segunda-feira, 4 de junho de 2012

BIOGRAFIA: APOLLINAIRE, Guillaume,

BIOGRAFIA: APOLLINAIRE, Guillaume; Wilhem Albert Wladimir Alexandre Apollinaris de Kostrowitsky (1880-1918).

O notável intelectual de origem nobre polonesa nasceu em Roma mas faleceu em Paris; ele tornou-se um dos mais importantes intelectuais na França, poeta, escritor e crítico de arte das nascentes vanguardas. Logo conheceu o grupo que se reunia nos ateliês do Barco Lavoir [Bateau Lavoir], em torno de Pablo Picasso, no duros tempos de início de carreira, período de grande pobreza material, porém aliada à riqueza intelectual dos amigos e vizinhos Max Jacob, Blaise Cendrars e Max Salmon, entre outros artistas e escritores.
Apollinaire escreveu o primeiro artigo sobre Picasso (1905), que desenhou o seu retrato (1914), reproduzido por PIERRE (1983); foi dele a apresentação no catálogo da mostra Cubista de Georges Braque (1908), realizada na galeria parisiense de Daniel-Henry Khanweiller. Desde o final do século XIX Apollinaire tornou-se colaborador de várias publicações: com André Salmon editou a revista Le Festin D'Esope [O Festim de Esopo] (Paris, 1903-1904); com Alfred Jarry editou a revista Les Marges [As Margens] (1907); com André Billy, René Dalize, André Salmon e André Tuquesq, foi o editor da revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); com Blaise Cendrars colaborou em outras publicações européias, como a revista de Almada Negreiros e Fernando Pessoa Portugal Futurista (1915); foi colaborador da publicação de Pierre Reverdy, S.I.C. - Sons, Images et Couleurs, entre outras publicações dadaístas na Alemanha e Suíça, como Cabaré Voltaire [Cabaret Voltaire] (1916). Na revista Les Soirées de Paris, Apollinaire permaneceu colaborando do n. 1 (fev., 1912), ao último número, 26-27 (duplo): a publicação teve que ser interrompida devido a I GM (ultimo n., julho-agosto, 1914).

O escritor, que amou a bela vida, as damas, a noite e os artistas, foi muito querido e celebrado, por Henri Le Douanier Rousseau, sobre quem publicou as primeiras criticas favoráveis. Rousseau que, por sua característica de ser artista dito, primitivo, foi sempre tratado com a mescla de desdém e fina ironia pelo seleto grupo de intelectuais do Bateau-Lavoir, como relatou o seu biógrafo Wilhem Uhde; mas tratado com grande respeito crítico por Apollinaire. Rousseau pintou dois retratos de Apollinaire, sendo que no primeiro ele está acompanhado por sua musa, a pintora Marie Laurencin. Giorgio de Chirico também pintou o Retrato de Apollinaire (1914) com o símbolo do futuro, peixes, que se encontra reproduzido (PIERRE, 1983); e o Retrato de Apollinaire, por Amedeo Modigliani, encontra-se reproduzido (SEUPHOR, 1963).

O escritor e poeta foi livremente influenciado pela obra de Stéphane Mallarmé, um dos ícones das vanguardas, inspiração para escrever os seus Caligramas [Caligrammes], sua mais notável obra. Os interesses de Apollinaire abrangeram inúmeras artes, como a dita, Negra (v.): ele foi o primeiro a escrever a respeito, no livro conjunto com o negociante de arte Paul Guillaume (1917). Outros interesses manifestos do culto escritor foram às artes divinatórias, esotéricas, mitológicas, etnográficas, bem como a criminologia, o exótico, as viagens e claro, a literatura de alto nível e a erótica.

