quarta-feira, 13 de junho de 2012

BIOGRAFIA: HONEGGER, Arthur (1892-1955).


BIOGRAFIA: HONEGGER, Arthur (1892-1955).

O músico e compositor nasceu em Le Havre (França), filho de família protestante suíca; ele estudou no Conservatório Suíço (Zurique, 1909-1911). Quando foi estudar em Paris, Honegger instalou-se em Montmartre, onde passou o resto de sua vida (1913-1955). No Conservatório de Paris Honegger foi aluno de violino de Lucian Caplet; ele estudou Composição com Widor, Gedalge e Vincent D'Indy. Honneger interrompeu seus estudos durante a I Guerra Mundial, quando serviu o exército na Guarda Suíça; mas, posteriormente, voltou a estudar no Conservatório de Paris (1916-).

Desde que Sergey Diaghilev instalou a Cia. Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1909-1929), tornou-se conhecido na imprensa francesa o chamado o Grupo dos Cinco, músicos russos, integrado por Mili Alekssevich Balakirev (1837-1910), Aleksandr Porfirevitch Borodin (1833-1887), César Antonovitch Cui (1835-1918), Modest Petrovich Musorgsky (1839-1881) e Nicolay Andreevitch Rimsky-Korsakov (1884-1908). Diaghilev apoiou na música desses compositores, as primeiras produções dos Balés Russos.

Logo depois da I GM (1918), Honneger foi atraído pelo clima de renovação musical existente na França, tornou-se amigo próximo de Darius Milhaud e do pianista Andrée Vaurabourg; ele associou-se ao grupo de músicos que ficaram conhecidos como Os Novos Jovens [Les nouveaux jeunes]. Na reunião promovida na residência de Darius Milhaud, os integrantes deste grupo musical apresentaram suas composições no piano, ocasião em que foram ouvidos pelo crítico Henri Collet, que deu o novo nome com o qual o grupo tornou-se conhecido: o Grupo dos Seis [Groupe des Six], que, sob a égide do poeta e artista multimídia Jean Cocteau, incluiu os compositores Georges Auric (1899-1963), Arthur Honegger, Darius Milhaud (1892-1974), Francis Poulenc (1899-1963), Germaine Tailleferre (1892-1983) e Louis Durey, que logo abandonou o grupo sendo substituído por Henri Sauguet (1901-1989). Duas figuras, Germaine Tailleferre e Louis Durey, foram consideradas menores (SHEAD, 1983): a música de Honegger foi considerada por Diaghilev como muito austera e nenhum dos citados compôs música para os Ballets Russes. No entanto, Poulenc, Auric e Milhaud, receberam pedidos de composições para vários espetáculos da Cia. Teatral S. P. Diaghilev. Dois compositores franceses, Erik Satie e Henri Sauguet, esses associados à Escola de Arcueil liderada por Satie, foram absorvidos pelo círculo criativo dos Balés Russos, que também projetou Claude Debussy, Maurice Ravel, e Florent Schmitt (1870-1958), na primeira leva de músicos franceses.

A pedido de Jeanne Ronsay Honegger compôs uma das primeiras composições para Os ditos Jogos do Mundo [Les dits Jeux du Monde]. Somente depois que Honneger escreveu música para seu primeiro espetáculo de balé Skating Rink [Rinque de Patinação], com libreto de Riciotto Canudo, obra encenada pelos Balés Suecos que apresentou cenários e figurinos de Fernand Léger, balé que Tarsila do Amaral assistiu na estréia (Paris, 1921). A crítica da época escreveu:


[…] título em inglês, tema italiano, balé sueco, música suíça, climax muito parisiense - tudo funcionou às mil maravilhas […]

Os músicos do Grupo dos Seis, compuseram uma única obra conjunta; ficaram conhecidos com as composições musicais criadas para a farsa dançada Os Noivos da Torre Eiffel [Les Mariées de La Tour Eiffel], apresentação dos Balés Suecos [Ballets Suedois] (Paris, 1921), companhia do empresário sueco Rolf de Maré. O libreto foi de autoria de Jean Cocteau e cada um dos músicos compôs uma peça: um a abertura, outro a valsa, outro a quadrilha, e assim por diante. Coube a Honegger compôr a Marcha Fúnebre, nessa farsa dançada, na qual a cenografia foi de Irene Lagut, as máscaras de Jean Hugo e Valentine Gross, as malhas dos figurinos apresentadas como o colante, invenção de Paul Colin. As fotografias do original espetáculo encontram-se reproduzidas (HAGER, 1986).

