terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SERT, Misia; Maria Zofia Zenadja Godebska (1872-1950).



A bela jovem de origem polonesa que pertenceu à alta sociedade francesa formou-se em música e se tornou exímia pianista, também foi a Sra. Thadée Nathanson, a Sra. Edward James e depois a Sra. José Maria Sert. Mísia foi grande amiga de Gabrielle Coco Chanel, de modestíssima origem. Foi graças às relações de Misia e ao seu invulgar talento como estilista, que Chanel ascendeu na sofisticada sociedade parisiense e tornou-se figurinista conhecida, e milionária.

Misia foi casada em primeiras núpcias com o poderoso empresário Thadeé Nathanson, influente editor pertencente ao grupo dos Simbolistas (v.), que publicou La Revue Blanche [A Revista Branca] (1889-1903), dedicada às artes e distribuída, tanto em Paris bem como em Bruxelas. O pintor e gravador Henri de Toulouse-Lautrec, que por direito de nascimento pertenceu à mais alta sociedade francesa, direito que ele, de certa forma, abdicou, ilustrou essa revista das vanguardas de sua época, entre outros artistas e desenhistas famosos. O filho do Conde de Toulouse-Lautrec foi apaixonado por Misia e frequentou a residência dos Nathanson, cuja família sempre foi amiga de sua própria nobre família.

O segundo marido de Misia foi o poderoso empresário anglo-americano Alfred Edwards James, possuidor de império jornalístico; um dos seus amigos mais próximos foi o pintor catalão José Maria Sert, com quem Misia se casou posteriormente. Foi a sedutora Misia quem apresentou Sergey Diaghilev (1872-1929), a Coco Chanel, em Veneza, o que foi bastante benéfico para os Balés Russos, pois Chanel tornou-se uma das mais generosas patronesses da companhia do empresário russo, ajudando-o nessa época a financiar com trezentos mil FF a segunda montagem do balé Le Sacre du Primptemps [A Sagração da Primavera] (1920).

Esse espetáculo que estreou anteriormente (v. acima, os Balés Russos, Paris, 1913), foi reapresentado no Théâtre du Champs Elysées com a bailarina Lidia Sokolova no papel de sua vida, o da virgem escolhida, Na estréia dessa reapresentação, sessenta bailarinos dançaram no palco (15 dez., 1920). O russo Leonid Massine (1894-1979) foi primeiro bailarino e coreógrafo do espetáculo: ele dançou com Tadeusz Woizikowsky, entre outros, a música de Igor Stravinsky (1882-1971).

Chanel passou a executar magistrais figurinos dela para os espetáculos dos Ballets Russes, a começar pelos originais figurinos de O Trem Azul [Le Train Bleu] (1924), balé com libreto de Jean Cocteau (1885-1968) cortina de Pablo Picasso (1881-1973), cenário de Henri Laurens (1885-1944), passado na praia, no verão.
Misia se tornou a grande amiga do temperamental Diaghilev e sua origem eslava ajudou-a, pois parece que as grandes amizades que o empresário formou nessa época foram com pessoas de mesma origem. Diaghilev chegou a declarar que a única mulher com quem ele podia pensar em se casar era Misia – grande elogio, pois ele era declarado homossexual - ela foi sua amiga mais íntima, a verdadeira irmã que ele nunca teve.