Foi Apollinaire quem, praticamente, ressuscitou a literatura do Conde de Sade, mais conhecido como o Marquês de Sade, com a republicação de sua obra, acompanhada de notas, biografia e ensaio (Paris, 1909). O interesse do intelectual na escrita erótica continuou: ao longo do tempo, ele publicou alguns textos de sua autoria, nos momentos em que teve dificuldades econômicas. Apollinaire formou ampla biblioteca e os artistas, que futuramente formaram o Grupo do Surrealismo (Paris, 1924), leia-se André Breton e companhia, que foram influenciados por seu gosto literário. Apollinaire exerceu grande influência, tanto em Breton como em Phillip Soupault, que, ainda bem jovens, passaram dois anos visitando assiduamente o escritor, durante o período da I GM. Breton ficou impressionado com a seleta coleção de esculturas de arte, dita, Negra, de Apollinaire, que admirou nas suas visitas ao apartamento do escritor, no Boulevard Saint-Germain. Breton prosseguiu no Surrealismo, dando continuidade à estética original de Apollinaire. Em homenagem à Apollinaire, até mesmo o nome do movimento foi calcado no termo inventado pelo poeta. No primeiro período do Surrealismo (1924-1929), Breton ressuscitou todos os autores antigos que Apollinaire apreciou e indicou; Breton apoiou nestes escritores a primeira fase do movimento.

O artista das vanguardas russas Mikhail Larionov, oficial do exército russo, expôs com Natália Gontcharova na Galeria Paul Guillaume (Paris, 1914). A apresentação no catálogo da exposição da dupla de vanguardistas russos foi de Guillaume Apollinaire. Larionov e Gontcharova acompanharam a Cia. Teatral S. P. Diaghilev no alvorecer da I GM.

Apollinaire alistou-se e lutou pela França na I GM: ele foi ferido na frente de batalha e voltou para Paris como herói francês, agraciado com condecoração. O escritor foi amigo próximo de Pablo Picasso, e com ele, esteve envolvido no episódio pouco esclarecido do desaparecimento de duas esculturas de Arte Negra de museu francês (v. CACHIN & MINERVINO, 1977).

Picasso tornou-se cenógrafo e figurinista para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergey Diaghilev (1872-1929), e realizou a cortina do palco, os cenários e figurinos para Parada [Parada] (1917), balé com libreto de Jean Cocteau (1885-1963), música de Eric Satie (1866-1925), coreografia de Léonid Massine (1894-1979), que estreou no Teatro do Châtelet (Paris, 18 de maio, 1917). Apollinaire esteve presente na noite de estréia: foi de sua autoria o texto publicado, Parada e o Novo Espírito, crítica ao espetáculo apresentado em conjunto pelas mais destacadas personalidades das nascentes vanguardas francesas. Na estréia parisiense, quando o público ficou revoltado, Apollinaire subiu ao palco proferindo discurso para acalmá-lo. Conhecido e respeitado desde a publicação da revista As Noites de Paris (1912-1914), conseguiu seu intento, principalmente por ter sido condecorado como heróifrancês. No ano seguinte Apollinaire faleceu.

Apollinaire morreu jovem, das consequências da epidemia da dita, gripe espanhola, que grassou logo após a guerra (1918). Apollinaire deixou extensa e original obra, que influenciou muitas gerações das vanguardas artísticas e intelectuais, ao longo de todo o século XX. Breton considerava Álcools, de Apollinaire, de acordo com PIERRE (1983), como a maior obra poética do século XX. Fotografias de Apollinaire participaram da mostra póstuma de André Breton, no MNAM - CGP: as fotografias do apartamento no Boulevard Saint-Germain, cheio de livros até o teto, e a fotografia Apollinaire Ferido [Apollinaire blessée] (1916), dedicada à Breton, encontram-se reproduzidas no catálogo da mostra (BEAUMELLE, 1991). A capa da revista Les Soirées de Paris (15 nov., 1913), encontra-se reproduzida (RAGON, 1992).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

APOLLINAIRE, G. Aesthetic Meditations on Painting: The Cubist Painters. Paris, 1913.  Apud APOLLINAIRE, G.; EIMERT D.; PODOKSIK, A. (Biograf.). Cubism. Translated by Dorothea Eimert. New York: Parkstone Press International, 2010, 200p., ils. color., 24.5 cm x 28.5cm, pp.6-26.

CATÁLOGO. BEAUMELLE ET AL. André Breton, La Beauté Convulsive. 1991, pp. 87, 89.

CALMANN-LÉVY, C. André Breton: Le Grand Indésirable.Paris: Centre National des Lettres, 1990. 

CATALOGUE RAISONNÉ. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm.

DICIONÁRIO. BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire général du surréalisme et ses environs.:sous la diréction de Adam Biro et René Passeron. Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il., retrs.  

DICIONÁRIO. SEUPHOR,M.Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963.

LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs.

PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 146..

PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p. 97, 301.





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