BIOGRAFIA: EL LISSITZKY, Lazar Markovich Lissitzky (1891-1941).
El Lissitzky foi arquiteto, artista gráfico, ilustrador, tipógrafo, pintor, fotógrafo, editor e autor de manifestos vanguardistas: ele nasceu na Rússia, em Polschinok, distrito de Smolensky e faleceu em Moscou. El Lissitzky formou-se em engenharia em Darmstadt (1909-1914); ele estudou no Instituto Politécnico de Riga, que foi transferido para Moscou (1915-1916). O artista viajou: visitou Paris, Bruxelas e a Itália, voltando à Russia. A primeira mostra que El Lissitzky participou foi da União dos Artistas de São Petersburgo (1912); depois que foi estudar em Moscou, ele associou-se às vanguardas russas e iniciou sua vida profissional trabalhando em escritório de arquitetura. O artista participou de mostra da associação de artistas O Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (1917), organizada por Sergei Diaghilev (1872-1929) e Léon Bakst (1866-1924).
El Lissitsky abraçou a causa da Revolução Russa e foi o criador da primeira bandeira do V.C.I.K. - Comitê Central Executivo Pan- Russo (1918), no ano em que tornou-se membro da IZO (v. no meu Blog: <http://arterussaesovietica.blogspot.com>). O artista associou-se a Vladimir Tatlin (1885-1953) e Aleksandr Rodchenko (1891-1956) no movimento Construtivista. Depois desta associação, El Lissitzky tornou-se professor e ensinou arquitetura e artes gráficas na VKhUTEMAS - Escola Superior de Arte e Técnica (Vitebsk, 1919-1920; v.). El Lissitzky, associado à Kazimir Malevich (1878-1935), organizou o Grupo UNOVIS - Para Afirmação da Nova Arte (Vitebsk, 1920). Na mesma época, foi projeto de El Lissitzky a fantástica tribuna móvel com elevação mecânica, plataforma de onde seriam proferidos os discursos de Lenin.
El Lissitsky desenvolveu grande atividade nas artes gráficas e desenhou inúmeras capas de livros e revistas, como a Broom, onde publicou inicialmente suas hoje famosas ilustrações, À Propósito de Dois Quadrados, criadas em Vitebsk (1918). Posteriormente, o artista passou a colaborar com várias publicações, todas associadas ao Construtivismo: ele fundou a revista Vesh [Objeto] (1920), com Ilyia Ehrenburg (1891-1967), participou da De Stijl [De Estilo] (1917-1925), revista publicada por Théo van Doesburg (1892-1931), Piet Mondrian (1872-1944) e Lazló Moholy-Nagy (1895-1946), em Laren (Holanda, 1917-1925). Nessa revista El Lissitzky publicou artigo, além dos desenhos da famosa série Construtivista Proun, que se encontram reproduzidos (LECLANCHE-BOULÉ, 1991).
O re-estabelecimento das relações diplomáticas da URSS com países europeus terminou com oito anos de isolamento cultural, que representaram intensa fermentação na vida dos artistas das vanguardas soviéticas, que refletiram sobre novos aspectos no questionamento das artes no cerne do Comunismo. El Lissitzky, que trabalhou com Malevich em Vitebsk, e, como muitos outros artistas destacados nas vanguardas soviéticas como Marc Chagall e Wassily Kandinsky, na época, trocaram a URSS pela Europa. El Lissitzky organizou com Naum Gabo (1890-1977) a primeira mostra soviética de arte, a Exposição Internacional de Arte Russa [Erste russische Kunstausstellung], realizada na Galeria Van Diemenn (Berlim, 1922). Gabo, Pvesner e El Lissitzky viajaram acompanhando a mostra; os irmãos aproveitaram para nunca mais voltarem a viver na U.R.S.S. El Lissitzky desenhou a capa do catálogo e acompanhou a itinerância da mostra oficial a Amsterdã (1923).