Durante o período da I Guerra Mundial, pouco antes do início oficial da guerra (ago., 1914), estreou A lenda de José [Josephlegende], composição operística de Richard Strauss (Op. 63), dedicada a E. Hermann, adaptada para balé, com cenários do conde Harry Kessler com libreto do teatrólogo Hugo Von Hoffmansthal (Berlim, 02 de fev., 1914). No mesmo ano, esta ópera adaptada foi reapresentada pela Cia. Teatral S. P. Diaghilev, com a orquestra sob a regência do próprio compositor, no Teatro da Ópera (Paris, 14 maio, 1914). Apresentaram-se Maria Kusnetsova como a esposa de Potifar, e Leonid Massine, como José; a coreografia foi de Michel Fokine (1881-1942), com cenários do pintor espanhol, José Maria Sert (1874-1945) e os trajes de Leon Bakst (1866-1924). Diaghilev não gostou do trabalho de J. M.Sert, mas mesmo assim ele criou os figurinos para As Meninas [Las Meninas], balé apresentado durante o período da I Guerra Mundial, na excursão de parte da troupe dos Ballets Russes na Espanha, no Teatro Real (San Sebástian, 26 maio, 1916). Esse balé, com coreografia de L. Massine (1894-1979), com cenários do artista italiano Carlo Socrate, associado ao Grupo Futurista do Teatro dos Independentes Experimentais [Teatro degli Independenti Sperimentalli], estreou na capital francesa (14 jun.) e foi levado a Madri (04 jul., 1916) e Cádiz (Espanha).

Misia patrocinou os Ballets Russes, quando, logo depois do término da I Guerra Mundial, a companhia se encontrava em grandes dificuldades financeiras. Na ocasião, Misia ajudou Diaghilev a organizar a turnê espanhola, incluíndo apresentações em metrópoles como Madri, mas também em cidades pequenas, como San Sebástian (26 maio, 1916). No entanto, esses espetáculos produziram pouco resultado face à gravidade da crise: os bailarinos da Cia. Teatral S. P Diaghilev, estavam exaustos quando dançaram em Barcelona. Diaghilev sentiu que não podia mais pedir que os bailarinos permanecessem na sua campanhia, vivendo a situação quase falimentar. Finalmente, quandeo a companhia se reergueu, o empresário criou o balé As Bichas [Les Biches] dedicado a Misia, que estreou no Teatro de Monte Carlo (Monte Carlo, 6 jan., 1924). A obra tinha concepção avançada em relação à sua época; seus personagens principais foram três homossexuais, que se relacionavam com duas lésbicas, o jovem pagem, a mulher rica sem juízo e certo número de jovens sofisticadas da sociedade. Este balé não foi simplesmente a reflexão sobre a vida liberal francesa, foi, de fato, a estilização de certo modo de vida transformado em verdadeira obra de arte.

Francis Poulenc, que participou do Grupo dos Seis [Groupe des Six] (v.), compôs a música para esse balé em um ato com coro, sendo as palavras baseadas em canto anônimo do século XVII. Poulenc compôs sua obra com Overture; Rondó; Canção dançada; Adagietto; Jeu; Rag-mazurka; Andantino; Pequena canção dançada e Final para orquestra completa, com o coro sendo usado nas duas, ditas, Chansons dansées [Canções dançadas], na dança Jeu [Jogo]. A música de Poulenc foi camaleônica, misteriosa, ora sentimental ou jazística, trazendo a nítida influência das composições de Wolfgang Amedeus Mozart e de Igor Stravinsky (1882-1971), mas mantendo essencialmente as características marcantes e próprias dele, Poulenc. A música foi publicada por Heugel na versão reduzida pelo próprio compositor, com textos de J. Benoist-Méchin (1924).

Misia opinou quanto aos aspectos visuais dessa primeira produção na qual ela esteve diretamente envolvida. Quando o balé estreou com cenários e figurinos da pintora francesa Marie Laurencin (1885-1957), a orquestra estava sob a regência do maestro Édouard Flament e apresentou o tenor Fouquet, o barítono Cérésol e Madame Romanitza. Quando estreou em Monte Carlo, a coreografia original foi de Bronislava Nijinska (1891-1972), sendo as principais bailarinas ela, Vera Nemtchinova, Lidia Sokolova, Lubov Tchernicheva, associados aos bailarinos Léon Woizikowsky e Antole Vilzak. Na mesma temporada o regente da orquestra foi André Messager, quando o balé foi encenado no Théâtre du Champs Elysées (Paris, 26 maio, 1924).

