PRIMEIRA PARTE: MASSINE, COREÓGRAFO DOS BALÉS RUSSOS (Paris, 1909-1929).
O importante coreógrafo e bailarino russo, nasceu em Moscou e morreu nos E.U.A., naturalizado americano. Depois de dançar no corpo de baile de Teatro Mariinsky (São Petersburgo), onde foi visto por Sergey Diaghilev, Massine, aos 18 anos de idade, foi convidado a integrar o elenco da Cia. Teatral S, P. Diaghilev. Massine não era prodígio, como Vaslav Nijisky, mas Diaghilev encantou-se com ele e o artista emigrou para a França, onde estreou dançando no papel principal (José) do espetáculo A Lenda de José, que estreou no Teatro Nacional da Ópera (Paris, 1914). Diaghilev que tinha sido abandonado por seu principal coreógrafo e amante, Michel Fokine, pediu a Massine que coreografasse o novo balé, quase pantomima, que lembrava a dança livre de Isadora Duncan.
Diaghilev estava preparando a temporada americana, arranjada pelo Metropolitan Opera House; e antes da companhia partir para os Estados Unidos, realizou-se a única récita do balé O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit], dançado por bailarinos e bailarinas no papel de camponeses russos com música de Nicolay Rimsky-Korsakov, coreografia de Léonid Massine e cenografia e figurinos de Mikhail Larionov. O balé alcançou certo sucesso e realizou-se outra récita beneficiente em matinê, na Ópera de Paris. A companhia partiu de navio (Bordeaux - Boston) e chegou à América (11 de janeiro, 1916); a temporada novaiorquina estreou no Teatro Century (Nova York, 17 jan.).
Diaghilev fora convidado pelo rei da Espanha, Alfonso XIII, para levar seus Ballets Russes ao país, para o qual o empresário viajou retornando da viagem a América (1916). A temporada espanhola estreou com a presença do rei de Espanha e sua família (Madri). A companhia descansou alguns dias e depois apresentou-se em San Sebástian (Espanha). Diaghilev preparou dois novos balés: As Meninas, apresentação de cinco bailarinos(as) com a música da conhecida Pavane, de Gabriel Fauré, cenários do artista italiano Carlo Socrate e costumes de Misia Sert. A coreografia foi de Massine, que também dançou com Lidia Sokolova, Olga Khoklova e Léon Woizikowsky. O segundo balé foi Kikimora, baseado na música de A. K. Lyadov; Stanislas Idzikowsky dançou no papel do Gato. Nenhuma dessas coreografias de Massine mostrou-se excepcional: ele ainda tinha longo caminho à percorrer, antes de tornar-se respeitado coreógrafo internacional (Madri, 26 maio, 1916).
O primeiro novo balé europeu coreografado por Massine foi Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], obra com libreto de Carlo Goldoni, com música de Domenico Scarlatti orquestrada por Vicenzo Tommasini, que estreou no Teatro Costanzi (Roma, 1917). Massine coreografou no seu estilo característico, com movimentos precisos, mecânicos, que tornavam os bailarinos verdadeiros bonecos animados. Os belos figurinos ajudavam a compor o conjunto e os cenários, ambos desenhados por este verdadeiro mestre, Léon Bakst, inspirado nos velhos manuais venezianos de pintura do século XVIII. O espetáculo estreou em Roma (12 abril, 1917). A inspiração da coreografia veio diretamente da Comedia del' Arte italiana, que Massine desenvolveu e o balé foi dançado pelas graciosas bailarinas Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova e Lydia Lopokova; os bailarinos foram Massine, Enrico Checchetti, Léon Woizikovsky e Stanislas Idzikowsky. Foi retumbante sucesso e várias fotografias dos bailarinos vestindo os ricos costumes de época, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).
O segundo espetáculo foi Contos Russos [Contes Russes] , com a adaptação da música de Lyadov para Kikimora, apresentado anteriormente, mas agora transformado em balé completo, com cenários e figurinos de Mikhail Larionov. Depois de temporada desastrosa no Teatro San Carlo (Nápoles), o balé partiu para Paris. O balé Mulheres de Bom Humor [Donne di buon umore], abriu com grande sucesso a curta temporada parisiense, de semana única no Théâtre du Chatelet (11 maio, 1917).