Théo van Doesburg foi um dos artistas importantes do movimento De Stijl [De Estilo]: ele publicou a revista Neo-Dadaísta Mechano (Laren, Holanda, 1922-1923). Essa publicação, a primeira revista que Théo van Doesburg editou, assinada com o pseudônimo de I. K. Bonset, foi lançada no primeiro e único Congresso Internacional dos Artistas Progressistas, leia-se, Construtivistas, organizado em Dusseldorf (29-31 de maio, 1922). Compareceram ao congresso os artistas participantes do Grupo Novembro [November Gruppe] (Berlim, 1919-); do Grupo Jovem do Reno (Bonn) e dos mestres e alunos da Bauhaus (Weimar, 1919-1925); os artistas participantes do Grupo dos Artistas Progressivos (Colônia, 1919-1920; Heinrich Hoerle, Franz Seiwert e Stanislaw Kubicki); além de artistas independentes de várias nacionalidades, tanto da França bem como da Suíça e da Rússia. Théo van Doesburg, juntamente com El Lissitsky (1891-1941) e Hans Richter (1888-1976), formaram grupo dentro do grupo, com a dita, Facção dos Construtivistas. Esse grupo, posteriormente nomeado de Movimento Internacional Trabalhista Construtivista [Konstrutivistische Internacionale beeldende Arbeitsgemeenchap] foi oficialmente lançado durante o Congresso Internacional dos Construtivistas e Dadaístas, organizado na cidade sede da Bauhaus (Weimar, set. 1922). A foto histórica, publicada (RICHTER, 1993), mostra o jovem El Lissitzky na companhia de Hans Arp (1886-1966), Tristan Tzara (1896-1963) e Aleksander Archipenko (1887-1964), entre outros.
Na Alemanha El Lissitizky instalou sua sala, dita, Proun, na Grande Exposição Berlinense de Arte [Grosse Berliner Kunstaustellung]. El Lissitzky participou ativamente do movimento das vanguardas na Alemanha e envolveu-se ainda mais com as publicações: ele tornou-se membro do comitê editorial da revista G [Gestaltung, 1923-1926], editada em Berlim juntamente com Ilya Ehrenburg (1891-1967) e Hans Richter (1888-1976). Esta publicação foi associada ao Construtivismo: El Lissitsky foi quem fundamentou as bases teóricas do movimento, que vivenciou desde o início, na Rússia. Depois de curta temporada em Berlim, onde El Lissitzky desenhou a tipografia criativa dos poemas do livro Para a Voz [Dlia Golossa, 1923], de Vladimir Maiakovsky (1893-1930), publicado nessa cidade alemã, ele foi viver em Hanover onde publicou o texto de seu manifesto, Topografia da Tipografia, bem como seus primeiros fotogramas na revista de Kurt Schwitters (1887-1948), a Merz (1922-1932). El Lissitzky trabalhou na série de desenhos para a produção de boneco (1923), baseado na versão da ópera Vitória sob o Sol [Pobeda nad solntsem], com cenografia e figurinos Construtivistas criados por Kazimir Malevich (1878-1935). O artista realizou o número 8/ 9 da revista Merz, intitulado Nascí (Hanover); ele colaborou com a revista A.B.C. (Beitrage zum Bauen, 1925), além de editar dois álbuns com suas litografias para a Sociedade Kestner. Poucos depois, El Lissitzky, com problemas de saúde, foi internado em sanatório na Suíça (1924-), quando desenvolveu com Hans Arp (1886-1966), em produtiva associação, a importante obra teórica, Os Ismos na Arte (Die Kunstismen—Les ismes de l’art—The Isms of Art. Zurique, 1925). Neste período El Lissitzky desenhou os interiores do Gabinete do Landesmuseum (1925-1928), posteriormente destruído pelos nazistas e criou cartazes e anúncios para a Pelikan (Suíça, 1924). O artista finalmente voltou a Moscou (1925), no ano que destacou o Construtivismo Soviético no Pavilhão da URSS, que apresentou mobiliário premiado desenhado por Alexander Rodchenko, na dita, Exposição Universal, a Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas (Exposition des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, Paris, 1925).