Sobre este balé, J. Cocteau escreveu o artigo Les Biches. Notes de Monte Carlo, publicado na NRF - Nouvelle Revue Française (1924, n. 126, p. 275) e, na mesma época, André Coueroy publicou o artigo Jeune Musique Française [Jovem Música Francesa] na Revue Universalle (1º ago., 1924, p. 380).

Esse balé foi objeto de estudos do compositor Darius Milhaud, que publicou Francis Poulenc e As Bichas, Estudos  (Francis Poulenc et Les Biches, Études. Paris, Claude Aveline, 1927, p. 61). Décadas mais tarde a companhia do London Ballet reviveu Les Biches com a russa Svetlana Beriosova no papel principal. Na ocasião, a bailarina se apresentou na dança solo e no Pas de trois, quando foi acompanhada por Robert Mead e Keith Rosson; e Georgina Parkinson dançou, junto com outros bailarinos da companhia inglesa no Teatro do Covent Garden (Londres, 1964). Na nova produção do balé que não envelheceu, antes se apresentou moderníssimo, várias fotografia dos bailarinos se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989). Mais tarde, F. Poulenc reorquestrou Les Biches: Suite, dedicada pelo compositor a Misia Sert (maio, 1939 – jan., 1940); a nova versão da obra foi publicada (HEUGEL, 1948).

Vários músicos dedicaram obras a Misia, como Maurice Ravel (1875-1937), que compôs em sua homenagem A Valsa [La Valse], poema coreográfico para orquestra (1919-1920). A música foi apresentada nos Concertos Lamoureux com a orquestra sob a regência de Camille Chevillard, no Théâtre du Châtelet (Paris, 12 dez., 1920). No ano seguinte a peça foi reapresentada com a nova orquestra do Queen's Hall, sob a regência do maestro Sir Henry Wood (Londres, 3 maio, 1921); a obra foi novamente apresentada, com a Orquestra Sinfônica Wireless [Sem cordas], sob a regência do maestro Ernesto Ansermet (Londres, 12 dez.); e, com o Ballet de Monte Carlo de Ida Rubinstein, com a orquestra sob a regência de Walter Stramm, no Théâstre de l´Opera (Paris, 20 nov., 1928). A música foi publicada por Durant: arranjo para dois pianos (Ravel, 1920) e arranjo para piano solo (Ravel, 1921); e para dueto de piano (Lucien Garban).

A obra revolucionária Parada [Parade], dito, Balet Réaliste [Balé Realista], com libreto de Jean Cocteau, e música de Erik Satie (1866-1925), foi dedicada à Sra. Edward James (née, Misia Godebska). A coreografia foi de Léonid Massine (1894-1979), a cortina, cenários e figurinos de Pablo Picasso (1881-1973). Dançaram L. Massine, Mlle Chabelska, Léon Woizikowsky e Lidia Lopokova, entre outros. O balé estreou com os Ballets Russes, com a orquestra sendo conduzida pelo maestro Ernest Ansermet no Théâtre du Châtelet (Paris, 18 maio, 1917). Outra apresentação ocorreu com a Orquestra Leighton Lucas sob a regência do maestro Leighton Lucas, gravada pela Rádio BBC (Londres, 11 set., 1947). Uma fotografia da jovem, bela e elegante Misia, na companhia de Thadée Nathanson e de Henri de Toulouse Lautrec, se encontra publicada (FRÉCHES, 1991).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. FRÉCHES, C., ROQUEBERT, A.; THOMPSON, R,. CACHIN, F.; DREW, J. Toulouse-Lautrec. Paris: réunion des musées nationaux, 1991, p. 100. 

CATÁLOGO. Toulouse-Lautrec. London: Hayward Gallery, 1991-1992. Paris:Galerie National du Grand Palais, 1992. Paris: Réunion des musées nationaux, 1991

SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 20, 21, 24, 29, 38-41, 75, 84, 106, 110-113, 127-132.                                                  

THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth-Century Composers1911-1971. London: Farber & Farber, 1973. 666p. 16,5 x24,5 cm, pp. 429, 461, 462.
 

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