O terceiro balé foi Parada [Parade] (1917), com libreto de Jean Cocteau, música de Erik Satie, cenografia e figurinos de Pablo Picasso, que desenhou a cortina de cena e vários costumes para os sete bailarinos que apareceram na Parada, sendo que dois, o Manager americano e o Manager francês que anunciavam a Parada, vestiram os costumes rígidos de inspiração Cubista, extremamente altos (c. 3,00 m) e bem pouco adequados aos movimentos dos bailarinos. As obras cenográficas e as fotografias dos figurinos de P. Picasso encontram-se reproduzidas (CACHIN, 1977). Massine apresentou-se como o Prestidigitador Chinês, vestiu a túnica colorida, usada com calças justas pretas e sua fotografia neste balé vanguardista encontra-se reproduzida (SHEAD, 1987). O balé estreou no Teatro do Chatelêt (Paris, 18 maio, 1917). O público levou verdadeiro choque e manifestou violenta rejeição por ocasião da estréia do espetáculo; quem salvou a Parada dos vanguardistas foi Guillaume Apollinaire (1880-1918), herói da França, que subiu ao palco pedindo que os espectadores mantivessem a calma. Os parisienses conheciam e cultivavam Apollinaire, depois que o poeta, escritor e crítico de arte editou a sua revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); foi dele a apresentação do balé no programa, quando escreveu o artigo Parada e o Novo Espírito [Parade et l'Esprit Nouveau].
Diaghilev começou a preparar outro balé para a temporada espanhola: A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque], com música de Gioachino Rossini adaptada por Ottorino Respighi (v. biografia nas postagens antigas), aluno do russo N. Rimsky-Korsakov e para o qual Massine idealizou a ambientação em loja de brinquedos do século XVIII. Diaghilev escolheu André Derain para criar a cenografia e os figurinos. Dançaram Enrico Cecchetti, Sergey Grigoriev, Lydia Sokolova, Léon Woizikovsky, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Stanislas Idzikovsky, Nicolas Zverev e Vera Clark. Na temporada parisiense formaram o par principal Lydia Lopokova e Léonid Massine, mas, na temporada londrina Massine dançou com Tamara Kasarvina, bailarina adorada pelos ingleses. O balé alcançou grande sucesso, seu maior sucesso desde a temporada que parecia bem distante no tempo (1914).
Balé ainda melhor estreou em Madrid (abril, 1917): O Tricórnio ou O Chapéu de Três Pontas, com música do espanhol Manuel de Falla y Matheu, baseado no relato antigo de Pedro Antonio de Alarcón (1815), adaptado como libreto por Martinez Sierra com o nome original de O Corregedor e a Moleira [El Corregidor y la molinera]. Esse balé nada revolucionário estreou com alegres figurinos de Picasso e sua colorida cenografia, introduzindo a perspectiva bastante presente. Na primeira récita do balé os papéis principais ficaram com Léonid Massine, Tamara Kasarvina e Léon Wotzikowsky, sendo que Stanislas Idzikowsky interpretou magistralmente o pequeno papel do Dandy. A fotografia dos bailarinos e a de Massine nesse balé, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989). O balé obteve sucesso imediato; foi apresentado em duas temporadas londrinas, sendo que a primeira estreou em 22 de julho e a segunda, realizada no Empire Theatre, estreou em 29 de setembro (1919).
Quando Massine tornou-se bailarino e coreógrafo bastante conhecido, o artista apaixonou-se pela jovem e inocente bailarina Vera Antonova. Massine não previu a reação de Sergey Diaghilev, que sentiu o afastamento dele, seu amante, e colocou detetives para confirmarem a história da traição. O resultado foi que Massine, que tinha aproximadamente 25 anos de idade, foi despedido por Diaghilev.
Massine foi trabalhar como coreógrafo para os espetáculos As Noites de Paris [Les Soirées de Paris], organizados pelo Conde Étiènne de Beaumont, homem da sociedade parisiense que financiou quatro temporadas de balé (1924; 1925). Na época, nenhuma companhia européia mantinha atividades regulares, nem possuía a mesma competência, criatividade e originalidade dos Ballets Russes, a grande família que projetou Massine internacionalmente. Pouco tempo depois, passando por dificuldades financeiras, Massine pediu a Diaghilev para voltar como coreógrafo na próxima temporada da companhia. Diaghilev acedeu e Massine ficou encarregado de ensaiar a nova versão coreográfica do balé Os Maledicentes [Les Fâcheux] (1927). Nessa temporada, Massine voltou à produzir a coreografia para um grande sucesso, o balé Passo de Aço [Pas d'Acier] (1927), com música de Sergey Prokofiev, cenários e figurinos arrojadíssimos do artista Construtivista russo, Georgy Yaculov. A companhia partiu em turnê, levando sua arte para várias cidades na Alemanha, Viena (Áustria), Genebra (Suíça) e ainda encenou duas Noites de Gala (Paris, 1927). Uma fotografia do cenário de G. Yaculov e quatro fotografias (posadas), dos bailarinos, inclusive Massine, encontram-se reproduzidas (SHEAD, 1989).
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