SATIE, Erik: Eric-Alfred Leslie Satie (1866-1925).
O músico e compositor das vanguardas francesas, nasceu em Honfleur (Le Havre), filho de mãe, inglesa e protestante, e de pai anglofóbico e católico. O artista foi batizado na religião anglicana, como sua irmã e seu irmão mais novo; logo depois que sua família foi viver em Paris, a mãe faleceu, quando Satie tinha apenas quatro anos de idade. O futuro músico voltou a viver em Honfleur, onde foi criado por seus avós paternos, que batizaram-no na religião católica. Ocorreu evento traumático quando a avó de Satie foi encontrada morta na praia; por conta desta morte misteriosa, seu avô tornou-se católico fervoroso.
Satie recebeu breve iniciação musical de Vinot, aluno de Niedermeyer, organista da Igreja de Santa Catarina, que deu a Satie suas primeiras lições de piano; mas, quando Satie voltou a viver com seu pai em Paris, ele estudou Piano com Descombes e Mathias, Solfejo com Lavignac e Harmonia com Tadou, no Conservatório de Paris. O músico começou a escutar Bach, Chopin e Schumann. Satie foi associado a dois grupos musicais de vanguarda, formado por seus alunos: a dita, Escola de Arcueil [École d´Arcueil ] e o Grupo dos Seis [Groupe des Six] (v.).
Satie compôs a música para o balé Parade [Parada], manifesto tridimensional Cubista de Jean Cocteau e Pablo Picasso, apresentado nos palcos parisienses pelos Ballets Russes (v.), com cenografia, figurinos e cortina de Picasso e coreografia de Léonid Massine. Cocteau definiu este espetáculo como Balé realista [Ballet réaliste], mas o público parisiense reagiu violentamente, revoltado com a natureza circense e acrobática da Parada. Guillaume Apollinaire (1880-1918), presente a estréia do espetáculo e autor dos comentários entusiasmados do programa, onde publicou o artigo Parade et l'Esprit Nouveau [Parada e o Novo Espírito], apresentou-se no palco com uma bandagem negra sobre um de seus olhos e sua cruz de herói de guerra, tentando acalmar os ânimos do público. Parade recebeu os aplausos da pequena elite intelectualizada e obteve sucesso de escândalo, devido ao seu ineditismo. O balé partiu com os Ballets Russes para ser encenado em Londres, onde foi bem sucedido, o que levou-o a permanecer um ano em cartaz (1918-1919).
Satie compôs a música para sua obra teatral, Le piège de Méduse, dita, Comédia Lírica em um ato e nove cenas (1913), interrompida por sete danças de um macaco mecânico (M. Jonas). Esta obra, apesar de ser anterior ao movimento Dadaísta, certamente antecipou-o; o espetáculo teatral no qual Satie procurou ilustrar a crítica da linguagem através do emprego de uma lingua estapafúrdia, usando como tema um argumento original e engraçado, que girava em torno de Astolfo, empregado em divórcios e acidentes de trabalho, que desejava pedir ao Barão Méduse a mão de Frisette, sua filha, em casamento. Essa comédia, de uma comicidade fora do comum, foi apresentada no Théâtre Michel (Paris, 24 maio, 1921). No mesmo ano Sergei Diaghilev organizou concerto em homenagem a E. Satie, realizado em Londres.
Satie compôs a música para o balé Mercure [Mercúrio], encenado pelos Ballets do Conde Étienne de Beaumont nos espetáculos intitulados As Noites de Paris [Les Soirées de Paris] (1924), que homenagearam a revista homônima, editada pelo poeta Guillaume Appolinaire, A obra foi colaboração do coreógrafo russo Léonid Massine com Picasso, que estudou os diferentes modelos de costumes para este balé. O artista plástico ofereceu idéias inovadoras para a o desenho da cenografia, baseada nos efeitos de seu novo traço de linha contínua. De acordo com Roland Penrose, a linha contínua foi o elemento que predominou nos desenhos dos costumes e no dos três planos do fundo cenográfico, criados por Picasso para esta apresentação nos palcos parisienses. O balé comportou deuses gregos misturados à imaginação dos homens, ilustrando aventuras burlescas dos humanos, no balé imaginado com o propósito de escandalizar e divertir o público. No entanto, o espetáculo não conheceu nenhum sucesso, nem com os Balés do Conde de Beaumont nem mesmo posteriormente, quando Sergei Diaghilev reencenou-o, com os Ballets Russes (1927). Os cenários de Picasso foram marcantes para a obra e Gertrude Stein (v.), referiu-se a eles, na época, como pertencentes ao Período caligráfico de Picasso. As cortinas de cena foram criadas como telas de fundo nas cores pastéis, suaves, nas quais o artista pintou desenhos caligráficos por cima usando fio grosso de arame de aço. No entanto, como anteriormente, o público francês, não compreendeu nem apreciou esse balé.
Outra música para balé de E. Satie foi Relâche [Relache] (1924), composta para os Ballets Suedois [Balés Suecos], de Rolf de Maré, com libreto de Francis Picabia, autor do argumento do filme Entr'acte [Entreato] (1924), dirigido por René Clair, projetado no intervalo entre os dois atos do espetáculo de balé.
Pouco depois que Satie faleceu (1925), Diaghilev montou o balé João na Caixa [Jack in the box], com a música de três danças que Satie escreveu no final do século XIX (1899). Darius Milhaud orquestrou-as, como homenagem a seu antigo mestre. A coreografia foi de Georges Balanchine que destacou o virtuosismo de Taddeuz Idzikowski, que dançou junto com as bailarinas Alexandra Danilova, Félia Dubrovska e Lubov Tchernicheva. O cenário foi de André Derain, que colocou nuvens de cartolina no céu pintado. A temporada deste ano não foi das mais auspiciosas para os Ballets Russes (1926).
Picasso, que conviveu com Satie e Stravinski durante o período que passou com os Ballets Russes de S. P. Diaghilev, desenhou retratos dos músicos, Satie e Stravinski que se encontram reproduzidos (v. Satie, em MÚSICA ERUDITA NO SÉCULO XX).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
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