A música de Honegger tinha acentuada veia lírica e sua originalidade ficou totalmente confirmada quando compôs O Rei David [Le Roi David] (1921), salmo dramático encomendado por René Morax, poeta suíço que tinha criado o Teatro Jorat, em Mezières, perto de Lausanne. Durante os verões, na construção de madeira inspirada nos primeiros teatros medievais ingleses, no meio do campo, organizava-se o Festival de Teatro e Música, que até hoje ocorre no local. Foram apresentadas obras cênicas, com grande reforço coral que, desde o século XVI tornaram popular a expressão dos salmos. O libreto de O Rei David [Le Roi David] foi de autoria de Morat, que deu apenas dois meses para Honneger compôr a música da obra que estreou com dezessete instrumentos e coral para cem vozes. Foi um grande sucessoa estréia em Mezières com cenografia especialmente preparada. Dois anos mais tarde Honegger fez a revisão da obra, ampliando a partitura original (COLI, 2003).

A obra O Rei David foi coreografada por Serge Lifar e levada aos palcos com o patrocínio de Rolf de Maré (Paris, 1921-1922). Arthur Honegger conquistou ampla divulgação na primeira metade do século XX com seu salmo dramático, como êle mesmo o definiu, seu primeiro grande sucesso. Essa obra (Edição Foetisch), foi recentemente apresentada pela O.S.P., sob a regência de John Neschling, na Sala São Paulo. O programa de concertos da temporada (mar., 2003), reproduziu o texto de Rei David, no original, traduzido na íntegra (Bia Preiss). A formação da orquestra incluiu narrador, atriz, coro, soprano, contralto, tenor solista, 2 flautas (1 piccolo), 2 oboés (1 corne inglês), 2 clarinetes (1 clarone), 2 fagotes (1 contrafagote), 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, pratos, bombo, pandeiro, caixa, tam-tam, harpa, celesta, orgão e cordas. A música têm a duração aproximada de 70 minutos.

Outras composições de Honegger para a companhia de Ida Rubinstein, atriz, bailarina e diretora dos Balés de Monte Carlo foram: A Imperatriz nos Rochedos [L'Imperatrice aux rochers] (1927); As Núpcias [Les Noces] (1928); Psyché (1928). E, os balés baseados em libretos do poeta francês Paul Valéry:; Amphion (1931), Semíramis (1934) e O Pássaro Branco [L'Oiseau Blanc], obras encenadas na Sala Pleyel (Paris).

A música de O Cântico dos Cânticos [Le Cantique des Cantiques] (1938), foi criada para Serge Lifar e estreou com a bailarina Carina Ari no papel principal, com cenografia e figurinos de Paul Colin (v. biografia); e O Apelo da Montanha [L'Appel de la Montagne] (1945), O Nascimento das Cores [La Naissance des couleurs] (1949), todas músicas de Honegger compostas para os Ballets da Ópera de Paris.

Honegger foi requisitado para compor música para o nascente cinema francês: ele compôs Cadência [Cadence] para violino e piano, para a fantasia cinematográfica O Boi no Telhado [Le Boeuf sur le Toit], apresentada como Espetáculo-Concerto, de Darius Milhaud e Raoul Dufy (Paris, mar., 1920). Honegger compôs a música para o filme A Roda [La Roue], produzido por Charles Pathé, dirigido por Abel Gance tendo como assistente o poeta vanguardista Blaise Cendrars; atuaram Séverin Mars e Ivy Close (1921). Honegger compôs música para o filme Estupro [Rapt] (1933), dirigido por Dimitri Kirsanov baseado no romance A Separação das Raças [La Séparation des Races] de C.-F. Ramuz, no qual atuaram Jeanne Marie-Laurent, Auguste Boverio, Nádia Sibirskaia e Lucas Gridoux. O filme estreou na Inglaterra, no Cinema Academy (dez., 1934). No mesmo ano Honegger compôs a música para A Idéia [L'Idée], filme de animação criado, dirigido, produzido e fotografado por Bertold Bartosch, sobre gravuras em madeira de autoria de Frank Masereel, produzido pela London Film Society (Inglaterra, 1934).

