NONA PARTE REFORMULADA DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEY PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).
Temporada: 1924.
As Tentações da Pastorinha [Les Tentations de la Bergère], (Monte Carlo, 1924).
Os Entediados [Les Fâcheux], (Paris, 1924). nome e argumento derivado de comédia de Molière com música de Georges Auric, com cenários e figurinos de Georges Braque.
Os Bichos [Les Biches], balé explícito acerca do homossexualismo e lesbianismo.
O Trem Azul [Le train bleu], descrito como Opereta dançada de Jean Cocteau [Operette dansée de Jean Cocteau].
O empresário Diaghilev, promotor dos Ballets Russes [Balés Russos] planejava montar trechos de várias óperas curtas e pouco conhecidas para sua temporada em Monte Carlo (1924), como Philemon e Baucis [Philémon et Baucis], A Pomba [La Colombe] e O Médico Apesar dele Mesmo [Le Médicin malgré lui], todas com música do francês Charles François Gounod: e, Uma Falta de Educação [Une éducation manqué] de Emmanuel Chabrier. As músicas sofreram renovação através da adaptação realizada por Erik Satie, e pelos músicos do Grupo dos Seis (v.), Georges Auric, Francis Poulenc e Darius Milhaud, sendo que os cenários e figurinos foram realizados por Alexandre Benois e Juan Gris. No entanto, esse espetáculo não agradou ao exigente público de Monte Carlo, que desejava ver a montagem de grandes óperas com atuação de renomados cantores internacionais. Diaghilev levou para a estréia na temporada parisiense do mesmo ano somente a ópera com música de Chabrier: não deu certo, pois o público francês queria ver balé e somente balé. Depois desta temporada, Diaghilev abandonou para sempre a idéia de montar trechos de óperas.
Na nova temporada o primeiro balé apresentado foi As Tentações da Pastorinha [Les Tentations de la Bergère], evocação pastoral da côrte de Luís XIV com música adaptada do francês Michel de Monteclair, libreto de Bóris Kochno, com cenários e figurinos de Juan Gris, quando Nemtchinova, Slavinski, Vilzak e Woizikovski dançaram a coreografia de Nijinska na estréia desse espetáculo (Monte Carlo, 3 jan., 1924). Não fez sucesso, e o balé, que não foi apresentado na temporada parisiense, logo desapareceu do repertório da companhia.
A temporada anual parisiense este ano foi curta, com apenas 12 récitas, realizadas no Teatro Champs Elysées (1924). Inaugurada com o espetáculo Os Bichos [Les Biches], balé que insinuava o homosexuals, apresentando os novos balés Os Entediados [Les Fâcheux], e O Trem Azul [Le train bleu], este descrito como Opereta dançada de Jean Cocteau [Operette dansée de Jean Cocteau].
O primeiro balé Os Bichos [Les Biches], recebeu música de Francis Poulenc, cenários e figurinos de Marie Laurencin pintados pelo Príncipe Schervashidze e costumes realizados por Vera Sudeikina, que se tornou depois a segunda esposa do músico Igor Stravinski. O balé foi sucesso: essa foi primeira música que Diaghilev encomendou a Poulenc, que permitiu-lhe a criação de balé atmosférico na melhor tradição de As Silfides [Les Sylphides] (Chopin/ Stravinski). Esse espetáculo deixava no ar sugestões, devido ao ineditismo do tema do homossexualismo, apenas insinuado, razão maior do seu grande sucesso. Poulenc compôs a música para orquestra com 50-60 músicos, e acrescentou doze cantores que poderiam também ser em maior número, para o caso da apresentação se realizar em teatro maior. O coro assim formado cantou os dois números das ditas, Canções Dançadas [Chansons Dansées], com a Dança Grupal, dita, Jogo [Jeu]. As palavras das canções foram de autoria de Poulenc, todas baseadas nos cantos da tradição popular francesa, mas que não estabeleceram grandes vínculos com o espetáculo encenado no palco. A música de Poulenc foi adequada ao balé: atmosférica, misteriosa, camaleônica, sentimental e jazzística, que se mostrou influenciada por composições de Stravinski e Mozart, mas foi, na essência Poulenc. Dedicada a Misia Sert (v., em postagens antigas), artista e patrocinadora da companhia russa, que se interessou vivamente por todos os aspectos visuais desse balé. Os maestros foram Édouard Flament (Monte Carlo) e André Messager (Paris). Nijinska também dançou nesse espetáculo, na companhia de Vera Nemtchinova, mais tarde substituída pela bailarina Lidia Sokolova, pares dos bailarinos Anatole Vilzak, Leon Woizikovski e Nicolas Zverev. O balé Os Bichos [Les Biches] representou a mais perfeita síntese da interação de todos os aspectos de espetáculo de balé, desde a música, o desenho dos cenários e figurinos, a coreografia das danças e se mostrou completamente atual quando foi reencenado, décadas depois, no palco londrino (1924; 1964). A coreografia de Nijinska para esse balé foi baseada nas coreografias clássicas russas, sendo essa obra considerada como sua melhor referência. O balé foi reencenado na temporada do Royal Ballet (Londres, 1964), com Svetlana Beriosova e Georgiana Parkinson como pares de Robert Mead e Keith Bosson, cujas fotografias se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989: 130-131).