El Lissitzky ocupou-se da educação visual, trabalhou na editoria gráfica de manifestos e tornou-se fotógrafo; suas fotografias participaram da mostra coletiva Dez anos de Fotografias Soviéticas (1928). O artista foi cenógrafo da peça teatral Voo de uma Criança [Chocu Rebuka, 1929] de Sergey M. Tretyakov (1892-1939), levada ao palco do GOSTIM - Teatro Estatal Meyerhold (Moscou, 1920-1938), sob a direção do próprio Vsevolod Meyerhold (1874-1940), o mais famoso diretor teatral das vanguardas russas. No ano seguinte o artista instalou a Sala Soviética, na exposição internacional Filme e Foto [Film und Photo] (Stuttgart, 1929). El Lissitzky criou o cartaz e catálogo para a Exposição de Arte Russa (Zurique, 1929); ele criou os pavilhões da Exposição de Higiene (Dresden, 1930) e da dita, Exposição Internacional da Pele, em Leipzig bem como criou cartazes para ambas as mostras.
El Lissitzky foi um dos fundadores do grupo multidisciplinar, Outubro [Oktiabr] (Stuttgart - Moscou, 1928-1931); ele organizou a seção fotográfica e participou da exposição do grupo (1930). O artista publicou o livro Rússia. A Reconstrução da Arquitetura na União Soviética [Russland. Die Rekonstruction der Architectur in der Sowjetunion]: ele participou da mostra Fotomontagens (Berlim, 1931). O artista, trabalhou anos para várias revistas de propaganda estatal na U.R.S.S. (1932-1940). El Lissitzky foi grande destaque entre os Construtivistas, com suas obras de inegável qualidade plástica e grande valor artistico: suas formas geométricas bem compostas influenciaram as artes gráficas mundiais, mudando para sempre o visual do principal instrumento de propaganda do regime soviético, o cartaz. El Lissitzky, que faleceu em novembro de 1941, depois de ter feito muito mais do que a maioria dos artistas, foi homenageado internacionalmente com mostra individual no MoMA, em Nova York. Póstumamente suas obras participaram da mostra Os Pintores e o Teatro no Século XX, inaugurada em Frankfurt e itinerante à Avignon (1986); da exposição O Construtivismo Russo na Arte Teatral (Louisville, EUA, 1989); da mostra Arte Cenográfica, Rússia 1900-1930 [L’ Arte delle Scena, Rusia 1900-1930], na Galeria Electa (Milão, 1990); da mostra Gráfica Utópica, Arte Gráfica Russa 1904-1942, no CCBB (Rio de Janeiro, 2002). No catálogo da última mostra citada, organizada com curadoria de Evandro Salles, encontra-se reproduzida a fotografia do artista (1932, Moscou) e seu cartaz de desenho abstrato e construtivista Bata os Brancos com a Cunha Vermelha (1920, litografia, 49 cm x 68 cm), no acervo do Museu Central Estatal da História Contemporânea da Rússia, em Moscou. A obra gráfica de El Lissitzky, a História de Dois Quadrados, sua fotografia, bem como a fotografia de sua obra arquitetônica Tribuna de Lenin, encontram-se reproduzidas (RAGON,1992); e os desenhos do projeto da famosa tribuna (CONRADS, 1960).
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ALBERA, F. Eisenstein e o construtivismo russo - A dramaturgia da forma em "Stuttgart". Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac e Naify, 2002, pp. 184, 197, 201, 203.
CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, Daniela (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 218.
CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 03-07, 19, 20, 21.
CATÁLOGO. SALLES, E. (Cur,). Gráfica Utópica: Arte Gráfica Russa 1904-1942. Rio de Janeiro: CCBB/ Centro Cultural Banco do Brasil, 2001,pp. 49, 170-171.
CONRADS, U ; SPERLICH, H. Architecture Fantastique. Stuttgart: Delpire Verlag Gerd Hatje, 1960, p. 99.
LECLANCHE-BOULÉ, C. Le Construtivisme Russe: typographies et photomontages. Documentation Marc Martin-Malburet. Paris: Flammarion, 1991. 173p.: il., retrs., pp. 151-152.
RAGON, M. Journal de l´Art Abstrait. Genève: Skira, 1992. 163p: il., p. 35.
TESCH, J.; HOLLMANN, J. Icons of Art: the 20th Century. New York: Ekhardt Hollman, Prestel, 1997. 216p.: il., p. 62.
Nenhum comentário:
Postar um comentário