Honegger produziu a música para outros dois filmes: Cessem o Fogo [Cessez le Feu], dirigido por Jacques de Baroncelli, e Os Miseráveis [Les Misérables] baseado no romance homônimo de Victor Hugo, sob a direção de Raimond Bernard, com produção Pathé-Natan, no qual atuaram Harry Bauer, Charles Vanel,  Charles Dullin e Florelle. Estreou na Inglaterra somente a primeira parte deste épico em três partes (101'). Honegger compôs a Suite Sinfônica: Os Miseráveis, apresentada nos Concertos Siohan, na Sala Rameau (Paris, 19 jan., 1935). Pierre Blanchard, Harry Baur e Madeleine Ozeray, entre outros, nesse filme distribuído na pela Film Society (Inglaterra, 1936). Honegger compôs música em parceria com Roland Manuel para outro filme de Jacques de Baroncelli: O Rei da Camargue [Le Roi de la Camargue], no qual atuaram Simone Bourday e Tela Tchai.

Outro filme produzido com argumento baseado no romance bastante conhecido de Fyodor Dostoievsky, Crime e Castigo [Crime et Châtiment], que, dirigido por Pierre Chenal foi produzido pela Cia. Geral de Produções Cinematográficas [Cie. Générale de Productions Cinemátographiques].

 
Honegger compôs ainda música para Judith, Fedra [Phaedre], Antígona [Antigone], Joana d'Arc na Fogueira [Jeanne d'Arc au bûcher], A Dança dos Mortos [La danse des morts], A Tempestade [La Têmpete]. Honegger compôs música orquestral, como suas cinco sinfonias, além de música de câmara. A peça orquestral Pacific 231 (1924), revelou o fascínio do músico pelas máquinas modernas, pois o título refere-se à poderosa locomotiva. Essa música participa do repertório de orquestras no mundo inteiro; foi Shawn quem coreografou primeiro a música de Pacific 231 (1933)(COLI, 2003).
A inovação de Honegger em Joana d'Arc na Fogueira [Jeanne d'Arc au bûcher] (1938), foram os papéis falados para alguns personagens, incluindo a protagonista, encarnados por grandes atrizes do século XX, desde Ida Rubinstein, atriz e bailarina que encomendou a obra e a estreou, a Ingrid Bergman, na montagem concebida pelo cineasta e diretor, seu marido, Roberto Rossellini. A. Howard usou algumas peças que Honegger compôs para piano para o musical Lady into Fox levado aos palcos na Broadway (1939).

Honegger compôs a Sinfonia Litúrgica (1946), a Sinfonia dos Treis Reis (1951) entre outras obras. No entanto, os últimos cinquenta anos de sua vida Honegger passou no limbo musical. Muitos criticaram o compositor, apesar de sua projeção: a vanguarda francesa acusava-o de não ser suficientemente inovador. Segundo (COLI, 2003):



[…] Na França, forjou-se um trocadilho a seu respeito: On n'est guèrre Honegger, cujo sentido é, aproximadamente Não gostamos muito de Honegger, mas, que dito em voz alta, parece apenas repetir o nome do compositor (Oneguér, Oneguér). Esta desafeição permanece e não se pode dizer que Honegger seja, hoje, um dos favoritos das salas de concerto […].

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

DICIONÁRIO. THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth-Century Composers:1911-1971. London: Farber & Farber, 1973. 666p., pp. 231, 232, 234.

HAGER, B. Les Ballets Suedois. Translated by Ruth Sharman. London: Thames and Hudson, 1990. 303p.: il., algumas color., p. 296.


PROGRAMA. COLI, J. Notas do Programa. São Paulo: O.S.P., 2003, pp. 12-53

SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, p.125.








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