225o Aniversário da Academia de Belas Artes da U.R.S.S (Moscou, 1983); da O Pintor e o Teatro no Século XX, itinerante a Frankfurt e Avignon (Alemanha; França, 1986); da exposição Sergey Diaghilev e a Cultura Artística Russa nos séculos XIX – XX, realizada no Museu Teatral Estatal Alexey Bachrusín (Moscou, 1989).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, D. (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 70.
DICIONÁRIO. CHILVERS, I. The Concise Oxford Dictionary of Art and Artists. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1990. 517p., pp. 47-48. (Oxford reference)
DICIONÁRIO. CHILVERS, I. Dictionary of 20th century art. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1998. 670p,. pp. 51-52. (Oxford reference)
DICIONÁRIO. SEUPHOR, V. M. Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963, pp. 14-18.
DICIONÁRIO. SEUPHOR, V. M. Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963, pp. 14-18.
DICIONÁRIO. THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth-Century Composers: 1911-1971. London: Farber & Farber, 1973. 666p. 16,5 x 24,5 cm, pp. 429, 461, 462.
PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p. 178.
SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 66, 68.
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