Bóris Kochno, o novo acessor de Diaghilev, apresentou ao empresário russo a idéia original, que levou-o a montar o balé Os Entediados [Les Fâcheux], nome e argumento derivado de comédia de Molière, com música de Georges Auric (v. Grupo dos Seis músicos franceses), com cenários e figurinos de Georges Braque. cômico, no mesmo espírito das comédias populares de Molière. Bóris Kochno escreveu o libreto para a música de Georges Auric, encenado com cenários de Georges Braque. Nesse espetáculo, o amante que se dirige ao encontro amoroso no quadrilátero com correr de casas do século XIX com as cores carregadas nos ocres e verdes, foi retardado pelos ditos, entediados: o jogador de cartas, vários fofoqueiros, no local onde várias pessoas praticavam esportes ou jogos. Os dançarinos principais foram Lubov Tchernicheva e Anatole Vilzak; o inglês Anton Dolin dançou com os pés em ponta, na coreografia de Nijinska criada especialmente para destacá-lo como estrela da dança. O balé, cujos personagens atuaram com mímica e acrobacias, não fez sucesso junto ao público: a curta temporada de apenas doze récitas foi realizada no Teatro Champs Elysées (Paris, 12 maio, 1924).
Milhaud compôs para o quarto e último balé dessa temporada, algo no espírito das operetas de Offenbach, ligeira e frívola. a música perfeita para o balé O Trem Azul [Le Train Bleu], descrito como Opereta dançada de Jean Cocteau [Operette dansée de Jean Cocteau]. O cenário praiano foi de Henri Laurens, a cortina foi pintada por Pablo Picasso e os magistrais figurinos esportivos foram criados e confecionados por Mlle. Chanel. Esse balé foi espetáculo completamente diferente dos balés até então apresentados nos palcos europeus, entre os grandes sucessos dos Ballets Russes. Na estréia parisiense o maestro foi André Messager e os bailarinos que dançaram a coreografia de Nijinska foram a própria coreógrafa com Lidia Sokolova, Anton Dolin e Léon Woizikovski, com vinte bailarinos em cena. O balé se passava na praia e apresentou vários esportistas, bailarinos vestindo camisetas e shorts de malha listrada, usando figurinos modernissimos de Chanel. O cenário praiano mostrava casais namorando, outros tomando banho de mar, brincando e jogando, em clima agradável, no balé leve, divertido e completamente inusitado.
No balé O Trem Azul [Le Train Bleu], Anton Dolin dançou e realizou inúmeras piruetas e acrobacias no palco, nesse espetáculo que levou-o ao estrelato internacional; pouco tempo depois, quando o bailarino deixou a companhia de S. Diaghilev para voltar a viver na Inglaterra, o balé foi descartado do repertório dos Ballets Russes, pois nenhum bailarino se equiparava e realizava essa apresentação com a graça e a habilidade da arte do inglês. A temporada bem sucedida levou os quatro novos espetáculos de balé a se apresentarem no outono na Alemanha. Todos os balés estrearam no final do ano na temporada londrina, no Teatro Coliseum (24 nov., 1924), quando foram recebidos com grande entusiasmo pelo público inglês. A reprodução da cortina pintada por Picasso, a fotografia de Dolin dançando com Sokolova, a visão geral do cenário com vários bailarinos dançando e a fotografia de Cocteau cercado pelos pares Sokolova e Dolin, Woizikowski e Nijinska, vestidos com figurinos esportivos de Chanel para ilustar a canção Jogos, de Milhaud, com Bronislava Nijinska de roupa de tenista segurando a raquete nos braços, se encontram publicadas (SHEAD, 1989: 134-137).
Nona Parte: v. as biografias dos artistas e músicos russos no meu Blog:
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