sexta-feira, 11 de maio de 2012

BIOGRAFIA: APOLLINAIRE,

Guilaume, Wilhem Albert Wladimir Alexandre Apollinaris de Kostrowitsky (1880-1918).

O notável intelectual de origem nobre polonesa, poeta, escritor e crítico de arte das nascentes vanguardas nasceu em Roma e faleceu em Paris; ele tornou-se um dos mais importantes intelectuais na França. Logo conheceu o grupo que se reunia nos ateliês do Barco Lavoir [Bateau Lavoir], em torno de Pablo Picasso, no duros tempos de início de carreira, período de grande pobreza material, aliada à riqueza intelectual dos amigos e vizinhos Max Jacob, Blaise Cendrars e Max Salmon, entre outros artistas e escritores.

Apollinaire escreveu o primeiro artigo sobre Picasso (1905), que desenhou o seu retrato (1914), reproduzido por PIERRE (1983). Foi de Apollinaire a apresentação no catálogo da mostra Cubista de Georges Braque,  realizada na galeria parisiense de Daniel-Henry Khanweiller (Paris, 1908). Desde o final do século XIX Apollinaire tornou-se colaborador de várias publicações: com André Salmon ele editou a revista Le Festin D'Esope [O Festim de Esopo] (Paris, 1903-1904); com Alfred Jarry editou a revista Les Marges [As Margens] (1907); com André Billy, René Dalize, André Salmon e André Tuquesq foi editor da revista Les Soirées de Paris [As Noites de Paris] (1912-1914); com Blaise Cendrars colaborou em outras publicações européias, como a revista de Almada Negreiros e Fernando Pessoa, Portugal Futurista (1915); foi colaborador da publicação de Pierre Reverdy, S.I.C. - Sons, Images et Couleurs [Sons,  Imagens,  Cores],  entre outras publicações dadaístas na Alemanha e Suíça, como Cabaré Voltaire [Cabaret Voltaire] (1916). Na revista As Noites de Paris Apollinaire permaneceu colaborando do n. 1 (fev., 1912), ao último número, 26-27 (duplo, julho-agosto 1914): a publicação teve que ser interrompida devido a I Guerra Mundial (I GM).

O escritor, que amou a bela vida, as damas, à noite e os artistas, foi muito querido e celebrado por Henri Le Douanier Rousseau, sobre quem publicou as primeiras criticas favoráveis. Esse mesmo Rousseau que, por sua característica de ser artista dito, primitivo, foi sempre tratado com a mescla de desdém e fina ironia pelo seleto grupo de intelectuais do Bateau-Lavoir, como relatou o seu biógrafo Wilhem Uhde; mas, foi tratado com grande respeito crítico por Apollinaire. Rousseau pintou dois retratos de Apollinaire, sendo que, no primeiro, ele está acompanhado de sua musa, a pintora Marie Laurencin. Giorgio de Chirico também pintou o Retrato de Apollinaire (1914) com o símbolo do futuro, o peixe; a pintura se encontra reproduzida (PIERRE, 1983); e o Retrato de Apollinaire, por Amedeo Modigliani, encontra-se reproduzido (SEUPHOR, 1963).

O escritor e poeta foi livremente influenciado pela obra de Stéphane Mallarmé, um dos ícones das vanguardas, inspiração para escrever os seus Caligramas [Caligrammes], sua mais notável obra. Os interesses de Apollinaire abrangeram inúmeras artes, como a dita, Negra (v.): ele foi o primeiro a escrever à respeito, no livro conjunto com o negociante de arte Paul Guillaume (1917). Outros interesses manifestos do culto escritor foram as artes divinatórias, esotéricas, mitológicas, etnográficas, bem como a criminologia, o exótico, as viagens e claro, a literatura de alto nível e a erótica.

Foi Apollinaire quem, praticamente, ressuscitou a literatura do Conde de Sade, mais conhecido como o Marquês de Sade, com a republicação de sua obra, acompanhada de notas, biografia e ensaio (Paris, 1909). Apollinaire continuou, ao longo do tempo, com interesse na escrita erótica; nos momentos em que teve dificuldades econômicas ele publicou alguns textos eróticos de sua autoria.

Apollinaire formou ampla biblioteca e os artistas, que futuramente formaram o Grupo do Surrealismo (Paris, 1924-1966), leia-se André Breton e companhia, foram influenciados por seu gosto literário. Apollinaire exerceu grande influência, tanto em Breton como em Philippe Soupault, que, ainda bem jovens, passaram dois anos visitando assiduamente o escritor, durante o período da I GM. Breton ficou impressionado com a seleta coleção de esculturas de arte, dita, Negra de Apollinaire, que admirou nas suas visitas ao apartamento do escritor, no Boulevard Saint-Germain.

Breton prosseguiu no Surrealismo, dando continuidade à estética original de Apollinaire. Em homenagem à Apollinaire, até mesmo o nome do movimento foi calcado no termo inventado pelo poeta. No primeiro período do movimento do Surrealismo (1924-1929), Breton ressuscitou todos os autores antigos que Apollinaire apreciou e indicou, e apoiou nesses escritores a primeira fase do movimento.

Apollinaire alistou-se e lutou pela França na I GM: ele foi ferido na frente de batalha e voltou para Paris como herói francês, agraciado com condecoração. Apollinaire morreu jovem, em consequência da epidemia da dita, Gripe Espanhola, que grassou logo após a guerra (1918). Apollinaire deixou extensa e original obra, que influenciou muitas gerações das vanguardas artísticas e intelectuais, ao longo de todo o século XX.

Breton considerava Álcools, de Apollinaire, de acordo com PIERRE (1983), como a maior obra poética do século XX; fotos de Apollinaire participaram da mostra póstuma de André Breton, no Museu Nacional de Arte Moderna (MNAM) - Centro Georges Pompidou (CGP). A fotografia de Apollinaire ferido [Apollinaire blessée] (1916), dedicada à Breton; e a fotografia do apartamento dele, cheio de livros até o teto, no Boulevard Saint-Germain, encontram-se reproduzidas no catálogo da mostra (BEAUMELLE et al., 1991). A capa da revista Les Soirées de Paris (15 nov., 1913), encontra-se reproduzida (RAGON, 1992).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

APOLLINAIRE, G. Aesthetic Meditations on Painting: The Cubist Painters. Paris, 1913. Apud APOLLINAIRE, G.; EIMERT D.; PODOKSIK, A. (Biograf.). Cubism. Translated by Dorothea Eimert. New York: Parkstone Press International, 2010, 200p., ils. color., 24.5 cm x 28.5cm, pp.6-26.

CATÁLOGO. BEAUMELLE, A. de la; MONOD-FONTAINE, I.; SCHWEISGUTH, C. André Breton: La Beauté Convulsive. Paris: Musée National d'Art Moderne, Centre Georges Pompidou, 1991, pp. 

CALMANN-LÉVY, C. André Breton: Le Grand Indésirable. Paris: Centre National des Lettres, 1990.  Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il., retrs.  

CATALOGUE RAISONNÉ. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentition par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm.

DICIONÁRIO. BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire général du surréalisme et ses environs : sous la diréction de Adam Biro et René Passeron. Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il.,  retrs., pp. 17, 40, 92.

DICIONÁRIO. SEUPHOR, V. M. Nouveau Dictionaire de la Peinture Moderne. Paris: Fernand Hazam, 1963, pp. 26-27.

LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs.

PIERRE, J. El futurismo y el dadaísmo. Madrid: Aguilar, 1968, p. 146..

PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p. 97, 301.
87, 89.

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